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Edição de sábado: As ideologias do Vale do Silício

Você está caminhando próximo a um lago. Veste, nesse dia, sapatos bastante caros. Especiais. Aí percebe, no meio da água, um menino bem pequeno que se debate. Ele vai morrer afogado e você é o único que pode salvá-lo. Mas perderá seus sapatos e chegará em más condições à reunião de trabalho que lhe espera. Por outro lado, como você é alto, o laguinho bate nos seus joelhos. Para você, o risco é zero. O que faz? Em 1972, o filósofo americano Peter Singer propôs esta parábola, esse experimento mental, no artigo Famine, Affluence, and Morality. Fome, afluência e moralidade.

Singer, hoje com 79 anos e professor emérito de Princeton, pertence a uma tradição filosófica inglesa com mais de dois séculos de idade: é um utilitário. Utilitaristas como Jeremy Bentham e James Mill renovaram o pensamento liberal, em princípios do século 19. Eles propunham que as pessoas deveriam agir coletivamente de forma moral. Que deveriam pensar, regularmente, sobre como atuar para promover o melhor para a maior quantidade de pessoas.

Singer não tinha qualquer dúvida de que, perante seu experimento, quase todo mundo diria de presto que entra no lago. E dane-se o custo dos sapatos ou a reunião. Mas este não era seu argumento. A todo momento, no outro lado do mundo, crianças morrem de malária ou má-nutrição. Salvá-las em quantidade custa por ano bem menos do que sapatos caros. Se agimos moralmente quando uma criança se afoga à nossa frente, deveríamos agir seguindo os mesmos princípios com crianças que estão distantes. Se esta é uma questão moral, o critério para salvar a criança em risco não pode ser o fato de ela estar na linha de visão.

Hoje, no Vale do Silício, os principais executivos, fundadores e financiadores se dividiram em três grupos políticos. Nos últimos dez a quinze anos, se politizaram num nível que jamais havia ocorrido antes. E isso tem razão. Até os primeiros anos do século, o Vale tinha importância econômica, claro. Mas a tecnologia era uma entre tantas indústrias americanas. Em agosto de 2011, a Apple se tornou a mais valiosa empresa do país por valor de mercado. No início daquele mês, ela ultrapassou a petroleira Exxon Mobil. Durante algumas semanas sambaram, com uma ultrapassando a outra, até que a companhia fundada por Steve Jobs começou a galopar. Exatos cinco anos depois, as cinco mais valiosas empresas do país eram de tecnologia. Mais dois anos e a mesma Apple cruzou a linha do um trilhão de dólares em valor de mercado. Agosto de 2018. Em setembro, foi a Amazon que conquistou a mesma marca. Aí, em abril de 2019, veio a Microsoft. A Alphabet (Google), em janeiro de 2020. A Meta, em junho de 2021. A Nvidia, em maio de 2023. Nunca houve, nos EUA, empresas que valiam mais de um trilhão. De repente, uma após a outra, foram cruzando o valor. Há quem aposte que a Nvidia será a primeira a chegar à marca de 5 trilhões em algum tempo.

E não foi só pela potência econômica. A partir de 2016, com o Brexit e a eleição de Donald Trump, o mundo começou a se perguntar sobre a influência do Vale na política. As duas questões, a da economia, a da política, levaram à conversa sobre regulação em inúmeros países. O Vale, assim, foi tragado para dentro do debate político. E o fez à moda do Vale, adaptando filosofias políticas com um olhar geek. O resultado é uma divisão em três grupos distintos que seguem visões de mundo bastante peculiares.

Reformistas atentos ao risco global

O experimento mental de Peter Singer encantou a dois doutorandos na Universidade de Oxford, estudantes que haviam migrado de sua formação original em matemática e ciência da computação para a filosofia. Toby Ord e Will MacAskill ergueram uma ong, o Centro do Altruísmo Eficaz, com o objetivo de mobilizar a maior quantidade possível de milionários a doarem para projetos realmente capazes de fazer diferença. Propunham como pergunta: em que, especificamente, se gasta melhor para gerar o maior bem possível à maior quantidade de pessoas? A Fundação Bill Gates segue exatamente este princípio.

