Prezadas leitoras, caros leitores —

O setor cultural brasileiro, devastado pelos necessários lockdowns pandêmicos, ganhou uma sobrevida. Com a derrubada dos vetos às leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, recursos preciosos serão injetados nessa área tal como adrenalina. Mas não foi só a crise sanitária que enfraqueceu a cultura. Foi a guerra empreendida pela extrema-direita com base na falácia de que de que os artistas do país estão todos a serviço da esquerda, do comunismo, da destruição da família. A grande efígie dessa batalha é a Lei Rouanet, batizada com o nome de seu autor, Sérgio Paulo Rouanet, morto no último dia 3.

A Edição de Sábado vai esmiuçar essa guerra e narrar a história de como uma lei que nasce num governo liberal conservador, de Fernando Collor, sob críticas da esquerda, torna-se arma da extrema-direita para atacar qualquer manifestação cultural divergente de seu ideário. Spoiler: tem Olavo de Carvalho no meio. Mostramos também como países como Alemanha, França e Estados Unidos, nada comunistas, usam mecanismos de incentivo à cultura para alimentar sua economia criativa.

E, por fim, pode estar para se encerrar um mistério que dura faz um milênio: o destino do corpo de Harald, filho de Gorm. Também conhecido como Harald Dente Azul, rei da Dinamarca, um dos maiores líderes vikings da história. Ele foi o unificador de Dinamarca e Noruega e o primeiro líder viking a se converter ao cristianismo. Mas, se o túmulo identificado na Polônia por arqueólogos há uma semana for mesmo o seu, tudo indica que algo de podre houve em seu reino e não era apenas o dente morto, azul. O túmulo é pagão, a conversão não foi sincera, mas um truque político. Harald continuou seguindo Thor. Assim como continua conosco. Bluetooth, a tecnologia que conecta aparelhos digitais, foi batizada em homenagem a sua ligação dos reinos nórdicos.

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— Os editores

Temendo derrota, Lira não vota PEC kamicaze

Entre a pressa em aprovar a PEC que viola leis para ajudar na reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e o risco do quórum baixo no Plenário, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), optou pela prudência e adiou a votação para a semana que vem. A proposta eleva o benefício do Auxílio Brasil até o fim do ano de R$ 400 para R$ 600, zera a fila de espera e cria vouchers, também só até dezembro, de mil reais para caminhoneiros e taxistas. Para driblar as leis eleitoral e de responsabilidade fiscal e o teto de gastos, decreta estado de emergência. Lira vinha colecionando vitórias. Convenceu o relator Danilo Forte (UB-CE) a não mexer no texto, o que mandaria a PEC de volta para o Senado, e conseguiu aprová-la na comissão especial quase por unanimidade — somente o deputado Alexis Fonteyne (Novo-SP) votou contra. A ideia era votá-la em dois turnos no Plenário ainda ontem, mas a oposição pretendia apresentar um destaque retirando do texto o estado de emergência, o que, na prática, tornaria ilegais os benefícios. Lira viu que havia 427 deputados presentes, quando são necessários 308 para aprovar uma PEC ou derrubar um destaque. Achou que a margem era estreita e não quis arriscar. A votação está marcada para a próxima terça. (UOL e Globo)

Lira não economizou na criatividade para acelerar a PEC. Se tivesse seguido a tramitação normal, a proposta levaria até quatro meses para ser votada. Para que não passasse pela CCJ e por outras comissões, o presidente a incorporou a outra, que tratava de assunto diverso e estava mais adiantada. Como há um prazo mínimo de sessões da Casa na tramitação, Lira chegou a abrir sessões no Plenário que duraram um minuto. (Globo e g1)

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Com a aliança local entre PT e PSB ainda claudicando, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um comício ontem no centro do Rio de Janeiro para reiterar seu apoio à candidatura do deputado Marcelo Freixo (PSB) ao governo do estado. “Era preciso acabar com as dúvidas, com rumores aqui no Rio. Queriam desmarcar o ato, eu não quis. Eu não tenho nada contra ninguém, mas aqui no Rio quem eu apoio é o Marcelo Freixo”, disse. No palanque principal, além dos candidatos e de líderes da coligação, estava o presidente da Alerj, o petista André Ceciliano, pré-candidato ao Senado. Houve uma saia justa quando parte da militância gritou o nome do deputado Alessandro Molon (PSB), que também quer ser candidato a senador, um impedimento para o acordo entre os partidos. A nota revoltante do evento ficou por conta de duas bombas caseiras de baixo poder destrutivo jogadas contra a área do palanque. Ninguém se feriu, e a polícia prendeu um suspeito. (g1 e Extra)

Violência também contra a imprensa. Na noite de quarta-feira um projétil atingiu uma das janelas da redação da Folha de S.Paulo, no centro da capital paulista. Numa análise inicial, o delegado Severino Pereira Vasconcelos, responsável pela investigação, disse que o disparo pode ter sido feito por uma arma de cartucho. (Folha)

