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Edição de sábado: Sob o domínio do medo

Imagem: Reprodução/Portal Cearense

“Coisas que eu não posso fazer morando numa favela porque, simplesmente, pode custar minha única e preciosa vida.” Com essas palavras, a tiktoker Carol Campos abre um vídeo que já acumula mais de oito milhões de visualizações na rede social chinesa. Por cerca de seis minutos, ela compartilha com seus seguidores algumas das regras implícitas a serem seguidas por quem vive em comunidades dominadas por facções criminosas – neste caso, o Terceiro Comando Puro (TCP), que controla a Cidade Alta, onde Carol reside, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Entre as principais normas estão: não se aproximar de rivais, evitar ouvir ou postar músicas associadas a facções inimigas e jamais frequentar favelas controladas por outros grupos.

Além disso, é preciso ter muito cuidado com as mensagens enviadas online. “Você acha que seu celular é um lugar seguro, mas não é”, alerta. Ela também enfatiza o "óbvio": não ser X9 – ou seja, não compartilhar informações com grupos oponentes; não se envolver com pessoas de outras comunidades, a menos que, ao se relacionar, os encontros aconteçam em pontos neutros; e evitar bailes de outras localidades, pois são eventos “100% organizados pelo movimento [eufemismo para o tráfico], então não faz sentido ir para a concorrência.”

Para quem desobedece, há uma gama de punições. “A mais ‘de boa’ é você ter que sair da sua casa. ‘Ah, mas como assim, eles te dão um prazo para você sair?’ Não, é uma coisa tipo: ‘sai daqui agora’. E você simplesmente sai, não dá tempo para levar nem as coisas, você não tem para onde ir… mas tem que sair. Isso acontece muito, muito mesmo. E, sendo bem sincera, quando isso acontece, as pessoas até agradecem, mesmo que tenham que sair com a roupa do corpo, porque é a punição mais ‘de boa’ entre as outras.” Já as punições mais pesadas, essas podem ser extremamente cruéis. “Às vezes eu nem sei o que acontece. Tem gente que simplesmente desaparece do mapa.”

Carol, no entanto, não tem receio de expor as regras online. Afinal, como ela mesma reitera, “não é segredo para ninguém”. E os comentários na postagem confirmam isso. “Aqui na Bahia também é assim”, escreve uma internauta. “Em Fortaleza é a mesma coisa”, lembra outra. Um dos comentários ainda traz mais detalhes: “não pode comprar água e gás fora da favela, se não pode ir até de arrasta”. É uma realidade compartilhada por muitos. De acordo com estimativas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de um em cada dez brasileiros vivem em áreas controladas por facções criminosas ou milícias, o que corresponde a cerca de 23,5 milhões de pessoas.

Nos morros ou em áreas nobres, o modus operandi das facções se espalha por todo o Brasil, infiltrando-se em diversas regiões e moldando a dinâmica da violência em níveis nacionais. Um relatório da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, revelou no final do ano passado que existem pelo menos 88 facções criminosas em atividade no Brasil. O Nordeste lidera a lista, com 46 grupos, sendo a Bahia o estado com maior concentração, abrigando 21 deles. Em seguida, o Sul se destaca, com 24 facções, das quais 10 estão no Rio Grande do Sul. O Sudeste conta com 18, com Minas Gerais somando 11. O Norte aparece com 14 facções, enquanto o Centro-Oeste tem 10.

A pesquisa também classifica essas organizações em três estágios: das 88 facções mapeadas, 72 atuam localmente, 14 têm influência regional, e duas, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), operam em nível nacional e internacional. À medida que o crime se profissionaliza, combatê-lo também se torna um desafio sofisticado – que cai diretamente no colo do governo federal.

Um impasse político

Faltando um ano e quatro meses para as eleições presidenciais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) governa um povo cheio de medo, uma nação marcada pelo crescente sentimento de insegurança. Por mais que o Atlas da Violência divulgado no início da semana mostre que o país registrou a menor taxa de homicídios desde 2013, a violência tornou-se uma das principais preocupações dos brasileiros. De acordo com a pesquisa Genial/Quaest veiculada em 2 de abril, 29% dos entrevistados apontaram a criminalidade como o maior problema do país – um salto expressivo em relação aos 26% registrados na edição anterior do levantamento. A preocupação com a segurança aumentou de forma constante: em dezembro de 2023, apenas 10% mencionavam o tema; em julho, esse número já havia subido para 19%, até alcançar os 29% capturados no levantamento. Dias depois, em seis de abril, o Datafolha registrou que, apesar de a angústia econômica liderar o ranking do medo, dividindo a primeira posição com a saúde, a violência seguia firme e forte com a medalha de prata.

