Prezadas leitoras, caros leitores —

Quando se lista os líderes do movimento internacional de populismo autoritário à direita na imprensa, muitos são os nomes que frequentemente aparecem. Donald Trump, que já deixou o governo americano, assim como nosso Jair Bolsonaro. O húngaro Viktor Orbán, o polonês Andrzej Duda, o nicho religioso representado pelo turco Recep Erdogan e o indiano Narenda Modi. Mas um nome que quase nunca aparece neste conjunto é o israelense Benjamin Netanyahu.

É uma gentileza que a imprensa presta, mas não a ciência política. Ele é frequentemente listado entre os responsáveis por aquilo que o professor Larry Diamond batizou ‘recessão democrática’. Ou como outro professor, Steven Levitsky, chamou de o caminho pelo qual ‘democracias morrem’.

Em 2019, uma pesquisa de opinião revelou que 54% dos israelenses consideravam que a democracia do país corria um sério risco. Não mudou desde então. Como a maior parte destes líderes, Netanyahu se sustenta no poder com uma base sólida, radical, porém minoritária. Foi em seu governo que o Parlamento definiu formalmente o país como um Estado judeu, ignorando a minoria árabe — desde a fundação, em 1948, jamais uma lei assim havia passado. Leis para dificultar a ação de ativistas políticos pró-direitos palestinos passaram — com uma delas, o diretor local da Human Rights Watch foi deportado. Como seus pares pelo mundo, Netanyahu mantem um ataque sustentado à imprensa que o critica e o Ministério Público o processa por corrupção.

Mas uma das principais características do iliberalismo do atual premiê israelense é o rompimento completo com um movimento que vinha já desde os anos 1970. Ao invés de tentar costurar um acordo de paz como todos seus antecessores, uns mais conservadores, outros mais progressistas, a política de Netanyahu vem sendo ignorar por completo que existe um conflito. Enquanto isso, incentiva os grupos mais radicais na população a escalar o mesmo conflito.

Netanyahu, porém, não era assim. A um tempo, foi um político conservador normal. E o processo de sua transformação é o tema da Edição de Sábado. Como um político normal se torna um autoritário, populista, iliberal.

Esta é uma edição que os assinantes premium recebem.

Assine.

Sai por quase nada.

— Os editores

Bolsonaro ignorou 6 ofertas de vacinas, diz Pfizer

Entre agosto do ano passado e fevereiro deste ano, a Pfizer fez seis ofertas de vacinas ao governo brasileiro e foi rejeitada ou ignorada, até conseguir fechar um acordo em março. A revelação foi feita pelo gerente-geral do laboratório na América Latina, Carlos Murillo, em depoimento à CPI da pandemia. Uma das propostas previa a entrega de 1,5 milhão de doses ainda em 2020. Ele também confirmou que uma carta enviada a diversas autoridade pedindo urgência nas negociações ficou pelo menos dois meses sem resposta. (G1)

Confira o cronograma das ofertas rejeitadas pelo governo. (CNN Brasil)

Pesquisadores estimam que, se o governo tivesse fechado o acordo em agosto, pelo menos 3.500 idosos que morreram de Covid-19 em março poderiam ter sido completamente imunizados antes de contraírem a doença, revela o Radar. (Veja)

O relato de Murillo, somado aos outros depoimentos – em particular o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres –, já permite, na avaliação de senadores, qualificar um quadro de negligência por parte do presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia. (Folha)

Murillo revelou que o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), que não tem qualquer cargo no governo federal, e o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, participaram de reuniões junto com o ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten e representantes do laboratório para tratar de compras de vacinas. Na véspera, Wajngarten havia negado a ingerência dos filhos do presidente nas negociações. Para senadores, isso confirma a suspeita levantada pelo ex-ministro Henrique Mandetta de que o presidente recebia um “aconselhamento paralelo”. (Estadão)

A confirmação de que o Zero Dois, um vereador, participou das negociações para compra de vacinas provocou uma saraivada de críticas online – e alguns memes, claro. (Poder360)

Em Alagoas, terra de Renan Calheiros (MDB), Jair Bolsonaro voltou a chamar o relator da CPI de “vagabundo” e classificou como “um crime” o que está acontecendo na comissão. (Folha)

E a Advocacia-Geral da União entrou com o pedido de habeas corpus no STF para que o general Eduardo Pazuello possa ficar calado sem ser preso em seu depoimento no dia 19. O relator é o ministro Ricardo Lewandowski. (G1)

Vera Magalhães: “Lewandowski deve conceder liminar para que Pazuello possa permanecer em silêncio na CPI da Pandemia. O ministro avalia que existe farta jurisprudência no STF dando a alguém que é investigado o direito de ficar em silêncio para não produzir provas contra si mesmo.” (Globo)

