Prezadas leitoras, caros leitores —

O mundo inteiro — inclusive parte do governo brasileiro — foi pego de surpresa pela adesão do Brasil a dois acordos na conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a COP26. Um prevê cortar em 30% as emissões globais de metano até 2030; o outro, acabar com o desmatamento e mesmo revertê-lo até a mesma data.

O metano é um dos piores gases do efeito estufa, e 70% das emissões dele no Brasil vêm da pecuária — que também está associada ao desmatamento, tema do outro acordo.

No papel, fica lindo. Mas o mundo real é diferente, especialmente se lembrarmos que essas metas vão na contramão da política ambiental do governo Bolsonaro desde seu primeiro dia.

É possível cumprir os acordos?

É, mas não é nem um pouco fácil.

Não faltam no Brasil mesmo exemplos de agropecuária sustentável e mais lucrativa. Então por que esses modelos não são adotados em larga escala, botando o país na vanguarda tanto da produção de alimentos quanto da proteção ambiental?

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Ciro ameaça deixar eleição se PDT não derrubar PEC dos Precatórios

A aprovação em primeiro turno da PEC do Precatórios na madrugada de ontem provocou um rebuliço em Brasília. No centro da confusão estão os 15 votos dados pelo PDT em favor da proposta, fundamental para o presidente Jair Bolsonaro viabilizar o Auxílio Brasil de R$ 400. A proposta de emenda foi aprovada com 312 votos, quatro a mais que o mínimo, o que deu mais peso ao voto dos pedetistas e de 10 parlamentares do PSB. E aí, logo de manhã, o ex-ministro Ciro Gomes anunciou via Twitter que estava suspendendo sua pré-campanha ao Planalto pelo PDT e que o partido não podia “compactuar com a farsa e os erros bolsonaristas”. A campanha está suspensa até que a bancada reverta sua decisão. (g1)

Então... Para alguns deputados, Ciro estava, na verdade, ensaiando uma “saída honrosa” da corrida presidencial, onde segue, segundo as pesquisas, em terceiro lugar. Foi o que ouviu a jornalista Júlia Duailibi. Um dos sinais disso seria que quatro dos cinco deputados do PDT cearense — André Figueiredo, Eduardo Birmarck, Leônidas Cristino e Robério Monteiro — votaram com o governo, o que não aconteceria sem o conhecimento de Ciro, que controla o partido no estado. (g1)

Enquanto se especulava qual era de fato a estratégia de Ciro, o PDT entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular a votação de ontem. O argumento é que o presidente da Câmara, Arthur Lira não podia ter autorizado a votação remota para deputados ausentes. Paralelamente, o presidente do partido, Carlos Lupi, afirmou que Ciro segue no PDT e que é “o homem mais preparado para exercer a presidência da República”. Ele disse ainda acreditar na virada dos votos do partido no segundo turno. (CNN Brasil)

Mas a crise não é pequena. O líder do PDT na Câmara, Wolney Queiroz, entregou o cargo. Se queixa do jogo de Ciro. “A votação dessa PEC 23 era assunto predominante nos noticiários”, escreveu para seus colegas de bancada. “A imprensa especializada já anunciava que PDT e PSB poderiam votar a favor da PEC. Apesar disso, não recebi do presidente Ciro um telefonema, um email, uma mensagem, um recado. Nada. Rigorosamente nenhuma orientação.” (Poder 360)

É... O presidente do PSB, Carlos Siqueira, também está na praça tentando reverter o voto dos dez de seu partido, conta Guilherme Amado. (PSB)

O governo quer anular esse movimento da esquerda e até ampliar o placar apelando para deputados que faltaram a sessão. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), queria fazer ontem mesmo a votação em segundo turno da PEC, mas recuou diante da repercussão e da reação de Ciro, e a marcou para a próxima semana. As principais ferramentas de convencimento seguem inalteradas: a promessa de liberação de emendas e a ameaça de retaliação. (Folha)

Aí está o problema. Lira, revela Malu Gaspar, teria oferecido até R$ 15 milhões em emendas por um voto em favor da PEC. Só que muitos deputados reclamam de promessas anteriores não cumpridas. (Globo)

Meio em vídeo: Bolsonaro vai conseguir pagar o Auxílio Brasil? Ciro Gomes vai mesmo deixar a corrida presidencial? Os tucanos podem ainda defender rigor fiscal? Muitas perguntas, nenhuma resposta simples. O que aconteceu na Câmara dos Deputados explica muito do Brasil hoje e pode definir a eleição do ano que vem. No YouTube, o novo Ponto de Partida.