É impossível fingir que não vê ou desviar do problema. Como resposta, o governo federal aposta na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, apresentada como prioridade para reforçar o combate ao crime organizado. O projeto altera artigos da Constituição para ampliar a atuação da União na definição de diretrizes nacionais de segurança. Inspirada no modelo do Sistema Único de Saúde (SUS), busca elevar o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), criado durante o governo de Michel Temer via lei ordinária, ao nível constitucional.

Em entrevista exclusiva ao Meio, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que o projeto é fundamental para bater de frente com o crime organizado já que “os estados não dão conta sozinhos”. “O crime se organizou mundialmente, não é mais local, não é mais interestadual. É internacional. Pela Constituição, a responsabilidade de enfrentar a criminalidade é dos estados, através das polícias militares e civis, mas hoje se verificou que os estados não dão conta sozinhos. Por isso, é preciso que a União entre de forma coordenada para enfrentar esse problema”, afirmou.

Para além da constitucionalização do SUSP, entre as mudanças, a PEC pretende ampliar as atribuições da Polícia Federal (PF), autorizando-a a investigar crimes ambientais e milícias privadas, e cria a Polícia Viária Federal, unificando as atuais polícias rodoviária e ferroviária. Essa nova força será responsável por rodovias, ferrovias e hidrovias federais, além de proteger bens e instalações da União e apoiar estados, quando solicitado pelos governadores – tornando-se a primeira força policial ostensiva sob controle direto do governo federal. O texto também fixa as competências das Guardas Municipais, com base no novo entendimento do STF que permite seu uso no policiamento ostensivo. Prevê ainda a criação de corregedorias autônomas para investigar condutas de agentes de segurança, bem como a inclusão constitucional dos Fundos Nacional de Segurança Pública e Penitenciário, com a garantia de que seus recursos não poderão ser contingenciados.

Após articulação com os governadores, a PEC incluiu um parágrafo que reafirma a autonomia dos estados, esclarecendo que não haverá interferência nas competências das polícias civis, militares e penais, nem nos corpos de bombeiros subordinados aos governos estaduais. Por isso, Lewandowski está confiante de que a proposta avançará “com alterações pontuais”. “Discutindo com os governadores, em um primeiro momento, houve sim grande resistência. Até porque entenderam que nós iríamos usurpar as competências dos estados e até dos municípios na questão da segurança pública. Mas depois de seis reuniões com os governadores, uma delas inclusive no Palácio do Planalto, a questão foi esclarecida e a dúvida dirimida”.

O ministro aponta o seguinte cenário: os estados do Nordeste apoiam a iniciativa, grande parte do Sul também, mas há “uma oposição mais estridente” em Goiás, administrada pelo governador Ronaldo Caiado (União). Aliado de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ele tem se colocado como alternativa ao campo da direita para o pleito de 2026 e criticado publicamente e sistematicamente a PEC. “O doente renal que se trata no SUS, a hemodiálise dele é igual em Goiás, Mato Grosso ou Rio Grande do Sul. O crime não é igual, tem características regionais. Precisamos da integração das forças, não a unificação”, disse Caiado durante um debate na Fundação Fernando Henrique Cardoso.

Isolando Caiado, Lewandowski insiste que a “concepção de uma união de forças nos três níveis federativos é uma ideia forte”. Quanto às divergências no próprio Parlamento, ele argumenta que a legislação que cria o SUSP já foi aprovada em 2018, que “não há novidade nenhuma”. “De lá para cá são sete anos, nunca ninguém contestou. Por isso, dia 21 vou à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) participar de uma audiência pública e direi que não tem nenhum sentido questionar a constitucionalidade porque o próprio Congresso já testou essa estrutura de cooperação federativa. Então, eu estou muito confiante”, ponderou.

