Ações das estatais derretem sob efeito de Bolsonaro

Quem esperava “caos e barbárie” com a negociação das ações da Petrobras ontem não se decepcionou. No primeiro pregão após o presidente Jair Bolsonaro anunciar que deseja substituir Roberto Castello Branco pelo General Joaquim Silva e Luna no comando da estatal, os papéis da empresa caíram mais de 20%, acarretando uma perda estimada de R$ 74 bilhões no valor de mercado, que se soma à queda de R$ 28 bilhões sofrida na sexta-feira. Lembrando que “valor de mercado” é a soma do valor das ações da empresa, não tendo relação com seu patrimônio ou seu lucro. (G1)

Não foi só a Petrobras... A apreensão com a governança das estatais fez com que seus papeis, da Eletrobras e do Banco do Brasil perdessem, em dois dias, R$ 113,2 bilhões em valor de mercado. (Estadão)

Diante da má repercussão, Bolsonaro negou que pretenda intervir na política de preços dos combustíveis, apesar de a criticar com frequência. “O que eu quero da Petrobras e exijo é transparência e previsibilidade, nada mais além disso”, disse a apoiadores. Bolsonaro atacou Castello Branco por trabalhar remotamente, questionou os salários da estatal e tirou da gaveta um antigo slogan: “Agora, o petróleo é nosso ou é de um pequeno grupo no Brasil?” (Folha)

Lauro Jardim: “A reunião mais importante do conselho de administração da Petrobras nos últimos anos começa hoje às 8h30. Um encontro virtual, claro, e do qual Roberto Castello Branco, ainda conselheiro e ainda presidente, participará. Caberá a ele, inclusive, apresentar o balanço de 2020 da Petrobras. Aguarda-se um bom resultado.” (Globo)

Mesmo antes da reunião do conselho, escritórios de advocacia já preparam ações na Justiça dos EUA, onde os papeis da Petrobras também são negociados. Em nome de acionistas, querem ressarcimento pelos prejuízos causados pela intervenção. (Globo)

O temor dos investidores estrangeiros é que Bolsonaro repita a política intervencionista de Dilma Rousseff nas estatais e adote uma política fiscal populista. (Estadão)

Painel S.A.: “A interferência de Bolsonaro no comando da Petrobras, que já balançou o mercado nesta segunda-feira, pode desencadear efeitos econômicos capazes de impedir a reeleição do presidente, segundo Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus. ‘No momento em que ele faz o que fez, perdeu o apoio de parte do empresariado e do mercado financeiro’, diz.” (Folha)

José Paulo Kupfer discorda: “O ‘mercado’ — essa entidade abstrata, mas com ideologia ultraliberal bem definida — passou a mensagem de que ficou (muito) contrariado com a atitude do governo, ao qual dava sustentação até agora, apesar da condução catastrófica do país. Às crises humanitária, de saúde e econômica em que Bolsonaro e seu governo lançaram o Brasil, acrescentou-se agora uma crise confiança dos agentes do mercado financeiro. A situação se assemelha à violenta pressão sobre a cotação do dólar que antecedeu a vitória eleitoral de Lula, em 2002 — falando claro, uma espécie de chantagem. A derrubada de cotações de ativos, neste momento, como foi lá atrás, pode ser classificada como um ato político. Vale observar que, ao mesmo tempo em que os preços de ações de empresas estatais derretiam, outros papéis, com destaque para companhias dos setores de varejo e exportação, registravam altas expressivas. Indicação de que investidores não estão tão pessimistas com o ritmo da atividade econômica no futuro, mesmo diante dos atuais picos de contágio da covid-19 e do crescente colapso na oferta de leitos em hospitais, que tendem a travar os negócios.” (UOL)

Armínio Fraga: “O assunto ficou público o suficiente para impedir que a Petrobras arque com os custos de um eventual subsídio para os caminhoneiros. Aliás, subsídio ao combustível fóssil é considerado em quase todo o mundo como algo criminoso do ponto de vista ambiental. Se não houvesse estatal, não sei se haveria greve. Eles poderiam ir pedir ao governo. Mas aí caberia pensar: por que não um subsídio ao feijão, por exemplo? A coisa ia ficar mais óbvia. Essa [a dos caminhoneiros] é uma área em que o presidente tem uma base político-eleitoral forte e tem do outro lado, na mão dele, uma estatal, então ele fica meio refém.” (Valor)

