Prezadas leitoras, caros leitores —

Nesta semana estamos fazendo algo diferente para os assinantes premium. Entre terça e sexta-feira soltaremos, a cada dia, uma edição especial. É que estamos na CES, a maior feira anual de tecnologia. Cada edição tratará de um tema. Não será jornalismo de tecnologia, ao menos não no sentido tradicional. Será uma tentativa de previsão do futuro próximo. Que cotidiano as tecnologias que recebem mais investimento nos prometem para daqui a dez anos? Há dez anos, mal havia smartphones. Eles já elegem presidentes. E os próximos?

É o que tentaremos responder. Ainda é tempo de receber. A assinatura premium sai pelo valor de uma cerveja por mês.

— Os editores.

Desmentido de Bolsonaro indica conflitos no Planalto

O governo Bolsonaro encerrou sua primeira semana com confusão. Em entrevista, o presidente anunciou uma alta do IOF para compensar incentivos fiscais a empresas no Norte e Nordeste, apenas para ser desmentido horas depois pelo secretário da Receita, Marcos Cintra. A origem da confusão teria sido a desarticulação que o ministro Onyx Lorenzoni impôs à Casa Civil ao exonerar todos os ocupantes de cargos de confiança para “despetizar” a pasta. A medida prejudicou a análise do impacto que os incentivos teriam sobre o orçamento. A equipe econômica teve que engolir os incentivos para não prejudicar a reforma da Previdência. (Folha)

Nos bastidores, a confusão do IOF e seus desmentidos seriam também resultado de um disputa de poder entre Onyx e o ministro da Economia, Paulo Guedes. (Estado)

Bernardo Mello Franco: “No quarto dia de mandato, Jair Bolsonaro deu uma amostra do seu potencial para produzir crises. O capitão surpreendeu a própria equipe ao anunciar que, ‘infelizmente’, havia assinado um decreto elevando o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Acrescentou que reduziria o Imposto de Renda para quem recebe mais. Foi desautorizado pelo secretário da Receita, que ocupa um cargo de segundo escalão no governo. A fala de um presidente tem peso e produz efeitos imediatos. Seu autógrafo, mais ainda. Quem chega ao cargo mais alto da República não pode assinar decretos sem ler ou entender o que eles significam.” (Globo)

Vera Magalhães: “Ruídos, bateção de cabeça e recuos são normais na primeira semana de qualquer evento. Não seria diferente numa estrutura tão complexa quanto o governo de um país. Mas governos têm urgências diárias e requerem organização rápida. No caso do governo federal, esse papel é exercido na cozinha, que é o Palácio do Planalto. E é justamente ali que parece reinar a bagunça maior. Onyx Lorenzoni chegou com um voluntarismo diretamente proporcional à própria inexperiência. Demonstra uma certeza na empostação de voz que lhe falta nas respostas mais básicas, como se viu nos episódios do salário mínimo e da reforma da Previdência.” (Estadão)

 

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Fausto Silva foi parar nos trending topics do Twitter com uma declaração polêmica. Ao se referir à corrupção e a incompetência, o apresentador disse: “O imbecil que está lá— e não devia estar — pode até ser honesto, mas é um idiota que está e está ferrando com todo mundo.” Como não ficou claro se ele falava de servidores incompetentes em geral ou de alguém em particular, grande parte do público interpretou como uma crítica a Jair Bolsonaro, o que precipitou uma avalanche de apoios e ataques a Faustão.

Nem antimarxismo, nem antiglobalismo, nem comércio. O que move a promessa de Bolsonaro de levar a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém é a crença dos evangélicos, que apoiaram maciçamente sua eleição e têm 91 parlamentares no Congresso, em profecias apocalípticas. Segundo eles, os judeus desempenharão um papel importante no Apocalipse e na volta de Jesus. O que não dizem abertamente, mas é comentado por especialistas, é que caso não se convertam ao cristianismo, esses judeus irão para o inferno. O governo israelense, em que pesem os motivos da comunidade evangélica, agradece o apoio. (O Globo)

Diante de uma onda de violência, o Ceará anunciou na noite de domingo que vai transferir pelo menos 20 presos para penitenciárias federais. O número pode aumentar, pois o ministro da Justiça, Sérgio Moro, ofereceu ao governador Camilo Santana (PT) 60 vagas nos presídios da União, além de ter enviado tropas federais para o estado.

Subordinado desmentindo chefe parece estar na moda também nos EUA. John Bolton, conselheiro de Segurança da Casa Branca, disse neste fim de semana que as tropas americanas vão ficar na Síria até que o grupo terrorista Estado Islâmico seja derrotado em definitivo. Em dezembro, Donald Trump anunciou que levaria “as tropas para casa” imediatamente, fazendo com que o secretário de Defesa, Jim Mattis, pedisse demissão. Mas esse não é o único problema do presidente. Parte do setor público do país está parado porque ele exige recursos para a construção de um muro ao longo da fronteira com o México, algo que os democratas rejeitam. No domingo, Trump ameaçou decretar estado de emergência, o que lhe permitiria usar verba militar para a obra, sem aval do Congresso.

Está marcada para o dia 10 a posse de Nicolás Maduro em seu segundo mandato como presidente da Venezuela. Como tudo que envolve o país vizinho, não será nem simples nem tranquilo. O Congresso, controlado pela oposição, não reconhece a legitimidade de Maduro e diz que instalará um governo de transição. E no fim de semana, Christian Zerpa, juiz do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), fugiu com a família para os EUA. Outrora chavista, ele diz ter deixado o país para não participar da posse de Maduro. Já o presidente da Corte afirma que Zerpa deixou o país para escapar de acusações de assédio sexual.

