Governo Bolsonaro enfrenta primeira suspeita antes da posse

A estranha movimentação de dinheiro nas contas de Fabrício Queiroz, um subtenente da Polícia Militar que serviu de motorista ao deputado estadual eleito senador Flávio Bolsonaro, mobilizou o gabinete de transição. A ala militar do governo se sente particularmente desconfortável. “Uma coisa é a justificativa jurídica”, disse a Gerson Camarotti um integrante da equipe. “Outra é uma resposta imediata para a sociedade.” A Andréia Sadi, Eduardo, irmão de Flávio, foi mais direto. “O que ocorreu ali ninguém sabe, nem o Coaf. A gente tem que trabalhar para não permitir interferência na investigação.” Segundo o presidente eleito, os R$ 24 mil que Queiroz depositou na conta de sua mulher, Michelle Bolsonaro, foram parte do pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil. “Tenho dificuldade para ir em banco, andar na rua. Deixei para minha esposa. Lamento o constrangimento que ela está passando, mas ninguém recebe ou dá dinheiro sujo com cheque nominal.”

Vera Magalhães: “O futuro ministro Onyx Lorenzoni deixou uma entrevista coletiva no meio na última sexta com ares de indignação. Essa postura mostra a dificuldade de quem sempre atirou pedras de se colocar na posição de vidraça. Mas é bom o ministro já ir se acostumando. A eleição do futuro presidente e de boa parte do novo Congresso, bem como de muitos governadores, se deveu em grande medida à indignação com a corrupção associada a PT e seus aliados. Ao inflamar ainda mais a sociedade contra os malfeitos, Bolsonaro e seus aliados atraíram para si a expectativa de um comportamento em tudo diferente daquele que condenaram em tom tão grandiloquente. Não adianta virar as costas. Muito menos apelar para o ‘e no tempo do PT’, como também fez Onyx. Os dois truques, aliás, foram usados pelos petistas. Primeiro afetar indignação diante das evidências de desvios em casos como o mensalão e o petrolão, por exemplo. Os petistas adoravam evocar o passado de CPIs e denúncias contra adversários do partido, antes de chegar ao poder, como se isso fosse um salvo-conduto eterno. E o segundo o de, diante da denúncia, sempre trazer à baila o adversário para demonizá-lo. ‘E no tempo do Fernando Henrique?’ era o curinga que os petistas sempre tiravam da mão quando se viam em apuros.” (Estadão)

Helena Chagas: “Sem entrar no mérito da denúncia em si, que poderá ou não ser explicada satisfatoriamente pelos Bolsonaro, há uma constatação inevitável em sua divulgação: o mecanismo de investigações continua funcionando a todo o vapor. E não há o menor sinal de que vai parar depois da eleição de Bolsonaro. Esse mecanismo tem como pilar importante a divulgação, ou o vazamento, de informações, relatórios (como esse do Coaf), trechos de depoimentos de delatores quase sempre comprometedores para os políticos que estão no alvo — que, culpados ou inocentes, ficam sabendo pela mídia. E o roteiro segue a partir daí: noticiário, inquérito, denúncia e, claro, a desmoralização da política. Esse foi um dos componentes importantes da eleição de Bolsonaro: o voto antipolítica e anticorrupção. O mecanismo continua vivo e, mais cedo do que se imaginava, volta-se contra ele e os seus. Ao nomear Sérgio Moro, o presidente eleito apertou ainda mais a armadilha na qual agora se encontra. Não pode questionar as investigações e nem seus comandantes, não poderá sequer pedir algum alívio. Sempre haverá um agente público disposto a vazar uma informação, e sempre haverá um jornalista pronto a publicá-la. E o público acostumado a esse cardápio pedindo sempre mais. Apertem os cintos.”

