Líderes na Câmara desistem de criar ministérios novos

A Câmara votará hoje a Medida Provisória 870, que reestruturou o Executivo no início do governo. Um dos objetivos do Centrão, o de reinstituir os ministérios da Integração Nacional e das Cidades, caiu. Os deputados queriam botar mais cargos comissionados e de confiança na mesa para negociar, voltaram atrás ao perceber o desgaste. A Funai deixa as mãos de Damares Alves e retorna à Justiça. Por sua vez o Coaf possivelmente volta para o ministério da Economia, para frustração de Sérgio Moro que vê nele uma perna importante para o combate à corrupção. Os deputados ainda contrabandearam um parágrafo que proíbe que auditores da Receita Federal comuniquem a investigadores sobre crimes financeiros que encontrem. Querem, abertamente, dificultar o trabalho dos procuradores. Haverá briga em plenário. Mas a aprovação da MP diminui a pressão por manifestação governista no domingo. (Congresso em Foco)

A reunião de líderes na qual se decidiu apressar a votação como resposta ao Executivo, retirando-se do texto justamente o ponto que mais havia atraído críticas, só piorou a relação. “Vítor Hugo”, disse Rodrigo Maia, presidente da Câmara, em relação ao líder do governo na Casa, “está excluído da minha relação porque compartilhou no grupo de deputados que negociar é entrar na Câmara com um saco de dinheiro.” O rompimento era antigo e evidente. Maia só decidiu, ontem, deixa-lo claro. (Época)

Os deputados votaram também, e aprovaram, a MP 863, que permite até 100% de capital estrangeiro nas empresas aéreas. Até agora era 20% no máximo. Mas voltaram a reinstituir a obrigatoriedade de uma bagagem de até 23kg gratuita nos voos nacionais. Pode atrapalhar a entrada de companhias aéreas de baixo preço no mercado nacional. (Poder 360)

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Treze dos 27 governadores assinaram ontem uma carta contra o decreto que facilita o porte de armas no Brasil. Eles temem que o aumento da circulação de armas, com as dificuldades que o governo já tem de rastreá-las, facilite o acesso por parte de criminosos. (Estadão)

Como está, o decreto permite, inclusive, a venda de fuzis semiautomáticos. (Jornal Nacional)

Há perspectiva real de que o governo volte atrás em alguns dos pontos do decreto. (Estadão)

Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, foi às redes celebrar comovido a viúva do coronel Brilhante Ustra, o pior torturador da ditadura. (Twitter)

Enquanto isso, conta Ancelmo Gois, sua mãe corria com a papelada para se aposentar logo, aos 59, antes que a reforma da Previdência a pegue. (Globo)

Aliás... Vocês ouviram aquela do deputado doido? (Twitter)

Acontece entre 27 e 29 de junho, em São Paulo, o 14º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. O evento é particularmente recomendado para jornalistas e estudantes, mas está aberto a todos. No dia 27, às 9h15, o vice-presidente Hamilton Mourão será entrevistado ao vivo, no palco. As inscrições podem ser feitas online.

Cultura

Chico Buarque é o novo vencedor do Camões, principal troféu literário da língua portuguesa. Entre os autores que já ganharam, é o primeiro que tem na música popular sua obra principal. Criado em 1988, o prêmio elege todo ano um autor de qualquer país falante do português e parece se espelhar no Nobel de Literatura, que, em 2016, deu o prêmio a Bob Dylan.

