Edição de Sábado: Rui Costa, o ministro que diz não

Ele não leva jeito e não gosta. Até já fez a articulação política para o governo de seu antecessor na Bahia, Jaques Wagner (PT-BA), mas nunca se acostumou com os infinitos jantares, com os almoços frequentes, e com as incontáveis xícaras de café servidas nas negociações. No dia em que Rui Costa foi chamado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser o chefe da Casa Civil, foi logo perguntando: “Eu vou ter que fazer articulação política?”. Lula, já sabendo da sua falta de traquejo e gosto pela função, o tranquilizou: “Não, isso é com o Padilha”, disse o presidente, apontando para o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP).

Rui Costa tem orgulho de apostos como “tocador de obras”, “gerente”. É incapaz de puxar um assunto sobre o tempo, só para quebrar o clima. Não espere dele também conversas sobre a última exposição ou filmes em cartaz ou sobre qualquer assunto secundário ao real objetivo de um encontro. Quando era governador, era sempre acudido por Wagner quando algum evento social era inevitável. Levar Wagner a tiracolo era a chave de sua assessoria para fazer o assunto render e o encontro durar um pouquinho mais. Se dependesse só de Rui, o convescote não durava meia hora. Wagner falava sobre o calor, o frio, sobre museus da Bahia. Já Rui era capaz de perguntar “de cara” o que as pessoas queriam.

A inabilidade de tocar conversas amenas, parte importante do jogo de sedução política, era um traço conhecido do baiano. Quando Lula o escolheu, foi de olho em outro atributo: a desenvoltura para dizer não, sem rodeios. “É melhor ele dizer não do que o presidente ter que fazer isso”, disse um interlocutor do Palácio do Planalto.

Rui nasceu em Salvador, em 1963. Seu pai era metalúrgico e a mãe cuidava de crianças. Ela chegou a abrir uma creche comunitária no populoso bairro da Liberdade. Rui entrou no curso de Ciências Sociais, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas não terminou. Acabou se formando em Economia, na mesma faculdade, e foi trabalhar no Polo Petroquímico de Camaçari, onde foi técnico de instrumentação, desenhista projetista e projetista industrial. Nessa época, ele se iniciou na luta sindical e chegou a ser diretor do Sindicato dos Químicos e Petroleiros da Bahia, entre os anos de 1984 e 2000. Na década de 1980, participou da fundação do PT na Bahia, ao lado de Wagner. Sua primeira candidatura foi em 2000, ao cargo de vereador de Salvador. Não venceu. Em 2004, ele conseguiu seu primeiro mandato na Câmara Municipal. Em 2007, deixou o cargo de vereador para assumir a Secretaria de Relações Institucionais da Bahia, a convite do então governador Jaques Wagner. Era essa a fase dos jantares que o afligiam. Ele deixou a articulação de Wagner em 2010, quando foi eleito deputado federal. Na Câmara dos Deputados, ficou só dois anos. Licenciou-se do cargo para assumir como secretário de Estado da Casa Civil da Bahia no segundo mandato de Wagner. Aí, sim, passou a fazer o que diz prezar: gerir o governo e tocar projetos de infraestrutura.

Mas o PT queria mais para Rui. Queria o secretário pouco carismático como sucessor de Wagner em 2014 e, nas inaugurações de obras na Bahia, a então presidente da República, Dilma Rousseff, não deixava de citar seu nome. “Tenho certeza de que o governador Jaques Wagner, com o apoio do seu secretário da Casa Civil, Rui Costa, deixa um legado para o povo baiano de imensa qualidade”, disse Dilma, ao inaugurar um complexo rodoviário no Recôncavo. Dilma e Rui, no mesmo palco, era aquela potência de falta de desembaraço político. No discurso, ela lançou mão de uma piada que Rui Costa havia feito horas antes do evento, no café da manhã, de gosto bem discutível para o desjejum: a de que o complexo, que se chamava Rótula do Abacaxi, teria de ser rebatizado com o nome de Rótula do Quiabo. “O abacaxi tranca, o quiabo flui.” Parte da plateia riu, parte não entendeu — e discurso desconfortável que segue. A estratégia do PT deu certo. Apadrinhado por Wagner, Rui foi eleito governador da Bahia em 2014 no primeiro turno, reeleito em 2018 também no primeiro turno. Ao sair do governo do estado, no ano passado, conseguiu fazer seu sucessor, Jerônimo Rodrigues. E foi alçado à posição que Dilma ocupou de 2005 a 2010.