Encaminhado por Lula ao Congresso Nacional no fim de abril, o projeto está atualmente em análise na CCJ da Câmara dos Deputados, responsável por avaliar sua admissibilidade constitucional – e não o mérito da proposta. Caso seja aprovado, o texto segue para discussão em uma comissão especial. Concluída essa fase, a comissão apresentará um relatório, que será submetido à votação em dois turnos no Plenário da Câmara. Se obtiver o apoio de pelo menos 308 deputados, a proposta seguirá para o Senado, onde precisará do voto favorável de, no mínimo, 49 senadores para então ser promulgada. O ministro está ciente que não será um caminho fácil, já que há um ambiente político acirrado, mas espera que “esse ambiente ruim não contamine a discussão da PEC, uma peça tecnicamente elaborada”.

O tal ambiente ruim cerca, inclusive, seu ministério. Recentemente, a pasta estampou matérias de jornais devido a polêmicas, como a recusa em classificar o PCC e o CV como grupos terroristas e a atuação do escritório de advocacia de Enrique Lewandowski, filho do ministro, em defesa de entidades investigadas por desvios ilegais no escândalo do INSS. Questionado se tais episódios não desgastam a imagem do ministério e enfraquecem seu capital político, sua capacidade de negociar e aprovar a pauta, Lewandowski citou Caetano Veloso. “Tudo é divino e perigoso, como diria Caetano Veloso. Política é perigosa. Se você vê a história do mundo… fazer política não é recreio. Tem que ter coragem de mudar as coisas”, concluiu.

Falta combinar com o Congresso

O deputado Mendonça Filho (União Brasil-PE), o relator da proposta, no entanto, revela um panorama não tão orquestrado pela melodia sutil da MPB. Ele reforça que sua missão é, em um primeiro momento, analisar se a proposta está dentro das leis. Depois, promete ampliar o debate para construir consensos, embora considere que a PEC não pode ser entendida como “uma bala de prata” ou “solução mágica” no combate ao crime organizado. Citou, também, o encontro na CCJ no próximo dia 21, dizendo que tem respeito por Lewandowski e que o ministro “é muito elegante” nas negociações. Mesmo assim, pontuou que “é um governo fraco politicamente”. “O governo anda distante do sentimento popular, divorciado do dia a dia das ruas. O Congresso, por outro lado, reflete esse sentimento da população e tem uma visão mais à direita na leitura das políticas públicas, inclusive na área da segurança pública. Nós vemos uma oposição crescente no parlamento, então não é um ambiente fácil para o governo.”

Entre os principais argumentos dos parlamentares que se opõem à PEC estão a crítica à centralização de poderes nas mãos do governo federal, a suposta invasão das atribuições dos estados e a defesa de que é possível fortalecer a cooperação entre os entes federativos sem alterar a Constituição. Para esses críticos, em vez de criar uma grande estrutura unificada de enfrentamento ao crime, o ideal seria desenvolver programas específicos e descentralizados de combate à criminalidade. Como o próprio relator faz parte da oposição, sua escolha para conduzir a proposta gerou mal-estar no governo. “O desconforto foi expresso pelo líder do governo, o Zé Guimarães. O fato de eu ter divergência do ponto de vista ideológico não me impede de conversar, de buscar um denominador comum. Em relação ao líder Guimarães, só lamento. Até porque o governo não é dono do Parlamento. Mesmo se ele tivesse maioria – o que não tem – não possui capacidade ou condição de impor quem deve ou não ser relator”, pontua.

No último dia 29, foi lançada oficialmente a federação “União Progressista”, formalizando a aliança entre o partido de Mendonça Filho, União Brasil, e o Progressistas (PP). Agora, o bloco concentra a maior força política do país, com 109 deputados e 14 senadores, além de seis governadores, cerca de 1.400 prefeitos e 12 mil vereadores. O relator enxerga o bloco como uma força capaz de desestabilizar a governabilidade do governo Lula. “A federação está distante do PT no horizonte de médio e longo prazo”, avaliou. Apesar de a aliança comandar quatro ministérios no governo Lula, o relator minimiza o impacto disso – "até porque a escolha dos ministérios cabe ao governo”. Enquanto o Planalto trabalha para aprovar projetos e consolidar sua base, o relator olha lá na frente e já projeta cenários para 2026. “Vejo a centro-direita como extremamente competitiva, com chances reais de vitória, desde que haja unidade em torno de um nome viável – inclusive com o apoio do Bolsonaro”, concluiu.

