Prezadas leitoras, caros leitores —
Cuca, Robinho e Daniel Alves têm, além da bola, mais uma coisa em comum: a consequência. Profissionais do futebol não eram acostumados a ela. Aprenderam a driblá-la, com inestimável ajuda de torcedores e imprensa. Agora, conforme a sociedade vai se apropriando da noção de que o que acontece fora dos campos afeta, em muitos casos, a vida dentro deles, os boleiros vão tendo de encarar que há comportamentos que são, sim, intoleráveis.
Os que envolvem episódios de abuso ou violência contra mulheres estão no topo dessa lista. Isso passa também pelo fato de que o Brasil finalmente aceitou o incontornável: o país do futebol é também delas. Suas vozes vêm das arquibancadas, dos gramados, das redações — e não serão mais ignoradas. É sobre essa mudança que vamos tratar na Edição de Sábado, trazendo ainda um depoimento pessoal da editora Andrea Freitas sobre o que foi ser uma jovem repórter num esporte tão inóspito às mulheres como era o futebol no fim dos anos 1990.
Consequência é o que começa a experimentar o ex-presidente Jair Bolsonaro à medida que as investigações sobre seus malfeitos avançam. Ouvimos seus aliados e adversários em Brasília para antever os efeitos disso no caldeirão do bolsonarismo.
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Lula cobra de Padilha verbas a parlamentares para evitar novas derrotas
A primeira derrota de fato do governo no Congresso Nacional mostra que há muitos infiéis e que a tentativa de montar uma coalizão com base na distribuição de ministérios entre os partidos não está funcionando. O que definiu a derrota do governo por 295 a 136 votos não foi o tema — mudanças no Marco do Saneamento —, mas a insatisfação dos partidos de centro e de direita com a liberação de cargos e emendas ao Orçamento. O não cumprimento ou a lentidão na execução das promessas feitas até agora é motivo de queixas dos parlamentares. Ontem, Lula cobrou publicamente o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha: “Espero que ele tenha a capacidade de organizar, de articular, que ele teve no conselho, dentro do Congresso Nacional. Aí vai facilitar muito a vida”. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), defende a montagem da base por meio da distribuição e liberação ágil de emendas parlamentares. (Folha)
Com as cobranças de Lira e as dificuldades para angariar apoio na Câmara, o governo autorizou ontem a liberação de R$ 3 bilhões do Orçamento na área de Saúde. O montante será enviado a estados e municípios, mas o destino do dinheiro será definido em negociação com as bancadas estaduais no Congresso. Segundo o Ministério da Saúde, a liberação já estava prevista na PEC da Transição. Esse valor é parte dos R$ 9,8 bilhões que o Executivo herdou com o fim do orçamento secreto. (g1)
No Senado, a oposição está se articulando para votar o projeto que derruba as alterações no Marco do Saneamento. Líder da oposição na Casa, Rogério Marinho (PL-RN), conversou ontem sobre o tema com o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele pediu “celeridade” para que a matéria seja votada em plenário nas próximas três semanas. (Estadão)
Preso na manhã de quarta-feira por suspeita de envolvimento na falsificação do certificado de vacinação do ex-presidente Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid conversou com um aliado, também preso, sobre um plano de golpe de Estado em dezembro do ano passado. Em gravações obtidas pela Polícia Federal, Cid ouve do ex-major e advogado Ailton Barros o plano, envolvendo também Bolsonaro e o então comandante do Exército, general Freire Gomes. “Se ele [Gomes] não aderir, quem tem que fazer esse pronunciamento [do golpe] é o Bolsonaro, para levantar a moral da tropa”, diz Barros. “Nós temos a caneta e a força”, completa. O ex-militar falou ainda na prisão do presidente do TSE, Alexandre de Moraes: “Nos decretos e nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão ao comandante da brigada de operações especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele.” A defesa de Mauro Cid não se manifestou sobre a gravações. (CNN Brasil)
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro é hoje a principal dor de cabeça dos aliados do ex-presidente, dada a proximidade entre os dois, conta Andréia Sadi. A estratégia é emplacar a versão de que Cid fez tudo, da tentativa de liberação das joias sauditas à falsificação da carteira de vacinação, sem o conhecimento do chefe. Mas há a preocupação também com o que os agentes federais podem encontrar no pen-drive e no celular apreendidos na casa do ex-presidente. (g1)