“Sim contrariado”

Rui Costa começou a colecionar críticas da classe política ao pisar em Brasília como chefe da Casa Civil de Lula. Ele cometeu algumas indelicadezas que ampliaram sua rejeição entre deputados e senadores. Chamar a capital de “ilha da fantasia” e dizer que ela “fez muito mal ao Brasil” foi uma delas. Se o clima já não estava bom pelo fato de ele ter iniciado o trabalho com “agenda fechada” para receber parlamentares, até tomar pé do trabalho no governo federal, o comentário gerou mais perplexidade. Sincericídio ou gafe? Pode ter havido um pouco dos dois. O fato é que, em menos de uma semana depois do discurso que acirrou os ânimos, ele preferiu reconhecer que foi “infeliz”.

Agora, com a perspectiva de uma reforma ministerial que o presidente pretende fazer na virada do ano, seu cargo voltou para a bolsa de apostas. Já voltaria naturalmente, pela proeminência da função. A indisposição para papear com os parlamentares instiga o falatório. Mas, no Planalto, todas as hipóteses são tratadas ainda como meras especulações.

Se Rui sabe dizer não a parlamentares e poupa o presidente desta tarefa, ele precisou dizer sim para as estratégias eleitorais do PT e para o próprio Lula nas eleições de 2022. Ao terminar o mandato para o qual foi reeleito, ele queria se desincompatibilizar e se lançar candidato ao Senado. Isso significava deixar o governo nas mãos de seu vice, João Leão, que é do PP, partido que estava na base de Jair Bolsonaro. A manobra foi considerada arriscada. Com a máquina na mão, havia um risco imenso de Leão colocá-la a serviço do bolsonarismo e Lula perder a Bahia, estado onde obteve sua maior votação. Estava nos planos de Rui também lançar a candidatura de sua mulher, Aline Peixoto, a uma vaga na Câmara dos Deputados, o que só poderia ocorrer se ele saísse do governo baiano. A primeira solução era Wagner ser o candidato. Só que Wagner, que tinha mais quatro anos garantidos no Senado, temia amargar uma derrota para Antônio Carlos Magalhães Neto (UB) e não topou a empreitada. Na época, houve até uma insistência para que o senador Otto Alencar (PSD) fosse o nome a ser apoiado pelo PT mas, como ex-aliado de ACM Neto, Alencar negou a missão, alegando não ter nem discurso para campanha.

Lula interferiu. Disse com todas as letras que Rui não poderia entregar o governo da Bahia nas mãos de João Leão. A solução foi Rui desistir dos seus planos de candidatura. Os dele e o da sua mulher. “Foi um sim contrariado. Mas foi um sim”, contou um petista que acompanhou toda a negociação. O PT acabou lançando o nome de Jerônimo Rodrigues, que havia sido secretário do Desenvolvimento Rural e da Educação do governo baiano. Contando com o esforço extra de Lula, Rui e Wagner, Jerônimo venceu ACM Neto no segundo turno, conquistando 52,79% dos votos. Ao “sim contrariado” de Rui, Lula prometeu recompensa: “um ministério polpudo”.

Era a Casa Civil. Agora, mais uma vez, Rui tem se deparado com demandas eleitorais do PT. Desta vez, das instâncias locais, que defendem sua saída da pasta para que ele se candidate à prefeitura de Salvador. Um dos defensores dessa ideia é o deputado federal Jorge Solla (PT-BA). Rui já descartou a possibilidade de ser candidato. No Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do partido, coordenado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), Salvador não figurava entre as 14 capitais nas quais o partido terá nomes na cabeça de chapa. Só que, diante da perspectiva da reforma ministerial que Lula fará no início do ano, a ideia de Solla passou a ser considerada por nomes do PT Nacional. “Isso é coisa de gente que quer ejetá-lo da cadeira para poder ocupá-la”, disse um petista graúdo, que confirmou as articulações internas.

O quadro atual, então, é o seguinte: Rui Costa tem fama de não saber fazer política com os parlamentares, não tem um mandato, sofre pressões para sair candidato a prefeito. Não à toa o apego ao cargo de ministro da Casa Civil acaba se acentuando, na opinião de Lucas Fernandes, sócio e Coordenador de Análise Política e Sustentabilidade na BMJ Consultores Associados. “Retirá-lo nesse momento para disputar a prefeitura de Salvador acaba tendo outro peso. Se ele sai, e não ganha, fica no sereno. Ele não tem hoje um mandato no Senado ou na Câmara que vai blindá-lo de uma eventual derrota”, apontou.

