Com Covid-19, Bolsonaro faz campanha por cloroquina
O presidente Jair Bolsonaro confirmou que tem Covid-19, ontem, e afirmou que está tomando hidroxicloroquina desde domingo — a eficácia do remédio não tem comprovação científica. “Estou bem”, disse no início da tarde, no Alvorada, a um grupo de jornalistas. “Estou até com vontade de fazer uma caminhada, mas não vou por recomendação médica.” Em um momento, se afastou alguns metros dos repórteres e tirou a máscara para comprovar disposição. Bolsonaro despachará de sua residência oficial no Alvorada, por videoconferência, durante esta semana. Ele tornou público um exame do Laboratório Sabin com seu nome real. Retirar a máscara em público expõe as pessoas próximas a um risco, mesmo que afastado. As gotículas com vírus, por vezes não visíveis ao olho nu, flutuam no ar. Bolsonaro afirmou que voltará a se encontrar com pessoas em uma semana. O isolamento recomendado é de 14 dias. (G1)
Míriam Leitão: “O presidente usou até a sua infecção pelo novo coronavírus como parte da campanha de desinformação que vem mantendo desde o início desta pandemia. Jair Bolsonaro tem obsessão pelos seus erros, fica com eles contra toda a evidência factual e científica. Em nenhum momento entendeu qual é o papel do presidente nesta crise, qual é a força do exemplo e a função da representação. Quando começou a ter sintomas, deveria ter se afastado de qualquer atividade presencial. Esse é o primeiro movimento do princípio da precaução. Viajou para Santa Catarina, foi à embaixada americana, carregou ministros militares e civis para essa comemoração, abraçou o embaixador. Na segunda-feira, manteve contato com vários ministros. E já estava tendo febre. Bolsonaro não entendeu a primeira lição dos médicos nesta pandemia: a preocupação de cada pessoa consigo mesma é uma forma de ter cuidado em relação aos outros.” (Globo)
O ministro da Justiça, André Mendonça, requisitou abertura de inquérito na Polícia Federal contra o jornalista Hélio Schwartsman, baseando-se em uma lei da Ditadura Militar. O colunista da Folha de S. Paulo publicou um texto no qual argumenta que a morte de Bolsonaro, por Covid-19, faria bem ao país. “As liberdades de expressão e imprensa são direitos fundamentais”, escreveu o ministro no Twitter, “tais direitos são limitados pela lei. Diante disso, quem defende a democracia deve repudiar o artigo ‘Por que torço para que Bolsonaro morra’. Assim, com base nos artigos 31, IV; e 26 da Lei de Segurança Nacional, será requisitada a abertura de inquérito.” (Twitter)
Hélio Schwartsman: “Jair Bolsonaro está com Covid-19. Torço para que o quadro se agrave e ele morra. Nada pessoal. Embora ensinamentos religiosos e éticas deontológicas preconizem que não devemos desejar mal ao próximo, aqueles que abraçam éticas consequencialistas não estão tão amarrados pela moral tradicional. É que, no consequencialismo, ações são valoradas pelos resultados que produzem. Como todas as vidas valem rigorosamente o mesmo, a morte do presidente torna-se filosoficamente defensável, se estivermos seguros de que acarretará um número maior de vidas preservadas. Estamos? A crer num estudo de pesquisadores da UFABC, da FGV e da USP, cada fala negacionista do presidente se faz seguir de quedas nas taxas de isolamento e de aumentos nos óbitos. Bônus políticos não contabilizáveis em cadáveres incluem o fim (ou ao menos a redução) das tensões institucionais e de tentativas de esvaziamento de políticas ambientais, culturais, científicas etc. Dá para argumentar que a morte, por Covid-19, do mais destacado líder mundial a negar a gravidade da pandemia serviria como um cautionary tale de alcance global. Ficaria muito mais difícil para outros governantes irresponsáveis imitarem seu discurso, o que presumivelmente pouparia vidas em todo o planeta. Bolsonaro prestaria na morte o serviço que foi incapaz de ofertar em vida.” (Folha)
Nos EUA, não haveria qualquer investigação. A manifestação do desejo de que o presidente Donald Trump morra foi feita bem mais de uma vez, em público e por pessoas conhecidas como o ator Johnny Depp e a cantora Madonna. As declarações são protegidas pela Primeira Emenda à Constituição, que garante liberdades como a de religião, expressão e imprensa. O desejo de morte do presidente, cabe ressaltar, não é o mesmo que ameaçá-lo de assassinato. (BBC)
Desde que assumiu o Planalto, Bolsonaro concedeu 102 entrevistas exclusivas a 83 pessoas que representavam 51 veículos de comunicação e sete canais de YouTube. De acordo com levantamento do Poder360, seu veículo preferencial foi a TV — 64 entrevistas —, seguida do rádio (18 vezes). A emissora favorita foi a Band (18), depois a Record (14). José Luiz Datena, da Band, teve 10 conversas com o presidente. (Poder 360)
Via teleconferência, o senador Flávio Bolsonaro prestou depoimento ontem ao Ministério Público do Rio na investigação da rachadinha em seu gabinete na Assembleia Legislativa. O MP vinha pedindo para ouvi-lo desde dezembro de 2018, mas só com uma mudança de estratégia por sua Defesa, nos últimos dias, é que a interlocução se tornou possível. (Globo)
Meio em Vídeo: O que é e de onde vem a Nova Direita? Qual sua diferença para a Novíssima Direita? Estes são alguns dos temas de nossa entrevista com a antropóloga Isabela Kalil. Assista.
