Como é de praxe, o Meio não circulará amanhã, feriado de 7 de setembro, tampouco na sexta-feira. Assim, a não ser que o noticiário continue na temperatura máxima dos últimos dois dias, exigindo uma edição extra, voltamos na segunda. Até lá.

— Os editores.

O dia de 51 milhões de reais

A longa conversa entre o empresário Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud não incrimina qualquer um dos 11 ministros do Supremo. Na segunda-feira, fontes que afirmavam ter ouvido a gravação diziam que ao menos um deles saía comprometido. Liberados os arquivos, não há nada. O total, no entanto, corresponde com fidelidade à descrição feita no final da tarde de segunda pelo procurador-geral, Rodrigo Janot. “O diálogo contém referências indevidas à PGR e ao Supremo”, ele disse. “Além de indícios de conduta criminosa atribuída ao ex-procurador Marcelo Miller.” Durante a conversa, Joesley e Saud de fato cogitam incriminar o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, forçando-o a grampear um ou mais ministros do STF. E dão a entender que Miller os orientou sobre como gravar a conversa com o presidente Michel Temer e preparar uma denúncia que pudesse ser aceita por Janot. O procurador-geral não é incriminado, mas Miller, que foi um de seus braços direitos, aparece manipulando-o. Ouça as gravações.

A insinuação de que poderia haver citação aos ministros gerou irritação no Supremo. Em conversa com Fernando Rodrigues, do Poder360, Gilmar Mendes partiu com fúria contra Janot. “Deu curso à sua estratégia delinquente e fez uma chantagem com o Supremo”, disse. Mais contida, a presidente Cármen Lúcia se portou como nunca fizera antes, gravando um pronunciamento em vídeo. “Agride-se de maneira inédita na história a dignidade institucional deste Tribunal”, falou, deixando ambíguo se a referência é a Janot ou a Joesley. “Enviei à Polícia Federal e ao procurador-geral ofícios exigindo investigação imediata a fim de que não fique qualquer sombra de dúvida sobre a dignidade deste Supremo.”

Em termos práticos, os benefícios recebidos por Joesley e Saud no acordo de delação podem ser rescindidos. Ou seja: no limite, eles podem ser processados e presos pelos crimes que confessaram. A defesa do presidente Temer pedirá que a gravação seja anulada como prova, por ter sido armada. Não é certo que ocorra. Mas um ex-deputado carregando uma mala de dinheiro pelas ruas de São Paulo — este tipo de prova, não, não será anulada, lembra a procuradora Silvana Batini. (Jota)

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Aliás... O dia poderia ter sido bom para Temer, mas não foi. A Polícia Federal encontrou, em um apartamento de Salvador cujos vizinhos informam ser usado por Geddel Vieira Lima, malas e malas cheias de notas de R$ 100 e R$ 50. É homem de confiança do presidente, ex-ministro do governo Lula e ex-vice-presidente da Caixa no governo Dilma. Pelo período Dilma, foi acusado de receber R$ 20 milhões em propinas. Utilizando-se de máquinas de contagem, a polícia levou horas para aferir o valor exato: são pouco mais de R$ 51 milhões. Trata-se da maior apreensão de dinheiro em espécie da história da PF. Em números exatos, R$ 42.643.500 em reais e o equivalente a R$ 8.387.366,40 em notas de dólar. (Globo)

Não bastasse, o ministro Edson Fachin homologou a delação premiada do doleiro Lúcio Funaro. Entre os acusados estão Geddel, Henrique Eduardo Alves, os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco, além do próprio Michel Temer. (Estadão)

Felipe Recondo: O Supremo precisará decidir se mantém em sigilo a delação de Funaro. A praxe tem sido abrir após a Procuradoria-Geral apresentar denúncia, mas a lei permite manutenção do segredo enquanto ele for necessário para a investigação. Depois, os acusados — leia-se, Temer — podem pedir proteção da imagem. Mas haverá pressão popular pela publicação. (Jota)

