Bolsonaro, sem passaporte, sem celular

O ex-presidente Jair Bolsonaro está impedido de sair do país. Por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a Polícia Federal apreendeu ontem seu passaporte e seu celular, numa investigação sobre fraude no registro de vacinação do SUS. Os agentes amanheceram em diversos locais, incluindo a casa de luxo onde ele e a ex-primeira-dama Michelle moram em Brasília. Seis pessoas foram presas, incluindo o tenente-coronel Mauro Cid, antigo ajudante de ordens e braço direito de Bolsonaro. Segundo a investigação da PF, Cid e outros cúmplices inseriram no dia 21 de dezembro do ano passado, com conhecimento do ex-presidente, dados falsos na base de dados do SUS para emitir certificados de vacinação contra covid-19 para Bolsonaro, sua filha Laura, de 12 anos, e outras pessoas. Os documentos, impressos em um computador do Planalto com a conta do presidente, eram necessários para que todos viajassem para os EUA no dia 30 daquele mês. O esquema foi descoberto com a quebra dos sigilos de Cid, que já é investigado pelo vazamento de um inquérito sigiloso da PF e pela tentativa de liberar joias enviadas pela Arábia Saudita. Na casa do militar, os agentes apreenderam US$ 35 mil em dinheiro. Nervoso, ele tentou esconder as cédulas e mais tarde, por orientação de advogados, não respondeu às perguntas da PF. (g1)

Bolsonaro foi intimado pela PF a prestar depoimento sobre o caso ainda ontem, mas não compareceu, alegando que sua defesa não teve acesso aos autos do processo. Em vez disso, ele foi para a sede do PL, onde se reuniu com seus advogados, os filhos e o presidente do partido, Valdemar Costa Neto. Ao sair de casa, ele falou rapidamente aos jornalistas, negando envolvimento em fraudes e reafirmando que não se vacinou. Segundo Lauro Jardim, ele disse aos advogados que não precisou apresentar certificado de vacinação para entrar nos EUA e que Laura passou pela imigração com um documento dizendo que ela não poderia tomar o imunizante. A estratégia, caso a fraude seja comprovada, é responsabilizar Mauro Cid, que, em gravação diz para “botarem na sua conta” a ação. (Globo)

Mas o que realmente está animando os investigadores e assustando os bolsonaristas é a apreensão do celular do ex-presidente, conta Carolina Brígido. Há a expectativa de que mensagens e os arquivos no aparelho municiem a PF com informações úteis em outros inquéritos. (UOL)

A Procuradoria-Geral da República (PGR) foi contra a busca e apreensão na casa de Bolsonaro. A vice-procuradora-geral Lindôra Araújo encampou a tese de que Cid teria “arquitetado e capitaneado” a fraude à revelia do ex-presidente. Suas alegações, porém, não sensibilizaram Moraes. (Metrópoles)

A fraude, explica Malu Gaspar, começou com um médico bolsonarista de Cabeceiras (GO), que emitiu cartões de vacinações para Bolsonaro, Laura, Cid e a mulher deste. O grupo tentou registrá-los na base de dados do SUS em Duque de Caxias (RJ), mas o sistema recusou, já que o lote de vacinas assinalado fora enviado para Goiás, não para o Rio. Cid mobilizou seus ajudantes para obter um novo número de lote e fazer o registro. Após os certificados serem impressos, os dados foram apagados do sistema. (Globo)

Entre os presos está o secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha. Ele teria inserido pessoalmente os dados falsos no sistema do SUS. (Poder360)

Ironicamente, a descoberta da farsa aconteceu na Controladoria Geral da União (CGU) do próprio governo Bolsonaro, conta Guilherme Amado. No fim do ano passado, o então ministro Wagner Rosário teve acesso ao registro de vacinação e constatou que era falso, pois sabia que o presidente não estava em Cabeceiras naquele dia. Imaginando se tratar de um ataque hacker contra o governo, mandou abrir uma investigação com apoio da PF. (Metrópoles)

A operação contra Bolsonaro e seus assessores provocou reações de todos os lados. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho Zero Um, disse que estava em curso uma tentativa de “assassinar a reputação” do pai. “Como não conseguem envolvê-lo em esquema de corrupção nenhum, ficam buscando qualquer coisa que resulte numa prisão arbitrária dele ou numa inelegibilidade sem qualquer fundamento”, afirmou. Já a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, comemorou no Twitter. “Dia quente logo cedo em Brasília”, escreveu. (Terra)

