Prezadas leitoras, caros leitores —
Satanismo, maçonaria, canibalismo, agressão a padres, denúncias vazias de crimes sexuais horrendos contra crianças. Tudo isso empacotado num discurso de “valores” e “luta contra o comunismo”. Bem-vindos às eleições 2022. Disputa em que qualquer outra discussão se apequena diante da força retórica e da capilaridade de líderes religiosos que capturaram a pauta política.
É por esse ângulo que a Edição de Sábado vai abordar o voto evangélico. Não pelo da cabeça do eleitor, mais difícil de compreender dadas as complexidades e nuances da composição de sua decisão — individual e sagrada numa democracia. Mas pelo lado dos políticos. Dos donos da fé. De quem define o que é vendido a esse eleitorado como prioritário e como isso se transforma em algo bem mais pragmático uma vez no Congresso Nacional. E, aproveitando o ensejo, vamos desmontar alguns mitos em torno do “fantasma do comunismo”, essa entidade evocada sempre que convém.
Por falar em divindades, também vamos dar um passeio pela obra de Brian Eno, músico, produtor e inventor da “ambient music”, que lança hoje um novo álbum.
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— Os editores
Moraes suspende investigações contra institutos de pesquisa
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, suspendeu na noite de ontem as investigações abertas ontem contra institutos de pesquisa por iniciativa da Polícia Federal e do Cade. Segundo ele, nenhum dos órgãos tem competência para realizar os inquéritos, que teriam “indicativos de abuso de poder político e desvio de finalidade”. As investigações, escreveu o ministro, “parecem demonstrar a intenção de satisfazer a vontade eleitoral” do presidente Jair Bolsonaro (PL). O Ministério da Justiça havia justificado a iniciativa da PF alegando que a “divulgação de pesquisa fraudulenta constitui crime”. Já a ação do Cade foi determinada diretamente pelo presidente do órgão, Alexandre Cordeiro de Macedo, nomeado por Bolsonaro no ano passado. Mais cedo, Moraes disse que o Brasil está diante de uma “segunda geração de desinformação”, que envolveria conclusões falsas a partir de premissa verdadeiras e a utilização de “mídias tradicionais para se plantar fake news”, reproduzidas a partir dali como “notícias” pelas campanhas. (UOL)
Moraes também anunciou que vai realizar uma reunião com o Ministério Público Eleitoral e com o Ministério Público do Trabalho para discutir denúncias de casos de assédio eleitoral que vêm aparecendo em todo o país. A data ainda não foi definida. “Lamentavelmente temos casos de assédio eleitoral do empregador coagindo, ameaçando para que seus funcionários votem ou deixem de votar em determinadas pessoas. Há inclusive empregadores querendo trocar dinheiro, querendo comprar o documento do empregador”, disse Moraes. Somente até a última terça-feira, dia 11, segundo o MPT, já havia 197 acusações de coação eleitoral neste ano — a maior parte, 103 delas na região Sul do Brasil. (Globo)
A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) não apresentou provas das denúncias que fez, durante culto evangélico em Goiânia (GO), sobre violência sexual contra crianças na Ilha de Marajó, no Pará. Ela afirmou, na ocasião, que havia imagens de crianças de 4 anos cruzando as fronteiras com os dentes arrancados “para não morderem na hora do sexo oral”, entre outros casos igualmente escabrosos. Nenhum deles consta das quase duas mil páginas de documentos da CPI da Pedofilia, de 2010; de uma CPI da Assembleia Legislativa do Pará, também de 2010; e da CPI dos maus-tratos, concluída em 2018 pelo Senado. (Estadão)
O Ministério Público Federal do Pará, por sua vez, divulgou uma nota em que afirma que não recebeu qualquer denúncia nos últimos 30 anos parecida com as “torturas citadas” por Damares. Três inquéritos civis e um policial foram instaurados, entre 2006 e 2015, a partir de denúncias de supostos casos de tráfico internacional de crianças desde 1992 em Marajó, mas nenhum com casos como os citados por ela. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direito Humanos, que Damares comandou até o início deste ano, ainda não enviou as informações pedidas pelo MPF. (UOL)
Pressionada, Damares deu diferentes versões para as acusações sem provas. Primeiro disse que os relatos vieram de conversas com “o povo na rua” e depois, os atribuiu às várias CPIs sobre exploração de menores. Quando essa versão não se sustentou, passou a dizer que as denúncias fazem parte de um “inquérito sigiloso”. “Eu vou pagar o preço por muito tempo ainda de acharem que eu menti, mas é para preservar as investigações. Aguardem”, afirmou. (Folha)