Mas, no Vale, a ideia do altruísmo eficaz se misturou com outra. Desde 2002, um rapaz brilhante e altamente persuasivo chamado Eliezer Yudkowsky, fundador do Instituto de Pesquisa da Inteligência de Máquina, vinha alertando para a ideia de que uma inteligência artificial poderia eliminar a humanidade. Os dois conceitos se misturaram após o lançamento de Superinteligência, livro de outro filósofo de Oxford, Nick Bostrom. Em 2014, Bostrom justificava que governos precisavam começar a se preocupar com IAs o mais rápido possível. Mas o público que ele encontrou não foram governantes. Foram pessoas como Bill Gates, Elon Musk e Sam Altman. A partir daí, popularizou-se a expressão p(doom). Todo mundo no Vale tem o seu: é o valor percentual da probabilidade de a IA destruir a humanidade. Yudkowsky põe seu p(doom) em 95%. Musk, entre 10 e 20%. Altman não costuma oferecer um número, mas fala em algo com um dígito. Bill Gates considera a possibilidade menor do que 1%.

Singer argumentava que não devemos deixar de fazer uma boa ação apenas porque as crianças que podem ser salvas estão muito longe. Ord e MacAskill, quando foram bater à porta de bilionários do Vale, propunham o mesmo e traziam método. Como determinar que gastos salvam mais gente. Mas pessoas como Yudkowsky, Musk e Altman trouxeram outra variável para o experimento. O tempo. E se a melhor forma de ser altruísta com a humanidade for se preocupar com o futuro? Ao invés de se preocupar em salvar pessoas que estejam hoje, muito longe, salvar outras: aquelas que sequer nasceram ainda. Muitos, convencidos de que a inteligência artificial põe em risco a humanidade, concluíram que controlar eles mesmos seu desenvolvimento é o único jeito de garantir sua proteção. De certa forma, o altruísmo eficaz para muitos no Vale abstraiu-se de pessoas reais em crises humanitárias e se tornou um conto distópico de ficção científica. É este o ideário que move companhias como a OpenAI e, ainda mais, a Anthropic. Pois é, montam negócios bilionários enquanto sonham a salvação da humanidade.

Mas, ao seu jeito, este campo é moderado. Quem se afilia a ele é favorável a regulação pelo Estado, cosmopolita, se preocupa com os impactos da tecnologia que cria no mundo real. São reformistas preocupados com o risco global causado pelo que criam.

Conservadores Tecno-Nacionais

Em 2007, começou a chamar a atenção de inúmeras figuras no Vale um blog. Era Unqualified Reservations, assinado com o pseudônimo Mencius Moldbug. Seu autor, que evidentemente conhecia tecnologia em profundidade e estava imerso na cultura local, se propunha a reinterpretar a maneira como os EUA funcionavam. Ele via o país não como uma democracia, mas em verdade como uma oligarquia disfarçada, controlada pelo que batizou “a Catedral”. Uma elite liberal e progressista, saída das grandes universidades, impunha valores ao povo incapaz de resistir.

Seu autor era Curtis Yarvin, hoje com 52 anos, filho de diplomata, formado pela Universidade Brown, com passagem por Berkeley, duas das mais prestigiadas instituições de ensino dos EUA. Em seu blog, ele propôs que a gestão de países deveria ser reformada em busca de eficiência. Democracias sempre serão controladas por elites, argumentava. A saída seria adotar o mercado como solução. Imaginar o governo como o conselho gestor de uma empresa, o presidente como CEO, que respondem a acionistas — não a eleitores. Cada cidadão, uma ação. Não um voto. Num plano mais de longo prazo, Yarvin imagina uma série de cidades-corporações espalhadas pelo mundo, disputando talentos uma com a outra como startups o fazem.

Suas ideias ressoaram com gente importante. Peter Thiel, um dos fundadores do PayPal, foi um deles. Marc Andreessen, que criou o Mosaic e depois o Netscape, os primeiros navegadores gráficos da web, foi outro. Andreessen hoje é sócio de Ben Horowitz na a16z, um dos mais importantes fundos de investimento do Vale. Ele próprio, como Yarvin, veio para a região criar sua startup na década de 1990 e se inclinava à esquerda. O tempo, e seu sócio Ben, o mudaram.

