Prezadas leitoras, caros leitores —

É tradição olhar para as primárias de New Hampshire como o marco inicial do ano eleitoral nos Estados Unidos. Donald Trump venceu, deixando sua adversária, Nikki Haley, com pouquíssimas chances de ser a candidata republicana. E assim, uma insurreição, dois impeachments, e 91 acusações em quatro processos criminais depois, cá estamos, perplexos com a força com que um político tão errático como ele chega a uma nova corrida presidencial.

Trump vem alardeando, sem qualquer constrangimento, o tom que vai dar à campanha e a um eventual segundo mandato: ele é uma vítima do sistema e qualquer oponente será alvo de vingança. Como deter um autocrata com esse tipo de sede e poder? A Edição de Sábado examina o caminho de Trump até novembro e o que seu retorno à Casa Branca poderia representar.

Trazemos ainda uma conversa com o pesquisador, editor e produtor Caco Coelho, que mergulhou no universo familiar de Nelson Rodrigues e mostrou que o “Anjo Pornográfico” não estava sozinho em seu talento. E um lamento sobre o fim do Pitchfork e, com ele, o fim do sonho de uma web que já foi.

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— Os editores

PF chega à ‘Abin de Bolsonaro’

Diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e homem de confiança do ex-presidente, o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi um dos principais alvos da operação da Polícia Federal ontem contra suspeitos de envolvimento em uma operação de espionagem ilegal dentro do órgão. Os policiais fizeram buscas na residência e no gabinete do parlamentar, encontrando celular e computador que pertenciam à Abin. Sete agentes da própria PF foram afastados porque teriam integrado o esquema de espionagem. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou ontem o sigilo da decisão que autorizou a operação. Nela, diz que Ramagem usou o órgão para fazer espionagem ilegal a favor da família do ex-presidente. Segundo as investigações, a Abin usou, sem autorização judicial, um software de geolocalização para monitorar celulares de adversários do governo e de ministros do STF. Relatórios encontrados mostram que a Abin buscava relações de Moraes e Gilmar Mendes com a facção criminosa PCC. As apurações apontam também que a agência teria sido “instrumentalizada” para monitorar ilegalmente pessoas envolvidas em investigações, como nos casos do assassinato da vereadora Marielle Franco e da “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro, além de desafetos do ex-presidente, como os agora ex-deputados Rodrigo Maia e Joice Hasselmann. Flávio Bolsonaro negou que a Abin tenha sido usada para favorecê-lo. (g1)

“O que nós vemos é uma salada de narrativas, inclusive antigas, já superadas, colocadas para imputar negativamente, criminalmente no nome da gente sem qualquer conjunto probatório”, afirmou Ramagem à GloboNews. Disse também nunca ter tido acesso a senhas do sistema de espionagem, tendo exonerado o responsável pelo programa por se negar a informar como a ferramenta estava sendo usada. Sobre o celular e o computador da Abin encontrados em sua posse, alegou que são antigos. Questionado se, mesmo fora da agência, continuava recebendo informações, respondeu: “Tenho amigos na Abin, mas não recebo informação”. (UOL)

Apesar de dois pré-candidatos do PL a prefeituras fluminenses terem sido alvos de operações recentes da PF, esses eventos ainda não mudaram os planos do partido para a capital, mantendo Ramagem, e Niterói, seguindo com Carlos Jordy. O líder do PL na Câmara dos Deputados, Altineu Côrtes (RJ), afirmou que a operação é uma “perseguição” e manteve o apoio a Ramagem. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, seguiu no mesmo tom, dizendo que a operação “pode acabar elegendo o Ramagem com mais facilidade no Rio de Janeiro”. Já Jordy diz que é “mais pré-candidato do que nunca” em Niterói e vai “vencer essa eleição”. (Poder360)

Bruno Boghossian: “O ex-presidente nunca disfarçou o interesse em instalar dentro do governo um ‘sistema de informações’ particular, financiado pelo contribuinte. Também jamais escondeu o objetivo de xeretar opositores e blindar seu grupo político. ‘Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem’, avisou o presidente em 2020.” (Folha)

Meio em vídeo. Ramagem é a aposta bolsonarista para a Prefeitura do Rio. Pobre Rio de Janeiro. O ex-titular da Abin é apontado como responsável pela arapongagem clandestina. Confira o que pensa Mariliz Pereira Jorge em De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)

