Feitas as contas, Bolsonaro terá base instável no Congresso

A base parlamentar do governo Bolsonaro, ao menos no início, será bastante instável. Um levantamento feito pela Folha com dirigentes e líderes dos 15 maiores partidos da Câmara indica que apenas três deles integrará oficialmente a base. São, além de PSL, DEM e PTB. Em se confirmando o apoio, os três têm em conjunto 91 deputados federais. Outros cinco, embora fora da base, reconhecem afinidades com a agenda — MDB, PSD, PRB, PSDB e Podemos. Em conjunto, 138. A base para as votações teria o potencial de chegar, portanto, a 229 votos. Para qualquer reforma constitucional, como a da Previdência, são necessários 308, o que forçará o governo a ir para a mesa de negociação com muita frequência. (Folha)

Não à toa, o presidente eleito recebe esta semana representantes de MDB, PSDB, PR e PRB. Bolsonaro, que vinha conversando apenas com bancadas temáticas, está tentando dar mais solidez ao grupo de apoio.

Murillo Aragão: “Primeiro, Bolsonaro chega com uma base política completamente diferente da tradicional do meio político. Segundo, agora há um viés ideológico — é algo mais à direita do MDB histórico. Terceiro, ele traz muitos quadros que não eram do círculo de poder, gente outsider ou do baixo clero. Por fim, um quarto ponto, essencial: vem com a chancela da Lava Jato. De certa forma, ‘é’ um governo da Lava Jato. Se essa operação atrapalhou os governos Dilma e Temer, agora vai ajudar o governo Bolsonaro. O que veremos agora será um governo dialogando não com partidos, mas com bancadas. Esses pontos não são padrão na nossa história parlamentar. O presidencialismo de coalizão no Brasil não vai acabar por causa do modo Bolsonaro de governar. Como não temos um partido com maioria absoluta em ambas as casas, a criação de uma base torna a negociação inevitável. O que há de novo nessa relação é o esvaziamento do poder dos caciques tradicionais. E, junto a isso, o fim da fórmula ‘porteira fechada’ para nomeações. Resta saber se vai funcionar, né?” (Estadão)

PUBLICIDADE

Pois é... Mas, ontem, a polêmica de Bolsonaro foi de outra ordem. Ele foi ao Allianz Parque, convidado pela diretoria palmeirense, para entregar a taça do Brasileirão à equipe. Houve bem mais aplausos do que vaias.

Ao menos parte da rede utilizada para disparo em massa de mensagens por WhatsApp, durante a campanha eleitoral, foi feito com o uso fraudulento de nome e CPF de idosos para registro de chips de celular. Entre as empresas que usaram este sistema está a Yacows, subcontratada pela produtora AM4, que serviu à campanha Bolsonaro. A informação foi colhida pelos repórteres Patrícia Campos Mello e Artur Rodrigues, que tiveram acesso a um processo que corre na Justiça do Trabalho tendo por autor um ex-funcionário de uma das empresas. (Folha)

Elio Gaspari: “A prisão do governador Pezão chocou o Palácio do Planalto. Uma nuvem preta paira sobre o futuro de Michel Temer a partir do dia 2 de janeiro. No mínimo, ele ficará exposto a uma prisão espetaculosa decretada numa sexta-feira. Mesmo que ela seja revogada três dias depois, o estrago será irreversível.” (Globo ou Folha)

George Herbert Walker Bush, que morreu na sexta aos 94 anos, teve uma vida que se confunde com a história de transformação do Partido Republicano. Nasceu no Massachusetts de uma família rica e tradicional — o pai, banqueiro, chegou a senador. Foi criado em Connecticut — a fina-flor da Nova Inglaterra, terra de country clubs e da elite que comandou o partido até meados dos anos 1960. Por coincidência, mais ou menos quando o eleitorado de seu partido se tornava preponderantemente sulista, Bush recém-formado migrou para o Texas. Já era um veterano da Segunda Guerra quando entrou no negócio do petróleo, e tinha feito o próprio dinheiro quando se elegeu, em 1966, deputado federal. Estava entre as jovens estrelas do governo Richard Nixon, para quem serviu como embaixador na ONU. No governo de Gerald Ford, dirigiu a CIA. E, quando Ronald Reagan precisou de um nome mais moderado para equilibrar sua chapa ultraconservadora, convidou-o para vice. George Bush foi presidente dos EUA por um mandato, entre 1989 e 93. Durante seu governo, caiu o Muro de Berlim e desmoronou a União Soviética. Quando o Iraque invadiu o Kuwait, Bush disparou a Guerra do Golfo — e, por conta de sua habilidade com relações, costurou uma grande coalizão. Não era um político carismático ou inspirador. Pragmático, negociador. E, talvez por isso mesmo, com o fim da Guerra Fria o eleitorado americano foi buscar outro jeito de fazer política em Bill Clinton. Foi o segundo presidente da história americana, junto com John Adams, a ver um filho também presidente. Teve uma relação amistosa com Clinton, o homem que o derrotou, e com Barack Obama. Mas não com o atual presidente, Donald Trump. O conservadorismo radical e espírito protecionista atuais mostram o quão ficou distante o Partido Republicano que George H. W. Bush um dia representou. O ex-secretário de Estado James Baker estava ao seu lado na hora de sua morte. Sua última conversa, por telefone, foi com o filho, George W.