Por outro lado, quem defende sua candidatura alega que o PT poderia, caso ele vença, conseguir um feito histórico: governar tanto o estado como a capital, algo que nunca ocorreu. Quem é contra aponta dois argumentos. Um deles é o fato de a realidade eleitoral em Salvador ser bastante distinta do resto do estado. Outro argumento se baseia em traumas anteriores vividos por Humberto Costa, em Recife, e Wellington Dias, em Teresina. Os dois foram derrotados nas eleições para as capitais depois de terem governado seus respectivos estados, eleitos e reeleitos. No caso de Dias, tendo cumprido quatro mandatos. Pela vontade de Rui, não será dessa vez que o PT alcançará seu almejado marco na história política baiana.

Tem mais um grande interessado no destino de Rui: Jaques Wagner. Ele e Rui são companheiros políticos há mais de 40 anos e Rui chegou ao poder levado pelas mãos de Wagner, que contava com um enorme prestígio ao final de seu segundo governo. Os estranhamentos começaram no final do segundo governo de Rui, que já não era a sombra de Wagner. Ao indicar sua mulher, Aline, para uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE), Rui sofreu críticas públicas do amigo. Hoje, depois das estratégias distintas que na eleição na Bahia, em 2022, os dois continuam se dividindo em várias pautas que permeiam o governo. Auxiliares de ambos negam atrito, falam em divergências de pensamento e garantem que agora, com Rui na Casa Civil e Wagner como líder do governo no Senado, eles estão unidos. Só que a conjuntura política pode se impor para 2026, quando Wagner poderá tentar se reeleger para o Senado e Rui tentar a segunda vaga. Isso com o aliado do PT, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), também querendo a reeleição. São duas vagas para três pretendentes na chapa baiana.

Ossos do ofício

A antipatia em relação a Rui Costa também provém de expectativas frustradas de parlamentares, acostumados com o funcionamento do Planalto no governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL-RJ). Um líder do Centrão disse, em reservado, que o antecessor de Rui na Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), não fazia outra coisa a não ser receber deputados e senadores. “Isso facilitava muito a nossa vida aqui.” Mas facilitava como? Para quem? Ciro Nogueira funcionava como um departamento do Congresso no Palácio do Planalto e foi parar lá em um momento em que o presidente passou a “fazer política”.

Bolsonaro havia assumido a presidência falando que ia se relacionar só com blocos temáticos. A estratégia nunca funcionou e nos dois primeiros anos a relação de Bolsonaro com a Câmara e com o Senado foi muito tumultuada. “E era um Congresso conservador”, observa Fernandes. “O motivo dessa dificuldade foi exclusivamente essa insistência dele em não priorizar o diálogo com partidos políticos e, também, colocar no governo figuras militares que não necessariamente estavam acostumados com a maneira de atuação da política. Quando Ciro Nogueira chega, ele desmilitariza a Casa Civil. Era uma pessoa que falava o mesmo idioma do Congresso”, explicou. Antes de Ciro, Bolsonaro tinha tido três chefes da Casa Civil. Um civil, Onix Lorenzoni (PL-RS), e dois militares, os generais Walter Braga Netto (PL-RJ) e Luiz Eduardo Ramos.

Vale lembrar que Ciro e seu par na Câmara, o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), protagonizaram o chamado “orçamento secreto”, uma forma encontrada pelo governo de Bolsonaro de entregar toda a gestão das verbas orçamentárias nas mãos do grupo político liderado por eles: o Centrão. A entrega garantiu a Bolsonaro tempos de mais harmonia com o Congresso. No entanto, não se pode dizer que deu a Bolsonaro sucesso na aprovação de projetos de interesse do governo. Por pura incompetência do Executivo nas proposições apresentadas. A sua taxa de dominância legislativa foi a pior, considerando todos os seus antecessores. “O desempenho de Bolsonaro no Congresso, considerando as aprovações, foi muito ruim. O grande feito do Bolsonaro no Congresso foi o seu ‘não impeachment’. Ele conseguiu isso liberando emendas”, observa o cientista político Celso Rocha de Barros.

Já a Casa Civil de Michel Temer foi marcada pela habilidade política, o bom trânsito e bom papo do gaúcho Eliseu Padilha (MDB), falecido em março deste ano. Já não havia a Secretaria de Relações Institucionais. Dilma extinguiu a secretaria em 2015, quando tentou agradar a Temer, que era seu vice, e delegou a ele a tarefa de fazer a articulação política com o Congresso. A Câmara era comandada por Eduardo Cunha. Com Temer, Padilha era o homem da cozinha do Planalto que tratava de tudo. Sua habilidade e o fato de que o Centrão estava oficialmente na presidência, com o MDB, logo após o impeachment de Dilma, deram a Temer o melhor resultado em termos de aprovação de propostas.