Meio em vídeo. Eleição é matemática, e para derrotar Bolsonaro no primeiro turno, Lula precisa conquistar o voto de quem ainda não decidiu o que fará em 2 de outubro, inclusive daqueles chamados de golpistas e fascistas pela militância petista. Confira esta edição da coluna De Tédio a Gente Não Morre, com Mariliz Pereira Jorge, hoje, a partir das 11h. (YouTube)

Meio em vídeo. A gente realmente precisa ter uma conversa sobre o Paradoxo da Tolerância. A ideia de que às vezes, para defender a democracia, é preciso impedir que um grupo político fale está começando a ser usada com displicência demais. Tem limite, sim, mas você sabe qual é? Confira a análise de Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)

A juíza Jacinta Silva dos Santos, da Comarca de Atalaia do Norte (AM), determinou ontem que o processo sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips seja encaminhado para a Justiça Federal. Segundo ela, a investigação concluiu que a motivação do crime estava ligada aos direitos indígenas, que, constitucionalmente, estão fora da alçada do Judiciário estadual. Também ontem a polícia pediu que a prisão temporária dos três suspeitos seja convertida em preventiva. (CNN Brasil)

O ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe, de 67 anos, foi assassinado. O hospital confirmou sua morte quando a edição deste Meio já estava fechando — ele havia sido baleado de manhã, no peito e no pescoço, enquanto discursava na cidade de Nara. Um ex-integrante da Marinha, de 42 anos, foi preso e uma espingarda, apreendida. Muito abalado, o primeiro-ministro Fumio Kishida, correligionário do antecessor, classificou o crime como “hediondo”. “Foi algo bárbaro e maléfico, e não será tolerado”, afirmou. Abe discursava em campanha pela eleição de seu Partido Liberal Democrata, por conta das eleições que ocorrerão no domingo. Todos os eventos ligados ao pleito foram suspensos. (New York Times)

Por irônico que seja, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, se viu convertido em ‘rainha da Inglaterra’, que reina sem governar. Ele formalizou ontem sua renúncia à liderança do Partido Conservador, mas afirmou que fica na chefia do governo até a escolha de um sucessor. Na prática, ele se torna um ‘premiê zelador’, que toca o dia a dia da administração sem o poder de estabelecer novas políticas. (BBC)

Para ler com calma. Um populista de direita acima do peso e com cabelo louro estranho disposto a tumultuar a própria sucessão. Pensou em Trump? Não. O Partido Conservador teme que Boris Johnson possa criar situações para dificultar a vida do líder que vier a sucedê-lo. (Guardian)

O rombo da PEC

Tony de Marco

Kamikaze

Cultura

O cinema perdeu um de seus mais memoráveis mafiosos com a morte, aos 82 anos, do ator americano James Caan, na noite de quarta-feira. Em 1971, ele era o favorito da Paramount para o papel de Michael Corleone em O Poderoso Chefão (trailer). Tolice. Alto, forte e bonito, Caan era quase um retrato-falado do filho mais velho do clã, o esquentado Sonny. O papel rendeu-lhe uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante e os títulos de “soco falso mais descarado” e “morte mais brutal pré-Tarantino”. Mas a carreira desse novaiorquino do Bronx foi muito além do mafioso desafortunado. Estrelou comédias, filmes de ação e suspenses, com destaque para o perturbador Louca Obsessão (trailer), de 1990, em que faz um escritor acidentado à mercê de uma fã psicótica. A família não informou a causa da morte. (Variety)

Treze anos depois de sua morte, Michael Jackson (1958-2009) continua a render polêmicas. Desde o lançamento do disco póstumo Michael, de 2010, fãs garantem que a voz nas faixas Breaking News, Monster e Keep Your Head Up não é do Rei do Pop, mas de um imitador, Jason Malachi. O espólio de Jackson e a Sony Music juram que não é verdade, mas esta semana determinaram que as canções fossem retiradas de todas as plataformas de streaming. (Omelete)

O escritor, editor e sociólogo Jorge Caldeira, de 66 anos, foi eleito ontem para a Cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, vaga com a morte em abril de Lygia Fagundes Telles. Em sua primeira tentativa de entrar para a instituição, ele obteve 29 votos, quase a totalidade, após a desistência de outro favorito, o escritor e ensaísta Silviano Santiago. Paulistano, Caldeira é famoso por biografias, como as de José Bonifácio, do Barão de Mauá e do compositor Noel Rosa. (Globo)