Enquanto isso... Dirigentes do PL que se reuniram ontem em Brasília com Bolsonaro o consideraram muito abatido com a operação da PF. Ele voltou a negar envolvimento com a falsificação da carteira de vacinação e disse que deveria ter tomado o imunizante, ainda que para diminuir a rejeição do eleitorado na disputa presidencial. Por conta da ação dos agentes federais, Bolsonaro cancelou a participação em um congresso de direita que acontecerá em Portugal nos dias 13 e 14 deste mês. (Globo)
E... Este Meio errou. Embora o ministro Alexandre de Moraes tenha determinado a apreensão do passaporte de Bolsonaro, a PF não cumpriu a ordem. Segundo Igor Gadelha, o delegado responsável pela operação achou desnecessário reter o documento. (Metrópoles)
Meio em vídeo. Um levantamento do instituto de pesquisa Quaest mostrou que 19% das menções sobre a operação de busca e apreensão na casa de Jair Bolsonaro foram em sua defesa. As pessoas acham aceitável um ex-presidente falsificar um documento, mas com este crime ele apenas valida entre seus eleitores uma das piores práticas em nossa sociedade: o jeitinho brasileiro. Veja o comentário de Mariliz Pereira Jorge na coluna De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)
Jair Bolsonaro não foi o único a ter um dia desagradável. Um laudo do Ministério Público do Rio comprovou a prática de rachadinhas no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). De acordo com o documento, desde 2018, Jorge Luiz Fernandes, chefe de gabinete do Zero Dois, recebeu depósitos de R$ 2,014 milhões das contas de outros funcionários. Fernandes chegou a pagar contas do vereador, e o MP investiga se esses pagamentos eram regulares, o que caracterizaria crime de peculato. Segundo Bela Megale, o ex-presidente foi avisado de que o cerco ao filho estava se fechando, o único dos três rebentos políticos que pode ser preso pela Justiça estadual. Ontem, a defesa de Carlos reclamou de “vazamentos seletivos” sobre o caso. (Globo)
O Zero Dois está só. Segundo Guilherme Amado, ninguém tem procurado os desembargadores do TJ-RJ para interceder em favor do vereador, ao contrário do que aconteceu com seu irmão mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), investigado por rachadinhas quando era deputado estadual. (Metrópoles)
O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria ontem para derrubar o indulto do ex-presidente Jair Bolsonaro ao ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a oito anos e nove meses de prisão em abril de 2021 por estímulo a atos antidemocráticos. Seis ministros já votaram em favor da derrubada do indulto: a relatora Rosa Weber, Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Edson Fachin, Dias Toffoli e Cármen Lúcia. Indicados por Bolsonaro, André Mendonça e Nunes Marques foram os únicos, até o momento, a defender a manutenção da chamada graça presidencial. O julgamento será retomado na quarta-feira para que os ministros Luiz Fux e Gilmar Mendes votem. (g1)
Indicado pelo presidente Lula, Luiz Fernando Corrêa foi aprovado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado para exercer o cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A sessão deveria ter ocorrido em março, mas foi cancelada por suposta ligação de seus subordinados diretos ao ex-ministro da Justiça Anderson Torres e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele negou. Para assumir a Abin, seu nome ainda tem de passar pelo plenário da Casa. (Poder360)
Viver
A Polícia Federal deflagrou ontem a operação Day After, que levou à prisão de 50 colecionadores, atiradores e caçadores (CACs) com posse de armas autorizada pelo Exército, mas com mandados de prisão em aberto. Por lei, só pessoas idôneas e sem antecedentes criminais podem ter registro de CAC. Entre os presos, há investigados por homicídio, tráfico e violência doméstica. A operação, que não tem data para terminar, foi iniciada no dia seguinte ao fim do prazo de recadastramento no Sistema Nacional de Armas, controlado pela PF. Outras 6.168 pessoas podem ser detidas por não terem feito o recadastramento. Os CACs eram regulados apenas pelo Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), do Exército. Isso deve mudar. (Globo)
