Prezadas leitoras, caros leitores —

A gente sabe, vocês já ouviram a piada. O Big Brother Brasil acabou, substituímos pela CPI da Covid. Mas é só parcialmente brincadeira — em verdade, é bastante sério. A audiência da TV Senado dobrou. A GloboNews passou a liderar dentre as telas ligadas em TV paga no Brasil no horário das audiências. Há preocupação cívica, claro. Mas não é só. Trata-se de um espetáculo, assim como o BBB.

É teatro.

A política na era da TV já tinha muito de espetáculo. No tempo digital foi além. É um jogo de torcidas que se estabelece, de construir mensagens e batalhar para que sejam repetidas, uma constante disputa pelos papeis de mocinho e bandido. Cada senador, cada parlamentar, e mesmo muitos dos entrevistados desempenham personagens para seus próprios celulares tendo por público os seguidores nas muitas redes.

A consciência de que é um espetáculo tem muito de útil.

Se acaso um depoimento vai mal, o filho do presidente aparece na sala, improvisa uma cena, e o foco da atenção muda. Noutro interrogatório, circunspecto, o general se desculpa pelo dia em que esqueceu a máscara. E aí dois dias depois sobe ao palco sorridente, com o presidente — claro, sem máscara. Nem hipocrisia se disfarça mais. Porque é entretenimento mais que política e, parte-se do princípio, todos entendem isso.

Em meados da década de 1960, o francês Guy Debord lançou um livrinho de imenso impacto. Chamava-se A Sociedade do Espetáculo. Um novo grupo de cientistas sociais está redescobrindo sua ideia e mostrando que o problema se tornou ainda mais grave. E a principal vítima é a democracia. Ela, afinal, depende de que o maior número de pessoas compreenda que o debate público é sério. Que vidas dependem dele. Literalmente.

Mais gente se preocupa com política — mas muitos a entendem como um jeito de se entreter.

Como o problema surgiu, como tomou forma — e se há solução — é o tema do Meio deste sábado.

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— Os editores

Bolsonaro atrapalhou oferta de vacinas, diz diretor do Butantan

A declaração do presidente Jair Bolsonaro em outubro do ano passado, vetando as negociações para compra da CoronaVac, reduziu em 52 milhões de doses a possível entrega de vacinas até maio. A afirmação foi feita ontem à CPI da Pandemia pelo presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas. Foi a mais clara demonstração de causa e consequência, desde o início da CPI, de como uma fala intempestiva do presidente produziu efeitos reais. Covas disse ainda que foi feita uma oferta já em julho de 60 milhões de doses, o que poderia ser entregue no último trimestre de 2020, antecipando o início da vacinação. Segundo o presidente do Butantan, a declarações de Bolsonaro contra a China continuam dificultando a obtenção de insumos. (Estadão)

Nem tudo que Covas disse, porém, estava correto. Confira a checagem da Agência Lupa. (Folha)

A CPI recebeu documentos que indicam ao menos 24 reuniões do chamado “gabinete paralelo”, um suposto grupo que aconselhava o presidente sobre a gestão da pandemia à margem do Ministério da Saúde. (Folha)

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O presidente Jair Bolsonaro ingressou, por meio da AGU, com uma ação direta de inconstitucionalidade no STF contra medidas de restrição social e lockdowns, decretados pelos governos de Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Norte. No pedido, a AGU sustenta que é preciso garantir a convivência de direitos fundamentais como os de ir e vir, de trabalho, à vida e à saúde. (G1)

E o YouTube removeu ontem pelo menos mais 11 vídeos de Bolsonaro defendendo tratamentos precoces e ineficazes contra a Covid-19. (UOL)

A participação do general da ativa Eduardo Pazuello num ato político de Jair Bolsonaro continua um drama para o Exército. Generais a par da situação dizem que está se buscando uma contemporização. Pazuello seria repreendido, uma punição branda que não irritaria o presidente. Mas teme-se que isso leve à renúncia do comandante da Arma, o general Paulo Sérgio. (Estadão)

General da reserva, o vice-presidente Hamilton Mourão é contra. “Regra tem que ser aplicada para evitar anarquia nas Forças Armadas”, diz ele. (Globo)

Pazuello apresentou ontem sua defesa, negando ter violado o Estatuto das Forças Armadas. Disse que participava de um “passeio motociclístico” devido ao “apreço que seu superior, o presidente Jair Bolsonaro”, tem por ele. (CNN Brasil)

Meio em vídeo. A maneira como o presidente Jair Bolsonaro está incentivando a quebra da disciplina dentro do Exército, incitando um subordinado como Eduardo Pazuello a quebrar a lei e intimidando seus superiores a não puni-lo, já ocorreu antes. Hugo Chávez o fez, na Venezuela. Bolsonaro quer quebrar o Exército de Caxias para torná-lo o Exército de Jair. Confira o Ponto de Partida no YouTube.