O mundos dos mangás (os cultuados quadrinhos japoneses) está de luto. Takahashi Kazuki, criador de Yu-Gi-Oh!, um dos títulos mais populares do gênero, foi encontrado morto boiando no mar perto da cidade de Nago. O artista, que tinha 60 anos, vestia uma roupa de mergulho. Contando a história de um rapaz em cujo quebra-cabeças está aprisionado o espírito de um faraó, Yu-Gi-Oh! circulou entre 1996 e 2004, sendo depois lançada como coleção de luxo e rendendo filmes, desenhos animados (disponíveis na Netflix) e jogos. A polícia espera o resultado da perícia para informar como morreu o desenhista. (g1)

Viver

Pesquisa Datafolha revela que mais de 90% da população de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais aprova a instalação de câmeras em uniformes de policiais. Entre os paulistas, 91% concordam com o uso do equipamento, em teste por batalhões da PM desde 2020. Um estudo recente mostrou queda de 80% nos óbitos provocados pelos agentes monitorados com o dispositivo no estado. No Rio, um dos estados com mais mortes por policiais no país, as filmagens, que só começaram em maio após seguidos atrasos na implementação, são aprovadas por 92%. A tecnologia também é aceita por 92% dos mineiros, que devem contar com o serviço no segundo semestre deste ano. (Folha)

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O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde notificou 11,4 mil mortes de grávidas ou puérperas entre 2016 e 2021. Mas um novo levantamento feito pelo Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) mostra um número 34% maior que os dados oficiais. Foram registrados 3,9 mil óbitos a mais no mesmo período, segundo relatório divulgado ontem. O governo contabiliza apenas as mortes maternas que ocorrem durante a gestação ou até 42 dias após o parto. Já o OOBr também leva em conta os óbitos maternos tardios, entre o 43º dia e um ano, com alguma causa relacionada à gravidez. (Folha)

Não bastasse a tragédia de Brumadinho, que matou 270 pessoas após o rompimento de uma das barragens da Vale em 2019, a população local ainda sofre com alta presença no sangue e na urina de metais pesados como cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês. É o que aponta uma pesquisa da Fiocruz de Minas Gerais e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgada nesta quinta, que busca avaliar as condições de vida, saúde e trabalho dos moradores. Crianças entre zero e seis anos tiveram pelo menos um dos cinco metais presentes em amostras de urina, e metade delas apresenta valores de referência acima do aceitável. Os níveis de manganês no sangue estavam elevados em 52,3% dos adolescentes e 37% dos adultos. Segundo especialistas, altas concentrações de metais pesados no organismo podem afetar as funções hepática e renal, o sistema nervoso central e a parte neurológica. (g1)

Antecipando uma possível disseminação da varíola dos macacos no Brasil, o Instituto Butantan criou um comitê técnico, que conduzirá estudos sobre a viabilidade da produção de vacinas no país. O Instituto fazia imunizantes contra a varíola humana na década de 1970, mas encerrou sua fabricação quando a OMS considerou a doença erradicada. Apesar da experiência, o vírus da varíola dos macacos exige uma nova tecnologia para desenvolver uma vacina compatível. (Folha)

Cotidiano Digital

Em mais um capítulo envolvendo o escândalo de fraude da empresa de testes de sangue Theranos, o ex-diretor Ramesh Balwani foi condenado ontem pela Justiça dos Estados Unidos por ter sido cúmplice de Elizabeth Holmes, ex-diretora-executiva da empresa e sua então namorada. Balwani, conhecido como “Sunny”, foi considerado culpado por todas as 12 acusações contra ele envolvendo fraude eletrônica, conspiração e fraudes em pacientes e investidores. Elizabeth Holmes foi condenada em janeiro deste ano. Os dois podem pegar até 20 anos de prisão. Com a promessa de revolucionar o mercado de testes de laboratório, a Theranos foi fundada por Holmes quando ela tinha apenas 19 anos, atraindo investidores poderosos. Relembre a ascensão e queda da ex-promessa do Vale do Silício. (Business Insider)

E o impasse envolvendo a compra do Twitter pelo bilionário Elon Musk pode não ter uma resolução positiva. Segundo fontes anônimas do Washington Post, a equipe do empresário concluiu que o número de contas falsas fornecido pela rede social não é verificável, o que pode colocar a venda da plataforma em risco. Logo após o anúncio da oferta de US$ 44 bilhões, Musk passou a questionar a existência de bots e perfis falsos no Twitter. Segundo análise interna da empresa, menos de 5% das contas ativas são classificadas como spam. Mas, sem provas, o bilionário pode “tomar medidas drásticas”. Se desistir da compra, Musk terá que pagar cerca de US$ 1 bilhão. (Washington Post)

Meio em vídeo. O Pedro+Cora de hoje aborda como a Europa começa a regular o uso da tecnologia em pequenas, médias e grandes empresas para criar um ambiente mais competitivo. Saiba por que companhias e fabricantes de celulares são a favor de que o WhatsApp permita enviar e receber mensagens por outras plataformas. (YouTube)

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