Prezadas leitoras, caros leitores —
O Brasil teve agência direta e intensa no golpe militar no Chile. E agora, no cinquentenário da tomada do La Moneda, tem uma oportunidade única de assumir sua responsabilidade na destruição da democracia chilena, estabelecer a verdade e enfraquecer o revisionismo histórico.
Esta é a defesa que Roberto Simon, jornalista e analista internacional, faz em entrevista à Edição de Sábado. Simon é autor do livro “O Brasil contra a Democracia — A ditadura, o golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul”, resultado de sete anos de apuração e pesquisa, que documenta a participação dos militares brasileiros na ditadura chilena. Não só. Mostra como diplomatas, empresários e imprensa brasileiros atuaram para fortalecer Pinochet. E nem precisaram de ordens da CIA para isso.
Nossa edição para ler com calma traz ainda dois depoimentos. Um de um designer brasileiro e sua experiência de andar num táxi elétrico autônomo (vulgo sem motorista) em São Francisco. E outro sobre os pontos altos e baixos da Bienal do Livro, na ótica de um carioca estranho que prefere o evento literário a carnaval, futebol e praia juntos.
Que tal se inspirar no feriadão pátrio e ajudar o jornalismo independente? Assine o Meio.
— Os editores.
Cid apresenta ao STF proposta de delação premiada
Preso desde 3 de maio e após dezenas de horas de depoimentos, Mauro Cid decidiu fechar um acordo de delação premiada. A Polícia Federal já concordou, conta Andréia Sadi. Como forma de confirmar que seu interesse ocorreu de livre e espontânea vontade, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro esteve no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), juntamente com seu advogado, Cezar Bitencourt. Os dois se reuniram na quarta-feira com o juiz auxiliar Marco Antônio Vargas, que recebeu o termo de intenção. O Ministério Público Federal ainda precisa aceitar as condições do acordo, que só valerá após a homologação de Moraes. O militar é investigado em várias frentes – caso das joias, fraude em carteiras de vacinação, envolvimento na invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça pelo hacker Walter Delgatti Neto e tratativas para um suposto golpe de Estado. O foco do acordo de delação ainda não é conhecido. (g1)
Marcelo Godoy: “A decisão de Cid de procurar a PF e o STF para colaborar com as investigações sob o comando de Moraes revela uma situação parecida com a vivida no passado durante a Operação Lava-Jato. Essa visão é compartilhada por militares ouvidos pela coluna no quartel-general da Força Terrestre”. (Estadão)
Meio em vídeo. Lula pode ficar com o relógio da marca Piaget que ganhou do então presidente francês Jacques Chirac? Foi um dos questionamentos sobre o último vídeo de Mariliz Pereira Jorge. A colunista do Meio responde. (YouTube)
O primeiro 7 de Setembro do novo governo Lula foi celebrado com cerimônia protocolar, sem discursos políticos e desfiles de forças policiais. O presidente fez um pronunciamento à nação na véspera. Com o tema “democracia, soberania e união”, em tentativa de desvincular a comemoração de ameaças golpistas, Lula estava acompanhado da presidente do STF, Rosa Weber. A última participação de um representante da Corte – atacada durante o governo Bolsonaro – havia sido em 2020. Também estavam presentes o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e os chefes das três Forças Armadas. Esquecido no governo passado, Zé Gotinha foi um dos destaques da cerimônia, desfilando em um caminhão dos Bombeiros. (UOL)
Meio em vídeo. Hoje, Pedro Doria nos traz um Ponto de Partida diferente — três histórias do passado brasileiro que, se contadas como se fossem hoje, soariam de todo familiares. Uma mostra de que, por um lado, andamos em círculo nos últimos cento e tantos anos. E, para recontar, uma ajudinha da inteligência artificial. (YouTube)
Representado por PP e Republicanos, o Centrão já tem seus ministérios. Mas isso não garante apoio automático ao governo no Congresso. No dia seguinte à confirmação de André Fufuca (PP-MA) no Ministério do Esporte e de Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) no de Portos e Aeroportos, a Executiva Nacional do Republicanos divulgou nota afirmando que não fará parte do governo e continuará com postura “independente”. Para o partido, a pasta nada mais é do que um convite pessoal de Lula ao parlamentar, que terá de se licenciar do cargo de deputado federal e da função de 1º tesoureiro da legenda. O PP também deve seguir como independente. A ala mais bolsonarista do partido, integrada pelo presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), acredita que o PP não foi contemplado como deveria. No PSB, há insatisfação. O destino de Márcio França, que perdeu Portos e Aeroportos para assumir a nova pasta de Micro e Pequena Empresa, não agradou. E a forma como a ex-atleta Ana Moser foi demitida do Esporte também foi mal vista, inclusive por integrantes do Palácio do Planalto. (Globo)