O chefe da casa

Lula tenta blindar seu ministro da Casa Civil erguendo um muro bem alto entre a articulação política, com Padilha, e as atribuições de Rui de coordenar o governo e tocar os projetos de infraestrutura, reunidos no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-3). Por um lado, a parede funciona para afastar o funcionamento do governo das constantes investidas de parlamentares que condicionam as votações às liberações de emendas. Lidar com isso exige um traquejo que Rui não tem. Por outro, Lula precisa, volta e meia, reforçar a autoridade de Rui como coordenador do governo. E ainda, em outros momentos, arbitrar em desfavor de suas opiniões sobre as políticas dos demais ministérios.

Dois episódios ilustram bem esses movimentos do presidente, ora em favor de Rui, ora contra. Um deles quando mandou todos os ministros levarem para Rui suas “genialidades”, ou seja, qualquer medida antes de anunciá-la. Outro quando precisou se posicionar na defesa de Fernando Haddad, contra a ideia de Rui que dispensava o rigor fiscal pregado pela equipe econômica.

Nada mais natural que conflitos envolvendo a Fazenda e áreas desenvolvimentistas do governo, na opinião de Celso Rocha de Barros. E é nesse contexto que ele enquadra a disputa entre Rui e Haddad. “São mais regra que exceção. O ministro da Casa Civil quer arrumar dinheiro para os ministérios, para os projetos. O ministro da Fazenda quer manter o equilíbrio econômico”, alertou, lembrando os embates públicos entre o ministro da Fazenda de Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, e Clóvis Carvalho, que havia deixado a Casa Civil para assumir o ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no segundo mandato de FHC. Carvalho acabou demitido depois de criticar Malan publicamente. Ficou menos de 2 meses no cargo.

O grande dérbi dessa disputa ocorreu no primeiro mandato de Lula, entre o então ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. “No caso deles, era mais acirrado. Os dois disputavam quem ia ser o sucessor do Lula”, analisa Rocha de Barros. Dirceu sempre foi um dos quadros políticos mais importantes do PT. Quando Lula assumiu o poder, em 2003, era considerado o homem forte do governo e o partido tinha nele a esperança de ter um nome à altura do de Lula no seu planejamento de poder. O ministro, no entanto, sucumbiu às denúncias do mensalão. Caiu, foi cassado, preso, depois também investigado e preso pela Lava Jato. Para Fernandes, Lula tenta não cair na mesma armadilha ao separar as funções. “No estouro do mensalão, as acusações caíram dentro da Casa Civil. É uma figura tão influente, que guarda tantos caminhos de tomada de decisão, que quando se tem que fazer uma mudança nessa posição, tem-se quase uma reconfiguração total do governo”, ponderou.

Já Rocha Barros acredita que o modelo adotado por Lula de separar a articulação da gestão não tem tanta relação com o mensalão. Ele aponta mais os resultados positivos que o governo colheu no Legislativo ao longo deste ano, aprovando suas prioridades. Ainda restam algumas pautas da agenda econômica voltadas para aumentar a arrecadação, além da Lei Orçamentária. Nessa reta final, as prioridades de Haddad são a conclusão na Câmara, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da reforma tributária e a medida provisória que trata da mudança nas regras de subvenções do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para grandes empresas. “Acho que já foi uma vitória política gigante”, ponderou, referindo-se à aprovação do texto de mudanças nos impostos tanto na Câmara, como no Senado. Mas essas arrumações podem dar certo ou não, dependendo do contexto. Rocha de Barros lembra que Dilma Rousseff trouxe Gleisi Hoffmann para a Casa Civil exatamente com a orientação de não fazer política. “Esse arranjo já foi experimentado algumas vezes. Às vezes deu certo, às vezes, não. Com Dilma, claramente não deu”, destacou.

Considerando a letra da medida editada pelo governo no dia da posse, Rui Costa se mantém fiel às suas atribuições legais dentro de uma burocracia que se resume a coordenar e integrar ações do governo, avaliação e de órgãos da administração pública federal a implementação de políticas de ampliação da infraestrutura pública, verificação prévia da constitucionalidade e da legalidade dos atos presidenciais, entre eles a nomeação de pessoal. E quer continuar em casa.

Não se mudam as notas sem bons professores

A educação brasileira voltou à pauta de discussão nesta semana, com a divulgação dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes 2022 (Pisa, em inglês), uma das principais ferramentas para mensurar os caminhos que os países estão trilhando na formação de seus jovens. O Brasil foi mal, como já era de se esperar, continuando estagnado nas três áreas de avaliação: leitura, matemática e ciências. A pandemia foi a grande vilã da maioria das nações avaliadas, mas não afetou a educação nacional com tanta força.