Viver
Eliminar o HIV do organismo de um paciente soropositivo por meio de medicamentos. Pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de São Paulo afirmam ter conseguido, pela primeira vez. O homem, um brasileiro de 34 anos diagnosticado com o vírus em 2012, é o primeiro caso em todo o mundo de um paciente que passa a ter o vírus indetectável, e por um longo prazo, depois de tomar um coquetel intensificado de vários remédios contra a AIDS. O estudo será apresentado na 23ª Conferência Internacional de AIDS, o maior congresso do mundo sobre o assunto, que teve início nesta segunda-feira e ocorre de maneira remota por causa da pandemia de coronavírus.
O médico brasileiro Ricardo Sobhie Diaz, doutor em infectologia e diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da Escola Paulista de Medicina, apresentou brevemente o caso em uma coletiva de imprensa virtual, disponível no YouTube e explicou que o paciente esteve sob tratamento regular com antirretrovirais e, além do uso "deste coquetel, foi colocado aleatoriamente em um grupo (no experimento) que recebeu também, por 48 semanas, dolutegravir, maraviroc e nicotinamida". O tratamento adicional com dolutegravir, maraviroc e nicotinamida foi recebido pelo homem em 2016; depois do período de 48 semanas, ele voltou a usar somente o coquetel regularmente utilizado para controlar a Aids.
Cultura
O documentário Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado entrou hoje no catálogo da Netflix. Os diretores Cristina Costantini e Kareem Tabsch revisitam a trajetória do consultor esotérico de Porto Rico que fez muito sucesso nos anos 1990 e no início dos anos 2000 e que ficou conhecido no Brasil pelo bordão "ligue djá" nos comerciais de TV. O trailer.
Cotidiano Digital
O encontro entre Mark Zuckerberg e os ativistas que organizaram o boicote ao Facebook não deu certo. Para os organizadores do movimento #StopHateForProfit, a empresa não está levando a campanha a sério. Eles pedem 10 mudanças na plataforma, incluindo auditorias regulares e independentes para avaliar conteúdos de ódio e desinformação. Segundo uma recente auditoria, a política atual do Facebook é um passo para trás na questão de direitos civis.
Novidade do Uber. Agora, as compras de supermercado podem ser feitas pelo app de transporte e pelo Uber Eats. A função está disponível em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Florianópolis, Salvador, Recife, Goiânia e Campinas.
O TikTok vai parar de operar em Hong Kong. A sua controladora chinesa ByteDance disse que não compartilha dados com o governo chinês, e nem o faria, uma posição que agora a nova lei de segurança exige. A nova lei pode levar as empresas que possuem operações em Hong Kong considerarem mudar suas operações para Taiwan para ainda ficar perto da China ou para outros lugares da Ásia. Por enquanto, Google, Facebook, Microsoft, Twitter e Zoom só pararam temporariamente de compartilhar dados dos usuários com as autoridades. Desde o início dos protestos, do primeiro semestre para o segundo semestre de 2019, os pedidos de retirada de conteúdo digital mais do que duplicaram para mais de sete mil.
Por falar em big techs… Os CEOs Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Sundar Pichai e Tim Cook já tem data marcada para se apresentar (provavelmente virtualmente) no Congresso americano: 27 de julho.