Pois sobrou para todo mundo. Janot denunciou Lula e Dilma, além de Palocci, Mantega, Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo e os ex-tesoureiros petistas João Vaccari e Edinho Silva. Ele os acusa de integrar uma organização criminosa com o objetivo de desviar dinheiro da Petrobras. O procurador pede que os políticos indenizem a Petrobras em R$ 6,5 bilhões. Para Janot, Lula foi “o grande idealizador da organização criminosa”. (Folha)

Não para. A Polícia Federal apreendeu cerca de R$ 480 mil em dinheiro na casa do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman. O valor estava em reais, dólares, euros, libras e francos suíços. O MP pediu à Justiça que bloqueie R$ 1 bilhão do dirigente, do empresário Arthur César de Menezes Soares Filho e de sua sócia Eliane Pereira Cavalcante. Nuzman, durante o depoimento, foi obrigado ainda a entregar seus três passaportes: o normal, o diplomático e um terceiro, russo. Ele fez inúmeras viagens à África no período anterior à escolha da cidade-sede da Olimpíada, suspeita-se que para compra de votos. (Globo)

Uma versão modesta da reforma política começou a andar. A Câmara aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição que prevê o fim das coligações nas eleições proporcionais e impõe uma cláusula de desempenho mínimo. Ou seja, a distribuição dos votos para deputados, em 2018, só levará em conta aquilo que seus partidos receberem, sem permitir alianças. E a legenda que não fizer um mínimo de nove deputados distribuídos em nove estados não terá direito a dinheiro do fundo partidário, ao tempo de TV e a uma estrutura de liderança partidária no Congresso. O objetivo é desestimular a proliferação de legendas. Como se trata de uma PEC, a Câmara terá de aprovar o texto novamente, em segundo turno. (Estadão)

O Congresso aprovou, enfim, a nova meta fiscal, um déficit R$ 159 bilhões para o final de 2017 e 2018. E o Senado aprovou a Taxa de Longo Prazo, TLP, nos investimentos do BNDES.

E... O COPOM pode reduzir, hoje, em mais um ponto percentual a taxa de juros básica da economia, Selic.

Cultura

Após mais de meio século ‘escondida’ numa coleção particular (e até mesmo ser tida como perdida), uma obra-prima do século XX será agora exposta ao grande público — ou melhor, a potenciais compradores. Head with Raised Arm, de 1955, uma das nove pinturas que o brilhante Francis Bacon fez do Papa Pio XII, será levada a leilão pela Christie’s, em outubro. Para abrir o apetite dos endinheirados colecionadores, a pintura pouco vista de Bacon vai peregrinar pelas grandes sedes da casa de leilões — primeiro passará por Nova York, depois por Hong Kong e, em seguida, Londres, onde será, enfim, leiloada. Estimativa de preço: 10 milhões de libras, ou algo em torno de R$ 40 milhões.

“num útero cabem capelas/ cabem bancos hóstias crucifixos/ cabem padres de pau murcho/ cabem freiras de seios quietos/ cabem as senhoras católicas.” Os versos estão em Um Útero É do Tamanho de um Punho, elogiado livro de poesias da gaúcha Angélica Freitas. A obra, que ganha agora segunda edição, sairá também em Portugal. E o Suplemento Pernambuco dedica alentado texto ao livro e à trajetória da autora.

Enquanto isso... inspiradas em celebridades, estrelas do pop e afins voláteis, esculturas, bustos e réplicas não raro terminam em cópias desastradas, em 'obras' alçadas ao Olimpo da já celebrada arte feia. Estão aí para provar a recente estátua de bronze de Cristiano Ronaldo, a nova Beyoncé de cera do Madame Tussauds ou a já clássica versão restaurada de Ecce Homo, entre outras pérolas que o homem legará às futuras gerações. O Guardian reúne alguns destes ícones do desconforto estético.

Galeria:  pôsteres estilosos — e, reconheçamos, politicamente incorretos — de filmes ‘adultos’ dos anos 1960 e 1970.