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Aliás... Numa cerimônia hoje, às 16h, Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão serão diplomados presidente e vice-presidente da República na sede do TSE. A cerimônia ocorre assim desde 1951, quando recebeu a certidão Getúlio Vargas. Foi interrompida apenas no período da ditadura. (Globo)

O advogado Ricardo de Aquino Salles, que foi candidato a deputado federal pelo Partido Novo e preside o Movimento Endireita Brasil, foi escolhido para ministro do Meio Ambiente. Ele é réu num caso movido pelo MP de São Paulo, que o acusa de beneficiar grupos econômicos alterando as regras de uma área de proteção ambiental na várzea do Rio Tietê, quando era secretário de Meio Ambiente do governo Geraldo Alckmin. Durante a campanha, sugeriu usar munição de fuzil contra a esquerda e o MST — na ocasião, foi repreendido pelo Novo.

Deve ser assinado hoje o decreto de intervenção federal em Roraima. Na prática, assume já agora, como interventor, o governador eleito Antônio Denarium, do PSL. Servidores estão sem receber salário desde outubro, policiais cruzaram os braços. O filho da governadora afastada Suely Campos, Guilherme Campos, foi preso no último dia 30. É acusado de chefiar um esquema de desvio de verbas do sistema prisional. O principal temor é de novas rebeliões nos presídios.

O último lote de devolução do Imposto de Renda sai hoje, a partir das 9h. Confira.

Cotidiano Digital

Presa no sábado dia 1º, Meng Wanzhou, CFO da Huawei, se apresentou perante um juiz na sexta-feira. Na Corte canadense, enfim foram tornadas públicas as acusações. Segundo John Gibb-Carsley, o advogado que representa o governo, a Huawei utilizou-se de uma subsidiária chamada Skycom para intermediar a venda de equipamento produzido nos EUA para o Irã. Ao fazê-lo, violou sanções americanas. Segundo a defesa da executiva, a Huawei vendeu suas ações da Skycom em 2009 e, portanto, não tem responsabilidade sobre qualquer negócio. Ao menos por enquanto, a Justiça canadense ainda não decidiu se ela tem direito a fiança.

Meng tem uma relação com Vancouver. Ela e o marido têm duas mansões na cidade e seus filhos estudaram por um tempo no Canadá.

O governo chinês convocou primeiro o embaixador canadense e, depois, o americano para uma descompostura. “A prisão não é razoável, é impensável, e de natureza vil”, segundo a chancelaria. Colunista da Bloomberg, John Nocera observa que o governo Trump está usando uma tática de ditaduras para pressão no que é, em verdade, um conflito comercial entre os dois países. E a Economist observa outro ponto: por enquanto, a Huawei é uma das três empresas vendendo equipamento de infraestrutura para redes 5G. Muitas economias ocidentais temem que suas redes de comunicação sejam dominadas pela companhia.

Ontem fez exatos 50 anos a Mother of all Demos — mãe de todas as demonstrações de produto. No dia 9 de dezembro de 1968, o professor Douglas Engelbart, da Universidade de Stanford, apresentou a um grupo de cientistas da computação sua visão de futuro. Foi ali que assistiram, pela primeira vez, um mouse sendo usado, links sendo clicados, uma conversa em vídeo tipo Skype. Em essência, Engelbart inventou o mundo de hoje. Assista.

Aliás... Pedro Doria escreveu sobre Engelbart quando de sua morte, em 2013. (Globo)

Viver

O autodeclarado médium João Teixeira de Faria, que num templo de Abadiânia, Goiás, atende como João de Deus e faz cirurgias espirituais, foi acusado por pelo menos 25 mulheres de abuso sexual. Por uma delas, a holandesa Zahira Lieneke, de estupro. Segundo os relatos colhidos pelo jornalista Pedro Bial e uma equipe do jornal O Globo, havia método. João selecionava suas vítimas entre as pessoas que o procuravam e pedia para que o visitassem depois da sessão pública, em uma sala fechada. Lá, sozinho, fazia com que tocassem seu pênis, o masturbassem, enquanto explicava que era tudo parte do processo de cura. Os casos ocorreram entre 2010 e fevereiro deste ano. O Ministério Público abriu investigação e o médium nega as acusações.