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Na noite de quarta-feira o presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal no Palácio da Alvorada sobre o inquérito no STF que apura suposta interferência dele na própria PF, o que teria motivado a demissão do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, autor da denúncia. Bolsonaro confirmou que pediu a troca do diretor-geral Maurício Valeixo por Alexandre Ramagem, mas negou que quisesse interferir em investigações. Segundo ele, havia “falta de interlocução” com Valeixo. Bolsonaro afirmou ainda que Moro aceitou a troca, desde que ela acontecesse após ele ser indicado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). (UOL)

Moro e seus advogados reclamaram por não terem sido avisados do depoimento de Bolsonaro, o que impediu os representantes do ex-ministro de fazerem perguntas. Em nota, Moro negou que tivesse condicionado a nomeação de Ramagem a uma indicação para o STF: “Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como ministro”, disse. (UOL)

Que a Lava-Jato teve um peso enorme nas eleições de 2018, não se discute, mas agora a participação é direta. Enquanto todos aguardavam a filiação do ex-ministro Sérgio Moro ao Podemos, o ex-coordenador da operação Deltan Dallagnol demitiu-se do Ministério Público Federal para buscar “transformar o Brasil” fora do Judiciário. A declaração foi interpretada como intenção de entrar para a política partidária, o que provocou uma avalanche de críticas, especialmente de políticos dos partidos mais atingidos pela operação e que sempre acusaram a força-tarefa de Curitiba de agir politicamente. (Poder360)

Segundo Bela Megale, Dallagnol pretende seguir Moro e se filiar ao Podemos, concorrendo a uma vaga na Câmara. (Globo)

Não fica aí... O Podemos quer mesmo se tornar o partido lavajatista. O ex-procurador-geral da República naquele tempo, Rodrigo Janot, também cogita candidatura. (Metrópoles)

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), estuda levar para o plenário a sabatina do ex-advogado-geral da União André Mendonça, indicado há três meses para uma vaga no STF. O procedimento deveria acontecer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas o presidente do colegiado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se recusa a pautá-lo. Pacheco convocou um esforço concentrado para destravar sabatinas e nomeações no fim deste mês, mas Alcolumbre não dá sinais de que pretenda ceder. (Metrópoles)

Jornada dupla

Marcelo Martinez

Propina Baby

Cotidiano Digital

Começou na manhã de ontem o leilão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para quatro frequências do 5G. O leilão deve terminar nesta sexta e será o maior já realizado pela agência, movimentando R$ 49,7 bilhões. As quatro faixas leiloadas, que funcionam como “avenidas” no ar para transmissão de dados, servirão tanto para ativar o 5G quanto para ampliar o 4G. O prazo de direito de exploração das faixas será de até 20 anos. Entre as empresas vencedoras do leilão de ontem, a Telefônica Brasil, dona da Vivo, arrematou o lote B2 da faixa 3,5 GHz, por R$ 420 milhões; a Tim levou o B3, por R$ 351 milhões; e a Claro ficou com o lote B1 da mesma faixa, por R$ 338 milhões. A Winity II Telecom, do Pátria Investimentos, arrematou o primeiro lote — o A1 da faixa de 700 MHz — por R$ 1,427 bilhão. As faixas de frequência também têm obrigações de investimento que terão de ser cumpridas pelas vencedoras. As contrapartidas foram definidas pelo Ministério das Comunicações e validadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Anatel. (Estadão)

O 5G, nova geração de internet móvel, promete velocidade ultrarrápida, avanços nos dispositivos conectados, incluindo os carros que dirigem sozinhos, e velocidade 100 vezes mais rápida do que as conexões 4G. Conheça as possibilidades da tecnologia. (g1)

Cultura

A atriz Fernanda Montenegro, de 92 anos, foi eleita ontem a nova ocupante da cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Candidata única, recebeu 32 dos 34 votos — dois foram em branco. Numa entrevista a Malu Gaspar, a próxima imortal falou da homenagem: “É algo assim, é uma viagem no imaginário, uma viagem no sublime. A minha arte não é imortal. A arte do ator é enquanto ele está ali vivo, presente em carne e osso. Mas, de uma forma poética, vamos dizer que é imortal. Eu fico muito espantada que uma academia que tem como princípio ser imortal, acolher uma atriz que só existe quando está em cena carnificando o personagem.” (Globo)

