Prezadas leitoras, caros leitores —

Existem algumas máximas em política que, de tão irrefutáveis, viram clichês. Duas estão entrelaçadas em sua essência: rei morto, rei posto e não existe vácuo de poder. Jair Bolsonaro perdeu. Esperneie quem espernear, o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, em seu formato de governo de transição, começou.

Capitaneando essa passagem está Geraldo Alckmin, vice-presidente eleito, ladeado por Aloizio Mercadante e Gleisi Hoffmann. O fiador da virada ao centro do lulismo comandará uma equipe de 50 pessoas. Sua escolha foi, em si, um gesto de que essa guinada foi mais que retórica eleitoral. A Edição de Sábado vai mapear que outros movimentos do novo governo representam esse reposicionamento centrista e quais os nomes, além do vice, à frente dele.

A indisfarçada saudação nazista em São Miguel do Oeste, Santa Catarina, deixa clara uma coisa. Existe um fascismo brasileiro. Mas o que é essa ideologia? Quais são os conjuntos de crenças que unem os fascistas brasileiros dos anos 1930 e os de hoje? Muito. Sua visão de Brasil ideal continua a mesma. E, na semana do centenário de morte de Lima Barreto, um papo com Lilia Schwarcz, historiadora e biógrafa do autor.

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— Os editores.

Governo eleito quer PEC para manter auxílio de R$600

A fim de cumprir duas das principais promessas de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin, que comanda a transição, e o relator-geral do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI) disseram ontem que o futuro governo negocia com o Congresso uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para garantir a manutenção do Auxílio Brasil em R$ 600 e dar ao salário-mínimo um aumento acima da inflação. “Decidimos levar aos líderes partidários, aos presidentes da Câmara e do Senado a ideia de aprovarmos uma PEC em caráter emergencial, excepcionalizando do teto de gastos despesas que são inadiáveis”, afirmou Castro. Alckmin lembrou que, para o valor de R$ 600 seja pago em janeiro, é necessário que a dotação esteja aprovada até 15 de dezembro. (CNN Brasil)

A PEC, porém, já enfrenta resistência dentro da base do futuro governo. Aliado de Lula desde a primeira hora, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) a classificou como “uma barbeiragem” e defendeu a busca de alternativas junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), conta o Painel. A crítica de Renan envolve um interesse paroquial. Para ser aprovada este ano, a PEC da Transição precisaria de apoio maciço do Centrão, leia-se de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e inimigo figadal do senador na política alagoana. (Folha)

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As prioridades iniciais do governo Lula não se limitam ao Auxílio Brasil e ao salário-mínimo. Malu Gaspar revela que os aliados do presidente eleito se articulam para diminuir o poder do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que, via Orçamento secreto, foi uma das eminências pardas de Jair Bolsonaro (PL). O PT sabe que Lira já tem votos para se reeleger e não pretende impedi-lo, mas quer montar uma base coesa com MDB, PSD e União Brasil para reduzir sua margem de manobra. (Globo)

O PSD de Gilberto Kassab topa integrar a base, mas não de graça. A conta vem em três partes. A legenda quer “se sentir governando”, ou seja, deseja cargos. Quer apoio federal a estados em municípios que governa ou vai governar, e isso inclui São Paulo, onde apoiou Tarcísio de Freitas (Republicanos). Por fim, exige que o futuro ocupante do Planalto apoie a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência do Senado. (Folha)

A ideia de atrair o União Brasil pode até parecer delírio, já que parte da legenda era o DEM, que era o PFL, que era antipetista até a medula – além disso, tem entre seus filiados o senador eleito Sérgio Moro (PR). Ontem, porém, o presidente do partido, Luciano Bivar, garantiu que não vai pra oposição e ainda afirmou que existe uma “dívida com a esquerda” por ela ter resistido mais às “fustigações antidemocráticas” dos últimos anos. (Globo)

Para dissipar qualquer dúvida quanto à capacidade de atração do poder, o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal, disse ontem que seus fiéis devem “perdoar o presidente Lula”, lembrando que foi “eleito pela vontade de Deus”. Bolsonarista raiz até a semana passada, Macedo e sua igreja, que hoje controla o Republicanos, deram apoio ativo a Lula em seus dois mandatos anteriores. (Metrópoles)

Meio em vídeo. No folclore político de Brasília, quando um presidente perde poder, as pessoas brincam que nem o café é servido quente. Aliados do governo, líderes mundiais e até eleitores já deram sinais de que Bolsonaro é página virada. Será mesmo? Veja o que diz Mariliz Pereira Jorge nesta edição da coluna De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)