E o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, determinou que a decisão de investigar ou não as declarações da ex-ministra é da Justiça Federal do Pará. Segundo ele, no momento, Damares está sem foro privilegiado e, embora tenha mencionado o presidente Jair Bolsonaro em seu discurso, isso não é suficiente para manter o processo na Corte. (Globo)
Duas pesquisas de intenção de votos divulgadas ontem apontam o cenário estável do ex-presidente Lula, que aparece na frente de Bolsonaro no segundo turno. Na Qaest, o destaque está no modelo que busca estimar o potencial de abstenção e seu impacto no resultado. Nesse cenário, Lula tem 53% contra 47% de Bolsonaro. Já a AtlasIntel, que teve o melhor índice de acerto do primeiro turno, mostra Lula com 52,4% dos votos válidos e Bolsonaro com 47,6%. Mas a aprovação do governo Bolsonaro vem melhorando. Na pesquisa antes do 1º turno, ainda segundo a Atlas, 54,8% reprovavam o presidente e 41,2% aprovavam. Agora, 53,3% reprovam e 44,2% aprovam. (Meio)
Por 10 votos a 2, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a decisão que afastou Paulo Dantas (MDB) do cargo de governador de Alagoas. Dantas foi alvo da Operação Edema, da Polícia Federal, na terça, dia 11. A suspeita é de que ele tenha participado de um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa quando era deputado estadual. Dantas é candidato à reeleição, aliado de Renan Calheiros (MDB) e apoiado pelo ex-presidente Lula. O afastamento, inicialmente decidido pela ministra Laurita Vaz e agora confirmado pelo colegiado, não afeta sua candidatura. (g1)
Meio em vídeo. Poucas coisas causam maior espanto a quem lida com política profissionalmente do que essa ideia “vou votar no Bolsonaro porque ele não é corrupto”. Bolsonaro é, possivelmente, o presidente mais corrupto da história da Nova República. Vem entender melhor no Ponto de Partida, com Pedro Doria.
Mais Meio em vídeo. O cheque em branco que o eleitor está prestes a assinar pela segunda vez é para Lula derrotar Jair Bolsonaro e livrar o Brasil da extrema-direita. Voto útil é nossa salvação, diz Mariliz Pereira Jorge na coluna De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)
Cultura
Os fãs do Queen, em permanente e justificado estado de frustração pela morte de Freddie Mercury em novembro de 1991, têm um motivo para alegria. Donos da marca, o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor lançaram ontem nas plataformas digitais Face It Alone (Spotify e YouTube) canção inédita com os vocais de Mercury, registrada durante as gravações do álbum The Miracle, de 1989. “Estava meio que escondida à vista de todos”, conta May, que descreve a música como linda e tocante — e ele está certo. Face It Alone vai ganhar uma edição física na caixa comemorativa de The Miracle, prevista para lançamento em novembro. O pacote conterá cerca de uma hora de material inédito, incluindo seis outras canções. (Rolling Stone)
Quem também chega com material novo é o Red Hot Chili Peppers. A banda californiana lançou hoje nas plataformas Return of the Dream Canteen, seu 13º álbum e o segundo este ano. Entre os destaques esta Eddie, faixa em homenagem ao lendário guitarrista Eddie Van Halen, que morreu em 2020. Segundo o vocalista Anthony Kiedis, a música foi criada de improviso no dia seguinte à morte do ídolo, quando todos na banda ainda estavam abalados. (Folha)
E por aqui, Fagner lança Meu Parceiro Belchior, álbum no qual resgata as composições que fez como o bardo cearense, morto há cinco anos e redescoberto pelas novas gerações. Além de uma celebração, é também um pedido de desculpas. Em 1998, Belchior o procurou para saber por que não tinha sido convidado para o disco Amigos & Canções. Fagner indagou qual a última vez que tinha sido chamado para um trabalho do amigo. “Fui cruel, fui muito mal nessa”, retrata-se. (Globo)
Ok, grandes estúdios são empresas, e empresas esperam lucro. Mas a obsessão de Hollywood com bilheterias se tornou algo que “desvaloriza, degrada e diminui” o valor artístico do cinema. Quem disse isso foi o cineasta Martin Scorcese, um dos mais talentosos diretores do mundo, em discurso no Festival de Cinema de Nova York. “A ênfase agora está em números: custo, final de semana de estreia, quanto ele fez nos EUA, quanto ele fez na Inglaterra, quanto feito fez na Ásia, quanto ganhou no mundo inteiro, quantos espectadores teve. Como cineasta e como uma pessoa que não consegue imaginar a vida sem cinema, acho isso um verdadeiro insulto”, afirmou o diretor de Os Bons Companheiro e Touro Indomável, entre tantos outros clássicos. (Omelete)