O Vale, na Península de San Francisco, é parte do naco mais progressista dos Estados Unidos. O pai de Ben, David Horowitz, foi um agitador de esquerda, trotskista, com envolvimento extenso nas manifestações contra a guerra do Vietnã. Andava, em Berkeley, com os Panteras Negras. Mas mudou. Nos anos Ronald Reagan iniciou uma lenta virada à direita, argumentando pela parca liberdade de expressão de professores que não são de esquerda nas universidades. Era uma visão bastante compatível com a que Yarvin apresentaria. No início deste século, fundou o Freedom Center, uma organização de direita que deu apoio ao movimento Make America Great Again, de Donald Trump.

Curtis Yarvin é uma das maiores influências do vice-presidente J. D. Vance e, com ele, suas ideias começaram a circular em Washington. Ele vem defendendo que o Fed, o Banco Central americano, deveria ser um departamento do Tesouro. Assim, sem independência e sob o comando do presidente, poderia reavaliar os títulos do Tesouro. Yarvin defende que, hoje, governos estrangeiros têm poder sobre os Estados Unidos por serem credores do país. O inquilino da Casa Branca poderia virar esse jogo.

A ideia de governo com governança corporativa é uma de ter agilidade. Poder tomar decisões sem atropelo de burocratas. Democracia, diz Yarvin, necessariamente cria regras demais e, portanto, fica à mercê desses burocratas que as policiam. E, neste momento, com o desenvolvimento tecnológico chinês, a lentidão dos EUA o angustia.

Elon Musk, embora com um pé firme na turma de segurança de IA, com frequência balança na direção dos Conservadores Tecno-Nacionais. É, dos três grupos políticos do Vale, o mais afeito ao autoritarismo nacionalista que, de muitas formas, se vê espelhado no governo de Donald Trump.

Este grupo não é libertário — pelo contrário, acredita em poder do Estado. Pesadamente nacionalista, se preocupa com a habilidade do país de se reposicionar estrategicamente com rapidez. Imaginam sociedades hierarquizadas por talentos. Dos três, é o grupo que mais percebe o identitarismo de esquerda como ameaça aos seus valores, já que impõe às políticas públicas critérios alheios à eficiência.

Aceleracionistas de Mercado

Em A Nascente, de Ayn Rand, ela narra a história de Howard Roark, um arquiteto que se recusa ao conformismo do gosto comum. Ao longo do livro, ele é banido de firmas tradicionais, vê seu rival na escola de arquitetura crescer cedendo ao padrão, passa por guerras de tribunal. Nos círculos libertários brasileiros, e mesmo em outros cantos do mundo, o romance mais popular de Rand é A Revolta de Atlas. Não no Vale. A ideia do engenheiro enquanto herói, o sujeito que se recusa a sacrificar sua visão perante o conformismo da sociedade, fascina.

Thiel e Andreessen já mencionaram o livro de Rand inúmeras vezes em público. Mas não só eles — e a lista é extensa. Mark Zuckerberg (Meta), Larry Ellison (Oracle) e Travis Kalanick (Uber) estão entre os muitos fundadores e executivos que o citam recorrentemente. É, possivelmente, a obra literária mais popular da região. E faz sentido. O mantra adotado por Zuck nos primeiros anos do Facebook, “mova-se rápido e quebre coisas”, segue na mesma linha. O empreendedor, nesta visão, está acima de tudo e sociedades não deveriam impor regras que atrapalhem sua ação.

Dos três grupos, o mais avesso a governos e regulação é o dos aceleracionistas. Estados, se são necessários, deveriam manter um conjunto mínimo de regras para que o mercado seja previsível, e só. Mas um subcontingente destes chega ao ponto de criar ilhas artificiais em águas internacionais para viver livres de quaisquer regras. Outros começam a erguer cidades autônomas na Califórnia, que pretendem gerir com a maior independência possível.

O culto ao fundador é antigo no Vale do Silício. É natural, já que pessoas com ideias grandes realmente construíram negócios formidáveis. Mas, ao ganhar o nível de influência que ganharam, o olhar mais atento de governos fez com que esse espírito libertário brotasse.