PUBLICIDADE

Citado pelo ex-governador Sérgio Cabral como operador de um pagamento ao ministro do STF Dias Toffoli em troca de sentenças no TSE, o ex-secretário de obras do Rio Hudson Braga negou qualquer conhecimento sobre o caso. Com base na delação de Cabral, a PF pediu ao Supremo autorização para investigar Toffoli. Por meio de seu advogado, Braga disse que Cabral, “resolveu, por desespero, criar fatos para viabilizar sua colaboração premiada”. (Estadão)

Em sua primeira entrevista desde que teve a prisão revogada, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha diz que sua condenação era um “troféu de (Sérgio) Moro” e que foi “usado como contraponto para não parecer que ele perseguia unicamente o PT”. Cunha nega todas as acusações pelas quais foi cassado na Câmara e condenado a 15 anos de prisão e garante que vai voltar à cena política. (Veja)

Acompanhado de Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aproveitou uma inauguração em Alagoas para anunciar a criação de uma comissão para analisar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que inclui um mecanismo de voto impresso na urna eletrônica, uma bandeira do presidente. (UOL)

Meio em vídeo. Há muito tempo uma pesquisa não mostrava o presidente Jair Bolsonaro tão mal. E Lula tão bem. Mas se você é da turma que não quer nem um, nem outro, nessa pesquisa tem motivos para você também ficar feliz. Quer saber? O editor Pedro Doria explica no Ponto de Partida. Confira no Youtube.

O pesadelo de quem não comprou as vacinas

Tony de Marco

Lula-vírus
Gostou? Ela pode ser sua. Colecione NFTs das animações do Meio no Open Sea.

Destrave sua gestão

Destrave sua gestão

Alterações em cargos de liderança são parte da trajetória das empresas e podem ser separadas em duas categorias, formal e informal. Na formal, estão as promoções, as mudanças de setor e as mudanças geográficas. Essas alterações são públicas e ocorrem aos olhos de todos. O título do cargo é outro, as responsabilidades aumentam e os gestores costumam enviar uma mensagem aos funcionários para informá-los da novidade. Já na informal, as alterações são mais discretas, às vezes invisíveis, como quando um funcionário assume mais responsabilidades e deveres, mas o título e o nível de autoridade permanecem o mesmo.

Um estudo feito por pesquisadores da European School of Management and Technology de Berlim, na Alemanha, quis saber quais são os desafios da transição invisível em cargos de liderança. Eles entrevistaram 396 pessoas de diferentes níveis hierárquicos para encontrar respostas às seguintes perguntas: Como os administradores passam por esse desafio? Quais são os fatores importantes para a experiência? E quais as lições os executivos e as organizações podem tirar para melhor gerenciar outras transições parecidas?

Os resultados indicam que os líderes, independente do setor em que trabalhavam, consideram as alterações invisíveis significantemente mais difíceis de atravessar do que as formais. Uma das explicações, sugerem os autores, é que as companhias esperam que os líderes, por serem funcionários competentes, tenham também a capacidade de se adaptar. Um dos respondentes disse que a transição invisível requer energia, recursos e “constante auto-reflexão”.

Outra pesquisa, também sobre mudanças em cargos de liderança, quis entender os motivos que deixam funcionários desencantados com o trabalho após uma promoção e como as empresas podem antever casos do tipo. Esse sentimento, que eles chamam de “blues administrativo”, acontece quando a pessoa vê menos propósito na nova função. Para ver casos do tipo, é necessário ter atenção não só a elementos como habilidade e conhecimento da pessoa, mas também às expectativas da pessoa selecionada para a carreira dela.

Viver

Embora o Brasil esteja vivendo uma “ligeira redução” nos casos e mortes por Covid-19, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta para o risco de uma terceira onda, com “uma crise sanitária ainda mais grave”, já que ainda há uma intensa circulação do vírus no país. (Globo)

Mas há uma boa notícia. A própria Fiocruz confirmou a chegada no dia 22 de uma nova carga de insumos para a produção da vacina AstraZeneca. Outro lote está previsto para o dia 19. Hoje a fundação entrega ao Ministério da Saúde 4,1 milhão de doses do imunizante. (Agência Fiocruz)

Uma má notícia é que o Instituto Butantan interrompeu a produção da CoronaVac por falta de insumos da China. A instituição entregou o último lote de 1,1 milhão de doses e agora vai fazer vacinas contra a gripe até receber mais IFA chinês. (G1)

E a Anvisa autorizou ontem os testes da vacina indiana Covaxin em humanos no Brasil. Cerca de 4.500 voluntários devem participar do estudo. (UOL)

A média móvel de mortes em uma semana no Brasil segue em queda, agora de 24%. Ontem foram registrados 2.340 óbitos, com média de 1.917 e total de 430.596 vítimas. (Estadão)

Enquanto isso... Nos EUA, pessoas que já receberam todas as doses de alguma das vacinas em uso não precisam mais usar máscaras, mesmo em ambientes fechados, nem manter o distanciamento social. (G1)