O mais importante resultado da reunião do G-20 não foi multilateral, mas entre China e EUA. Os dois países decidiram por uma trégua em sua guerra comercial. Os EUA não vão ampliar a lista de produtos a ser tarifados e a China concorda em aumentar suas compras. Mas é por um tempo: o governo Trump impôs um prazo de 90 dias para que um acordo comercial fosse assinado por ambos os países, mantendo a ameaça de mais impostos. (New York Times)

É... O acordo pode ser bom para o ambiente econômico global mas, pontualmente, ruim para o Brasil. O país e os EUA concorrem como fornecedores de soja, milho, carne e frango. Até de aviões. Com o compromisso de comprar mais dos americanos, exportador brasileiro pode sofrer. “Se os chineses quiserem ser duros com o Brasil”, explica a economista Monica de Bolle, “ainda mais num momento em que o novo governo dá sinais de que quer maior alinhamento com os EUA, poderá substituir facilmente os fornecedores.” (Globo)

Todos os países, com a exceção dos EUA, reiteraram o Acordo de Paris a respeito das mudanças climáticas. Concordaram a respeito da necessidade de reforma da Organização Mundial de Comércio. A intenção era de incluir um alerta sobre o protecionismo. Não entrou — veto de Trump. (PDF)

Cotidiano Digital

E por falar em China... O mercado de investimento em startups, no País do Centro, está mudando. Com base em uma política de governo, o dinheiro dos fundos não está mais sendo destinado apenas a negócios locais. Startups estrangeiras que se predisponham a compartilhar a tecnologia que desenvolvem com o país são o próximo alvo. O objetivo é claro: vencer a competição digital que trava com os EUA. Beijing ainda está muito atrás dos americanos no número de engenheiros qualificados e patentes registradas. Pretende mudar isso.

A nova versão do Instagram para iOS e Android traz a possibilidade de criar listas de amigos próximos. Até aqui, só havia duas possibilidades para uma conta na rede social de fotos: ou fechadas, ninguém vê, apenas os autorizados; ou abertas para o mundo, e todos vêem. Close friends resolve isso. Qualquer usuário poderá criar uma lista daqueles seguidores que são realmente íntimos. E, ao publicar uma fotografia, escolher qual o público destinado — o mundo, ou apenas aqueles próximos. O comando está no menu Perfil.

Cultura

Míriam Leitão: “Há um problema rondando o Brasil: o risco de uma crise sistêmica na indústria do livro. As duas maiores livrarias estão em recuperação judicial. Juntas, são 40% do varejo do setor, e a crise estreitou o canal de venda. Restam as redes menores, mas hoje há 600 livrarias a menos do que antes da recessão. Esse setor tem impacto para além da economia e chega ao intangível. A lista das causas é longa. Na Saraiva e na Cultura, houve erros de gestão. Livro tem um giro baixo, e o setor trabalha com pouco capital. O país viveu nos últimos quatro anos a pior recessão da sua história, as vendas despencaram e só agora começam a subir. A venda online tende a crescer, mas os editores afirmam que descontos agressivos acabaram dando prejuízo a todos. O SNEL fez a proposta de fixar um limite máximo para o desconto no preço do livro, por um tempo. Isso significa intervenção na era do mercado livre. Eles sabem que é polêmica, mas argumentam que descontos predatórios podem matar o negócio. O consumidor quer livro ainda mais barato. Enquanto o setor encontra suas saídas, é bom pensar nos livros e seu valor intangível. Sem eles, fechados em bolhas digitais alimentadas por algorítimos, somos presas frágeis no tempo distópico que vivemos.” (Globo)

Diga-se... Estreou na Netflix, esta semana, o filme inglês A Livraria (trailer), com Patricia Clarkson e Bill Nighy. Em 1959, numa cidadezinha do interior, uma mulher ousa abrir uma loja de livros. Seu principal cliente será um homem misterioso e solitário. E a mulher mais poderosa da cidade não gosta daquele negócio. Assista.

PUBLICIDADE

Claude Troisgros, o grande chef franco-carioca, lança este mês Histórias, Dicas e Receitas (Amazon), seu novo livro de culinária. Desta vez, mais do que de receitas, o livro se propõe como breve ensaio sobre a história da família — o avô revolucionou a relação entre serviço e cozinha e, o pai, foi um dos protagonistas da nouvelle cuisine francesa. É também um guia sobre como lidar com a cozinha — como armazenar ingredientes, como pensar um prato. “Caldos são a essência de qualquer molho, e os molhos estruturam a comida”, sugere como exemplo. Compreendendo como cada prato funciona, é fácil criar em cima. (Folha)

Um clipe da atriz feita cantora Cleo Pires com o rapper Mano Brown, dos Racionais MC’s, agitou as redes durante o final de semana. O músico é acusado de ter-se submetido ao papel de objeto, fetichizando o homem negro perante a mulher branca. Assista.

Viver

Acabou a última rodada do Brasileirão. O Palmeiras já era campeão desde a semana passada — mas ainda havia muito em jogo. Afinal, os quatro primeiros têm garantida vaga na fase de grupos da Taça Libertadores do ano que vem. Além do Porco, serão Flamengo, Internacional e Grêmio. Os colocados de número 5 e 6 — São Paulo e Atlético Mineiro — ainda têm chances. Disputarão com outras equipes do continente vagas, uma fase antes. Também foram definidas as equipes que descem para a Série B — a antiga Segunda Divisão. São eles, em 17º no campeonato, o Sport Clube Recife, seguido do América Mineiro, do Vitória e do Paraná. Ao empatar sem gols com o Ceará, ontem, o Vasco somou o ponto que lhe garantiu a permanência entre os maiores no ano que vem.

Aliás... Ano que vem, à Série A se juntarão Fortaleza, CSA, Avaí e Goiás.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.