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Ainda aguardando homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), a delação do ex-PM Ronnie Lessa indicaria que o assassinato de Marielle Franco teve dois mandantes distintos, conta Vera Araújo. A vereadora do PSOL foi morta junto com o motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018, e Lessa, que está preso, é apontado como autor dos disparos. O fato de a delação estar no STJ indica que ao menos um dos implicados tem foro privilegiado. Após passar por cinco delegados da Polícia Civil e quatro promotores, a investigação foi assumida pela Polícia Federal, que corre para concluí-la antes de o crime completar seis anos – se possível, com Flávio Dino ainda à frente do Ministério da Justiça. O ministro do STJ Raul Araújo deve examinar a delação após o fim do recesso judiciário, no próximo dia 1º. (Globo)

No encerramento de um ciclo de audiências públicas sobre as resoluções que definirão as regras para as eleições de outubro, a ministra Cármen Lúcia afirmou ontem que as redes sociais não podem ser um instrumento “contra a política democrática”. “Nós queremos que elas sejam mesmo redes sociais e não redes antissociais, que sejam instrumentos da melhor política e não contra a política democrática”, disse a ministra, que vai comandar o Tribunal Superior Eleitoral durante os pleitos municipais. Em três dias de debates, mais de 80 pessoas foram ouvidas e todas as propostas serão analisadas. O TSE recebeu 945 propostas. (Valor)

A cantora e compositora Marisa Monte participou da audiência pública e pediu ao TSE a adoção de regra para que os artistas possam proibir o uso de suas obras por candidatos durante as eleições. “Isso para mim é uma tortura moral, psicológica, e venho aqui expressar essa preocupação da classe. A nossa sugestão é que seja direito do autor impedir que sua obra seja usada através de paródia em jingles eleitorais.” (Folha)

A Corte Internacional de Justiça, na cidade holandesa de Haia, vai anunciar nesta sexta-feira se adotará medidas para interromper, ao menos temporariamente, as operações militares israelenses na Faixa de Gaza. A decisão será uma primeira resposta ao processo movido pela África do Sul acusando Israel de cometer genocídio contra a população palestina no território, invadido após os ataques terroristas do grupo Hamas em 7 de outubro. A corte não tem poder de fazer cumprir suas decisões, mas um veredito tem peso institucional forte. Tanto que, para refutar a acusação sul-africana, Israel retirou o sigilo sobre mais de 30 ordens emitidas por autoridades civis e militares ressaltando a necessidade de ajuda humanitária à população civil de Gaza. (CNN)

Thomas L. Friedman: “Há muitas maneiras de explicar os dois maiores conflitos do mundo de hoje, mas resumo que a Ucrânia quer se juntar ao Ocidente e Israel quer se juntar ao mundo árabe — e a Rússia, com a ajuda do Irã, está tentando impedir o primeiro, e o Irã e o Hamas estão tentar impedir o segundo. Embora as duas frentes de batalha possam parecer muito diferentes, na verdade, têm muito em comum. Refletem uma luta geopolítica titânica entre duas redes opostas de nações e atores não estatais cujos valores e interesses dominarão o nosso mundo pós-pós-Guerra Fria”. (New York Times)

ABIN - Agência Bolsonarista de Informação

Tony de Marco

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Viver

A Justiça Federal condenou ontem as mineradoras Vale, BHP e Samarco ao pagamento de R$ 47,6 bilhões por danos morais coletivos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em novembro de 2015. Ainda cabe recurso. Na decisão, o juiz substituto Vinicius Cobucci afirma que “o montante adotado não é irrisório e tampouco excessivo” e que a falta de punição rápida “possivelmente contribuiu para o rompimento da barragem de Brumadinho em 2019”, cuja tragédia completou cinco anos ontem. A BHP alega não ter recebido a sentença, enquanto Vale e Samarco não se pronunciaram. (g1)

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O Ministério da Saúde divulgou sua estratégia de combate à dengue, que incluirá a vacinação de crianças e adolescentes em 521 cidades de 16 estados e no Distrito Federal. Os municípios foram selecionados pelo critério de população (mais de 100 mil habitantes), alta transmissão da doença no ano passado e predominância do sorotipo DENV-2. A imunização começará em fevereiro e em duas doses, com intervalo de três meses. (Metrópoles)

A Agência de Exploração Espacial do Japão (Jaxa) divulgou uma foto do solo lunar tirada por um robô lançado por sua sonda SLIM, que pousou com sucesso no satélite na última sexta-feira. Embora tenha sido desligada devido a um problema no posicionamento dos painéis solares, a sonda transmitiu, por três horas, a foto e outras informações que estão sendo estudadas. (g1)