O Supremo Tribunal Federal anulou, por 7 votos a 4, o acordo de delação premiada firmado pela Polícia Federal com o ex-governador do Rio Sérgio Cabral. A tese vencedora foi que a PF não podia firmar um acordo que já havia sido rejeitado pelo Ministério Público Federal por omissão de informações. Foi na delação de Cabral que surgiu a acusação de favorecimento em troca de propina contra o ministro do STF Dias Toffoli, que votou pela anulação. (UOL)

Morreu aos 83 anos, de complicações renais, o ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner. Mas falar dele como político é reducionismo — e é injusto. Lerner foi um dos maiores urbanistas do mundo e aplicou toda essa formação em seus mandatos à frente primeiro da capital paranaense, em 1971, 1978 e 1989, e após do estado, em 1995. Enfatizou o transporte coletivo, criou amplos calçadões e áreas verdes. Fez a cidade respirar. Sua Curitiba foi pioneira na reciclagem de resíduos. Fora do poder, foi consultor de urbanismo da ONU e responsável por projetos no Brasil e no Exterior. (Estadão)

Mauro Calliari: “Desde a primeira vez que foi prefeito, Lerner apontou para um caminho de transformação urbana que influenciou centenas de cidades pelo mundo e transformou Curitiba numa referência nacional e internacional. Lerner amava Curitiba, mas amava as cidades. Seus livros, suas palestras, suas ações parecem conter sempre a preocupação de balancear as escalas: do local ao global, sem perder de vista os detalhes que fazem a diferença na vida cotidiana.” (Folha)

O suspiro derradeiro

Tony de Marco

Nelson-Sargento
As mais recentes animações do Meio estão no Open Sea. Confira, curta, colecione.

Destrave sua gestão

Destrave sua gestão

A transformação digital de uma empresa deve estar sustentada pela clareza sobre onde os dados estão armazenados e como eles serão usados para atender às metas de negócios. E é onde a governança de dados se torna fundamental. Segundo relatório da ESG, sem uma governança de dados, as empresas têm visto a integração entre a operação de dados e a proteção diminuir. Enquanto com a implementação, a empresa ganha métodos e processos claros para padronizar, integrar, proteger e armazenar dados corporativos. Como adicional, se tornam responsivas e muito mais flexíveis para lidar com crises ou movimentos disruptivos e novas parcerias.

Apesar do crescimento do e-commerce no país, o papel impresso ainda é regra no comércio eletrônico brasileiro. Segundo Vitor Magnani, presidente do Conselho de Comércio Eletrônico da Fecomercio/SP, mesmo com alternativas tecnológicas, ainda são impressos, em média, até 16 documentos para que uma única entrega ocorra entre estados, o que contabiliza 3,1 bilhões de documentos impressos em 2020. Essa realidade não só representa queda de produtividade para os negócios, mas também exposição de dados e aumento de custos para os consumidores.

O relacionamento com as fintechs têm cada vez mais se tornado uma realidade nas empresas brasileiras. Pesquisa da EY aponta que pelo menos 25% das PMEs já tem algum tipo de relacionamento com essas startups. Segundo a consultoria, a maior procura vem não apenas de parcerias que ofereçam produtos financeiros, mas que também ajudem na gestão de negócios.

Então… Dicas de empreendedores para fazer a gestão dos custos e diminuir gastos das empresas.

Viver

A estabilidade na média de mortos por Covid-19 e o aumento do número de casos e de ocupação de leitos apontam para um recrudescimento da doença no Brasil nas próximas semanas. O alerta faz parte do relatório semanal divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Embora a média de mortes diárias tenha caído para a faixa de 1,9 mil, ela ainda é quase o dobro do registrado no auge da primeira onda no ano passado. (UOL)

E a chegada ao Brasil da variante indiana da doença não é o maior problema, segundo o virologista da UFRJ Amilcar Tanuri. Para o especialista, o mais grave é a falta de vacinas. (Globo)

A prefeitura de São Paulo ampliou o leque de pessoas que podem ser vacinadas, mas passará a exigir comprovante de residência. Um levantamento comprovou que 17% dos imunizados vinham de outros municípios. (Estadão)

Só faltava essa. A polícia do Rio prendeu ontem um médico e o dono de uma clínica em Pilares, na Zona Norte. Eles são acusados de venderem atestados falsos de comorbidades para que pessoas furem a fila da vacinação. Embora relatos sobre casos assim proliferem nas redes sociais, o conselhos de Medicina não registraram denúncias ainda. (G1)

Nesta quinta-feira o Brasil registrou 2.130 mortes por Covid-19 e 65.672 novos casos. Desde o início da pandemia já são 456.753 óbitos e 16.341.112 infectados. A média móvel de mortos em sete dias ficou em 1.766, completando 126 dias acima de mil vítimas fatais. (Folha)

