Dicas do que ver, ler, ouvir e jogar no fim do ano
Nada melhor do que boas indicações no fim do ano. A equipe do Meio caprichou para dividir o que mais gostou de ler, ouvir, ver e jogar neste ano. Aqui escolhemos uma indicação de cada pessoa, mas no site tem ainda mais dicas.
DISCOS
BRAT, Charlie XCX
As playlists que saem agora em dezembro, do Pitchfork (na Apple Music) e no Spotify, acabo levando quase o ano todo pra ouvir tudo. Dito isso, o álbum que me acompanhou este ano foi BRAT.
(Shima, editor de arte)
É o Grelo, Grelo
Gabriel de Ângelo regravou, em ritmo de seresta, as músicas Vida Loka -Pt 1, dos Racionais, e Dias de Luta, Dias de Glória, do Charlie Brown Jr., apenas para animar os amigos numa pescaria. Alguém colocou as versões nas redes e a coisa explodiu. Foi assim que o autor de sucessos sertanejos (508 músicas gravadas) precisou criar seu alter ego, o Grelo, para faturar no Spotify. Deu mais certo ainda. Sua composição original Na Fé bombou na plataforma, foi sampleada em outros sucessos e é a música mais procurada no Google em 2024. Diversão garantida.
(Tony de Marco, diretor de arte e chargista)
Invincible Shield, Judas Priest
Um dos álbuns mais completos do metal no ano, Invincible Shield mostra toda a potência e versatilidade do Judas Priest. Rob Halford mostra que consegue chegar em notas altas no auge dos seus 73 anos. As faixas Panic Attack, Crown of Horns e Invincible Shield são, sem sombra de dúvidas, as minhas favoritas do disco.
(Bruno Antonucci, editor-assistente de conteúdo em vídeo)
A Lira do Povo, Ayrton Montarroyos
Em A Lira do Povo, Ayrton Montarroyos se afirma como grande intérprete, capaz de reunir vasto repertório que remonta a diversos períodos da música brasileira. O álbum é dividido em três temáticas que traçam a jornada do homem do sertão à cidade, passando pelo mar. Com um repertório que abrange composições de 1914 a 2020, o artista imprime sua marca ao reinterpretar com rigor canções com arranjos inovadores e uma abordagem artística que desafia os lançamentos mais recentes do mercado fonográfico.
(Paulo Tothy, editor de arte)
Lucifer V, Lucifer
Praticamente um projeto solo da vocalista alemã Johanna Sadonis, agora acompanhada de músicos suecos, o Lucifer é mais uma prova de que o melhor rock pesado da atualidade passa ao largo dos EUA (e da mídia). Seu quinto álbum mistura peso, psicodelia com ares do fim dos anos 1960, arranjos caprichados e letras prenhes de ocultismo, como bom metal deve ser. Não aguenta mais nu metal e outros modismos? Confira. Faixa de referência: At The Mortuary.
(Leonardo Pimentel, editor-executivo)
Outros Fios, de Chico Bernardes
Cada faixa é uma passagem estreita pelos pensamentos de Chico Bernardes. Em Outros Fios, seu primeiro álbum em cinco anos, ele revela o que acumulou na vida nos últimos tempos. Das inquietações de uma mente fervilhante aos encontros e desencontros de relações complexas, as músicas são embaladas pela simplicidade do violão acústico, que se mistura a arranjos sofisticados de percussões eletrônicas e sintetizadores. Vale abrir uma garrafa de vinho e dedicar a noite a essa viagem… quase em família, já que o artista traz fortes influências de seu irmão mais velho, Tim Bernardes.
(Giullia Cechia, criadora de conteúdo multimídia)
Something in the Room She Moves, Julia Holter
Não é um disco que brilha na lista de melhores do ano, mas foi o que eu mais ouvi. Feito durante a pandemia, quando a compositora americana ficou grávida, e sob a influência da morte de seu sobrinho de 18 anos, é um disco que fala da presença no mundo, sobre o impacto da vida que chega e da que se vai. Com drama na medida certa, incorpora muitos elementos do pop — o título é um brincadeira com a letra de Something, dos Beatles — e mescla com aberturas para territórios mais instigantes, como a música ambient e o jazz, em arranjos que privilegiam os synths e a voz. Bateu aqui.