Com um VMAs no currículo e indicada ao European Music Awards, Anitta tem mais um feito do qual se gabar. Ela foi indicada como melhor artista latina ao American Music Awards, cuja premiação está marcada para o dia 20 de novembro. Ela concorre com Becky G, Kali Uchis, Karol G e Rosalía. O porto-riquenho Bad Bunny lidera as indicações com oito categorias. (g1)
Viver
A Paraíba é o primeiro estado a atingir a meta nacional de imunização contra a poliomielite neste ano. Foram 216,7 mil crianças vacinadas das 227,8 mil elegíveis. Apesar de alcançar 95,11% do público, 39 municípios ainda estão abaixo do esperado, como João Pessoa e Campina Grande. O Brasil encontra dificuldade de atingir o objetivo de imunizar 95% das 14 milhões de crianças menores de cinco anos, mesmo tendo adiado por duas vezes as campanhas nos postos de saúde. Até o momento, apenas 62% do público-alvo tomou a dose de proteção contra a doença causadora da paralisia infantil, erradicada no país desde 1989. (g1)
O relatório Planeta Vivo, produzido pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF, em inglês) mostra que entre 1970 e 2018 houve uma redução de 69% das espécies de animais selvagens em todo o mundo. A maior queda ocorreu na América Latina, com 94%. Símbolos nacionais, como o boto cor-de-rosa da Amazônia, a onça-pintada e o tatu-bola aparecem ameaçados pela redução de suas populações nas últimas décadas. A causa do encolhimento da fauna está relacionada, principalmente, ao desmatamento, à poluição dos oceanos e à crise climática, provocados pelo ser humano. O estudo abrange 32 mil populações de 5.230 espécies no planeta. (g1)
Após a instauração de uma CPI na Assembleia Legislativa de Santa Catarina para investigar uma interrupção de gravidez, fruto de estupro, realizado por uma menina de 11 anos, 15 organizações da sociedade civil denunciaram a CPI à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) por eventuais atos de intimidação que possam ser praticados pelos deputados. Segundo ofício enviado à CIDH, a investigação parlamentar, criada a pedido da deputada bolsonarista Ana Campagnolo (PL), pretende “inquirir, na condição de criminosos, profissionais de saúde, jornalistas e advogadas” envolvidos no caso. A história ganhou repercussão nacional, após uma juíza e uma promotora dificultarem o acesso ao aborto legal à menina. (Folha)
Cotidiano Digital
Mais uma multa para o bolso da Apple. Desta vez, a big tech foi condenada pela Justiça de São Paulo a pagar R$ 100 milhões por vender iPhone sem carregador. A condenação atende à ação civil pública feita Associação Brasileira dos Mutuários, Consumidores e Contribuintes (ABMCC). A entidade alega que a venda de celulares sem o adaptador de energia configura venda casada “às avessas”. A multa deverá ser revertida a um fundo voltado para a proteção dos direitos dos consumidores, e ainda prevê o pagamento de honorários de R$ 10 milhões em favor da Associação. A companhia diz que irá recorrer da decisão. Em outubro de 2020, a Apple deixou de incluir o adaptador de tomada em todos os seus celulares. A maioria dos usuários acumula adaptadores o que, argumenta a empresa, estimula produção de lixo eletrônico. (g1)
A Netflix anunciou ontem os preços de seu novo plano de assinatura de streaming baseado em anúncios. A plataforma confirmou um plano básico para o Brasil de R$ 18,90 ao mês e estará disponível a partir de 3 de novembro em 12 países, incluindo o Brasil. Outros países são Alemanha, Austrália, Canadá, Coreia, Espanha, Estados Unidos, França, Japão, México e Reino Unido. O novo plano, no entanto, terá limitações. Além dos anúncios, os usuários terão restrições em relação a downloads. Alguns filmes e séries também não estarão disponíveis devido a restrições de licenciamento. (Meio & Mensagem)
E o bilionário Elon Musk está sob investigação federal relacionada ao acordo de aquisição de US$ 44 bilhões do Twitter, disse a empresa em um processo judicial divulgado nesta quinta-feira. A ação envolve documentos e comunicações dos advogados de Musk com autoridades federais. A empresa de mídia social pediu à Justiça dos EUA que ordenasse que os advogados fornecessem os documentos. (Reuters)