A primeira reunião do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, para tratar da transição de governo terminou com uma surpresa. Quando Alckmin, que estava acompanhado da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e do ex-ministro Aloísio Mercadante, se preparava para deixar o Palácio do Planalto, foi convidado (e somente ele) para uma conversa com o presidente Jair Bolsonaro (PL) em seu gabinete. Mais tarde, já no Congresso, o vice disse que a conversa foi cordial e que Bolsonaro reiterou os “compromissos em relação à transição” (UOL)

Meio em vídeo. Por que Bolsonaro não está acusando fraude eleitoral? Passou os últimos quatros anos falando disso. Por que só tem meia dúzia de malucos nas ruas? Por que o golpe murchou? Muita gente trabalhou por isso, vamos entender? Confira a análise de Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) deixou ontem numa saia justa o procurador-geral da República, Augusto Aras. Após este dizer que todas as estradas no Brasil estavam liberadas, a corporação informou que ainda havia 30 interdições parciais e dois bloqueios completos. Aras atribuiu a informação falsa ao Ministério da Justiça, ao qual a PRF é subordinada. (Globo)

Mesmo reduzidos e enfraquecidos, os movimentos golpistas nas estradas do país provocaram duas imagens de temor ontem. Em João Pessoa (PB), uma professora teve o carro depredado por manifestantes bolsonaristas por ter adesivos do presidente eleito Lula. Já em Pernambuco, um manifestante golpista se agarrou à carroceria de um caminhão que furou um bloqueio e seguiu pendurado por quilômetros. (g1)

Em que pese o risco envolvido, a imagem do golpista agarrado ao caminhão permitiu aos brasileiros exercerem um de seus hobbies favoritos: os memes. (Meio)

A intolerância não se limita às estradas e chega às salas de aula. A Universidade Federal do Amapá (Unifap) está investigando a conduta da professora de pós-graduação Sheylla Susan. Eleitora de Jair Bolsonaro, ela excluiu de seu curso pelo menos dois doutorandos que identificou como “esquerdistas”. “Não quero esquerdista no meu laboratório”, escreveu Susan, que, após o início das investigações, alegou tratar-se de “um exagero” no “calor das eleições. (Folha)

Meio em vídeo. Os bolsonaristas continuam não aceitando o resultado das eleições e estão soltos por aí, causando problemas e até fazendo saudação nazista. Quer entender essa história? Pedro Doria e Cora Rónai explicam. (YouTube)

Propriedade privada

Tony de Marco

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Cultura

Durante décadas, o brasileiro João Havelange (1916-2016), presidente da Fifa, foi uma das figura mais festejadas do esporte mundial. Mas a série Jogo da Corrupção (trailer), que estreia hoje na Amazon Prime, aborda o lado sombrio de sua ascensão. Havelange é interpretado pelo português Albano Jerónimo, mas o Brasil é representado no elenco por nomes como Maria Fernanda Cândido, Eduardo Moscovis e Caroline Abras. Veja também outras estreias de destaque no streaming. (Folha)

E, para alegria dos fãs, a Netflix confirmou ontem a segunda temporada de The Sandman, série baseada no premiado quadrinho de Neil Gaiman. (Rolling Stone)

Os dois belgas que se colaram ao quadro Moça Com Brinco de Pérolas, de Johannes Vermeer, em um museu da Holanda vão passar um mês presos. Os homens fazem parte do Just Stop Oil, uma organização com ramos em vários países que vandaliza obras de arte supostamente para protestar contra o uso de combustíveis fósseis. O grupo intensificou seus ataques no mês passado, tendo como alvo telas de Van Gogh e Monet – que não chegaram a ser danificadas graças a películas de proteção. (g1)

Apelidada de “Rimbaud do rock” e “madrinha do punk”, a americana Patti Smith tem uma carreira musical sólida, além de pintar e fotografar, mas é na literatura, em particular na poesia, que se realiza de fato. “A escrita é a minha forma de expressão mais essencial”, diz a artista de 75 anos. “Em todos os meus álbuns e até na prosa que escrevo, a poesia segue sendo um fio condutor”, completa. Patti lança ainda este mês A Book of Days, baseado em suas reflexões no Instagram. Embora se considere uma otimista, ela está desolada com o estado do mundo, em particular a ascensão do nacionalismo. (Estadão)