(Guilherme Werneck, editor-executivo)
Teenage Rebel, Nestor
Vindos da Suécia, um dos berços do metal europeu, a banda de AOR (adult oriented rock) traz seu segundo álbum no melhor estilo oitentista possível. Respeitando toda a influência que fez surgir a banda, o disco tem faixas marcantes com Victorius, Caroline e We Came Alive. O primeiro álbum da banda, Kids in a Ghost Town, vale ser lembrado junto. Com uma das melhores, senão a melhor versão de I Wanna Dance with Somebody, além das faixas 1989, Perfect 10 (Eyes Like Demi Moore) e On the Run.
(Bruno Antonucci, editor-assistente de conteúdo em vídeo)
FILMES
O Amor Sangra, de Rose Glass (Max)
O segundo longa da diretora inglesa é uma ode ao cinema B americano, voltando para a época de ouro desses filmes, os anos 1980. Talvez por conta da falta de imaginação do cinemão neste ano, muitos dos filmes mais legais lançados em 2024 sejam diálogos com o passado recente. A Substância é um filme-irmão nesse sentido. Com uma baita atuação de Kirsten Stewart, bem distante do Crepúsculo, conta a história de Lou, uma gerente de academia reclusa, que se apaixona por Jackie, uma ambiciosa fisiculturista. O romance das duas desemboca em uma espiral de violência. Mais um golaço da produtora A24.
(Guilherme Werrneck, editor-executivo)
Dias Perfeitos, de Wim Wenders
Se tem um gênero gostoso no mundo dos animes é o slice of life, pedacinho da vida, que retrata o realismo do dia a dia. Um filme que o capturou isso maravilhosamente foi Dias Perfeitos, de 2023. Do alemão Wim Wenders e indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, acompanhamos janelas da vida de um zelador de Tóquio. Uma viagem por belíssimos banheiros públicos que nos dão vontade de fazer um turismo diferenciado — xixi em diferentes parques da cidade.
(Bruna Buffara, criadora de conteúdo)
Levante, de Lillah Halla (Telecine)
Ao abordar corajosamente o tema do aborto no Brasil, o filme é mais uma estreia importante do cinema brasileiro em 2024. Ao apresentar a história de Sofia, uma jovem jogadora de vôlei que, ao descobrir uma gravidez indesejada, enfrenta os desafios de buscar um aborto seguro em um país onde o procedimento é legal, a narrativa destaca a força coletiva do elenco e a sororidade — que com abordagem naturalista se destaca e nos aproxima das personagens, evidenciando a urgência do debate sobre os direitos reprodutivos e a autonomia feminina.
(Paulo Tothy, editor de arte)
Rivais, de Luca Guadagnino (Prime Video)
Rivais é um drama que envolve raquete e bolas e definitivamente não é sobre tênis. Estrelando Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor, fala sobre a sensualidade da competição, viver seu sonho na pele de outro e muito bate e volta. Luca Guadagnino dirige o filme mantendo a tensão do início ao fim.
(Bruna Buffara, criadora de conteúdo)
A Substância , de Coralie Fargeat (Mubi)
Cheio de referências — David Cronenberg é a maior, mas não a única —, o longa de Coralie Fargeat vai fundo no terror corporal para contar a história de uma ex-estrela de Hollywood (Demi Moore) em vias de perder o posto de apresentadora de um programa de ginástica por causa da idade. Um produto bizarro oferece a ela a chance de ser “sua melhor versão”, mas o preço acaba sendo alto. Em uma época dominada por CGI, empolga ver como os efeitos práticos funcionam bem — até seios de Margaret Qualley foram moldados pelos maquiadores. Mas não é para os fracos de estômago.