Querem o Estado longe e o mercado, livre. Defendem que gente talentosa deve navegar pelo mundo com liberdade, sem necessidade de vistos, para se empregar onde quiser. Acreditam que inovação, livre de obstáculos, vai criar um futuro melhor para todos.

As ideologias do Vale

Não existem partidos políticos aos quais CEOs, fundadores e investidores se afiliam. Marc Andreessen é essencialmente um aceleracionista que também sente atração pela ideia do presidente enquanto CEO. Peter Thiel faz o caminho contrário — um conservador tecno-nacionalista que já foi mais libertário, e hoje considera utópica a inexistência de Estados. Elon Musk, que sempre orientou seus negócios pela visão utilitarista do altruísmo eficaz, nos últimos anos abandonou aquela visão em detrimento do nacionalismo. E, desde que brigou com Donald Trump, sabe-se lá onde está. Mesmo Sam Altman, um dos mais moderados fundadores do Vale, dedicado utilitarista, vem se aproximando da Casa Branca no vácuo aberto por Musk. E tem lá seu sentido, já que se o objetivo é o fim, não importam os meios. No último mês, Altman se desfiliou do Partido Democrata.

Ninguém vai para o mundo da tecnologia pensando em política. Fazer política não é o objetivo nem algo particularmente atraente. Em geral, com raras exceções, quem é do Vale nunca leu muito sobre o assunto. Mas todos têm técnicas de leitura e uma tendência a inventar as coisas do zero. As ideologias que começaram a se formalizar nos últimos 15 anos pescam um tanto do pensamento político do Ocidente, mas sempre incluem umas salpicadas daquela cabeça, daquela indústria. E, neste momento da história, com exceção do primeiro grupo, não há muito respeito pelos ideais das democracias. Pelo contrário. À maioria deles, democracias parecem obsoletas.

A boa e velha tecnologia

A população global está ficando cada vez mais envelhecida, com praticamente todos os países tendo de enfrentar uma realidade que preocupa governos e indústrias. Uma projeção de 2024 da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que o número de pessoas com 65 anos ou mais será maior que o de menores de 18 anos em 2080. Os países precisarão preparar os sistemas de saúde e cuidados adicionais para garantir o bem-estar de uma massa demográfica mais longeva e que requer cuidados especiais.

Um dos países com a população mais envelhecida do mundo, o Japão registrou recordes em números de cidadãos com mais idade e os mais baixos índices de juventude de sua história. Dados do Ministério do Interior japonês mostram que pessoas com pelo menos 65 anos já são 29,3% do total, sendo 16,8% com 75 anos ou mais. Enquanto isso, jovens com no máximo 15 anos representam apenas 11,2% dos habitantes.

Para fazer frente às futuras necessidades de uma sociedade mais velha, empresas e governos começam a investir em pesquisa, desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias para melhorar a qualidade de vida das pessoas na velhice. São as chamadas “gerontotecnologias”.

Robô que troca fraldas

Enfrentando o rápido envelhecimento da nação, uma taxa de natalidade em queda, população em idade ativa em declínio e prevendo uma possível escassez de cuidadores, o Japão está investindo em tecnologia para suprir as necessidades de seus moradores. A Universidade Waseda, em Tóquio, lidera a pesquisa com financiamento governamental de um androide controlado por inteligência artificial chamado AIREC. Pesando cerca de 150 kg, o robô pode realizar manobras para trocar fraldas geriátricas ou prevenir escaras, aquelas lesões na pele causadas por pressão prolongada ou fricção. Ele também é capaz de ajudar uma pessoa a se sentar ou colocar meias, fazer ovos mexidos, dobrar roupas e realizar outras tarefas úteis em casa.

Um dos maiores vilões dos idosos, as quedas são motivos de preocupação para familiares e cuidadores. Para solucionar esse problema, a startup chinesa Suzhou Yidaibao criou uma espécie de “airbag vestível”, acionado quando o usuário está prestes a cair. Impulsionados por um micro giroscópio e um processador, que detectam o movimento, além de um microchip que coleta dados de movimento humano 200 vezes por segundo, os coletes e cintos são inflados automaticamente para amortecer a queda e evitar ferimentos graves. Uma vez identificado um potencial acidente, a roupa expande em apenas 0,18 segundo, mais rápido do que o tempo médio que alguém leva para atingir o solo.