Para ler com calma. O que fazer com a obra brilhante de pessoas ruins? É possível separá-los? Para a maioria dos fãs de diversos estilos musicais ouvidos por uma pesquisa do site TickPick, a resposta é não. Entre os ouvintes de rock, 61% dizem ter abandonado músicas de artistas como Eric Clapton e Marilyn Manson. O primeiro, um dos maiores guitarristas de todos os tempos, mergulhou no negacionismo durante a pandemia. Já o segundo, que chegou a dominar o cenário do metal americano nos anos 1990, coleciona acusações de abuso sexual e racismo. Os fãs de jazz são os que mais associam a música ao comportamento do artista (78%), enquanto os de indie são os que menos se importam (52%). (Omelete)

Viver

A farmacêutica Pfizer e a empresa de biotecnologia BioNTech anunciaram o início de estudos clínicos para uma vacina única contra a gripe e a covid-19. O imunizante utiliza a tecnologia RNA mensageiro, a mesma utilizada no produto desenvolvido pelos laboratórios contra o Sars-CoV-2. Segundo anúncio das empresas, o primeiro voluntário do estudo recebeu a primeira dose da nova vacina nesta quinta-feira. O imunizante combina quatro versões do vírus Influenza, causador da gripe, e as subvariantes do coronavírus BA.4 e BA.5 da Ômicron, que mais circulam pelo mundo atualmente. (O Globo)

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O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou, nesta quinta-feira, que o governo federal reative o Fundo Amazônia, criado para monitorar e combater o desmatamento na Amazônia Legal. Com exceção de Kassio Nunes Marques, todos os ministros acompanharam o voto da relatora, ministra Rosa Weber, que considerou inconstitucionais os decretos de Bolsonaro, que extinguiram comitês técnicos de administração, deixando de aplicar R$ 1,5 bilhão do fundo. A Corte já havia formado maioria em 27 de outubro, mas ainda faltavam os votos de Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, proferidos ontem. O governo tem 60 dias para cumprir a decisão. (Poder360)

A ginasta Rebeca Andrade se tornou a primeira brasileira a conquistar uma medalha de ouro na categoria individual geral do Mundial de ginástica artística, realizado em Liverpool, na Inglaterra, nesta quinta-feira. Até então, a melhor marca do Brasil nessa categoria tinha sido o bronze de Jade Barbosa em Stuttgart, na Alemanha, em 2007. Rebeca também foi a primeira a conquistar uma medalha olímpica para a ginástica feminina do país, quando levou a prata na prova individual geral em Tóquio, no ano passado. (Folha)

O Mangrove Photography Awards, concurso de fotografias de mangue, premiou um registro do close na boca de um crocodilo no manguezal localizado no arquipélago de Jardines de la Reina, em Cuba. Confira as fotos vencedoras em diversas categorias. (g1)

Cotidiano Digital

A Netflix lançou nesta quinta-feira seu novo plano com anúncios. A novidade chega em 12 países, além do Brasil. Por aqui, o custo é de R$ 18,90 por mês. A publicidade deve ter duração máxima de 4 a 5 minutos por hora de exibição e não será possível fazer download de títulos para assisti-los offline, como nas assinaturas convencionais. O novo plano também terá um catálogo menor de conteúdos. Além do Básico com Anúncio, a Netflix oferece outras três opções assinaturas: o Básico que custa R$25,90; o Padrão que custa R$39,90 e o Premium que custa R$55,90. (Jovem Nerd)

A Amazon é mais uma gigante de tecnologia a congelar as contratações de funcionários para reduzir custos em meio às incertezas econômicas. Em carta divulgada na quarta, Beth Galetti, vice-presidente sênior de Experiência e Tecnologia de Pessoas, disse que a Amazon vai suspender a contratação global pelos próximos meses para todas as funções corporativas, incluindo cargos de tecnologia, no varejo físico e online. “Estamos enfrentando um ambiente macroeconômico incomum e queremos equilibrar nossas contratações e investimentos com uma reflexão sobre essa economia”, disse. Além da Amazon, Meta e Apple também vão congelar contratações. (The New York Times)

E o WhatsApp lançou globalmente nesta quinta o recurso “Comunidades”. A novidade permite organizar vários grupos em estruturas maiores e chega com outros recursos, como grupos com mais de mil integrantes e enquetes. No Brasil, no entanto, a ferramenta não será lançada antes de 2023. Outros lançamentos de recursos incluem videochamadas de 32 pessoas, bem como enquetes no chat. (g1)

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