PUBLICIDADE

O Brasil tem responsabilidade em liderar a busca para uma solução para a crise climática, sob fiscalização e cobrança dos EUA. Essa é a opinião de John Kerry, preposto do presidente Joe Biden para questões de meio ambiente. Ele afirma disposição de negociar com o governo Bolsonaro sem falar em sanções, mas diz que o Brasil precisa “tomar medidas imediatas para reduzir significativamente o desmatamento em 2021”. (Folha)

Enquanto isso... A Câmara aprovou ontem a criticada lei geral de licenciamento ambiental. Para ambientalistas, a lei cria uma espécie de licenciamento automático, com simples declaração pela internet e fiscalização por amostragem. O texto segue para o Senado. (CNN Brasil)

Para a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, a aprovação do projeto significa, na prática, o fim do licenciamento ambiental. “Os ganhos ambientais obtidos com décadas de trabalho de diferentes governos foram pisoteados”, diz ela. (Globo)

Veja como ficariam as terras indígenas com as novas regras de licenciamento. (Estadão)

Ancelmo Gois: “O presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro, informou ontem a membros do Conselho Nacional de Educação que, por falta de tempo e orçamento, não será feito Enem neste ano. Ficará para janeiro ou fevereiro de 2022. Hoje, uma portaria deve ser publicada pelo Inep confirmando o adiamento.” (Globo)

Cultura

A Embaúba Filmes, distribuidora baseada em Belo Horizonte e destaque do novo cinema autoral brasileiro, lança hoje a sua plataforma de streaming e exibe produções inéditas no circuito comercial, como É Rocha e Rio, Negro Leo, de Paula Gaitán, e Eu, Empresa, de Leon Sampaio e Marcus Curvelo.

Sob a regência de Luis Otavio Santos, a Osesp oferece hoje a rara oportunidade de se ouvir os compositores brasileiros José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) e João de Deus de Castro Lobo (1797-1832). No domingo, o camerístico Trio Aquarius abre a temporada de concertos da Fundação Maria Luisa e Oscar Americano com obras de Haydn, Piazzolla e Edino Krieger. No mesmo dia, a Orquestra Jovem do Estado interpreta Varése, Villa-Lobos e Dvorák direto do Theatro São Pedro.

No sábado, a Cia. Livre de Dança, da Rocinha, transmite o espetáculo Brasileirices direto do Centro Coreográfico do Rio de Janeiro.

No domingo, Vanessa Moreno lança o disco Sentido, que marca o reencontro da cantora com o violão, em live do Itaú Cultural.

Perspectivas Decoloniais para Museus é o tema da conversa que o Instituto Moreira Salles e o Conselho Internacional de Museus promovem na terça, com a participação, entre outros, da curadora do Masp, Amanda Carneiro, e da reitora da Universidade Federal de Rondônia, Marcele Pereira.

O pesquisador Acauam Oliveira fala sobre afrofuturismo nessa em quarta, às 18h, em seminário da Escola da Cidade organizado pelo publisher da Bravo!, Guilherme Werneck.

Na quinta, o Pavilhão do Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza inaugura a exposição Utopias da Vida Comum, com curadoria do estúdio colaborativo Arquitetos Associados e do designer Henrique Penha. Uma live entre os organizadores, transmitida pela Fundação Bienal de São Paulo, marca a ocasião.

No mesmo dia, os fotógrafos Lita Cerqueira e Allan Weber conversam com a curadora Keyna Eleison em evento de lançamento da revista Zum.

Para mais dicas de cultura, assine a newsletter da Bravo!.

Cotidiano Digital

A Colonial Pipeline pagou US$ 5 milhões aos hackers que tomaram controle do maior oleoduto dos Estados Unidos e da qual é dona. A companhia pagou o valor em criptomoeda horas depois do ataque. Os invasores mandaram de volta uma ferramenta para descriptografar a rede fora do ar, mas ela era muito devagar e os técnicos da companhia continuaram tentando restaurar o sistema com os próprios backups. (O Globo)

A empresa restabeleceu parte do funcionamento do oleoduto na quarta, cinco dias após a invasão. Na terça, longas filas começaram a aparecer em cidades da costa leste dos EUA. (Folha)

O DarkSide, que assumiu a autoria e o FBI confirmou, é, na verdade, uma plataforma que funciona como um ransomware-as-a-service (RaaS) e o lucro é compartilhado entre os donos e afiliados. No Brasil, o Grupo Moura já sofreu um ataque do DarkSide. (Ciso Advisor)

Em cinco anos, a exposição a riscos cibernéticos cresceu 10 vezes no Brasil. Segundo a pesquisa da empresa brasileira de segurança cibernética GAT InfoSec, 70% das vulnerabilidades estão ligadas à falta de atualização de servidores e estações de trabalho. (Estadão)

Quando imaginou o Amazon Echo, Jeff Bezos o rascunhou com microfone, alto-falante e botão de mudo. Estava posto o primeiro desafio: como conectar um aparelho sem botões a uma rede sem fio? Para ler com calma. (Wired)

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.