A inclusão tecnológica se faz cada vez mais necessária no cotidiano digital, com serviços como Uber e iFood sendo requisitados até por gerações que não estão acostumadas com esses aplicativos. Mas como deixar à disposição as comodidades oferecidas por esses apps às pessoas que sempre contaram com o bom e velho telefone? Foi pensando nisso que Justin Boogaard se juntou a David Lung para criar o GoGoGrandparent, que permite ligar e escolher diversas conveniências, usando um menu numérico. Com ele, é possível pedir um Uber ou Lyft para casa, medicamentos, refeições entregues por restaurantes locais, fazer compras de supermercados, ou ajuda com tarefas domésticas. Tudo disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana. O negócio, que começou na Califórnia em 2015, ganhou força e já é utilizado em outros estados americanos.

Bem-estar primeiro

A saúde mental é um tema importante, e para manter a mente dos idosos afiada e o espírito elevado, foi lançado um programa piloto em Nova York no mês de abril que transforma as telas de TV em centros personalizados para cuidados, comunicação e conexão. Os idosos qualificados para a iniciativa vão receber dispositivos da ONSCREEN, que podem transformar qualquer TV em uma plataforma de assistência inteligente, com recursos como lembretes para tomar os remédios e check-ins diários enviados aos telefones de entes queridos. Eles também contarão com um companheiro virtual com IA integrada, que interage com conversas personalizadas e jogos para estimular a memória com exercícios cognitivos e até sessões de pintura virtual. Tudo com facilidade para que eles não tenham de entender muito de tecnologia.

O programa foi criado em colaboração com o Escritório do Estado de Nova York para o Envelhecimento e a Associação do Envelhecimento de Nova York com o objetivo de ajudar os idosos e reduzir a pressão sobre seus familiares e cuidadores. Dados do governo dos Estados Unidos mostraram que 37,1 milhões de americanos, ou 14% dos adultos, prestaram cuidados não remunerados a idosos entre 2020 e 2021, o que pode gerar desgaste emocional e físico com o tempo.

Já a União Europeia financia a iniciativa Vida Ativa Assistida (AAL, na sigla em inglês), que reúne ferramentas com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos idosos por meio de soluções inovadoras, contribuindo especialmente para a prevenção, apoio, manutenção da independência e a participação social. Por ajudar a reduzir ou amenizar problemas de saúde antes que se tornem graves, as tecnologias adotadas pelo programa monitoram constantemente os parâmetros de saúde e as condições ambientais para antecipar riscos potenciais e agir antes que incidentes ocorram, como videovigilância e inteligência artificial para reconhecer atividades ou detectar quedas.

Alguns dispositivos mais simples podem contribuir para a melhora cognitiva dos idosos. É o caso da Alexa, por exemplo, que desde 2020 já instalou mais de 10 mil aparelhos nas residências dos espanhóis mais experientes, por meio de uma campanha da Amazon em parceria com a Cruz Vermelha. “Descobrimos que essas ferramentas podem ajudar pessoas muito distantes da tecnologia a descobrir a internet e até mesmo criar uma conexão com o que está acontecendo na sociedade”, explicou Andrés Pazos, diretor nacional da Amazon Alexa na Espanha, ao jornal El País.

Cuidador de IA

A inteligência artificial também pode ser útil em robôs especializados em cuidados e bem-estar. A Intuition Robotics apresentou a ElliQ Caregiver Solution, um sistema com IA incorporado ao robô companheiro ElliQ com um aplicativo que ajuda os cuidadores a monitorar a saúde de idosos que moram sozinhos. Ele lembra a Alexa da Amazon, mas é proativo, pois incentiva os idosos a conversarem, oferece entretenimento e suporte, além de disponibilizar videochamadas com os cuidadores.