A presidente executiva da ONG Todos Pela Educação, Priscila Cruz, avalia que o país passa por grandes transformações na educação pública, que ainda devem levar tempo para mostrar resultados. Mas isso somente ocorrerá se os governos investirem na formação de professores e na qualidade de ensino oferecida a quem vai formar os nossos jovens. O que implica enfrentar o lobby das universidades públicas e a precarização da licenciatura no ensino à distância (EAD). Em um bate-papo com Meio, ela ainda conta os motivos por que o Brasil investe tão pouco em Ensino Técnico e faz um balanço do primeiro ano do governo Lula 3 na educação. Apesar de gostar do trabalho apresentado pelo ministro Camilo Santana, refazendo o que sobrou da pasta na gestão anterior, ela afirma que a educação do país tem pressa e que “esse período de dar um voto de confiança está passando”. Confira os principais pontos da entrevista.

O Brasil mostrou estagnação no desempenho do Pisa. Podemos esperar um resultado melhor nos próximos indicadores?
Dá pra esperar, mas depende muito do que vai ser construído. É importante dar um passo atrás e manter essa visão crítica em relação à educação brasileira. A gente está num patamar completamente imperdoável, acima de tudo injusto com os estudantes brasileiros. Esse Pisa mostrou que o Brasil teve uma capacidade de enfrentamento dos efeitos da pandemia que outros países não tiveram. Isso é fruto de uma energia que tem sido colocada na educação pública brasileira maior do que tínhamos dez anos atrás. Importante fazer esse reconhecimento, porque é um sistema muito complexo e pesado que estamos tendo de mover e tirar da inércia do descaso, da falta de prioridade e de resultados. Demora um tempo mesmo. Dá pra arriscar a dizer que, se não fosse a pandemia, o Brasil teria apresentado um resultado positivo. Talvez a gente tivesse uma melhoria da qualidade da educação nesta edição do Pisa. A força da pandemia arrastou todos os países, mas arrastou menos o Brasil, porque estamos justamente em um momento de muitas reformas educacionais. Reconhecer é muito diferente de celebrar. Especialmente em matemática, em que se tem uma situação que depende muito da formação de professores, e que, por sua vez, depende da atratividade para a carreira. Um estudante que é bom em matemática acaba sendo atraído para carreiras mais rentáveis, mais aquecidas no mercado de trabalho, como de programadores. O aluno de exatas é a minoria dos estudantes brasileiros e há essa dificuldade de atraí-los para a carreira de professor de matemática. E quando temos esse aluno, que vai para a licenciatura, a formação inicial dos professores é muito ruim no Brasil.

Ao comentar o resultado do Pisa, o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou que o governo não vai mais permitir que os cursos de licenciatura sejam 100% à distância (EAD). Qual o potencial dessa medida?
Publicamos uma carta assinada pelo Todos Pela Educação a todos os poderes de todos os entes da federação pedindo ao ministro que pare com o EAD, que é um trem desgovernado. Temos 81% das matrículas [nessa modalidade]. Não tem educação que se sustente com isso. Temos feito um trabalho muito forte de denunciar e falar da farra do EAD. Essas universidades privadas estão ganhando muito dinheiro com esse modelo. É um lucro quase total. E eles têm um discurso de que estão democratizando o ensino superior. Só que metade dos alunos não termina o curso, a instituição ganha o dinheiro daquele aluno, que não tem o diploma. E que mercado de trabalho é esse para um professor que depois não consegue ensinar? É isso que estamos querendo democratizar no país? Então, é importante o ministro sinalizar que eles vão finalmente se mexer nessa direção. Agora, tem de cobrar, porque o lobby dessas universidades privadas é muito poderoso.

E tem o alto índice de desistência dos alunos no Ensino Médio. A bolsa mensal para estudantes de baixa renda que o governo pretende criar pode reduzir a evasão escolar?
Pode, como muitas coisas podem. Por exemplo, uma escola boa, com boa infraestrutura, com professores bem formados, bem gerida, também reduz a evasão. Eu acho que não tem de ser bolsa, tem de ser poupança Ensino Médio, que é diferente. Essa poupança precisa ir para aqueles alunos que realmente estão em situação de vulnerabilidade, em que eles têm de escolher entre estudar e trabalhar. Não pode ser uma bolsa universal, muito menos podemos atrelar pagamento a um direito que o aluno tem, que é de estudar. Por exemplo, a gente vai começar a pagar para as pessoas se vacinarem? Vai pagar para as pessoas tirarem título de eleitor? Tem de ser algo muito focalizado. Fizemos uma pesquisa com estudantes no ano passado que revelou que 30% dos alunos não se matriculariam em uma escola de tempo integral porque concorreria com o trabalho. Então, temos aí um critério que tem de ser usado, que é o seguinte: essa poupança é para os alunos que estudam em tempo integral, então, é justo porque eles estão dedicando tanto tempo para estudar que não podem trabalhar.

