Prezadas leitoras, caros leitores —

Tem ajudante, advogado, hacker, general, ex-presidente — personagens de todo tipo para crimes de toda espécie. Mas é nos movimentos de um juiz que se depositam as expectativas das cenas dos próximos capítulos da temporada Brasil.

A Edição de Sábado se dedica a traçar o que pensa e como trabalha Alexandre de Moraes, o ministro do Supremo Tribunal Federal à frente da ofensiva contra Jair Bolsonaro e seu perigoso empreendimento antidemocrático (e corrupto). As estratégias e o temperamento de Alexandre. E os caminhos dos processos que engolfam o ex-presidente.

Não por acaso há semelhanças com o cerco jurídico a Donald Trump. Não deu tempo de acompanhar essa prequel nos EUA? A gente explica também. E ainda vamos contar como uma apresentação de James Brown que completa 40 anos neste domingo pode ter contribuído para uma histórica rivalidade entre Prince e Michael Jackson nos anos 1980.

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— Os editores.

Mauro Cid e hacker denunciam Bolsonaro

Fim do silêncio. O tenente-coronel Mauro Cid vai confessar. Mas o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro não vai assumir a culpa sozinho pelo esquema de venda e recompra de joias: envolverá o ex-presidente de forma direta. Preso há três meses por falsificar cartões de vacinação, Cid admitirá que vendeu nos Estados Unidos peças presenteadas ao governo brasileiro, transferiu o dinheiro dessa negociação para o Brasil e entregou-o em espécie a Bolsonaro. Seu novo advogado, Cezar Bitencourt afirmou à revista Veja que optou por uma confissão espontânea, que servirá de atenuante na hora da definição da pena, assim como o fato de o crime ter sido cometido “em cumprimento de ordem de autoridade superior”. No caso de Cid, o chefe era Bolsonaro. O tenente-coronel vai deixar claro que o ex-presidente sabia que alguns dos procedimentos eram totalmente irregulares e outros, criminosos. “A questão é que isso pode ser caracterizado também como contrabando. Tem a internalização do dinheiro e crime contra o sistema financeiro”, disse Bitencourt. “Mas o dinheiro era do Bolsonaro.” O nome de Cid aparece quase diariamente em evidências coletadas pela Polícia Federal e na CPMI do 8 de janeiro. O caso das joias e a trama golpista ganharam fôlego com as mensagens descobertas em seu celular, na sua caixa de e-mail e em relatórios do Coaf. Sua confissão complica a situação de Bolsonaro. (Veja)

Para investigar se o dinheiro da venda das joias chegou de fato até o ex-presidente, o ministro Alexandre de Moraes autorizou a quebra do sigilo fiscal e bancário de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle. Moraes também autorizou o pedido de cooperação internacional feito pela PF para solicitar aos EUA a quebra de sigilo bancário das contas dos investigados no caso das joias. (g1)

O celular que o advogado Frederick Wassef usava para falar exclusivamente com Bolsonaro está entre os quatro apreendidos na noite de quarta-feira pela PF, segundo o Blog da Natuza Nery. Dois aparelhos estavam no bolso de Wassef e dois, no seu carro, que foi revistado. (g1)

Não há justificativa legal para a venda de presentes recebidos por um presidente durante o mandato, afirmou ontem o ministro da Controladoria-Geral da União, Vinicius Marques de Carvalho. “Sempre há formas de aprimoramento da legislação, mas o que a gente precisa separar é não cair numa armadilha de achar que foi por falta de regulamentação, falta de esclarecimento sobre o que é patrimônio do Estado, o que é presente personalíssimo, que houve essa confusão.” (Globo)

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O hacker Walter Delgatti Neto não poupou palavras na CPMI do 8 de janeiro e repetiu o nome de Jair Bolsonaro diversas vezes. Ele atribuiu ao ex-presidente orientações para manipular urnas eletrônicas, assumir a autoria de um suposto grampo ilegal do ministro do Supremo Alexandre de Moraes e participar de reuniões com o Ministério da Defesa sobre aspectos técnicos de suas propostas. Delgatti afirmou que o ex-presidente chegou a oferecer um indulto para que invadisse o sistema das urnas eletrônicas em reunião no Palácio da Alvorada com a participação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), de Mauro Cid e do coronel Marcelo Câmara. “Fique tranquilo, se algum juiz te prender, eu mando prender o juiz”, teria dito Bolsonaro, segundo o hacker, que se colocou à disposição das autoridades para acareações e comprovação de seu depoimento. Após as acusações, o hacker foi intimado pela Polícia Federal a prestar um novo depoimento hoje. Já a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse que os relatos dão “fortes condições” de pedir o indiciamento do ex-presidente, corroborando o que havia dito em entrevista na véspera. (Estadão)