A companhia apresentou a solução no Consumer Electronics Show (CES 2025) com novidades úteis. Entre elas, estão o envio de alertas aos familiares, se o robô detectar que um idoso não dormiu bem ou está se sentindo mal, e atualizações sobre quaisquer mudanças significativas de comportamento ou saúde. Assim, eles podem monitorar a disposição de seus entes queridos de uma forma que não pareça tão intrusiva. Os cuidadores poderão receber outras atualizações proativas alimentadas por insights baseados em IA. A ElliQ Caregiver Solution já está disponível no mercado americano por uma taxa de inscrição única de US$ 249,99, que inclui o aluguel do dispositivo, e uma assinatura mensal de US$ 59,99, enquanto o aplicativo Cuidador terá uma taxa adicional de US$ 9,99 por mês para novos usuários.

Ouça 2025

Há pouco tempo, em uma festa, já ligeiramente levado pelos bons eflúvios dos espíritos, tentei argumentar que ainda era feita muita música boa hoje. Coisa que defendo com certa frequência e quase sempre recebo como resposta um misto de desdém ou incredulidade. Neste dia, meu interlocutor não deveria ser uma pessoa desavisada. Era um jornalista com mais de 50 anos, que havia editado produtos editoriais importantes e escrito bastante sobre música até o começo dos anos 2000.

Eu entendo esse conservadorismo. Com a internet, mudamos de um mundo bastante restrito, com um grupo precisando vencer inúmeros filtros para ter sua música lançada, para a realidade de hoje em que qualquer jovem com um celular e um PC velho consegue fazer um funk de sucesso. Na era da abundância, dos ultra nichos, não é fácil se encontrar nem garimpar as melhores coisas. E é menos frequente ainda ter o tempo ou desejo de mergulhar em pesquisas quando praticamente toda a história da música gravada está disponível sem muito esforço.

Esse jornalista não foi o primeiro nem o último a defender a superioridade da música de ontem. Perdi a conta das vezes que ouvi de diferentes pessoas que não existe música boa sendo produzida no Brasil hoje. Na verdade, no mundo. Ou que bom mesmo era quando... (aí você pode preencher essa lacuna com o ponto no tempo para onde seu saudosismo aponta). Eu entendo as muitas camadas de dificuldades que a música feita hoje precisa romper para se fazer ouvida. E, para a obra que não é pensada e vendida como produto de massa, essas barreiras são ainda mais altas. E, junto com isso, há a decadência da escuta do álbum. Na festa dos streamings, o que vale é o single.

Por outro lado, desde antes de começar a escrever sobre música nos anos 1990, eu sempre dei importância a conhecer a arte que é feita nos nossos tempos e dialoga com eles. Me interessa mais o presente que o passado, talvez um vício de jornalista.

Para as pessoas que não acreditam que exista nada de novo e sobretudo para aquelas que ainda são alimentadas pela curiosidade, resolvi fazer uma seleção de alguns dos melhores discos produzidos no Brasil neste 2025. Como toda lista, é lindamente imperfeita. Mas obedece a alguns critérios. Tirei artistas consagrados. Assim, álbuns maravilhosos como Alaíde Costa, Uma Estrela para Dalva ou Mateus Aleluia, do mestre baiano do Tincoãs, ficaram de fora. E mais do que criar um ranking, a ideia aqui é abrir possibilidades de escuta. E que sejam álbuns bons do começo ao fim, uns mais dentro do cânone outros ainda tentando sair fora da casinha, o que é cada vez mais difícil nesse mundo que se alimenta de passado e referências estabelecidas. Vamos à lista, organizada por ordem alfabética a partir do artista.

Cabeça a Mil e o Corpo Lento, Alberto Continentino (Selo Risco)

Alberto Continentino é um dos baixistas mais requisitados do país, não à toa seu terceiro disco solo é recheado de participações de artistas com quem colabora, como Nina Becker, Ana Frango Elétrico, Dora Morelembaum e Silvia Machete. Como muitos dos lançamentos deste ano, ainda traz os desdobramentos dos tempos pandêmicos, gravado na serra do Rio. Continentino não se limita ao baixo e as canções passeiam por muitos estilos, bebe no jazz e no funk, no rock, mas imprime uma singularidade sobretudo com texturas sonoras que fazem com que as canções atravessem diferentes tempos e se cristalizem em um todo coeso e elegante.