A minirreforma ministerial coloca nas mãos do Republicanos R$ 5,4 bilhões do Orçamento de 2024. Já o PP fica com uma previsão orçamentária de R$ 607 milhões. E o Centrão pode levar mais: a Funasa terá Orçamento de R$ 2,8 bilhões em 2024, já a Caixa Econômica Federal, que participa dos principais programas sociais, tinha uma carteira de crédito de mais de R$ 1 trilhão e patrimônio líquido de R$ 121 bilhões no último trimestre. (CNN)
A decisão de Dias Toffoli de anular as provas do acordo de leniência da Odebrecht e classificar a Lava-Jato como um dos “maiores erros judiciários da História do Brasil” é uma tentativa do ministro do Supremo de se desculpar com Lula, conta Malu Gaspar. O ministro demorou e acabou impedindo que Lula acompanhasse o enterro do irmão Vavá em 2019, quando preso em Curitiba. A colunista aponta falhas na Lava-Jato, mas lembra que o passado não pode ser esquecido. “A revelação dos diálogos [pela Vaza-Jato] dizimou a credibilidade da Lava-Jato e foi fundamental para a revisão da condenação de Lula. Compreende-se, ainda, que os ventos da política tenham mudado e que Toffoli queira ser perdoado. Mas nada disso autoriza ignorar o que ocorreu no passado. A menos, é claro, que queiramos ver tudo começar de novo.” (Globo)
A anulação pode pesar no bolso do contribuinte, alerta o jurista Ives Gandra ao Blog do Fausto Macedo. Durante a Lava-Jato, grandes empreiteiras, como a Odebrecht, fecharam acordos para ressarcimento aos cofres públicos. Agora, podem requerer devolução do dinheiro e suspensão de pagamentos futuros. Ele também lembra que, após a sentença de Sergio Moro no caso do tríplex, três desembargadores e ministros do Superior Tribunal de Justiça confirmaram a punição, mas nunca levantaram dúvidas sobre as provas agora declaradas imprestáveis. “Será que todos os desembargadores e ministros, quando examinaram aquelas provas, não perceberam isso?” (Estadão)
A Associação Nacional de Procuradores da República já afirmou que vai recorrer da decisão do ministro Dias Toffoli. (Poder360)
Ao indicar os desembargadores Afrânio Vilela (MG) e Teodoro Santos (CE) às duas vagas disponíveis no Superior Tribunal de Justiça (STJ), um dos preteridos foi Dias Toffoli, que apoiava Carlos Von Adamek (SP). Interlocutores do presidente dizem que Lula quer estabelecer como critério que as escolhas sejam suas e não de terceiros. (Folha)
Meio em vídeo. No Conversas com o Meio desta semana, Pedro Doria recebe o economista Edmar Bacha, ex-presidente do IBGE e um dos pais do Plano Real. O principal tema foi o artigo de coautoria lançado recentemente, intitulado Reestimativa do crescimento do PIB brasileiro de 1900 até 1980, e como ele lança uma nova luz sobre a história econômica brasileira. Confira. (YouTube)
Viver
Os três meses de verão no hemisfério Norte tiveram as temperaturas médias globais mais altas já registradas, segundo o observatório europeu Copernicus. A instituição estima que 2023 será o ano mais quente da História. Até o mês passado, o planeta estava apenas 0,01°C menos quente que o recorde de 2016. Entre junho e agosto, Europa, América do Norte e Ásia sofreram com ondas de calor, inundações e incêndios florestais, causando mortes e danos ambientais e econômicos. Nesse período, a temperatura média foi de 16,77°C, representando um aumento de 0,66°C sobre a média registrada entre 1991 e 2020, devido às mudanças climáticas provocadas pela ação humana. (Folha)
Subiu para 42 o número de mortos no Sul do Brasil desde o início da semana, após a passagem de um ciclone extratropical. O Rio Grande do Sul foi o estado mais afetado, com 41 óbitos confirmados até a noite de ontem. Na terça-feira, uma pessoa morreu em Jupiá, no Oeste de Santa Catarina. A cidade de Muçum tem o maior registro de mortes, com 15 vítimas. Até agora, 3.037 pessoas foram resgatadas em 83 municípios atingidos pelas chuvas, e outras 25 seguem desaparecidas. Ao todo, 122.992 moradores foram afetados pelo fenômeno, que já deixou 2.944 desabrigados e 7.607 desalojados. (UOL)