O Brasil ainda não alcançou nem metade do objetivo do Plano Nacional de Educação, de oferecer 4,8 milhões de vagas no ensino técnico. O que justifica essa falta de empenho em oferecer essas vagas?
No começo do século passado, a legislação educacional e o tratado de educação profissional eram “uma oferta para os desvalidos”. Era para aquelas profissões de baixíssima qualificação. Temos uma tradição aqui no Brasil de conectar, infelizmente, a educação profissional com uma formação de segunda categoria. O mundo desenvolvido, os países da OCDE, pelo contrário, têm uma formação que abre porta para os estudantes terem bons empregos e se profissionalizarem. Tem um estigma, que é uma parte da explicação, mas tem a falta de políticas específicas. Precisamos ter governos compromissados com essa formação. Isso nós estamos começando a tentar. Hoje, é muito mais comum, em conversas com governadores mais atuantes na educação, o tema profissionalizante sempre entrar na pauta. Outro ponto que prejudicou o avanço do ensino profissionalizante foi a polêmica do Novo Ensino Médio. É uma política que estava começando a ser implementada. O Novo Ensino Médio incentiva a educação profissional no país, que passa a ser um dos itinerários, e não algo apartado do Ensino Médio regular. Mas aí veio a mobilização pela revogação, o MEC fez o trabalho técnico dentro do órgão, depois encaminhou o Projeto de Lei para a Câmara dos Deputados, e agora o deputado Mendonça Filho (União-PE) está relatando, e devem votar até dia 12 de dezembro.

Como você avalia esse primeiro ano do governo Lula 3 na Educação?
Primeiro, acho importante reconhecer que o ministro Camilo Santana pegou uma pasta muito desorganizada, desestruturada. Só que, como você disse, já estamos em dezembro. Apresentação de resultados é muito importante para a educação. Um aluno não vai fazer duas vezes o terceiro ano do Ensino Médio. O fluxo é contínuo. Por isso, é importante ter senso de urgência. Esse tema do Ensino Médio acabou ocupando muito o ministério da Educação. Tenho certeza de que eles gostariam de ter apresentado mais resultados e acabaram não dando conta por causa dessa desestruturação que encontraram. Camilo é um ministro equilibrado e preocupado com educação, não tendo nem como comparar com os ministros que tivemos no governo Bolsonaro. Mas esse período de dar um voto de confiança está passando. Existe uma certa impaciência agora. Foi lançado um programa de alfabetização, só que a execução [está] baixa. Foi lançado um edital que incentiva a educação integral, mas também ainda não conseguimos ver uma adesão forte por parte dos estados. O texto do Ensino Médio vai ser muito alterado no Congresso em relação àquele que foi trabalhado no MEC. No fundo, está faltando agora deixar um legado, e o mais importante que o governo federal pode deixar para a educação básica é formação de professores. Ela acontece no ensino superior, que é atribuição prioritária do governo federal. É lá que os professores são formados. O maior legado que pode mudar a história da educação básica brasileira e pode fazer a gente ter esperança de ter um Pisa melhor daqui a três anos é focar na formação dos formadores.

Isso não está no foco?
Eu não sou contrária às prioridades que o ministro Camilo Santana elencou no começo da gestão dele, que são alfabetização, tempo integral e conectividade. São obviamente políticas importantes. Mas elas todas são dependentes da qualidade do professor. Ter uma escola conectada e um professor que não sabe usar bem a tecnologia na sala de aula não vai dar resultado. Criar um sistema de incentivo para política de alfabetização, mas sem o professor saber alfabetizar, também vai adiantar pouco. O aluno ficar sete horas na escola, mas com professor que não é bem formado, também não vai garantir o aprendizado. Então, há uma ideia de sequenciamento de políticas que precisam andar numa certa ordem. Antes de fazer qualquer outra coisa é preciso uma grande revolução na formação de professores.

