Transição de governo começa com Alckmin no comando

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nomeou ontem seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), coordenador do processo de transição do governo. Embora o ex-governador de São Paulo fosse a principal aposta para a função, o ex-ministro Aloísio Mercadante e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann também eram cotados. Os dois vão integrar a equipe, mas subordinados a Alckmin. Candidato derrotado ao governo de São Paulo, Fernando Haddad deve montar a equipe da área de Educação. (Folha)

Pelo lado do governo que sai, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse ontem que foi autorizado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) a iniciar a transição tão logo o nome de Alckmin seja formalizado. Previsto em lei, o processo de passagem de um governo para o outro é obrigatório, não dependendo de autorização presidencial. (g1)

Alckmin desembarca amanhã em Brasília para se reunir com o relator-geral do Orçamento, o senador Marcelo Castro (MDB-PI). O futuro governo busca uma forma de manter o Auxílio Brasil em R$ 600, já que a proposta orçamentária enviada por Bolsonaro só previa esse valor até dezembro deste ano. (Poder360)

E como o Centrão não perde tempo, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), telefonou para o líder da oposição, Wolney Queiroz (PDT-PE), para discutir pautas do interesse de Lula que impactem o orçamento daqui até 2026. (CNN Brasil)

Painel: “A escolha de Alckmin para coordenar a transição atendeu a vários propósitos. O principal, segundo aliados, foi o recado de que o ex-governador terá um papel de coordenação no governo, mesmo sem ocupar um ministério. De acordo com um interlocutor do presidente eleito, o futuro vice deve desempenhar missões acertadas com o petista. Também pesou o espírito conciliador de Alckmin, no que promete ser uma transição difícil. Por fim, a opção evitou a ciumeira de petistas que poderiam reclamar caso fossem preteridos por algum rival interno.” (Folha)

Coluna do Estadão: “Aliados de Lula colocam na balança os benefícios de convocar senadores eleitos para assumir ministérios. Com a eleição de bolsonaristas que prometem oposição ferrenha, como Damares Alves (Republicanos-DF), o presidente vai precisar de políticos experientes para fazer andar pautas de interesse do governo no Senado. Jaques Wagner (PT-BA), Wellington Dias (PT-PI), Camilo Santana (PT-CE) e Flávio Dino (PSB-MA) são cotados para assumir ministérios. De acordo com um integrante do PT, tirar bons senadores pode esvaziar o Senado de ‘articuladores necessários para o governo’. ‘Ministros, você acha muitos. Senadores, não dá pra substituir’, avaliou ele, sob reserva.” (Estadão)

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que o processo eleitoral “acabou” e reconheceu a derrota. Mas a fala, relatada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, aconteceu a portas fechadas numa reunião com integrantes da Corte. Horas antes, em seu primeiro pronunciamento (íntegra) desde as eleições de domingo, Bolsonaro em nenhum momento falou em aceitar o resultado. Num discurso de menos de dois minutos, ele agradeceu aos seus 58 milhões de eleitores sem se referir ao presidente eleito Lula (PT) e atribuiu os protestos golpistas em várias partes do país à “indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”, condenando apenas a restrição do direito de ir e vir da população. Bolsonaro afirmou que continuará cumprindo a Constituição e saiu sem falar com a imprensa, deixando ao ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, a tarefa e anunciar o início da transição. (UOL)

Para o STF, as palavras vagas do discurso foram suficientes. Antes mesmo da visita de Bolsonaro à Corte, os ministros divulgaram uma nota dando a leitura oficial do pronunciamento: “O Supremo Tribunal Federal consigna a importância do pronunciamento do Presidente da República em garantir o direito de ir e vir em relação aos bloqueios e, ao determinar o início da transição, reconhecer o resultado final das eleições”, diz o comunicado. (g1)

Os ministros haviam sido convidados por Bolsonaro para um encontro no Palácio da Alvorada, mas recusaram. De acordo com Malu Gaspar, um dos argumentos para a decisão foi que seria inapropriado aceitar o convite antes que o presidente reconhecesse o resultado das eleições e enquanto houvesse bloqueios feitos por seus apoiadores em estradas. No fim, coube a Bolsonaro ir ao Supremo. (Globo)

Nas redes sociais, apoiadores do presidente fizeram uma interpretação diferente. Para eles, frases como “nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca” foram um sinal de apoio às manifestações golpistas pelo país, incluindo o fechamento de estradas. (Estadão)

Bolsonaro não ficará à míngua ao deixar o governo, conta Igor Gadelha. Além das prerrogativas de ex-presidente, ele obteve do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, um cargo na legenda, que vai lhe pagar salário e moradia em Brasília, além de custear os honorários de advogados para defendê-lo em processos na Justiça. (Metrópoles)

Bruno Boghossian: “Em nenhuma palavra, Bolsonaro desautorizou seguidores que contestam a escolha de Lula ou pedem uma intervenção militar para impedir sua posse. Ao contrário, mediu palavras para deslegitimar a vitória do adversário quando afirmou que o bloqueio de estradas é fruto de ‘indignação e sentimento de injustiça’ em relação ao processo eleitoral. Bolsonaro só tentou se desvincular das ações criminosas porque busca proteção. Em mais de uma ocasião nos últimos anos, ele demonstrou publicamente o receio de terminar como a ex-presidente boliviana Jeanine Añez, presa por conspirar contra o resultado de uma eleição.” (Folha)