A partir de 1° de agosto, as farmácias poderão realizar 47 exames de análises clínicas, como HIV e Beta-hCG. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou anteontem a atualização de uma norma permitindo a realização de exames que tomam como base fluidos do organismo, como sangue, urina, fezes e secreções. Até então, as farmácias só podiam fazer testes de Covid-19 e glicemia. (g1)
Já o Ministério da Saúde lançou ontem uma campanha nacional, alertando para sinais, sintomas, prevenção e controle da dengue, chikungunya e Zika devido à alta expressiva de casos. “Todo local de água parada deve ser eliminado, pois é lá que o mosquito transmissor, o Aedes aegypti, coloca os seus ovos”, recomenda o ministério. (Agência Brasil)
A Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês) alertou que os países devem se preparar para o aumento da temperatura com a chegada do El Niño, que aquece o Oceano Pacífico. Há 60% de chances de o fenômeno ser sentido entre maio e julho, chegando a 80% entre julho e setembro. Nos últimos três anos, a Terra esteve sob a influência do La Niña, que age de forma contrária, esfriando as águas do Pacífico. Mesmo assim, o calor bateu recorde. “O desenvolvimento de um El Niño provavelmente levará a um novo pico no aquecimento global e aumentará a chance de quebrar recordes de temperatura”, afirmou o secretário-geral da WMO, Petteri Taalas. (Canaltech)
Cultura
O cantor britânico Ed Sheeran foi inocentado ontem da acusação de plágio movida por herdeiros do compositor Ed Townsend. Após poucas horas de deliberação, um júri de Nova York concluiu que ele não compôs Thinking Out Loud (Spotify) baseada em Let’s Get It On (Spotify), de Townsend e Marvin Gaye. Após o veredito, Sheeran disse estar feliz, mas reclamou que o caso tenha chegado aos tribunais. “Estou completamente frustrado que esse tipo de alegação sem base possa ir a julgamento”, reclamou. (Variety)
O Festival de Cannes começa no próximo dia 16 com uma atração que fala ao coração dos brasileiros, diz a coluna de Ancelmo Gois. A mostra Cannes Classic vai exibir o documentário Nelson Pereira dos Santos - Vida de Cinema, dirigido por Aída Marques e Ivelise Ferreira, viúva de Nelson, que morreu em 2018. (Globo)
Para ler com calma. Lulu Santos (Spotify) está grave. Calma. O cantor, que fez 70 anos ontem, está apenas descobrindo um registro vocal que lhe é confortável, após décadas buscando um alcance que não tinha. “O grave é o som do planeta, o primeiro que o ser humano ouve, porque é o batimento cardíaco da mãe. A humanidade vai buscar seu próprio ponto de reverberação - e eu vou junto”, diz ele. (Folha)
Cotidiano Digital
O Google vai apresentar oficialmente na próxima quarta-feira seu primeiro smartphone dobrável, o Pixel Fold. O celular será lançado durante a conferência de programadores da empresa, o Google I/O de 2023, principal evento da gigante de tecnologia, que acontece anualmente em Mountain View, nos EUA. Por enquanto, todas as informações técnicas sobre o aparelho estão sendo mantidas em segredo. Um breve teaser mostrando o design do smartphone foi divulgado ontem. O valor estimado de lançamento do Pixel Fold é de US$ 1,7 mil (cerca de R$ 8,4 mil na conversão direta). (Estadão e Olhar Digital)
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apresentou um projeto de lei (PL) que regulamenta no Brasil o uso de sistemas de inteligência artificial (IA). O projeto tem dois objetivos: o estabelecimento de direitos ao cidadão afetado pela tecnologia e a criação de ferramentas de fiscalização e supervisão. Três outros projetos que já tramitavam no Congresso Nacional desde 2019 também foram incorporados ao texto. A proposta introduz, entre outros pilares, a classificação de riscos, obrigações e requisitos de governança dos sistemas de IA, além da supervisão e responsabilização de desenvolvedores e empresas. O texto também prevê uma multa de até R$ 50 milhões para cada violação cometida pelas empresas e as enquadra nas punições da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), de 2018. (Valor Econômico e g1)
Enquanto isso, governos de vários países buscam regular ferramentas com essa tecnologia desde o surgimento de chatbots como o ChatGPT. Após reunião com representantes de Google, Microsoft e outras empresas, a Casa Branca anunciou ontem duas iniciativas de fomento à pesquisa e regulação da inteligência artificial. A primeira vai destinar US$ 140 milhões à criação de sete centros de pesquisa dedicados à tecnologia. A segunda prevê a divulgação de diretrizes preliminares para agências governamentais, de modo a garantir que o uso da IA salvaguarde “os direitos e a segurança do povo americano”. (O Globo)