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Auxílio emergencial, preço de combustíveis... Todas as polêmicas recentes oriundas do Planalto têm um foco: a popularidade. Dados de uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) em parceria com o Instituto MDA apontam que a aprovação (ótimo ou bom) do governo caiu de 41% em outubro para 33%, voltando ao patamar de 32% de maio do ano passado. Já os que consideram a administração ruim ou péssima foram de 27% para 35% no mesmo período. (Estadão)

Meio em vídeo. Em uma semana já teve ameaça de ditadura, fim de vacina, choque na Petrobras, deputado preso, papo de acabar com gastos obrigatórios de saúde e educação. A montanha-russa do noticiário não ocorre sem querer — é estratégica. E tem essencialmente um único motivo: desviar o foco de um problema grave. Confira o Ponto de Partida no YouTube.

João Bernardo Barbosa é um empresário brasileiro radicado em Miami, dono de uma holding que inclui companhias de tecnologia e alimentação. É também, segundo investigações da Polícia Federal, o suposto elo do financiamento internacional a atos contra a democracia no Brasil, revelado pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal. A PF identificou movimentação financeira suspeita entre Barbosa e Allan dos Santos, dono do canal bolsonarista Terça Livre. O empresário nega. (Globo)

Mônica Bergamo: “Procuradores da força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba afirmaram, em diálogos hackeados, que uma delegada da PF lavrou o depoimento de uma testemunha sem que ela tivesse sido ouvida. ‘Ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada...’, afirmou Deltan Dallagnol em uma conversa por mensagens com o procurador Orlando Martello Júnior. O Ministério da Justiça está sendo questionado pelo STF por causa disso.” (Folha)

Aliado do Planalto, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) João Otávio de Noronha deve votar pela nulidade das investigações que levaram o hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a ser indiciado por “rachadinhas” na Alerj. Ele vai alegar direcionamento nas investigações para divergir do linha-dura Félix Fischer, relator do recurso do Zero-Um. (Estadão)

Luciano Huck não sabe se vai ou se fica. Metade do círculo de conselheiros do apresentador recomenda que ele espere o cenário eleitoral se definir para se lançar candidato e evite se posicionar em temas polêmicos. A outra metade acha que a hora é agora, ocupar logo um espaço e montar uma identidade política. Enquanto isso ele conversa com pelo menos seis legendas da centro-direita à centro-esquerda. (Folha)

Viver

Meio milhão de mortos pela Covid-19. Essa foi a marca trágica atingida nesta segunda-feira pelos Estados Unidos, país como o maior número de casos e de vítimas fatais da doença em todo o mundo. O presidente Joe Biden determinou que todas as bandeiras fossem hasteadas a meio mastro em prédios federais. Apesar dos números assustadores, o país vê uma redução de 44% na média móvel de novos casos e de 35% na de mortes, após vacinar 16% de sua população. (G1)

Para se ter uma ideia, o total de americanos mortos em combate nas duas guerras mundiais e nos conflitos da Coreia e do Vietnã é de 426.069.

Por aqui a Covid-19 segue deixando para trás guerras e outras epidemias. O país soma 247.276 mortos, incluindo os 716 óbitos registrados ontem, o que mantém a média móvel de sete dias (1.055) nos quatro dígitos pelo 33º dia seguido. (UOL)

São Paulo atingiu o pico de internações em UTIs pela doença desde o início da pandemia, 6.410 pacientes, com crescimento de 5,6% em relação à semana anterior. A causa é a circulação pelo interior do estado de novas cepas do coronavírus, potencialmente mais transmissíveis. O governador João Doria (PSDB) deve anunciar amanhã novas medidas de combate à pandemia. (Estadão)