Uma visão técnica 

Para Leandro Piquet Carneiro, coordenador da Escola de Segurança Multidimensional da Universidade de São Paulo (USP), a PEC não interfere na arquitetura federativa, tampouco representa uma tentativa de confiscar a autonomia dos estados. Se não altera a estrutura, por que seria necessária? Ele responde: “Nós já criamos capacidade de coordenação em outras áreas de políticas públicas, mas deixamos de fazer isso quando se trata da justiça e da segurança pública. A proposta busca justamente estabelecer um nível de coordenação e definir atribuições que hoje estão mal desenhadas. Ela articula funções que são, de fato, esperadas do governo federal, mas que, no caso da segurança pública, foram enfraquecidas por uma lógica federativa que se aprofundou demais.”

Apesar disso, Piquet reconhece que seria possível construir uma rede de compartilhamento de dados sem necessariamente alterar a Constituição. Outro argumento frequentemente usado contra a PEC – o de que políticas específicas seriam mais eficazes do que reforçar a cooperação entre União, estados e municípios – também é relativizado por ele. “São estratégias complementares. Cada tipo de crime exige uma combinação tática diferente. É controle de território? Crime cibernético? Nesse caso, você monta uma força-tarefa, estuda o funcionamento do problema, mobiliza conhecimento, estrutura a repressão e parte para a ação. Mas há também outro nível: o da infraestrutura legal necessária para enfrentar esses desafios. Por isso, o Brasil precisa avançar nessa agenda e dar ao SUSP uma base legal sólida.” Ele conclui destacando que a PEC, por si só, não resolve os problemas da segurança pública. Não é suficiente – mas representa um primeiro passo.

Missão Impossível de acabar

Qual a principal franquia iniciada na década de 60 que gerou inúmeros remakes e reboots e resiste até hoje, seis décadas após seu lançamento, levando milhões de pessoas ao cinema? Se você falou Missão: Impossível, errou, é Star Trek. Mas Missão: Impossível carrega um honroso segundo lugar, sem o apoio de uma legião de nerds fanáticos, sendo sustentada pelo carisma e força de vontade de um homem só: Tom Cruise. Sem dúvida, o tema composto por Lalo Schifrin, a música em compasso 5/4 mais famosa do mundo, ajudou bastante na longevidade da série.

M:I oferece ao público de filmes de ação uma barganha: dois gêneros cinematográficos pelo preço de um. Ela junta os ingredientes do filme de espionagem - herói atlético e destemido, locações deslumbrantes ao redor do mundo, perseguições alucinantes em veículos aleatórios e gadgets eletrônicos - com o melhor do filme de assalto - planos rocambolescos, viradas de roteiro inesperadas, disfarces e contadores de LED vermelho. Some a isso acrobacias “impossíveis” de tirar o folego e a diversão está garantida. É só desligar suas noções de geopolítica, biotecnologia, computação e leis da física e curtir essa montanha-russa de inverossimilhança

Foram oito filmes em trinta anos, vários diretores renomados e uma história surpreendentemente coesa quando você maratona todos de uma vez. Apesar da repetição de chavões eternos dos filmes de espionagem & assalto, dos vilões que querem “acabar com tudo que está aí” sem motivos muito estruturados e dos finais mais piegas que os posts motivacionais da sua tia no Zap, todos os oito filmes se sustentam. Então prepare seu estoque jumbo de pipoca e siga em frente, porque quinta que vem tem Missão Impossível novo no cinema. Todos os filmes estão disponíveis no streaming do Telecine/Globoplay, exceto M:I 7 que está no Paramount+.

Missão Impossível (1996) 

O reboot que deu origem à série é o filme menos “depalmiano” de Brian de Palma, apesar de trazer todos os seus maneirismos (telas divididas, plot twists). É uma grande homenagem à série original, revivendo personagens conhecidos dela para matá-los implacavelmente no começo da história. A nota de humor nostálgico involuntário fica por conta das tecnologias precárias da época, como uma corrida atrás de um disquete contendo segredos que podem abalar o mundo ocidental e espiões ligando para o quartel-general da CIA de telefones públicos. Traz a melhor virada de roteiro da série, talvez de todos os filmes de Palma. Mesmo com prazo de embargo de spoiler vencido (30 anos tá bom, não?), não vou contar qual é. Cena icônica: Cruise descendo por uma cordinha em uma sala pretensamente inexpugnável onde qualquer som ou movimento brusco acionaria um alarme para copiar um CD-ROM.