(Leonardo Pimentel, editor-executivo)
JOGOS
Dixit e Rummikub (tabuleiro)
Aqui em casa, temos o costume de sempre buscar novos jogos que estimulem a interação e tragam diversão para todos. Este ano, descobrimos o Dixit, um jogo de cartas que desperta a criatividade e a imaginação de um jeito único. As cartas, com ilustrações fascinantes e cheias de detalhes, convidam os jogadores a criar interpretações pessoais, enquanto os outros tentam adivinhar o que foi pensado. O mais divertido é embarcar nessas interpretações e, claro, tentar entender o raciocínio por trás das escolhas dos outros. Uma das maiores vantagens do Dixit é que ele consegue reunir pessoas de todas as idades, tornando o jogo ainda mais dinâmico e divertido. Além deste, temos nos divertido bastante com o Rummikub. Focado em lógica e estratégia, o jogo exige que os jogadores usem bastante a memória para se lembrar das peças já jogadas, criando um desafio instigante. É um jogo que demanda raciocínio rápido e planejamento, o que o torna ainda mais envolvente. Embora ambos os jogos já estejam no mercado há algum tempo, foi neste ano que os descobrimos. Agora, com as férias escolares em pleno andamento, eles surgem como uma excelente alternativa para afastar as crianças e adolescentes das telas, ao mesmo tempo em que promovem uma interação rica e divertida entre os participantes. Esses momentos são especiais e valiosos.
(Carol Cassano, diretora comercial)
Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy (Steam, Xbox e PlayStation)
Assuma o papel de um advogado de defesa, investigue crimes, confronte testemunhas e revele a verdade nos tribunais. Com diálogos envolventes, personagens únicos e casos cheios de reviravoltas, essa trilogia é uma experiência super divertida. Apesar de não ter tradução para português (mas o inglês é acessível), e de a trilha sonora não ser tão marcante (recomendo jogar com uma boa playlist), é um clássico imperdível. Infelizmente, saiu do Game Pass recentemente. Ah, depois disso, você nunca mais ouvirá “Objection!” do mesmo jeito!
(Artur Ivo, coordenador de growth)
LIVROS
Bambino a Roma, de Chico Buarque, e A Invenção da Solidão, de Paul Auster (Companhia das Letras)
“A memória é uma ilha de edição.” A frase do poeta Waly Salomão me vem à cabeça ao pensar em dois livros que li este ano. Bambino a Roma, de Chico Buarque, e A Invenção da Solidão, de Paul Auster, são, ao mesmo tempo, livros de memória e de ficção — ou “memórias inventadas”, como diria Manoel de Barros. No primeiro, passeamos pelas ruas de Roma com o pequeno Francisco, que nos conduz pela Via San Marino, pelo Cine Rex, pela escola em que um professor irlandês passava a mão na sua bunda. Em meio às referências culturais que ajudaram a formá-lo, Chico reencontra o menino que ele foi um dia — e também o menino que queria ter sido. Na obra de Auster, mergulhamos no “retrato de um homem invisível” — seu próprio pai, sujeito indecifrável que, ao morrer, deixa para o filho a mesma ausência que lhe dedicou em vida. De recordações pessoais a ensaios filosóficos e literários, A Invenção da Solidão, escrito por Auster aos 35 anos (1982), é também um livro de experimentação artística, atravessado do início ao fim pela experiência da paternidade. Chico lançou Bambino a Roma em agosto, dois meses após completar 80 anos. Para Auster, 2024 foi o ano de sua despedida deste mundo, aos 77 anos.
(Caio Barreto Briso, editor)
Bate-Estaca, Camilo Rocha (Veneta)
A música eletrônica foi muito importante pra mim nos anos 1990 — pra falar a verdade, até hoje é das minhas formas preferidas de escapismo. Mas revisitar os diferentes lugares onde ela aconteceu em São Paulo pelas mãos de quem estava lá na pista e nas pick-ups foi delicioso.
(Guilherme Werneck, editor-executivo)
Box Nelson Rodrigues (Harper Collins)
Amei ler clássicos que não tinha conseguido parar pra ler. Os livros não são de bolso, mas são leves, e ficam lindos na estante. Presentaço também.
(Yasmim Restum, podcaster)
A Construção, Franz Kafka. (Ubu)
Escrevi sobre ele recentemente aqui no Meio, e o que me encantou nessa nova tradução do último texto escrito por Kafka é o livro em si, o objeto. Criado pela designer Elaine Ramos para mimetizar a construção subterrânea da personagem principal, uma espécie de toupeira paranóica, o livro tem uma diagramação escura e só pode ser lido ao colocar um aparato branco entre as páginas, que faz com que o texto fique legível. Uma pequena obra de arte.