Sérgio Rodrigues: “O autor de textos teatrais como Ópera do Malandro (Amazon) e romances como Budapeste (Amazon) parece uma escolha natural para o Camões. O poeta Antonio Cícero, um dos jurados, mencionou a sempre lembrada Construção (Spotify), canção de 1971, como prova de que a discussão sobre letra de música ser ou não ser poesia é papo furado. De fato, Construção é um primor técnico com seus versos alexandrinos perfeitos, sua tônica na sexta e na 12ª sílabas, sua influência bem digerida das vanguardas poéticas brasileiras dos anos 1960. Material rico para teses acadêmicas, um critério de validação literária de peso. O Camões destacou ‘sua contribuição para a formação cultural de diferentes gerações em todos os países onde se fala a língua portuguesa’. Bingo. É esse alcance pan-lusofônico, a facilidade para atravessar fronteiras nas asas da canção popular, que torna Chico o poeta imenso que é. Aí não tem jeito: a cordilheira imponente do cancioneiro buarquiano transforma em suave colina mesmo Budapeste, sua melhor obra de ficção. Budapeste é uma pequena joia, mas empalidece porque a obra poética construída pelo homem no profícuo (e já quase extinto) subgênero da canção popular conhecido como MPB é de tal grandeza que o situa, sem favor algum, no time titular dos maiores artistas da história da língua portuguesa. É provável que o alcance cultural das canções do Chico não seja suficientemente claro para os brasileiros das novas gerações. Essa apreciação ficou ainda mais difícil nos últimos anos, quando o apoio inabalável de Chico a um PT que caía em desgraça aos olhos de metade do país o transformou em Geni (Spotify). Sendo assim, convém lembrar: quem viveu nas últimas décadas do século 20 cresceu com uma dieta musical variada no estilo, mas coerente no sempre fino padrão de feitura, em que a limpeza clássica do verso está a serviço de uma cultura da língua de rara riqueza, compartilhada entre erudição e ouvido atento ao agora. Camões é pouco. Se escrevesse numa língua menos secreta, o Nobel de Dylan se sentiria à vontade em seu colo.” (Folha)

E para os viúvos e viúvas de Game of Thrones, o que se sabe da nova série inspirada nos livros de George R. R. Martin. A atriz Naomi Watts, indicada ao Oscar em 2004 e 2013, será uma das protagonistas da série que narrará os eventos que ocorreram em Westeros milhares de anos antes das disputas pelo Trono de Ferro.

Em seu novo filme, Quentin Tarantino revisita a Los Angeles de 1969 para fazer um tributo ao cinema. O longa fez sua estreia mundial ontem, em Cannes, e é estrelado por Brad Pitt, Leonardo DiCaprio e Margot Robbie. Veja o trailer legendadoEra Uma Vez em... Hollywood estreia dia 15 de agosto nos cinemas brasileiros.

Por falar em Cannes... Em seu terceiro longa-metragem apresentado no Festival, o diretor cearense Karim Aïnouz volta a abordar o universo feminino em A vida invisível de Eurídice Gusmão. “O filme se trata de uma ‘denúncia do patriarcado e do dano que pode causar’, resumiu. "Mas quero evitar apresentar as personagens como vítimas e explorar suas possibilidades de resistência”. O longa faz parte das seis produções brasileiras na atual edição de Cannes e estreou segunda-feira na seção 'Um Certo Olhar', paralela à competição principal do evento.

Cotidiano Digital

O governo americano recuou. Um pouco, mas hesitou — a chinesa Huawei poderá manter seu acordo com o Google ao menos pelos próximos três meses. Os aparelhos atuais continuarão, portanto, recebendo atualizações. Mas por este prazo limitado.

A proibição de relações com a gigante chinesa afeta muito mais do que o negócio de smartphones. Inúmeras empresas de telecomunicações americanas utilizam hoje equipamento Huawei. As pequenas, principalmente nas áreas rurais, não têm plano B e podem surgir regiões sem cobertura de celular, internet disfuncional ou mesmo com perda de telefonia fixa se a manutenção cotidiana for suspensa.

Nenhuma empresa ganha mais do que a Samsung, que disputa com a companhia chinesa liderança no mercado de smartphones. Google e Apple, porém, estão ameaçadíssimas. Se o governo Trump mantiver o banimento e a Huawei lançar um sistema próprio, o mercado para o Android no mundo — principalmente na populosa Ásia — pode diminuir bastante. E há tensão em Cupertino: a recíproca mais dura que a China pode dar é banir do país a Apple. O governo chinês tem condições de indenizar as empresas locais que faziam negócios com a fabricante do iPhone. Mas, sem a China, a linha de produção da Apple quebra, tornando a empresa incapaz por vários meses de produzir smartphones, tablets ou mesmo computadores. O nível de qualidade do equipamento produzido na China, fundamental para a imagem da Apple, dificilmente volta a ser alcançado fora.