Pesquisadores israelenses do Instituto Weizmann desenvolveram um embrião humano perfeito a partir de células-tronco, sem o uso de espermatozoides, óvulos ou útero. O embrião artificial imita todas as estruturas-chave que surgem na fase inicial de um natural, parece ter 14 dias de idade e até liberou hormônios que testaram positivo para um teste de gravidez. Um dos objetivos do estudo, publicado na revista Nature, é criar uma forma ética de compreender a ocorrência de abortos espontâneos e defeitos congênitos. (BBC Brasil)
Cultura
O festival The Town tem nome gringo, mas caiu no samba ontem. Maria Rita, responsável pelo primeiro show da tarde, começou no jazz, mas só teve boa resposta quando iniciou uma bem azeitada roda de samba em Interlagos. Mas a plateia realmente se empolgou com Ludmilla, que abriu o palco principal esbanjando sensualidade e coreografias, além da participação de Lulu Santos, literalmente embrulhado para presente, cantando com ela Toda Forma de Amor. O tempo não trouxe o calor esperado, nem a atração principal, o Maroon 5, onde o vocalista Adam Levine parecia cansado no palco. O festival retorna amanhã, comandado pelo Foo Fighters. (g1)
Para ler com calma. Um dos mais acessados sites de avaliação online de filmes, o Rotten Tomatoes pode não ser confiável. A empresa de relações públicas Bunker 15 teria pagado críticos de pouco prestígio, mas incluídos no agregador do site, para fazerem resenhas positivas de filmes mal avaliados. Caso realmente detestassem os longas, esses críticos eram orientados a publicar as resenhas em blogs que não entravam no radar no RT, que afirma condenar a prática. (New York Magazine)
O ator americano Danny Masterson, que ganhou fama internacional como Hyde na série That 70s Show, foi sentenciado nos EUA a 30 anos de prisão por estupro, após ser considerado culpado em maio. Na Justiça americana, veredito e pena são estabelecidos em ocasiões diferentes. Ele era acusado de ter violentado três mulheres entre 2001 e 2003, cujas identidades foram mantidas em sigilo, e o júri concluiu que havia provas suficientes nos dois últimos casos. A atriz e modelo Bijou Phillips, casada com Masterson desde 2011, o acompanhou no tribunal e chorou ao ouvir a sentença. Caso não obtenha alguma progressão de pena, ele ficará preso até os 77 anos. (Variety)
Meio em vídeo. Nos últimos dias, a internet foi inundada pela tragédia que aconteceu do festival Burning Man, em Nevada, nos Estados Unidos. Uma chuva sem precedentes tornou o evento de contracultura em um total desastre. Mas o que é, de fato, o Burning Man? Por que ele foi criado? Pedro Doria e Cora Rónai estão bem nostálgicos e vão contar tudo. (YouTube)
Meio errou. A 35ª Bienal de São Paulo, que começou na quarta-feira, vai até 10 de dezembro, não 10 de setembro. Pedimos desculpas.
Cotidiano Digital
A batalha judicial do Departamento de Justiça dos Estados Unidos contra o Google ganhou data para começar. Na próxima terça-feira, a Justiça americana começa a considerar os argumentos das partes em um julgamento que deve durar pelo menos dez semanas. O processo tem como objetivo discutir se a gigante de tecnologia teria usado ilegalmente sua forte posição nas buscas online para sufocar a concorrência. Entre as possíveis testemunhas para o caso, estão o presidente-executivo do Google, Sundar Pichai, bem como executivos da Apple e de outras empresas. Dependendo do resultado do julgamento, o Google pode sofrer retaliações. (The New York Times e Olhar Digital)
Enquanto isso, o Google fez alterações em sua política. Anunciantes eleitorais serão obrigados a divulgar de forma clara e visível se seus anúncios contêm conteúdo gerado por inteligência artificial (IA). A medida começa a valer a partir de novembro. (Olhar Digital)
O governo da China proibiu que funcionários públicos e agências oficiais utilizem iPhone durante o horário de trabalho, segundo o The Wall Street Journal. A decisão seria uma represália às restrições impostas pelos Estados Unidos aos smartphones da Huawei e ao TikTok. As duas empresas são alvos de acusações relacionadas a segurança e espionagem pelo governo americano. Segundo o jornal, a medida de restrição ao smartphone da Apple já existia, mas agora passou a ser uma política de Estado. Com isso, escritórios do governo chinês terão de usar sistemas operacionais e todo tipo de software, entre outros dispositivos, de origem nacional. (The Wall Street Journal e Estadão)
Assine o Meio Premium agora e receba amanhã a nossa Edição de Sábado.