Bolsonaro desmentiu as falas de Delgatti. Sua defesa afirmou que vai apresentar uma queixa-crime contra o hacker, alegando que ele “apresentou informações e alegações falsas, totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova, inclusive cometendo, em tese, o crime de calúnia”. (Poder360)

À tarde, Delgatti ficou em silêncio e não respondeu aos questionamentos da oposição. Parlamentares bolsonaristas tentaram associá-lo ao PT. Essa estratégia teria sido alinhada na pausa para o almoço com a participação do ex-presidente. “O senhor recebeu alguma vantagem para fazer esse trabalho?”, questionou o senador Flávio Bolsonaro (PL). “Por orientação do meu advogado, vou ficar em silêncio”, respondeu. (Metrópoles)

Delgatti, no entanto, não se calou para o senador Sergio Moro (União Brasil) ao ser questionado sobre seus antecedentes criminais. “Eu li as conversas de vossa excelência e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz, que cometeu diversas irregularidades e crimes”, disse, sendo advertido em seguida pelo presidente da sessão, Cid Gomes (PDT). (Globo)

Ainda ontem, a PF deflagrou a 14ª fase da Operação Lesa Pátria na Bahia, Goiás, Paraíba, Paraná, Santa Catarina e no Distrito Federal. Os alvos eram suspeitos de terem fomentado a “Festa da Selma”, termo utilizado para convocar os atos de 8 de janeiro. Os influenciadores Isac Ferreira, Rodrigo Lima e Juliana Gonçalves Lopes Barros; o pastor Dirlei Paiz e a cantora gospel Fernanda Ôliver estão entre os presos. Outras cinco pessoas foram alvos de prisão preventiva. As prisões foram decretadas por Alexandre de Moraes a pedido da PF. (g1)

Já a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou e pediu ao STF a prisão preventiva do comandante-geral da Polícia Militar do DF, coronel Klepter Rosa Gonçalves; do ex-comandante da corporação coronel Fábio Augusto Vieira; e de mais cinco oficiais que integravam a cúpula da PM do DF em 8 de janeiro, conta Isadora Teixeira. (Metrópoles)

Em cerca de uma hora e meia, Lula e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), fecharam quase todos os detalhes da minirreforma ministerial. O Centrão ficará com dois ministérios (Desenvolvimento Social e Portos e Aeroportos); presidência e 12 vice-presidências da Caixa Econômica Federal; e o comando da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Apesar das resistências, o petista Wellington Dias deixará o Desenvolvimento Social, que ficará com o deputado federal André Fufuca (PP-MA). Mas o Bolsa Família também sairá da pasta, migrando para o Ministério da Gestão e Inovação ou para a Casa Civil. O Ministério de Portos e Aeroportos deve ficar com Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). O presidente da legenda, Marcos Pereira, ainda vai dar a palavra final sobre seu nome. O destino de Dias ainda é incerto. Talvez assuma uma nova pasta: Micro e Pequenas Empresas. (Poder360)

A PF cumpriu mandado de busca e apreensão ontem, em Mossoró (RN), contra um homem que ameaçou de morte o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Ele se autointitula integrante da Al Qaeda e, nas redes sociais, afirmou que explodiria uma grande bomba em nome do grupo terrorista. A PF investiga os crimes de ameaça e promoção ao terrorismo. O inquérito que corre sob sigilo na Divisão de Enfrentamento ao Terrorismo. (Metrópoles)

Pesando

Tony de Marco

Pesando

Viver

Um relatório de análise preliminar divulgado ontem pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aponta que o Sistema Interligado Nacional foi separado em três áreas elétricas 600 milissegundos após a linha de transmissão da Chesf ser desligada no Ceará. Depois disso, observou-se um “afundamento brusco de tensão”, que se espalhou para linhas próximas, causando oscilações. O ONS afirma que a saída da linha não foi suficiente para causar todo o apagão que afetou 29 milhões de residências em 25 estados e o Distrito Federal na terça-feira. O Relatório de Análise de Perturbação, com mais detalhes do que ocorreu, será apresentado em até 45 dias úteis. Uma primeira reunião para elaborá-lo foi marcada para o dia 25. (Valor)