O CEO da Huawei, Ren Zhengfei, concedeu uma rara entrevista. “Apoiar a Huawei”, acenou para o público interno, “não quer dizer comprar smartphones Huawei. As pessoas da minha família, por exemplo, preferem iPhones. Não culpem as empresas americanas. Sou muito grato ao tanto que contribuíram para o desenvolvimento da Huawei. O Google é uma empresa muito responsável. E ninguém pode desenvolver tecnologia isolado do mundo.”

Galeria: O cotidiano na sede da Huawei em fotos.

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A Sony liberou farta quantidade de informação sobre seu futuro console de games, o PS5. Os gráficos serão para TVs 8K. Compatível com som imersivo, 3D áudio. SSD ao invés de discos rígidos, o que propiciará muito mais velocidade. O aparelho não sai este ano, e será capaz de rodar jogos feitos para o PS4, além de usar o mesmo equipamento PlayStation VR do atual. Quem tiver comprado os acessórios não os perde. A empresa agirá com uma estratégia de duas mãos. Por um lado, a compatibilidade com o PS4 tem motivo: é para que a migração para o 5 aconteça mais rápido do que no passado, quando os modelos anteriores eram abandonados. Não é pouca gente: há 90 milhões de PS4s por aí. Para isto, o aparelho também será vendido, inicialmente, a um preço bem abaixo do que custaria normalmente. Por outro lado, enquanto toma prejuízo na plataforma nova, a Sony continuará lançando os melhores jogos também para o PS4 por pelo menos três anos. Desta forma, mantém a rentabilidade numa das pernas do negócio.

Viver

O Ministério da Agricultura liberou ontem o registro de 31 agrotóxicos; a maioria, 29, são reproduções de princípios ativos já autorizados no Brasil. Três deles são do glifosato, associado a um tipo de câncer em processos bilionários nos Estados Unidos. No ano todo, já são 197 produtos autorizados. Em 2015, foram 139. Em 2018, 450. O número de defensivos aprovados no Brasil vem crescendo significativamente nos últimos três anos, fato que preocupa ambientalistas e profissionais da saúde. Entre os 31 autorizados, oito estão classificados como ‘extremamente tóxicos’, cinco como ‘altamente tóxicos’, 13 como ‘medianamente tóxicos’, e cinco como ‘pouco tóxicos’. A lista está publicada na edição do dia do Diário Oficial da União (DOU).

Áreas protegidas na Amazônia que deveriam ter 'desmatamento zero' perderam o equivalente a seis cidades de São Paulo em vegetação em três décadas. “Foram 953 mil hectares desmatados em unidades de Conservação (UCs), terras indígenas (TIs) e quilombolas que deveriam ter permanecido integralmente preservados”. Nesta semana, o G1 publica uma série de reportagens sobre o desmatamento no bioma, o impacto da criação de infraestrutura e bons exemplos de interação com a floresta.

E depois de 15 anos, a Série A do Campeonato Brasileiro de futebol volta a ter uma mulher como árbitra. Edina Batista apitará partida entre CSA e Goiás, válida pela sexta rodada do Brasileirão; será a primeira mulher a apitar um jogo desde Silvia Regina, em 2003. Edina também será a representante da arbitragem brasileira na Copa do Mundo Feminina de futebol.

Por falar nisso, a  seleção brasileira embarcou ontem para a Copa do Mundo na França. Em comum na bagagem, as jogadoras levaram o desejo de honrar as mulheres."É de se espantar mesmo tanta gente aqui", disse a veterana Formiga. Ela tem 6 Mundiais na bagagem, está prestes a viver o 7° agora aos 41 anos. Veja o vídeo.

Erramos ontem. Niki Lauda era austríaco. Recebemos um monte de emails com a correção — o que mostra como o leitor do Meio é atento a cada detalhe. Obrigado. E nos desculpem.

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