Sérgio Abranches: “Foi patético: ele [Bolsonaro] não reconheceu a vitória de Lula; justificou o bloqueio das estradas como ‘indignação com injustiças eleitorais’. Foi tudo o que disse. Antidemocrático e indecoroso. O centrão, leia-se Ciro Nogueira, assumiu o leme do governo desgovernado, e disse que o presidente — já ausente — autorizou a transição e que ela terá início tão logo requerida formalmente pela equipe do presidente eleito, jamais mencionado. Surreal, transição sem sujeito.” (Twitter)

Elio Gaspari: “Na história da direita brasileira, o mais provável é que Bolsonaro venha a ser um infeliz ponto fora da curva. Uma boa sinalização dessa excentricidade do capitão está no seu isolamento internacional. A direita de Pindorama sempre foi ajudada pelo seu cosmopolitismo. Dois presidentes americanos (John Kennedy e Lyndon Johnson), ambos do Partido Democrata, sopraram as brasas do fogaréu de 1964. Lula foi felicitado por Joe Biden e só o esperto tatarana Steve Bannon disse que a eleição foi fraudada.” (Folha e Globo)

A continuidade dos bloqueios em estradas feitos por caminhoneiros bolsonaristas inconformados com a derrota eleitoral fez com que o ministro do STF Alexandre de Moraes, que também preside o TSE, autorizasse os estados a usarem as PMs para liberarem as vias mesmo em estradas federais. A orientação foi seguida inclusive por aliados eleitorais do presidente Jair Bolsonaro (PL), como Rodrigo Garcia (PSDB-SP), Claudio Castro (PL-RJ), e Romeu Zema (Novo-MG). (Metrópoles)

Não foram poucos os transtornos provocados pelas manifestações golpistas nas estradas. Em Caruaru (PE), uma mulher em trabalho de parto teve de ser escoltada pela PRF até o hospital após ficar presa num dos bloqueios. Hostilizadas por bolsonaristas, pessoas em várias partes do país tiveram de se livrar às pressas de peças de roupa vermelha ou que indicassem o voto no presidente eleito Lula. (Folha)

Houve um aumento na tensão quando o MTST divulgou uma nota convocando seus militantes a desobstruírem as rodovias, enfrentando os caminhoneiros. Outros movimentos de esquerda e políticos ligados ao presidente eleito Lula criticaram a decisão, avaliando que eventuais episódios de violência funcionariam como combustível para a movimentação golpista. (Poder360)

Mas não há bloqueio que resista a uma rodada decisiva do Brasileirão. Integrantes da Galoucura, maior torcida organizada o Atlético Mineiro, furaram na marra a barreira de caminhoneiros que os impedia de chegar à capital paulista, onde o Galo enfrentou ontem à noite o São Paulo — a partida terminou em 2 a 2. Em grupos de mensagens, torcidas de outros clubes anunciam que farão o mesmo caso os bloqueios continuem. (UOL)

Em São Paulo, bolsonaristas que bloqueavam a Marginal Tietê fugiram diante da aproximação de integrantes da Gaviões da Fiel, mais famosa torcida corintiana. Os torcedores carregavam faixas em favor da democracia e cartazes do presidente eleito Lula — torcedor do Timão, aliás. (g1)

Procuradores federais do Pará mandaram ontem ao procurador-geral da República, Augusto Aras, um ofício informando que a Polícia Rodoviária Federal não estava cumprindo a ordem do STF para desobstrução das estradas no estado. (g1)

Enquanto isso... A deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) teve ontem seu perfis removidos do Youtube, Facebook, Instagram, Twitter, Telegram, Tiktok e LinkedIn. No sábado, ela perseguiu de arma em punho um homem negro nas ruas de São Paulo e, nos últimos dias, usou suas redes para apoiar as manifestações golpistas de caminhoneiros. Ela agora afirma que “o Parlamento está sofrendo censura”. (CNN Brasil)

Para analisar a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e da Justiça nos anos Bolsonaro, nas eleições e no porvir, o Meio Político de hoje, que chega aos assinantes a partir das 11h, entrevista Rafael Mafei, professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e autor do livro Como Remover um Presidente. Ele traça um histórico do “ativismo do Judiciário”, com seus momentos de acerto, na defesa firme da Constituição, e nos de erro, na fase do lavajatismo extremo. E avalia que o TSE fez tudo que pôde para garantir eleições limpas e que o país terá clima para, com investigações e decisões bem fundamentadas, punir eventuais crimes cometidos pelo bolsonarismo. Quer saber mais? Seja um assinante premium e receba, além do Meio Político, a Edição de Sábado e esta newsletter diária mais cedo na sua caixa de entrada. Assine!

Em mais uma prova de que a morte política nunca é garantida, o ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu está um passo de voltar ao poder. Pesquisas de boca de urna na eleição de ontem – a quinta em quatro anos – mostram que ele seus aliados devem conquistar uma ligeira maioria no Knesset, o Parlamento de Israel, 61 ou 62 das 120 cadeiras. A ampla coalizão do atual premiê, Yair Lapid, deve chegar a 55 cadeiras. As poucas restantes ficarão com partidos árabes, que não devem apoiar nenhum dos lados. Num país onde o voto é facultativo, 71,3% dos eleitores foram às urnas, o maior comparecimento desde 2015. (CNN)

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