Missão Impossível 2 (2000) 

O mais amado e odiado filme da série. Tudo culpa de John Woo que transformou as cenas de luta em balés em câmera lenta com direito a pombas voando e explosões refletidos na pupila de vilões. E máscaras de borracha, muitas máscaras de borracha sendo retiradas a torto e a direito, lembrando mais um desenho do Pernalonga que um filme de ação. A trama pífia gira em torno de um vírus letal chamado Quimera que o vilão da vez pretende soltar pelo mundo, por algum motivo mal explicado (trauma de infância, com certeza), e exige em troca stock options de uma indústria farmacêutica (suspenda sua noção sobre como funcionam as bolsas de valores). Cenas icônicas: a abertura com Tom Cruise escalando uma montanha um enorme duelo de motocicletas no final onde Tom e o vilão saltam de suas respectivas motos e se abraçam caindo de um penhasco em meio a explosões.

Missão: Impossível 3 (2006)

J.J. Abrams traz a franquia de volta ao básico. Para compensar o estilo sobre substância de Woo, M:I 3 aprofunda o personagem de Cruise. Ethan Hunt agora tem uma esposa, ameaçada de morte na primeira cena do filme pelo melhor vilão da série, interpretado por Philip Seymour Hoffman. O MacGuffin da vez é o “Pé de Coelho”, objeto misterioso encapsulado em um cilindro cuja verdadeira funcionalidade só conheceremos no último filme da série. Cena icônica: a invasão do Vaticano com direito a Tom Cruise disfarçado de padre.

Missão: Impossível 4 – Protocolo Fantasma (2011) 

Primeiro filme live action de Brad Bird, conhecido pelos desenhos O Gigante de Ferro e Os Incríveis. Brad carrega no humor e nas traquitanas tecnológicas mais temperamentais que uma impressora jato de tinta. A missão do agente Ethan Hunt fica ainda mais impossível quando a FMI (Força Missão: Impossível, não confundir com o Fundo Monetário Internacional) é extinta pela CIA, e ele precisa vencer seus inimigos e simultaneamente recuperar sua credibilidade. A “conje” de Ethan Hunt é devidamente esquecida, dando lugar a uma agente/interesse romântico que será devidamente esquecida no próximo filme. Cenas icônicas: Tom pendurado no Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo (olha, mamãe, sem dublês!), e a explosão do Kremlin.

Missão: Impossível 5 - Nação Secreta (2015) 

M:I 5 dá início à era Cruise-McQuarrie da série. Cruise abandona a ideia de chamar um diretor diferente para cada filme e acerta uma parceria com Christopher McQuarrie, dando consistência e continuidade aos roteiros, para o bem e para o mal. Ele inclusive já havia reescrito o roteiro de Protocolo Fantasma, sem entrar nos créditos. O filme já começa a mil por hora com Cruise se agarrando a um avião russo em decolagem antes mesmo dos letreiros. Continuando de onde o último filme parou, o agente Hunt precisa reunir seu time, que continua banido, além de enfrentar uma CPI no senado e uma organização arqui-inimiga conhecida como O Sindicato. A agente Ilsa (Rebecca Ferguson) aparece pela primeira vez, começando um relacionamento de amor e jiu-jitsu com o protagonista que irá durar até o último filme. Cenas icônicas: o roubo de um livro-caixa digital armazenado em uma turbina subaquática (onde mais?) e uma tentativa de assassinato múltiplo ao som de Turandot na Ópera de Viena.

Missão: Impossível 6 – Efeito Fallout (2016) 

Terroristas anarquistas (sempre eles!) querem acabar com o mundo como conhecemos detonando três ogivas nucleares ao redor do planeta. Onde esses anarquistas conseguem tanto dinheiro para participar de leilões de ogivas nucleares? Bitcoin, aposto. A dupla Cruise-McQuarrie cumpre seu objetivo de subir a cada filme a barra nas acrobacias (com e sem dublês) criando o primeiro HALO Jump (High Altitude Low Open) filmado em IMAX da história do cinema. Tom pula de um avião a 6 quilômetros de altura e abre seu paraquedas a pouco mais de 600 metros do chão. Foram feitos mais de 100 saltos preparatórios onde o ator chegou a cair a mais de 300km por hora em direção ao solo. Apesar de no filme o salto ser sobre Paris, a acrobacia foi filmada nos Emirados Árabes, país onde ela é legalmente permitida.