Viver

Depois de denunciar motorista do Uber por estupro, a escritora Clara Averbuck assina texto no blog #AgoraÉQueSãoElas, na Folha: “O que eu mais ouvi foi: por que, em vez de ir para a delegacia, você foi para as redes? Porque eu conheço ambas: a Delegacia da Mulher e as redes sociais. Na delegacia, eu teria que esperar, fragilizada, teria que explicar a violência e o constrangimento, reviver e recontar a situação mil vezes. Não estava com forças para aquilo. As redes sociais eu também conheço bem. Comecei a publicar na internet em 1998.  Imaginei que, fazendo um post, ainda com o rosto inchado e deitada na cama, ajudaria não só a me livrar da vergonha que não deveria estar me acometendo (“Por que eu fui beber?!”, como se este fosse o crime), mas também ajudaria outras mulheres na mesma situação de violência e vergonha — que não são poucas. A palavra é minha arma, e é ela que escolhi usar.”

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Ela vestia um quimono rosa-bebê e sorria, sentada diante da pintura de um plácido lago, quando anunciou nesta semana: “O teste de uma bomba de hidrogênio a ser montada em nosso míssil balístico intercontinental foi sucesso total, um passo muito importante para o programa de armas nucleares do país”. Ela é Ri Chun-hee, de 74 anos, 40 dos quais vividos diante de câmeras de TV como apresentadora do único canal de notícias da Coreia do Norte. Como descreve o Washington Post em perfil da septuagenária (em português, na Folha): “Com pompa típica e um tom quase de ópera, ela anunciou testes nucleares, condenou os inimigos do regime e narrou a vida e as façanhas de três gerações de líderes norte-coreanos”. 

Foram dez anos de glória na indústria do Lego. A empresa saboreou, por uma década, o boom das vendas, depois de tempos difíceis — em 2004, até beirou a falência. A rápida recuperação do negócio, um dos efeitos, por exemplo, do revival em torno do clássico brinquedo, tornou-se um case no mercado. A empresa chegou a abrir 7 mil novos postos entre 2012 e 2016. Bons tempos aqueles. Agora, o momento é amargo: a receita caiu 5% no meio deste ano e, ontem, a empresa anunciou que dispensará 1.400 funcionários, segundo o New York Times, que detalha a má fase do tradicional negócio familiar fundado na Dinamarca. Em português, é possível ler sobre a crise da empresa na Folha (em tradução de texto do Financial Times).

Cotidiano Digital

Para ler com calma: “Na minha experiência, o Google sabe que há ambiguidades, questões éticas, ao redor do que faz e, ao menos, eles tentam pensar a respeito. O Facebook não liga. Quando você conversa com eles, logo percebe. Eles jogam sujo.” A definição é de um empresário da internet ouvido por John Lanchester, que escreve na London Review of Books sobre o Facebook. Ele sugere que talvez devêssemos nos questionar se estarmos em constante conexão é uma boa ideia. Em sua opinião, a rede se baseia numa visão pessimista da natureza humana: a de que desejamos ver e sermos vistos, que nos copiamos uns aos outros mas que, o resultado de altas doses desta exibição nos lança em constante ansiedade. A empresa, diz Lanchester, afirma que seu objetivo é conectar a humanidade quando, na verdade, é só vender propaganda. Mas a tecnologia que usa para distribuir propaganda exige que conheça infinitos detalhes a nosso respeito, acompanhe cada um de nossos passos. É, portanto, uma empresa que espiona 2 bilhões de pessoas todos os dias. E, ainda assim, uma empresa vulnerável. Para ele, em algum momento o Facebook vai enfrentar questionamentos de seus principais anunciantes — suas métricas são questionáveis. E governos começarão a encarar seu monopólio. O destino do Facebook, afirma, é ser menor.

O nome é infeliz: Ku. Mas os japoneses não sabem disso. É um frigobar robô, que a Panasonic começou a demonstrar. Chame-o pelo nome “Ku, venha à mesa de jantar” e ele vai. Sim. Ele também vai ao sofá no meio do jogo. Basta pedir.

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