(Guilherme Werneck, editor-executivo)
A Máquina do Caos, Max Fisher(Todavia)
Um trabalho de pesquisa e reportagem denso do Max Fisher, do New York Times, que busca entender os reais impactos das redes sociais nas nossas vidas e como as big techs já sabiam de muito do que poderia acontecer.
(Yasmim Restum, podcaster)
Memórias de Martha, de Julia Lopes de Almeida
A minha recomendação não é um lançamento, mas foi uma descoberta minha desse ano: a escritora brasileira Julia Lopes de Almeida. Julia foi um fenômeno literário do século 19, teve livros adotados em escolas por todo o Brasil, escreveu para os principais jornais da época, foi ativista pelo fim da escravização, pela República e pelo voto feminino. Ela também integrou o grupo de intelectuais que fundou a Academia Brasileira de Letras, mas ficou sem uma cadeira por ser mulher. A minha indicação é Memórias de Martha, que retrata a vida em um cortiço do Rio de Janeiro sob a ótica de uma jovem mulher, com todas as restrições impostas à época. A obrigação de se casar e a carreira de professora como única opção possível, além de uma relação estreita com a mãe, são narradas com uma sensibilidade incrível. Leiam Julia Lopes de Almeida!
(Luiza Silvestrini, apresentadora do Central Meio)
O Que Não Tem Censura Nem Nunca Terá – Márcio Pinheiro (LP&M)
Caso alguém ainda tenha dúvidas sobre o quanto uma ditadura é ruim e tacanha, o livro do jornalista Márcio Pinheiro mostra o cerco que a censura do regime militar impôs à obra de Chico Buarque, desde o virtualmente esquecido samba Tamandaré até peças teatrais inteiras. Como o artista hoje evita falar daquele período, a obra se baseia principalmente numa pesquisa sólida e um texto atraente para contar uma história real de resistência artística ao obscurantismo.
Oração para Desaparecer, de Socorro Acioli (Companhia das Letras)
Quero indicar esse livro para as férias porque ele é uma espécie de passeio no tempo e no espaço. O contato com ele me deu ainda mais vontade de viajar. A história de uma brasileira que morre e ressurge para a vida em Portugal prende a atenção logo de cara. A personagem não lembra do passado, seu corpo foi literalmente desenterrado, muito machucado, em Almofala, Portugal. O casal que a desenterra e acolhe já esperava a chegada de uma “ressurrecta”, como são chamados os que voltam à vida no livro. A obra mistura magia e romance de um jeito original, faz com que a história ressoe por muito tempo na nossa cabeça. Uma curiosidade: existe um distrito chamado Almofala também no Ceará. O lugar foi habitado por indígenas Tremembés e, assim como no livro de Acioli, a Almofala cearense testemunhou um renascimento, no caso, de uma igreja que tinha ficado soterrada em dunas de areia por 50 anos.
(Myrian Clark, produtora)
As Portas da Decepção, Allan Sieber
Um livro com registros do (vasto) trabalho de pintura do artista Allan Sieber, mais conhecido por seu trabalho em quadrinhos.
(Shima, editor de arte)
Tu Comigo & Você foi Sonhado, Renato Negrão
Um box com dois livros de poesia em passando pela Europa, outro pela África.
(Shima, editor de arte)
NEWSLETTERS
Ladrilho Hidráulico, de Guilherme Werneck. Admiro o calhamaço de programação que ele organiza. Inclusive, já viu que vai ter Air tocando Moon Safari em 2025? Que loucura. E a newsletter de comida do The New York Times.
(Shima, editor de arte)
SÉRIES
Alma Gêmea (Globoplay)
Alma Gêmea (2005) retornou às tardes da Globo neste ano, conquistando números expressivos e expondo a crise de audiência na dramaturgia brasileira. A trama de Walcyr Carrasco, que narra o amor transcendental entre Serena e Rafael, registrou picos de audiência superiores aos de novelas inéditas e deixou um recado sobre qual tipo de história o público quer assistir. Núcleos cômicos, romance e vilãs icônicas fizeram essa novela ser considerada por muitos a melhor em exibição de 2024. A reprise foi ao ar até 6 de dezembro e está disponível no catálogo do Globoplay, reafirmando o sucesso atemporal da obra.