Missão: Impossível 7 – Acerto de Contas - Parte 1 (2023)

Em sua missão impossível final, o agente secreto Ethan Hunt e sua trupe de especialistas destemidos precisa enfrentar o pior vilão da história moderna: as fake news. Fruto do encontro de um software de espionagem russo com bots de propaganda de redes sociais, a Inteligência Artificial Senciente conhecida prosaicamente como A Entidade quer, como todo vilão de M:I acabar com a humanidade. Para detê-la, Hunt precisa encontrar o indefectível McGuffin - uma chave dupla em forma de cruz que mais parece uma relíquia católica - e combater um vilão que fora morto, mas nem tanto, no primeiro episódio da série. Cena icônica: Hunt e Grace, o par romântico da vez, escapando da lenta queda de um trem em uma ponte, vagão por vagão. Uma cena, ao mesmo tempo, hilariante e de tirar o fôlego como toda boa cena de ação deve ser.

Missão: Impossível 8 – O Acerto Final (2025)

“A verdade sumiu, a guerra está chegando”, diz alguém no início de M:I 8 - O Acerto Final. Sumiu também o “Parte 2” que deveria estar no título, mas ninguém se importa. A Entidade está com a corda toda, tomando o controle de arsenais nucleares ao redor do mundo, incentivando a discórdia nas redes e o extremismo nas ruas. Somente o agente sexagenário Ethan Hunt será capaz de detê-la. O grande trunfo do último capítulo da saga é amarrar cuidadosamente todos os filmes anteriores em um belo pacote. Personagens longamente esquecidos voltam a aparecer, tramas soltas são costuradas e muitos flashbacks e montagens são enfileirados em quase três horas de filme. Uma recompensa aos fãs fiéis, mas algo tedioso para quem só quer ver Tom Cruise pendurado no alto de alguma coisa em alta velocidade. Mas estes não são esquecidos. Mais uma vez subindo a barra da periculosidade cinematográfica, Tom anda na asa de um teco-teco em pleno voo em um final delirante. Consta que inclusive o ator perdeu os sentidos durante a acrobacia. Outra cena icônica: Cruise mergulhando entre torpedos e escotilhas emperradas de um submarino russo atrás do código-fonte que irá salvar o mundo do apocalipse.

Trinta anos, oito filmes, milhares de efeitos digitais e práticos e chegamos ao fim da série. Será? Tom Cruise - mesmo com um rosto que, ao vivo, parece mais uma máscara de borracha quando comparado com sua presença nas telas - não dá o braço a torcer. Há rumores de que a franquia continuará, talvez com Cruise passando o bastão a outro ator. Ou não. Mr. Hunt, esta será sua missão, se você decidir aceitá-la.

Dalva e a estrela

Alaíde Costa está com 89 anos. Não parece. Quem olha para a sua agenda de shows e para a sua produção recente, pode jurar que ela tem uns 60 a menos. Não à toa, neste ano recebeu o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). A premiação veio não só por conta dos dois discos lançados em 2024 – E o Tempo Agora Quer Voar e Pérolas Negras, projeto com Zezé Motta e Eliana Pittman –, mas sobretudo pela disposição de encarar uma série de projetos ao vivo. “Para mim, é normal, não tem essa coisa de idade não, eu vou lá e, como diz a gíria, mando bala”.

Para se ter uma ideia do tamanho da energia que tem, ela acaba de lançar com um show no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, Alaíde Costa, Uma Estrela para Dalva, disco em que relê a obra de Dalva de Oliveira, uma das maiores cantoras da Era de Ouro do Rádio. E na próxima sexta e sábado se junta a Gilson Peranzzetta para rememorar os 20 anos do álbum Tudo que o Tempo Me Deixou, na Casa de Francisca, em São Paulo.