Cotidiano Digital

Foi aberta ontem a CES 2019, maior feira de eletrônicos de consumo do mundo. Será uma semana de muitos lançamentos e diversas visões de futuro. Este ano a feira está divida em sete áreas de exibição diferentes, cada uma com um foco: Resiliência, Soluções corporativas, Esportes, Carros autônomos, Entretenimento e digital, Cidades inteligentes e o espaço Eureka, onde estarão startups das mais diversas áreas. Confira o calendário das principais palestras.

Neste primeiro dia o principal anúncio foi que as novas TVs da Samsung terão integração com o iTunes da Apple. Será possível tocar músicas e filmes de sua biblioteca na TV.

E como sempre, já começaram os anúncios de produtos peculiares: há uma escova de dentes que limpa os dentes em 10 segundos, e um banheiro que promete uma uma experiência totalmente imersiva, com som surround e luzes ambientes controlada pela assistente digital Alexa da Amazon.

No futuro breve, aprender a programar tende a se tornar algo tão necessário quanto aprender matemática. Já há alguns anos, uma turma do MIT vem desenvolvendo o Scratch, uma linguagem gratuita que ensina crianças a programar, juntando blocos, como se fosse uma espécie de lego. Semana passada foi anunciada a versão 3.0 do Scratch, que já está disponível, inclusive em português, e pode rodar tanto dentro do browser como em uma versão offline. Com ele não só se aprender a programar, como é possível desenvolver uma série de joguinhos divertidos. Veja como funciona, ou comece já a meter a mão na massa.

Cultura

A premiação do Globo de Ouro, ontem, foi equilibrada. Green Book: O guia (trailer), com três prêmios, foi o ganhador da noite em número de estatuetas. O longa conta a história de um pianista de jazz negro fazendo turnê pelo sul dos Estados Unidos nos anos 1960 acompanhado de um guarda-costas branco. Bohemian Rhapsody (trailer), filme sobre Freddie Mercury e o Queen, levou dois. Roma (trailer), original da Netflix que conta a história de um empregada doméstica nos anos 1970 na Cidade do México, também levou duas estatuetas para casa. O filme ficou de fora das categorias principais, já que uma regra da premiação não permite a presença de obras gravadas em outros idiomas. Veja todos os vencedores.

A noite teve ainda momentos de emoção. A veterana Glenn Close ganhou o prêmio de melhor atriz em filme de drama por The Wife (trailer) e, em lágrimas, pediu que as mulheres sigam seus sonhos. Já Regina King, ao ganhar como melhor atriz coadjuvante por Se a rua Beale falasse (trailer), foi ovacionada ao prometer que todas as suas produções dali em diante teriam equipes compostas 50% por mulheres.

E teve quem roubasse a cena nas fotos do tapete vermelho. Spoiler: ninguém famoso — até virar meme.

O que tudo isso significa para o Oscar 2019? Pode ser que nada. Pois é. A Vox lembra que o FiveThirtyEight observou que, em 2013, o Globo de Ouro teve uma taxa de sucesso de apenas 48% na previsão do vencedor do Oscar de melhor filme. Uma das questões é estrutural: os dois prêmios tem categorias diferentes — enquanto o Globo concede dois prêmios de melhor filme, um para drama e outro para musical ou comédia, há apenas um Oscar para a categoria principal, por exemplo. Outros prêmios vão melhor nas previsões, como o Directors Guild of America (DGA) e o Producers Guild of America (PGA).

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Marcelo Yuka, compositor e um dos fundadores d'O Rappa, foi internado no dia 2 de janeiro, no Rio, em estado grave. Segundo amigos, o artista de 53 anos sofreu um AVC e luta contra um quadro de infecção generalizada. No meio do ano passado, ele já havia tido outro acidente vascular cerebral. Em 2000, Yuka ficou paraplégico ao ser atingido por nove tiros enquanto acontecia um assalto. A pedido da família, o hospital não divulgou informações sobre o estado de saúde dele, mas seu irmão se pronunciou nas redes sociais. “Dessa vez é ele e Deus.”

Viver

Uma fotógrafa britânica decidiu explorar como a tecnologia mudou a expressão sexual das mulheres. Segundo Dora Papanikita, os smartphones e redes sociais alteraram nossas necessidades e meios de receber satisfação, especialmente para o público feminino. Os nudes, por exemplo, são um impulso para a autoestima? É algo que as garotas gostam de fazer ou não? Como isso afeta a comunicação sexual entre um casal, especialmente se há uma distância física entre eles? Em seu projeto, Sex in the Digital Age, ela explora como isso vem mudando com o advento de aplicativos como o Snapchat e Instagram. A Vice a entrevistou.

O novo diretor do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, responsável pelo Enem, foi indicado por movimentos ligados ao combate à chamada ‘doutrinação ideológica’ nas escolas. Murilo Resende Ferreira tem como guru o escritor Olavo de Carvalho. (Globo)

O mestre em economia foi elogiado por Jair Bolsonaro no Twitter. “Seus estudos deixam claro a priorização do ensino ignorando a atual promoção da ‘lacração’, ou seja, enfoque na medição da formação acadêmica, e não somente o quanto ele foi doutrinado em salas de aula.“ Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, foi além: “Atenção, professores: seu aluno que inicia agora o 1º ano do Ensino Médio não precisa saber sobre feminismo, linguagens outras que não a língua portuguesa ou História conforme a esquerda, pois o vestibular dele será em 2021 ainda sob a égide de pessoas da estirpe de Murilo Resende.” (Globo)

E enquanto o governo Bolsonaro promete banir Paulo Freire das escolas públicas brasileiras, o legado do educador se consolida nos colégios da elite. (Folha)

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