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Diz o ditado que a maldade está nos olhos de quem vê. Conheça a história do belíssimo castelo mourisco que serve de sede da Fiocruz no Rio. Com direito a suas torres que foram tão mal interpretadas na CPI da Pandemia. (Globo)

O veículo-robô da NASA Curiosity, que circula por Marte há quase dez anos, encontrou na superfície do planeta sinais de sais orgânicos que podem ser restos de vida microbiana. Os cientistas esperam que outros equipamentos do Curiosity confirmem a descoberta e que um rover da Agência Espacial Europeia, a ser enviado ainda este ano, possa perfurar o solo marciano e encontrar matéria orgânica mais bem preservada. (UOL)

Cultura

Um dos mais ricos capítulos da música brasileira se encerrou ontem com a morte, aos 96 anos, de Nelson Sargento, vítima da Covid-19. Nelson Mattos nasceu em 25 de julho de 1924 e ganhou seu célebre apelido após quatro anos no Exército. Devotado de corpo e alma à Estação Primeira de Mangueira, da qual era Presidente de Honra desde 2014, foi parte de uma geração de gigantes como seus parceiros Cartola, Carlos Cachaça, Jamelão e tantos outros. Mas o papel de baluarte do samba era pequeno para ele. Nelson Sargento também era escritor e pintor, o que só torna mais ampla a lacuna que deixa. (G1)

João Máximo: “Nelson era muito maior do que parecia ser. Seus sambas, mesmo os mais imperfeitos, sempre soaram à Mangueira. Sua voz — da qual muito se orgulhava — jamais poderia competir com a dos grandes sambistas cantores. Mesmo assim, era, como se costuma dizer, uma ‘voz com alma’. Seus quadros, sinceras homenagens à sua gente, ao seu mundo. Não foi por acaso que criou, em forma de samba, um atestado de perenidade para a mais brasileira das músicas, volta e meia ameaçada de extinção pela moda do momento: ‘Agoniza, mas não morre’.” (Globo)

Nas redes sociais, amigos, colegas de rodas de samba, autoridades e, claro, o Vasco da Gama, seu time do coração, homenagearam Nelson Sargento. (Estadão)

Relembre alguns dos mais importantes sambas do mestre da Mangueira. (Folha)

Mas, como se diz, o espetáculo não pode parar. Confira os destaques da agenda cultural.

A Extinção é para Sempre é o título da série de intervenções artísticas que Nuno Ramos iniciou nessa semana no Sesc Avenida Paulista com a chama de um isqueiro, acesa em memória dos mortos e exibida em tempo real no site do projeto. De hoje a domingo, também acontece a performance Chão-Pão, em que bailarinos convidados interagem com filmes de Glauber Rocha.

Hoje à noite a cantora Gal Costa ocupa o canal do Teatro Bradesco no YouTube para uma nova live. O show é parte da divulgação do disco Nenhuma Dor, que recria canções de seu repertório, como Baby e Negro Amor.

Na segunda acontece o terceiro encontro do ciclo 1922: Modernismos em Debate, dessa vez com foco nas culturas urbanas e convidados como o historiador Luiz Antônio Simas e o multiartista Salloma Salomão.

Para conferir a agenda completa, clique aqui.

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado é das sete personalidades mundiais a receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Harvard. A instituição destacou não só o trabalho de Salgado na fotografia, mas seu engajamento no combate à desigualdade social e à degradação do meio ambiente. (The Harvard Gazette)

Cotidiano Digital

A exclusão digital é uma realidade no Brasil e prejudicou o acesso das famílias mais pobres ao auxílio emergencial. Segundo a FGV/Cemif, 20% das classes D e E que tentaram e não conseguiram o benefício apontaram a falta de celular como uma das razões. Além disso, 22% dos mais pobres alegaram ter tentado e não conseguido o benefício por limitações da internet. Esse cenário faz parte de um problema mais amplo: em 2020, cerca de um em cada quatro brasileiros não estava conectado, a maioria justamente das faixas mais vulneráveis, das classes D e E e moradores de áreas rurais. (Folha)

A artista Ai-Da ganhou exposição de autorretratos no Design Museum de Londres. Pode parecer algo comum, mas ela na verdade é uma robô, considera a primeira robô-artista do mundo. Ela foi desenvolvida em 2019 pelo negociante de arte Aidan Meller e pela startup Engineered Arts. Ai-Da usa algoritmos de propriedade para gerar obras de arte visual, e Meller estima que ela já ganhou mais de US$ 1 milhão com suas pinturas.

Então… Uma TED Talk da Ai-Da sobre a intersecção entre arte e inteligência artificial. Assista.

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