Dona de uma voz única, com raízes na tradição vocal popular e de cabaré, mas com uma notável adesão à sonoridade da Bossa Nova, Alaíde Costa sempre esteve no panteão dos ouvidos mais atentos, mas durante muitos anos não teve um reconhecimento à altura de seu talento. É mais do que justo que ela seja aclamada agora, mesmo que com anos de atraso. “Veio tarde, né? Mas valeu porque antes ser reconhecida em vida do que depois. Foram muitos anos de espera por um momento assim”.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Queria começar falando sobre a sua relação com a Dalva de Oliveira, o que mais te atrai na obra dela?

São anos pensando em fazer esse projeto, e aí acontece uma coisa, acontece outra e eu não conseguia. Até que o Thiago Marques Luiz [produtor do disco] falou assim: “Ah, vamos gravando para ver no que que dá.” E, graças a Deus, deu certo. A gravadora Deck resolveu lançar e eu estou muito feliz porque é um sonho de mais de 50 anos.

Você chegou a conviver com a Dalva, foram amigas?

Não com muita frequência, mas a conheci, inclusive no disco tem uma foto minha com ela, acho que em 1958, 1959, por aí. Eu ainda meio no comecinho de carreira. Eu sempre admirei a Dalva e, embora tenha uma extensão de voz muito muito diferente, creio que aprendi bastante com ela, sabe? Essa coisa de tentar passar a mensagem como ela é realmente.

E como é que foi para voltar para essas canções compostas na sua maioria nos anos 1940 e 1950? Para esse lugar da memória da Era do Rádio, que era um jeito bem diferente de ouvir música?

Já naquela época, quando eu ainda cantava em programas de calouros, eu aprendia tudo da Dalva. Era fanzoca dela e tinha um sonho de um dia fazer uma homenagem para ela. Podia ser um show, mas de preferência seria um disco. E deu certo, né?

No disco você tem trocas com parceiros de longa data, como por exemplo, a Léa Freire, que até morou com você, e o Filó Machado. Também com o Zé Miguel Wisnik, com quem você fez O Anel recentemente. Mas também você acaba trabalhando com muitos músicos da nova geração, como Zé Manoel, Amaro Freitas, Vitor Araújo, Gabriel Deodato, João Camareiro. Como foi esse processo de estabelecer essas parcerias,?

Isso foi por conta do Thiago, ele fez os contatos e, graças a Deus, todos aceitaram de cara. Estou muito feliz por isso.

E o que você pode contar dessas gravações com eles?

O processo de gravar foi assim, eu passei os tons e chegamos lá na hora, não houve ensaio antes, nada disso. Lá no estúdio, demos uma passada e começamos a gravar. Não foi nada difícil. Com esses músicos nada fica difícil. E eu também tenho a minha parcela aí, porque eu sou bem profissional no que eu faço. Não gosto de chegar no estúdio cantar não sei quantas vezes. Tinha gravações ali que logo de primeira já estava pronta. Então, foi fácil e eu estou muito feliz mesmo com o resultado.

E como foi com a turma mais velha, que você já conhecia, como o Guinga, o Gilson Peranzzetta, o Roberto Sion. O diálogo foi mais fácil do que com os jovens?

Não, foi tudo igual. São todos muito talentosos, muito capazes.

Além de cantar, você compõe. Nesse disco você se dedica a ser intérprete. O que dá mais prazer, compor ou cantar?

Cantar é o suficiente, né? Eu gosto de compor, mas eu não me dedico à composição. De vez em quando eu componho uma canção, mas sou mais voltada ao canto mesmo.

A rede de escândalos da CBF

O futebol brasileiro foi abalado esta semana não por um lance duvidoso dentro de campo, mas pelo afastamento de Ednaldo Rodrigues do cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Fernando Sarney, filho do ex-presidente José Sarney, assumiu como interventor e convocou novas eleições. O presidente afastado tinha acabado de ser reeleito por aclamação, com 100% dos votos entre os cartolas do Brasil, mas, após denúncias em uma reportagem da revista piauí, 19 das 27 federações que o elegeram assinaram um manifesto reclamando de centralização do poder e pedindo renovação. A suspeita de falsificação de uma assinatura foi a gota d'água, e agora, Ednaldo se junta a outros quatro presidentes enrolados com a justiça entre os últimos sete. Vamos lembrar esses casos.