(Paulo Tothy, editor de arte)
Os Bandidos do Tempo (Apple TV+)
Série para toda a família invariavelmente quer dizer tramas simplórias, diálogos toscos e finais previsíveis. Mas não quando você tem Taika Waititi revisitando um clássico de Terry Gilliam. Sua versao do filme que traz um bando de anões fugindo com um mapa roubado de ninguém mais, ninguém menos, que Deus (o Ser Supremo) e perseguidos por ninguém mais, ninguém menos, que o diabo (Pura Maldade) consegue até ser melhor que o filme original. E as crianças ainda aprendem um bocado de história não eurocêntrica. Sabe quem foi Mansa Musa? Madame Sao? Então você vai aprender também.
(Heinar Maracy, coordenador de marketing digital)
Um Cavalheiro em Moscou (Pramount+ ou Prime Video)
Não interprete esta série pela atitude excêntrica, até leve, que os primeiros episódios inspiram. Porque a história do conde Alexander Rostov (Ewan McGregor) é uma sobre o custo mais profundo da opressão. É uma história sobre o valor da liberdade. É uma história sobre ditadura, sobre totalitarismo, passada toda, inteiramente, dentro de um hotel de altíssimo luxo. Você não sairá feliz após assistir. Mas sairá tocado.
(Pedo Doria, diretor de jornalismo)
Cem Anos de Solidão (Netflix)
Recomendação em dose dupla: o livro, Nobel de Literatura de 1982, e a série, recém-lançada pela Netflix. Até poucas semanas atrás, não havia consumido essa história e me arrependo pela demora de sanar essa pendência. A obra literária deve ser lida com atenção e tempo. Sem ter de entrar na meta de leituras do mês ou da semana. Uma leitura dinâmica fará perder detalhes e a construção da cidade fictícia de Macondo. Por meio do realismo mágico, mistura elementos de fábulas e folclores, sem deixar de lado a história e formação dos países latinos. A lógica cronológica foi adotada apenas na série, um acerto por se tratar de um público mais amplo do que o do livro. E se provou acertada também pela coesão narrativa de uma adaptação difícil de ser feita. A parte 2 da série, a ser lançada em 2025, já entra na lista de temporadas mais aguardadas do ano. Cem Anos de Solidão, por ironia, prova que não há caminho único nos países latinos, não estamos sozinhos em nossas histórias e em sermos vítimas da colonização. Isso não apagou a pujança cultural e criativa da subjetividade latina. Tem pouco tempo? Comece pela série, se familiarize com a obra e então leia o livro!
(Caio Mello, redator)
Dark Matter (AppleTV+)
Uma ficção científica de primeira, com excelentes personagens interpretados por excelentes atores (Joel Edgerton, Jennifer Connely, Alice Braga). Foi a série que mais mexeu com a minha imaginação. Apesar de a premissa de ficção científica de multiversos ser um tanto batida, essa narrativa se destacou pela construção dos personagens, especialmente o personagem principal — que foi interpretado de forma extremamente humana e vulnerável pelo Joel Edgerton. No final, é uma série que usa a ficção para questionar como as nossas escolhas moldam quem acabamos por nos tornar, e como podemos ter tantos potenciais distintos, moldados por essas escolhas. E tem uma coisa de explorar realidades alternativas, em busca da realidade que o personagem principal perdeu, que é muito interessante, e foi extremamente bem executada — a Apple caprichou na produção, no roteiro e na profundidade filosófica que embasa toda a narrativa. Acho que, pelo conjunto, acaba sendo interessante para quem ama ficção científica e pra quem não liga muito também — tem muitos elementos para uma audiência mais ampla se identificar.
(Nelson Porto, editor de inteligência artificial)
Disclaimer (AppleTV+)
Disclaimer me destruiu emocionalmente com tantas reviravoltas. Cate Blanchett está imbatível na sua atuação. É um convite a revisitar as nossas certezas, muitas vezes orientadas por vieses de confirmação.