Cultura

O Brasil está no Festival de Sundance, o mais importante do cinema independente dos Estados Unidos, representado por um longa e dois curtas. Em Malu, o diretor e roteirista carioca Pedro Freire conta a história de sua mãe, a atriz Malu Rocha, interpretada por Yara de Novaes. O filme deve estrear por aqui em novembro. Com roteiro, desenhos e direção do mineiro Leonardo Cata Preta, o curta de animação Dona Beatriz Ñsîmba Vita é inspirado em uma heroína congolesa do século 17, assassinada pela igreja católica durante as missões portuguesas. Já o curta Boi de Conchas do diretor e roteirista Daniel Barosa se baseia em uma lenda de Bertioga (SP) de um boi que foge do abatedouro e volta coberto de conchas nas noites de lua cheia para passear na praia. (Folha)

Morreu, aos 96 anos, Fernanda Lopes de Almeida, autora de clássicos da literatura infantil como A Fada que Tinha Ideias, A Curiosidade Premiada e Soprinho, vencedor do prêmio Jabuti. A morte, em 27 de dezembro, só foi confirmada ontem pela editora Ática. Nascida no Rio de Janeiro, a psicóloga e escritora não gostava de aparições públicas, mas fez parte de uma geração que revolucionou as obras infantis que questionavam os valores estabelecidos e abordavam temas tabu, ao lado de nomes como Marina Colasanti, Ana Maria Machado e Ruth Rocha. (Folha)

Pela primeira vez em mais de 20 anos de carreira, o quinteto pernambucano Mombojó vai deixar de lado o repertório autoral. O grupo lançou hoje nas plataformas o álbum Carne de Caju, inteiramente dedicado à obra do conterrâneo Alceu Valença. Mas, apesar de o nome do trabalho remeter ao megassucesso Morena Tropicana, o foco do Mombojó se concentra no chamado “lado b” de Alceu. Ok, Estação da Luz e Como Dois Animais e Tomara, incluídas no disco, também tocaram muito, mas não invalidam o conceito. “Visitar o trabalho de Alceu é mergulhar nas raízes profundas de nossa herança musical”, diz Felipe S., vocalista do Mombojó, que já se apresentou em festivais como Lollapolooza e Abril Pro Rock.

Cotidiano Digital

A Meta anunciou ontem novas restrições no Facebook e no Instagram para adolescentes. Por padrão, o Instagram vai impedir que menores de 16 anos recebam mensagens de quem não seguem. No Messenger, as conversas só poderão ser iniciadas por amigos do Facebook ou por quem estiver nos contatos dos jovens. A companhia também está aumentando o controle dos pais sobre as contas, permitindo que os responsáveis aceitem ou neguem alterações nas configurações de privacidade dos adolescentes. A big tech planeja ainda lançar um recurso para impedir os menores de ver imagens inadequadas em DMs. (TechCrunch)

A Apple vai permitir lojas de aplicativos alternativas para desenvolvedores com objetivo de cumprir a Lei de Mercados Digitais da Europa. A companhia destaca que busca garantir segurança contra malwares no iOS e que a nova medida valerá apenas para a União Europeia, alegando riscos aos usuários. A comissão cobrada na App Store cairá de 30% para 17%, podendo chegar a 10% para alguns desenvolvedores. A Apple também vai cobrar uma taxa de tecnologia básica de € 0,50 por cada primeira instalação anual de apps que alcance 1 milhão de downloads. (Axios)

A Microsoft está demitindo 1.900 funcionários de sua divisão de jogos na Activision Blizzard e no Xbox, segundo memorando obtido pelo The Verge. Os cortes representam 8% dos 22 mil colaboradores do setor. Com as dispensas, o presidente da Blizzard, Mike Ybarra, também decidiu deixar a empresa e seu substituto deve ser anunciado na próxima semana. As demissões ocorrem meses após a conclusão da compra da empresa pela Microsoft e grandes mudanças de lideranças no Xbox. (The Verge)

Meio em vídeo. Há 40 anos, era lançada a primeira versão do Macintosh, mais conhecido hoje como o queridinho Mac, o computador que revolucionou o mundo da tecnologia. Pedro Doria e Cora Rónai passeiam pela história da sua criação, falando sobre IBM, Microsoft, Apple etc. Assim como Pedro, você acredita que, se não fosse o Mac, os computadores não seriam populares como são hoje? Confira! (YouTube)

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