E, como era de se esperar, a operação da PF rendeu sua cota de memes. (Poder360)

Meio em vídeo. O que a operação da PF contra Bolsonaro, Mauro Cid e outros tem a ver com o PL das Fake News? Tudo. Veja o que diz Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)

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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou ontem, em entrevista ao Estúdio i, que não é possível dizer se o Supremo Tribunal Federal vai se pronunciar antes do Congresso sobre a responsabilização das redes sociais por conteúdos publicados pelos usuários. Com relatoria do ministro Dias Toffoli, a Corte analisa a constitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que define que provedores de serviços só podem ser responsabilizados por conteúdo de terceiros caso haja decisão judicial. Essa é uma das questões do PL das Fake News. Lira afirmou que o clima para a votação “não está fácil de ser conduzido” devido à complexidade do assunto e à polarização entre os parlamentares. Ele disse também que tem havido muita pressão. “As big techs ultrapassaram todos os limites da prudência”, afirmou, acrescentando que a Casa estuda formas de responsabilizar as empresas judicialmente. “A pressão foi horrível, desumana e mentirosa”. (g1)

Francisco Leali: “Da maneira com que o projeto vem sendo remendado, a Câmara corre o risco de transformar a proposta de lei na fábula do ‘O Velho, o Menino e o Burro’, onde a cada esquina se muda o script na tentativa de agradar a uns e a outros, sendo que a moral da história ensina que não dá para agradar a todo mundo sempre.” (Estadão)

Meio em vídeo. No Dia da Liberdade de Imprensa, o Conversas Com O Meio recebeu a jornalista e escritora Patrícia Campos Mello, alvo de ataques bolsonaristas nos últimos quatro anos. Na pauta, o papel da imprensa na construção da consciência política e de uma sociedade mais bem informada, o PL das #FakeNews e os caminhos dos governos para a regulação das redes e o combate à desinformação. (YouTube)

Por 295 a 136 votos, deputados aprovaram na noite de ontem o projeto de decreto legislativo (PDL) que derruba trechos de dois decretos com mudanças feitas pelo governo no Marco do Saneamento. Essa é a primeira derrota de fato do governo Lula na Câmara — o adiamento do PL das Fake News também foi um revés, mas a votação ainda não ocorreu — e mostra que a base governista não está consolidada. “Acho que isso fica como lição para todos aqui dentro. É um recado? Evidente que é”, disse o líder do governo na Casa, José Guimarães (PT-CE), que defendeu que haja um “freio de arrumação”. Com esse resultado, o Senado terá de se posicionar sobre o tema para que as alterações deixem de valer, aumentando as chances de as mudanças no Marco do Saneamento ocorrerem via projeto de lei. (Folha)

O general Marcos Antônio Amaro dos Santos vai assumir a chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). A confirmação foi feita pelo presidente Lula ontem, durante almoço com o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e o próprio general. Amaro foi responsável pela segurança da então presidente Dilma Rousseff e comandou a Casa Militar no governo da petista. (UOL)

O governo da Ucrânia negou ontem que tenha tentado matar o presidente russo Vladimir Putin usando dois drones. Segundo a Rússia, defesas aéreas abateram os artefatos, que teriam como alvo a residência oficial do presidente em Moscou, a 450 quilômetros da fronteira ucraniana. Kiev, por sua vez, diz que o ataque foi forjado pelos russos, embora mais de 20 supostos ataques com drones tenham atingido alvos da Rússia nas áreas de fronteira desde a invasão da Ucrânia. (BBC)

Viver

Vivek Murthy, que está à frente de uma autoridade de saúde dos Estados Unidos, alertou que o país enfrenta uma epidemia de solidão tão perigosa quanto fumar 15 cigarros por dia. A solidão aumenta o risco de morte prematura em quase 30%, devido a problemas como diabetes, ataque cardíaco, insônia e demência. A falta de conexão social foi agravada pela pandemia de Covid-19. Também está relacionada a um baixo desempenho acadêmico e no trabalho, segundo estudo do US Surgeon General. O próprio Murthy admite ser um dos milhões de americanos que vivenciaram uma “profunda sensação de solidão” e defende que o isolamento social seja tratado com a mesma seriedade que a obesidade e o abuso de drogas. (BBC)