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Em 1955 Natalie Wood tinha 17 anos e filmava o antológico Rastros de Ódio (trailer no YouTube). Num dia daquele verão, os pais da atriz, acompanhados da caçula Lana, então com oito anos, deixaram Natalie na porta de um hotel em Hollywood no qual ela encontraria um ator famoso, com o dobro de sua idade, e que, segundo a mãe, poderia “abrir-lhe muitas portas”. O encontro incluiu um estupro e se tornou um dos mais famosos rumores da Meca do cinema. Agora, aos 75 anos, Lana Wood lançou o livro Little Sister (Irmãzinha), onde revela o nome do agressor: Kirk Douglas (1916-2020), astro consagrado, filantropo, militante dos direitos civis e um mulherengo confesso. Lana lembra da irmã muito abalada, mas Natalie, que morreu em circunstâncias suspeitas em 1981, só lhe contou a verdade anos depois do incidente. A mãe a fizera guardar segredo para não “prejudicar a carreira”. Não havia um #MeToo em 1955. (Guardian)

Direto do Teatro Sesi, em Vitória, o Festival de Música Erudita do Espírito Santo começa hoje com a Sinfonia nº 14, de Shostakovich, interpretada pela soprano Eliane Coelho com a Orquestra Camerata Sesi, regida por Gabriel Rhein-Schirato.

A cantora Maria Bethânia lançou esta semana o programa Tabuleiro, que reúne duas de suas paixões: música e literatura. O primeiro episódio, já disponível na Rádio Batuta, estabelece conexões entre Clarice Lispector e o blues.

Começa hojeFLIMA – Festa Literária Internacional da Mantiqueira, cuja 4ª edição, toda virtual, homenageia a escritora Maria Valéria Rezende, além de receber convidados como Itamar Vieira Junior e Aline Bei.

Para ver a agenda completa, clique aqui, e para outras dicas de cultura, assine a newsletter da Bravo!.

Viver

No último fim de semana, durante reunião em Roma, os países do G20 se comprometeram a não investir mais em projetos de energia à base de carvão em outras nações. Ontem, na conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a COP26, 19 países, incluindo Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, deram um passo adiante e prometeram cortar investimentos no exterior que envolvam combustíveis fósseis em geral, o que inclui petróleo e gás. China, Japão e Coreia do Sul ficaram de fora. (UOL)

Então... Por falar em carvão, ele já foi um símbolo de desenvolvimento. Máquinas a vapor moveram a Revolução Industrial. Mas hoje ele é, com justiça, um símbolo da poluição, e sua queima é uma das maiores emissoras de carbono na atmosfera. O problema é que 37% da energia do mundo ainda é gerada por termelétricas a carvão. Pensando nisso, 70 países que participam da COP26 assumiram um compromisso de banir o uso desse combustível também dentro de casa. Aí foi a vez de os Estados Unidos pularem fora, junto com a China, o Brasil e vários outros países carvoeiros. (g1)

A Europa voltou a ser o epicentro mundial da covid-19, segundo alertou ontem a Organização Mundial da Saúde (OMS). Já são seis semanas consecutivas de alta no número de casos no continente, e as hospitalizações ligadas à doença dobraram em uma semana. Rússia, Ucrânia e Romênia puxaram a alta, mas não estão sozinhas. A Alemanha teve ontem o recorde de casos diários desde o início da pandemia, 34 mil. (g1)

Enquanto isso... O Reino Unido autorizou o uso do medicamento antiviral molnupiravir contra a covid-19. O remédio, ministrado em cápsulas por via oral, é considerado a grande esperança de tratamento eficaz para a doença. Agências reguladoras dos EUA e da União Europeia também estudam a liberação, e, no Brasil, a Fiocruz participa de um estudo sobre a eficácia do molnupiravir. (CNN Brasil)

O Senado aprovou ontem, por unanimidade, uma daquelas leis que servem como marco civilizatório: a que proíbe a discriminação de doadores de sangue com base em orientação sexual. Embora houvesse decisão contrária do STF, ainda se exigia um período de abstinência sexual de um ano para que homens homossexuais e suas eventuais parceiras mulheres pudessem doar sangue. A norma em vigor no Ministério da Saúde prevê esse tipo de carência para pessoas expostas a situações de risco de infecções sexualmente transmissíveis, sem referência à orientação sexual. Agora, esse tipo de discriminação passa a ser crime. O projeto vai para a Câmara dos Deputados. (UOL)

Para ler com calma. Um comitê de astrofísicos das maiores instituições dos EUA divulgou ontem o Astro2020, um amplo relatório com planos de investimentos no setor para os próximos dez anos. O documento recomenda que a NASA lance três grandes observatórios espaciais e que outra agência do governo americano construa dois telescópios gigantes, um no Chile e outro possivelmente no Havaí. Há ainda recomendações para combater os preconceitos de raça, gênero e orientação sexual no meio astronômico. (Nature)

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