(Yasmim Restum, podcaster)
Fallout (Prime Video)
Para algo mais apocalíptico, Fallout não levou o Emmy mas levou meu coração. A adaptação do video game mostra um mundo destruído por uma guerra nuclear onde só alguns sortudos — ou azarados — cresceram em bunkers. A série se passa 200 anos depois, quando Lucy (Ella Purnell) sai da segurança do seu lar e desbrava uma Los Angeles destruída e desértica.
(Bruna Buffara, criadora de conteúdo)
Hacks (Max)
O hilariante choque cultural entre Deborah Vance, uma comediante da velha guarda, e Ava, uma jovem escritora interpretada por Hannah Einbinder. Mas quem brilha é a impecável atriz Jean Smart (a Laurie Blake da série Watchmen). Imoralidades e falsas moralidades numa série de humor sobre… o humor. A terceira temporada estreou este ano. Se nunca viu, vale o binge.
(Tony de Marco, diretor de arte e chargista)
Machos Alfa (Netflix)
Sou mãe de dois meninos, tenho dois irmãos e cresci com um avô que era policial federal e não podia ver um homem de brinco. Ao longo dos meus 47 anos, sempre estive imersa no mundo masculino. E em tempos de tantas mudanças na relação entre homens e mulheres, a série espanhola Machos Alfa oferece leveza e ironia para tratar do machismo e de como se adaptar a um — muito bem-vindo — mundo de empoderamento feminino. Dei boas gargalhadas ao ver os quatro amigos na casa dos 40 anos enfrentarem várias situações em que tiveram de lidar com uma “guerra ao cromossomo Y”. As duas temporadas, com episódios de cerca de meia hora, estão na Netflix. E a terceira já tem trailer.
(Andrea Freitas, editora)
Monstros — Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais (Netflix)
Se você tem uma leve tendência obsessiva, como eu, evite. Porque ao entrar no universo dos irmãos Menendez na Netflix você talvez se veja instigado a lá permanecer por dias. A começar pela série Monstros — Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais, versão ficcional da história real dos dois jovens que, em 1989, mataram brutalmente José e Kitty, em Beverly Hills. Na primeira temporada, o diretor havia retratado a história do serial killer Jeffrey Dahmer. Com os irmãos Menendez, Murphy produziu novamente alguma controvérsia ao humanizar (demais ou não o suficiente, dependendo do lado da polêmica que você escolhe) os rapazes que mataram os pais. As atuações de Javier Bardem (José) e Chloe Sevigny (Kitty) são desconfortáveis e brilhantes. Mas os protagonistas, Cooper Koch (Erik) e Nicholas Alexander Chavez (Lyle), são perigosamente cativantes. Não à toa, a tendência é ficarmos sedentos por mais. E, por isso, quase simultaneamente foi lançado o documentário O Caso dos Irmãos Menendez, com depoimentos dos irmãos de dentro da cadeia onde cumprem sua sentença. O TikTok e o Instagram oferecem ainda muito conteúdo sobre a história real. E, para saciar o vício, o caso ainda foi reaberto depois que um ex-Menudo denunciou José Menendez por abuso sexual. A nova sessão de julgamento deve acontecer dia 30 de janeiro. A minha audiência está garantida.
(Flávia Tavares, editora-chefe)
Ripley (Netflix)
Ripley é um bálsamo no oceano de mediocridade audiovisual nosso de cada dia. Escrita e dirigida por Steven Zaillian, roteirista de A lista de Schindler, American Gangster e Moneyball e diretor de The Night of, a série de oito capítulos é uma versão ultra-estilizada do romance O talentoso Ripley, de Patricia Highsmith. E extraordinariamente filmada em preto e branco por Robert Elswit, um dos grandes diretores de fotografia do cinema atual.
(André Arruda, diretor de fotografia)
Última Noite em Tremor (Netflix)
Passando por uma crise pessoal e criativa, o compositor e pianista Álex se refugia numa cidade costeira do Norte da Espanha. Após um acidente bizarro, ele começa a ter visões envolvendo a morte violenta do casal de vizinhos, seus melhores amigos no local, e depois de todas as pessoas que ele ama. São premonições ou a doença mental de sua mãe, finalmente o atingindo? Os oito episódios são longos, dada a riqueza de detalhes, e em vários momentos angustiantes, mas prendem a atenção até o fim.