Monica Bergamo: “A Pfizer afirmou a senadores brasileiros nesta segunda que não aceita as exigências feitas pelo governo até agora para vender sua vacina ao país. A farmacêutica e o Ministério da Saúde chegaram a um impasse em torno das cláusulas dos contratos para a comercialização do imunizante: a Pfizer quer que o governo se responsabilize por eventuais demandas judiciais decorrentes de efeitos adversos da vacina, desde que a Anvisa tenha concedido o registro ou autorizado o uso emergencial e temporário.” (Folha)

Após a reunião, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), defendeu mudar a legislação para destravar a compra das vacinas da Pfizer. A principal ideia é que estados e municípios dividam a responsabilidade pelos eventuais riscos do imunizante. (UOL)

E o Ministério Público Federal no DF vai investigar o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, por improbidade administrativa no trato da pandemia no país como um todo. (Poder360)

A NASA divulgou na tarde de ontem, via Twitter, o vídeo gravado pelo carro-robô Perseverance durante seu bem-sucedido pouso em Marte no dia 18. A gravação mostra imagens que impressionam pelos detalhes e pela complexidade das manobras realizadas para que o veículo pousasse com segurança. A missão do Perseverance é buscar indícios de se já houve vida algum dia em nosso vizinho. (G1)

Panelinha no Meio. O ingrediente principal, uma espécie de ostra típica do Norteste, pode não ser fácil de achar, mas o sabor único do caldinho de sururu compensa a busca. Nele tem de tudo, além do sururu propriamente dito, até um pouquinho de cachaça, que ninguém é de ferro.

Cultura

Estreou neste domingo, na HBO, a série documental em quatro capítulos Allen vs Farrow, que trata das acusações de abuso sexual que teria sido praticado pelo cineasta Woody Allen até 1992 contra Dylan, então com sete anos de idade, filha de sua ex-mulher, a atriz Mia Farrow. Allen, que não foi ouvido na série, nega até hoje as acusações. O documentário exibe pela primeira vez um depoimento de Dylan ainda criança, gravado pela mãe, falando dos abusos. (New York Times)

Por meio de sua assessoria, Allen e sua atual mulher, Soon-Yi Previn, classificaram o documentário como sensacionalismo de má qualidade cheio de falsidades. Soon-Yi é filha adotiva de Farrow com o maestro Andre Previn e começou a se relacionar com Allen aos 21 anos, quando ele ainda era casado com sua mãe. (New York Times)

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Após 28 anos agitando as pistas de dança em todo o mundo, a dupla francesa Daft Punk anunciou ontem sua dissolução. Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo publicaram no YouTube o vídeo Epilogue (Epílogo), que mostra os dois se distanciando num deserto com suas tradicionais roupas futuristas (por mais paradoxal que a expressão seja) até um momento surpreendente, seguido pela referência ao período de parceria deles. Juntos, gravaram cinco discos e ganharam seis Grammys. (Folha)

Cotidiano Digital

O WhatsApp avisou que não excluirá a conta de quem não concordar com a sua nova política de privacidade. Porém, o app ficará praticamente sem utilidade. Sem especificar por quanto tempo, ainda será possível receber ligações e notificações, mas o envio e leitura de mensagens ficará totalmente restrito. Quem quiser mudar de ideia poderá mesmo após a vigência das regras, dia 15 de maio, concordar com os novos termos. Essa flexibilização vem após o app sofrer críticas com as mudanças.

Junto a grupos de notícias europeus, a Microsoft lançou um projeto para criar uma solução legal que obrigaria as big techs a pagarem os veículos pelo conteúdo. A iniciativa é para criar um modelo semelhante ao australiano que foi apoiado pela Microsoft, mas criticado por suas rivais. Depois de resistir, o Google fechou acordo com vários grupos de comunicação, enquanto o Facebook decidiu bloquear as notícias no país. A ideia da Microsoft é explorar as dificuldades das rivais e promover sua própria ferramenta de busca Bing como uma alternativa de busca de notícias mais preocupada com os direitos autorais. A coalizão informal vai propor a inclusão do seu plano na próxima lei da UE sobre as big techs. (Valor)

Aliás... O Facebook chegou ao um acordo com o governo australiano e vai retomar o seu serviço de notícias no país.

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