E você acha que o governo está pensando em priorizar isso?
Eu acho que está começando. O ministro Camilo já mudou a chave de ex-governador do Ceará para ministro da Educação do Brasil, entendendo que a batalha que ele precisa travar é formar melhor os professores. Na divulgação do Pisa, você lembrou disso, ele falou de formação de professores. Ele está começando a colocar isso na fala dele, o que já é um indicativo. Agora ele está entendendo a ausência que bons professores fazem para poder mudar indicadores. Não se consegue mudar indicadores se não houver bons professores sendo formados no país.

Segue o baile!

A MPB morreu. Foi atropelada pelo funk e pelo sertanejo, gêneros que dominam os Top 50 do Spotify, do YouTube e das rádios. Nunca mais teremos artistas do porte de um Chico, Caetano e Tom Jobim? Ou será que somos nós, que amamos o passado e não vemos que o novo sempre vem, como vaticinou um profeta bigodudo cearense?

“A música brasileira não está pior nem melhor que há trinta ou quarenta anos, ela está diferente”, diz Pena Schmidt, produtor musical, ex-diretor de gravadora e responsável pelo sucesso de boa parte das bandas de rock nacional dos anos 80. “Tom Jobim teve sorte de ter vivido na época certa e encontrado os patrões certos, em uma época em que as casas gravadoras estavam em seu apogeu. Ele foi um cara talentosíssimo que ficou famoso. Mas dezenas de músicos tão talentosos e criativos quanto ele passaram toda sua vida tocando em barzinhos e casamentos.”

Para Pena, não faz sentido tentar medir a qualidade da música de uma época pela régua do mainstream, das listas de Top 10, da Billboard, das Mais Mais. Ele, que começou sua carreira musical como técnico de som dos Mutantes, pode falar com categoria, pois foi figura ativa durante todo o período de ascensão e queda do império da indústria musical e vem acompanhando de perto seu ressurgimento, com o avanço do streaming. “O vetor comercial não domina a música. Nós vivemos em uma bolha. Chico e Caetano não vendiam tudo isso. O maior sucesso de Caetano foi um disco de boleros (Fina Estampa) e Chico alternava discos de ouro com lançamentos pífios.” A verdade é que os grandes discos de vinil que hoje são vendidos por fortuna para os aficionados eram consumidos pela classe média. Os clássicos da MPB que tanto amamos representavam algo entre 5 a 10% do mercado, que era dominado pelo brega, forró, pagode e sertanejo, gêneros considerados de baixa qualidade na época.

Mas não há como negar que o funk e o sertanejo atuais tenham se tornado forças hegemônicas no cenário musical. “São gêneros que se desenvolveram muito e hoje têm infraestrutura própria, semelhante ao que eram as gravadoras antigamente”, diz Pena. “O sertanejo é uma indústria, com vinte profissões diferentes em volta do mesmo artista. Mérito deles. Esse tipo de preponderância faz parecer que só tem sertanejo, mas isso não é verdade. Os gênios de hoje, que daqui a vinte anos vão ser reconhecidos como o Tom Jobim da nossa época, estão por aí, tocando em barzinhos.”

Ava Rocha, Tim Bernardes, Ana Frango Elétrico. Esses são alguns nomes citados por quem produz e distribui música como representantes do legado da MPB. “Sertanejo e música urbana são as frentes mais fortes comercialmente, mas isso não significa que a MPB não tenha relevância, existem muitos artistas fazendo música de qualidade e com resultados comerciais muito bons. O Tim Bernardes (cantor/compositor da banda O Terno), por exemplo, esgotou três noites de shows no Teatro Municipal de São Paulo em poucas horas de venda”, diz o produtor e músico David Dines. Ele é responsável pelo marketing digital da Tratore, a maior distribuidora de música independente brasileira, com mais de 20 mil artistas em seu catálogo.

Segundo Dines, a pandemia provocou uma mudança de comportamento na produção e no consumo de música. Do lado dos artistas, houve um overdrive pela busca de visibilidade, todo mundo precisava aparecer, até por uma questão de sobrevivência. Só que do lado do consumo, houve um movimento inverso, as pessoas foram atrás da comfort music, do material de catálogo das gravadoras, do que elas já conheciam para servir de alento emocional. Só agora o mercado se estabilizou e o público está procurando novidades. Para Dines, a novidade está na Música Urbana, termo que engloba o funk e outros ritmos como rap, trap, R&B — som de preto, de favelado, que quando toca ninguém fica parado.