A operação Metaverso, do Ibama, aplicou R$ 56,8 milhões em multas contra um esquema que fraudava a origem de madeira extraída ilegalmente. Cerca de 106 mil m³, avaliados em R$ 3 milhões, foram bloqueados pelo órgão governamental. Iniciada em janeiro, a operação ocorre no Distrito Federal e nos estados do Acre, Amapá, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Roraima e Tocantins. (Folha)

Panelinha no Meio. A mandioca é o Brasil na cozinha, um ingrediente presente do Oiapoque ao Chuí. Uma de suas infinitas opções de preparo são as galetes de mandioca, um petisco assado delicioso com preparo semelhante ao da batata rosti. Para acompanhar, um purê de beterraba com sardinha.

Cultura

Embora a greve dos roteiristas nos EUA, iniciada na segunda-feira, já tenha tirado do ar talk shows e ameace séries como Kobra Kai e Yellowjackets, não são poucas as celebridades de Hollywood manifestando apoio ao movimento. “Não entendo qual é o problema. Tudo mudou com o streaming, e todos deveriam ser recompensados por seu trabalho. É fácil”, diz a atriz Amanda Seyfried. Jay Leno, um dos mais famosos apresentadores de talk shows dos EUA, foi pessoalmente levar comida para os grevistas num piquete na porta dos estúdios Disney. (Globo)

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As estreias de hoje no cinema começam fora de órbita, com Guardiões da Galáxia Volume 3 (trailer), que encerra a bem-sucedida trilogia de ficção científica da Marvel. Quem prefere ficar na Terra tem duas boas opções nacionais. A Primeira Morte de Joana (trailer), de Cristiane Oliveira, trata das dores e dúvidas na transição entre a infância e a adolescência. Já Bem-Vinda, Violeta! (trailer), coprodução Brasil/Argentina dirigida por Fernando Fraiha, traz Débora Falabella como uma escritora que vai buscar inspiração num laboratório literário nos Andes.

Confira a programação completa nos cinemas de sua cidade. (AdoroCinema)

Cotidiano Digital

O Google anunciou ontem que os usuários agora podem criar chaves de acesso em contas pessoais da empresa. Com isso, o Google não solicitará senha ou verificação em duas etapas no momento do login para acessar os dispositivos vinculados. As passkeys são criadas na conta Google do usuário e ficam armazenadas em um computador ou smartphone. Será solicitada uma biometria de bloqueio de tela ou PIN para confirmar que é o usuário que está tentando acessar a conta. De acordo com a big tech, “as passkeys são uma alternativa mais conveniente e segura às senhas”. Os métodos existentes, incluindo a senha, ainda funcionarão como logins. (Época Negócios)

A big tech também resolveu seguir os passos do Twitter e criou um selo de verificação para o Gmail. Os e-mails mostrarão um selo azul de autenticação ao lado do nome do remetente. O selo ajudará os usuários a reconhecer as contas legítimas e evitar golpes. (Gizmodo)

A Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC, na sigla em inglês) quer proibir a Meta de lucrar com dados pessoais de menores de 18 anos. O órgão regulador acusa a dona do Facebook, WhatsApp e Instagram de não cumprir um acordo estabelecido com a agência em 2020 sobre o Messenger Kids, aplicativo de mensagens destinado a crianças. Segundo a comissão, a big tech quebrou a promessa de que crianças usando a ferramenta só poderiam conversar com contatos aprovados pelos pais, uma vez que menores de 18 anos conseguiam falar com estranhos via grupos e videochamadas. Além da proibição total de monetizar dados de crianças e adolescentes, a Meta vai precisar do aval da FTC para lançar novos produtos e serviços. A companhia tem 30 dias para responder às mudanças propostas (Núcleo Jornalismo)

O porta-voz da Meta, Andy Stone, chamou a ação da FTC de “golpe político”, dizendo que a agência não deu à empresa a oportunidade de discutir uma “teoria sem precedentes”. “Vamos lutar vigorosamente contra esta ação e esperamos prevalecer”, afirmou. (Washington Post)

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