(Leonardo Pimentel, editor-executivo)
O Véu (Disney+)
Para quem procura uma série rápida para maratonar na folga do Natal, O Véu é uma ótima opção. Estrelada por Elisabeth Moss (O Conto da Aia), a produção é um suspense emocionante que mostra uma espiã correndo contra o tempo para ganhar a confiança de uma mulher suspeita de envolvimento com um grupo terrorista. Em uma viagem entre Istambul e Paris, ela precisa descobrir o segredo que a outra guarda antes que um ataque mate milhares de pessoas.
(Adriano Oliveira, redator)
Xógum (Disney+)
Tinha pirado no livro e na série estrelada por Richard Chamberlain na adolescência, nos anos 1980, e amei essa nova versão da série, que traz uma reprodução de época impressionante. Fora que a história é muito interessante para esses tempos em que fronteiras e assimilação cultural estão no centro da discussão política mundo afora. Passada no Japão do 1600, o náufrago John Blackthorne se envolve nas intrigas políticas entre poderosos senhores feudais. E, enquanto luta pela sobrevivência, se vê no centro de uma batalha que moldará o futuro do Japão.
(Guilherme Werneck, editor-executivo)
PODCAST
Pavulagem
Como podcaster, eu não poderia deixar de indicar um, certo? Rendo homenagens ao trabalho minucioso e sensível do meu colega de profissão Maickson Serrão, que é criador do podcast Pavulagem, que retrata as histórias dos Seres Encantados da floresta amazônica a partir de vozes de ribeirinhos e indígenas. Os episódios são preenchidos de um trabalho sonoro impecável, a partir de sons da floresta amazônica. E, se não me engano, ainda é o podcast mais ouvido no norte do Brasil.
(Yasmim Restum, podcaster)
YOUTUBE
Uma das tendências que eu mais tenho acompanhado nos últimos anos tem sido a da migração do vídeo da internet para a TV da sala. Como no digital precisamos usar as coisas para aprender, passei bastante tempo este ano assistindo YouTube à noite, largado no sofá. Apesar de, como toda rede social, o uso do YouTube ser uma experiência muito individual, acho que ficaram alguns aprendizados que vale compartilhar. Afinal, como eu faço para domar meu algoritmo? A plataforma hoje é muito boa para acompanhar esportes que sejam mais de nicho. Eu sou velejador, logo YouTube foi a forma de acompanhar algumas das principais regatas do mundo neste ano, como a volta ao mundo da Ocean Race e a bem sucedida vitória dos neozelandeses na Americas Cup, o mais antigo torneio esportivo disputado continuamente no mundo. Para 2025 a atenção vai estar na Sail GP, que não só vai ter pela primeira vez um barco brasileiro, comandado por Martine Grael, como em maio vai ter uma etapa disputada nas águas da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro.
Além de vela, gosto de acompanhar no YouTube as três grandes voltas de ciclismo: O Tour de France, O Giro d’Italia e a Vuelta a España. Acompanho ainda pelo Youtube os highlights dos treinos e daquelas corridas de madrugada da Formula 1. Não importa o esporte que você quer acompanhar, procure o canal oficial do evento, que grandes chances de ter transmissão ao vivo, aberta, ou ao menos bons clipes de melhores momentos sendo postados todo dia.
Outra área que o Youtube é muito bom é para hobbies e interesses pouco usuais. Este ano frequentei muitos canais de música estranha, alguns dos poucos games que eu jogo de vez em quando, e quase enveredei por um sinkhole no meu algoritmo quando resolvi assistir a um vídeo que mostrava um jogo completo de Warhammer 40k, um jogo de tabuleiro que eu sempre tive curiosidade e nunca tive a oportunidade de jogar. Passei duas semanas em que o YouTube só me indicava outros vídeos de W40k. Tive que me controlar para não clicar em mais nenhum deles, até o algoritmo voltar ao normal.
(Vitor Conceição, CEO)