Voltemos a 1994, após a conquista do tetracampeonato da Copa do Mundo, o então chefe da CBF, Ricardo Teixeira, envolveu-se no escândalo do “voo da muamba”. Na época, ele foi acusado de liberar ilegalmente 17 toneladas de bagagens com eletrodomésticos e chopeiras dos Estados Unidos. Nos anos seguintes, firmou o controverso contrato com a Nike, alvo de CPIs, inclusive sobre suspeitas de interferência na escalação de Ronaldo na final de 1998, após o craque ter tido uma convulsão às vésperas da partida, na qual o Brasil foi derrotado por 3 a 0. Teixeira ainda foi investigado por crimes financeiros, lavagem de dinheiro, venda irregular de ingressos e desvio de verbas públicas em amistosos. Em 2012, renunciou pressionado por denúncias. Anos depois, foi banido do futebol pela Fifa e multado por corrupção.

Com a renúncia de Teixeira, quem assumiu o comando foi José Maria Marin. Em 2014, foi flagrado em conversa com J. Hawilla (dono da Traffic, empresa de marketing esportivo) sobre distribuição de propinas envolvendo direitos de transmissão de campeonatos da CBF. Em maio de 2015, Marin foi preso na Suíça por ordem da Justiça americana, no escândalo da Fifagate. Foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, e em 2020 teve a sentença confirmada. Seu nome também constava entre os nove indiciados na CPI da CBF encerrada em 2016.

Quando Marin caiu, Marco Polo Del Nero assumiu a presidência da CBF. Citado no mesmo processo nos EUA, optou por não deixar o Brasil para evitar extradição. Em 2017, foi banido da Fifa, acusado de suborno e corrupção. A punição foi confirmada em 2018. Em 2021, sua pena foi suavizada para uma suspensão de 20 anos. Del Nero também foi alvo da CPI da CBF, que pediu seu indiciamento.

Nem só de corrupção vive a CBF. Em 2021, o então presidente Rogério Caboclo foi suspenso após denúncias de assédio sexual e moral feita por funcionárias da entidade. O caso se tornou público, e a CBF decidiu afastá-lo definitivamente da presidência em 2022, após Assembleia Geral. Em 2023, no entanto, ele foi inocentado das acusações.

E os escândalos vão além das nossas fronteiras. Nas telas, a série Jogo da Corrupção, disponível na Amazon Prime, conta a história de João Havelange, presidente da Fifa entre 1974 e 1998, abordando sobretudo denúncias de corrupção em sua gestão. Em 2010, ele e Ricardo Teixeira, seu genro, foram acusados pela BBC de receber propinas milionárias da empresa suíça ISL em troca de contratos exclusivos com a Fifa. Para evitar uma investigação do Comitê Olímpico Internacional (COI), Havelange renunciou ao cargo de membro da entidade. Em 2012, a Justiça suíça confirmou que ambos embolsaram cerca de R$ 45 milhões pela venda de direitos de mídia, o que ele sempre negou. Também enfrentou Pelé, quando o Rei do Futebol era ministro do Esporte, durante o debate da Lei Pelé, chegando a ameaçar a exclusão do Brasil da Copa de 1998 para barrar a proposta, o que não aconteceu.

Entender arte vai muito além de decorar nomes, estilos ou períodos. É aprender a enxergar através de repertório e contexto. O novo curso do Meio, O Tempo e o Agora: Histórias da Arte para Hoje, convida você a desenvolver um olhar crítico sobre a arte e o mundo. Quem conduz a jornada é Yuri Quevedo, curador da Pinacoteca de São Paulo. Garanta sua vaga com 30% de desconto usando o cupom PREVENDA30. Mas não perca tempo: a oferta vai só até segunda-feira.

Grandes imagens, grande sabedoria, grandes polêmicas e grandes sabores. Veja as notas mais clicadas pelos leitores do Meio esta semana:

1. Nature: O esforço dos fotógrafos finalistas do concurso da revista Nature para capturar imagens memoráveis.

2. Guardian: Cientistas filmam pela primeira vez o instante em que o coração se forma em um embrião.

3. Folha: Algumas das melhores frases do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, que morreu esta semana.

4. Meio: Ponto de Partida — Lula foi passear com ditadores.

5. Panelinha: Discos crocantes de batata com ovo e cogumelo.

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