Um estudo publicado no periódico PLOS Climate mostra que o 1% mais rico da população dos Estados Unidos foi responsável por 15% a 17% das emissões de carbono no país em 2019. Considerando apenas o 0,1% mais abastado, as emissões eram, em média, 1.700 vezes maiores do que as dos 10% mais pobres. A pesquisa revela ainda uma relação entre renda e gases do efeito estufa emitidos para gerar receita. Os pesquisadores descobriram que 40% das emissões de poluentes no país são atribuíveis ao fluxo de rendimentos dos 10% mais ricos. (Folha)

Meio em vídeo. A descriminalização da maconha é urgente, mas essa discussão é hipócrita. Estamos sempre na vanguarda do atraso, afirma Mariliz Pereira Jorge na coluna De Tédio a Gente Não Morre. O que o STF, o Congresso e a sociedade deveriam estar discutindo em agosto de 2023 é a legalização das drogas. (YouTube)

Cultura

Amy Winehouse (Spotify), que morreu em julho de 2011, faria 40 anos no próximo dia 14. Para celebrar a data e divulgar o livro Amy Winehouse In Her Words (Amy Winehouse nas Próprias Palavras), os pais da cantora divulgaram trechos dos diários que ela manteve na adolescência. A leitura mostra, por um lado, já algo da personalidade singular que marcaria seu estilo e sua carreira: “Estou feliz por ser diferente. Não é como se eu quisesse ser como todo mundo.” Por outro revela ansiedades típicas da idade: “Às vezes eu penso, eu me pergunto se há alguém. Será que o amor vai cruzar meu caminho?” (Globo)

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A morte do historiador José Murilo de Carvalho, no último domingo, abriu uma vaga na Academia Brasileira de Letras, e a disputa já começou. Nas conversas internas, o mais cotado é o ambientalista e filósofo indígena Ailton Krenak, autor, entre outros livros, de Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, A Vida Não é Útil e Futuro Ancestral. Mas há outro nome de peso na disputa, a também historiadora Mary Del Priore, que tem na bagagem mais de 50 obras, incluindo a série História da Gente Brasileira. A eleição na ABL acontece daqui a 45 dias. (Estadão)

Meio em vídeo. Pedro Doria e Cora Rónai conversam com Monica Rizzolli, um dos mais importantes nomes da arte gerativa (também chamada de generativa) do Brasil. Eles discutem o processo de criação de Monica e como ela começou a produzir obras de arte com um computador. Além disso, falam sobre como funciona o mercado de NFTs. (YouTube)

Cotidiano Digital

O Senado criou uma comissão interna para debater a inteligência artificial (IA). O objetivo é formular uma legislação que equilibre a privacidade dos cidadãos com o progresso tecnológico. A Comissão Temporária sobre Inteligência Artificial (CTIA) é liderada por Carlos Viana (Podemos-MG) e terá Eduardo Gomes (PL-TO) como relator. Serão quatro meses para analisar o anteprojeto da Comissão de Juristas sobre IA, apresentado em dezembro do ano passado após debates com especialistas e representantes da sociedade civil para mapear propostas regulatórias e desafios globais. Com a nova comissão, a primeira atividade será uma audiência pública com o vice-presidente sênior do Google, Prabhakar Raghavan. (Núcleo Jornalismo)

A Justiça russa multou o Google em 3 milhões de rublos (R$ 158,5 mil), acusando a companhia de não ter apagado vídeos no YouTube sobre a invasão à Ucrânia. Segundo um tribunal da Rússia, a big tech teria mantido no ar conteúdos com “informações falsas sobre a operação militar espacial” e “formas para entrar ilegalmente em estruturas sob vigilância”. Desde o início da guerra, o governo aplicou dezenas de multas a empresas de tecnologia ocidentais como parte de um esforço para aumentar o controle sobre o que usuários russos veem na internet. Apesar da debandada de empresas, a subsidiária russa do Google continua operando no país. O YouTube é usado por cerca de 77 milhões de pessoas na Rússia e é uma das poucas plataformas globais ainda disponível por lá. (Época Negócios e Olhar Digital)

O WhatsApp lançou ontem novos recursos para os usuários no Brasil. Entre as novidades, está a possibilidade de enviar fotos em alta definição. A função estará disponível como HD na tela com os outros recursos de edição do aplicativo. Segundo a Meta, dona do mensageiro, as fotos em HD ainda serão um pouco compactadas para garantir que o envio e o recebimento sejam rápidos. Há também a possibilidade de enviar mensagens de vídeo. Além disso, estão disponíveis o recurso de verificação de privacidade e a opção de silenciar ligação de desconhecidos no aplicativo. (g1)

alexandrem

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