“A música da periferia está despontando com uma força de público e de números muito grande nos últimos anos”, diz Dines. Daniel Ganjaman, produtor que já levou um Grammy com seu trabalho com o grupo BaianaSystem, acrescenta que o que apareceu de mais interessante na música brasileira ultimamente veio da periferia, não só de São Paulo e Rio mas também de Salvador, Recife e outros lugares. “São músicas em que a precariedade da produção é um fator determinante na sonoridade final. Faz muita gente torcer o nariz, mas é um gênero que se comunica com músicas de gueto do mundo inteiro. Isso está colocando o Brasil no mapa de novo. Você encontra beats brasileiros no pop americano, na música latina, no k-pop. Esse é o nosso verdadeiro soft power. Isso tem um poder gigantesco de propagar nossa cultura.” Ele cita MU540, MC Hariel e Neguinho do Kaxeta como exemplos.

Para Ganjaman, o estado atual da música brasileira é resultado muito mais das mudanças tecnológicas que de mudanças culturais. “Dizer que a música de hoje é melhor ou pior que a da década de 1970 é como dizer que acarajé é melhor ou pior que sushi. Hoje, temos uma forma diferente de produzir, distribuir e divulgar música e isso mudou a percepção do ouvinte. Temos muita música boa sendo feita. Qualquer um pode produzir música de qualidade, basta ter um laptop.”

Vivemos tempos interessantes em que a produção musical foi democratizada, mas o sucesso de um artista é direcionado pelos algoritmos de redes sociais. O suporte sempre foi determinante na produção musical. Os Beatles faziam músicas de 2 a 3 minutos porque era o que cabia em um compacto de 7 polegadas. Os álbuns conceituais surgiram graças ao LP. “Hoje os algoritmos impõem uma série de requisitos que o artista precisa seguir para gerar engajamento. Ele é obrigado a fazer feats (do inglês featuring, termo para uma parceria entre artistas) para gerar maior alcance nas redes, juntando os seguidores de dois artistas. A música nunca foi tão produto quanto é agora.” Ganjaman antevê que estamos chegando a um nível de saturação desse formato e a saída vai ser tecnológica. “Assim como o MP3 e o peer-to-peer (Napster, Soulseek e congêneres) viraram a indústria do avesso na virada do milênio, alguma tecnologia vai surgir e virar novamente.”

Daí perguntamos à leitora: você é do tipo que continua ouvindo os mesmos discos que ouvia dez, vinte, trinta anos atrás ou gosta de se aventurar pelas novidades? Conselho de Pena Schmidt para quem é do primeiro tipo: “Tenho uma ótima coleção de vinil, fale comigo”. Para os do segundo time, ele indica a Lista das Listas, um trabalho que ele faz há dez anos, compilando centenas de listas de melhores discos que encontra na internet, em sites de música, blogs de crítica de discos e redes sociais. “É uma lista qualitativa que comprova o que eu disse. É muito raro um artista ‘comercial’ entrar nela.” A lista de 2023 deve sair por volta de fevereiro, mas você pode se aventurar pelos melhores discos de 2022 aqui. Ouça e divirta-se!

Encomende '2023 Nas Charges do Meio'

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A tensão impera na nossa vizinhança. Confira os mais clicados pelos leitores esta semana:

1. Vera Cruz: Conheça a graduação em Escrita Criativa.

2. Meio: Ponto de Partida — Lula petroleiro, Lula sustentável.

3. Jabuti: Confira os vencedores da 65ª edição do prêmio literário.

4. Estadão: O que significa a vitória do sim no plebiscito venezuelano sobre Essequibo.

5. g1: Guiana precisa se defender, diz vice-presidente do país.

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O liberalismo ausente

15/05/24 • 11:09

Nas primeiras semanas de 2009, o cientista político inglês Timothy Garton Ash publicou no New York Times um artigo sobre o discurso de posse de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. “Faltava apenas”, ele escreveu, “o nome adequado para a filosofia política que ele descrevia: liberalismo.” A palavra liberalismo, sob pesado ataque do governo Ronald Reagan duas décadas antes, passou a representar para boa parte dos americanos uma ideia de governo inchado e incapaz de operar. Na Europa continental e América Latina, segue Ash, a palavra tomou o caminho contrário, representando a ideia de um mercado desregulado em que o poder do dinheiro se impõe a um Estado fraco. Não basta, sequer, chamar a coisa só de liberal. É preciso chamá-la neoliberal. Desde final dos anos 1970, já são quarenta anos de um trabalho de redefinição forçada do que é liberalismo, uma filosofia política de três séculos e meio pela qual transitaram algumas dezenas de filósofos e economistas de primeiro time. O sentido do termo se perdeu de tal forma no debate público, que mesmo muitos dos que se dizem liberais não parecem entender que conjunto de ideias representam.

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