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O River Plate levou, ontem, a taça da Libertadores da América num jogo emocionante realizado no Santiago Bernabéu, em Madri. O Boca Juniors saiu na frente, com um gol aos 44 do primeiro tempo — o jogo terminou empatado em 1 a 1. E foi na prorrogação que a sorte mudou de lado. Wílmar Barrios recebeu o segundo amarelo, portanto um vermelho, no primeiro minuto. Aproveitando-se do recuo do Boca, o River pressionou e marcou. Daí Fernando Gago saiu, lesionado, e o terceiro gol veio quando o Boca já tinha apenas nove em campo. Final: 3 a 1. Assista aos melhores momentos.

O histórico argentino fica bem melhor do que o brasileiro, na Libertadores. O Boca Juniors já foi seis vezes campeão e, agora, o River Plate tem quatro campeonatos. Os mais bem posicionados brasileiros — São Paulo, Grêmio e Santos — têm três, cada. Cruzeiro e Internacional, dois. Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Vasco e Atlético Mineiro têm um, cada.

Cultura

Evandro Martins Fontes, editor: “Deixei de fornecer livros para a Livraria Cultura há dois anos por falta de pagamento. Surpreende-me quando agora vem a público o montante que algumas editoras têm com essas empresas. Como os diretores permitiram que isso acontecesse? Uma editora não chega a um valor como esse em pouco tempo. Se essas editoras fossem empresas de capital aberto, esses diretores estariam sofrendo pressão para se afastar. Ao longo dessa mais de uma década em que assistimos ao crescimento de Saraiva e Cultura, testemunhei muitas pequenas livrarias fechando as portas em decorrência dessas duas redes. Por umas três décadas, a Cultura teve uma única livraria no Conjunto Nacional, não atrasava nem um pagamento. Saraiva passou a investir em grandes lojas em shoppings, e a Cultura quis concorrer. Foi ganância. O negócio do livro é pequeno. A Saraiva já foi uma editora importantíssima publicando livros jurídicos. Eles venderam a editora, passaram a vender eletrônicos, e viraram as costas para o livro. A dívida da Cultura, não só com editores, supera R$ 200 milhões. Como você gera um prejuízo dessa natureza e ainda posa de bonzinho porque trabalha com livro? Estou sempre vendo Pedro Herz [sócio da Cultura] passeando em Nova York, Frankfurt. Por um bom tempo, ele andou de helicóptero em São Paulo, para cima e para baixo. Vou fechar os olhos para isso? Eu sou credor.” (Folha)

Aproveitando-se do relançamento em CD de seus primeiros sete álbuns, Tom Waits preparou uma playlist — Spotify e Apple Music. São 76 faixas que ele considera suas melhores.

Um filme abstrato de 32 minutos venceu o Turner Prize de 2018, o mais prestigioso de artes visuais no Reino Unido. Filmado todo com um iPhone, costura uma série de clipes curtos, muitos deles quase estáticos, cenas do cotidiano flagradas ao longo de um ano pela diretora, Charlotte Prodger. Ao fundo, a voz da artista serve à narração com uma série de reflexões pessoais sobre classe, gênero, sexualidade e Bridgit, uma divindade do neolítico. Bridgit é também nome da obra. “Foi o mais profundo uso de uma ferramenta prosaica como a câmera de um iPhone que já vimos na arte”, avaliou Alex Farquharson, diretor da Tate Britain. (Nexo)

Alguém tinha de fazê-lo. Afinal, meninos de doze aos precisam saber o que ocorreria num cenário destes. Usando o software Epic Battle Simulator, um programador pôs vinte mil cavaleiros Jedis de um lado, três mil tiranossauros rex do outro, e os lançou em batalha. Cada qual devidamente configurado de acordo com suas capacidades. O computador calculou cada lance da luta, que demorou exatos 24 minutos. Quem venceria? Em vídeo.

Diferentemente do que publicou este Meio na sexta-feira, não ocorrerão hoje os eventos do Instituto Moreira Salles celebrando Clarice Lispector. As leituras de suas crônicas serão amanhã, terça. Às 19h no IMS de São Paulo e, às 20h, no do Rio.

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