Dubs Imaginários, Anelis Assumpção (Taurina)

Dub é uma arte, e a relação de Anelis Assumpção com a música jamaicana vem de longe. Basta lembrar os inúmeros shows que fez recriando a obra prima Legalize It, de Peter Tosh. Aqui ela mergulha no repertório de seu disco de 2014, o ótimo Anelis Assumpção e os Amigos Imaginários, criando versões espaciais, cheias de graves e ecos, tendo quase sempre como parceiro o mestre Victor Rice.

O Mundo Dá Voltas, BaianaSystem (Máquina de Louco/UMPG)

O mais novo disco do grupo baiano saiu pouco antes do Carnaval e, na realidade, o que tem de mais interessante é a proposta de levar o som da banda — caracterizado pelo casamento de batidas eletrônicas e grave potente com a sonoridade única da guitarra baiana —, para uma conversa com diferentes colaboradores. Uma proposta interessante depois de mergulhar nas influências caribenhas do álbum anterior. Com colaboradores como Vandal e Pitty, Manoel Cordeiro ou Emicida, o que vemos são conversas muito diferentes que sintetizam caminhos muito interessantes da música de hoje.

KM2, Ebony (Independente)

O título do disco remete a Queimados, na Baixada Fluminense, apelido que Ebony e seus amigos davam ao lugar onde cresceram. Não à toa, o disco todo é uma investigação muito pessoal da rapper. Isso fica evidente em faixas como Não Lembro da Minha Infância, em que relata abusos. Por outro lado, o álbum também exploras as relações dentro do mundo da música, sem se furtar em colocar o dedo no machismo que permeia o rap. Isso já seria suficiente para construir um bom disco, mas a produção é que leva o disco para outro patamar, com beats matadores.

AVIA, Josyara (Deck)

Para quem gosta de violão, Josyara é uma dessas jovens artistas incontornáveis. Em seu terceiro álbum, ela resgata a força de seu violão muito influenciado pelo sertão baiano num casamento perfeito com seu cantar pessoal. Também é um disco marcado por muitas parcerias com algumas das mulheres mais interessantes da cena da nova música popular brasileira, como Juliana Linhares, Iara Rennó, Liniker e Pitty. Mas refletida em outras ela parece encontrar sua essência, que transpira nessas dez breves canções.

Vol 1., Jovens Ateus (Balaclava Records)

Esse é um disco que poderia ter sido feito durante a minha adolescência. A banda paranaense de Maringá bebe diretamente no pós-punk para entregar esse disco cheio de angústia e melancolia, mas uma mistura incrível de riffs de guitarra e climas de sintetizador, bem na onda da cold wave que entregou discos lúgubres na primeira metade dos anos 1980. E quem já tem uma certa estrada vai lembrar que Jovens Ateus era uma das músicas do Muzak que compunham a seminal coletânea Não São Paulo. Banda que sabia, como esse quinteto, dosar bem melancolia e linhas dançantes. Um disco pra alimentar com gosto a nossa retromania.

El Baile Rock, Les Rita Pavone (Selo Maxilar)

Esse é o primeiro disco de uma banda que existe desde 2006. Formada em Belém, e com uma boa estrada em festivais, só agora a Les Rita Pavone registrou seus experimentos com o cânone brasileiro. O interessante é que esse é um disco cheio de referências setentistas, impossível não ouvir nas canções dos paraenses ecos de Wilson Simonal, Jorge Ben Jor, Jards Macalé. Claro que, vinda do Pará, a banda tempera esse groove com estilos do norte como carimbó, cumbia, brega. E consegue brincar com sínteses mais pop, em canções mais breves, e viagens mais longas, quase psicodélicas, mas sempre atenta aos quadris.

Um Mar para Cada Um, Luedji Luna (Independente)

Esse é o disco mais ousado da cantora que tomou o Brasil com seu Banho de Folhas. O álbum traz os principais elementos do neossoul mas com uma sofisticação jazzística única. Justamente por isso, é um disco mais exigente, desses que pedem que os sons sejam decantados devagar e decodificados aos poucos. Um passo bem importante para a musicista baiana, que dá um salto como compositora. E também é um disco cheio de abertura para diálogos, seja com a saxofonista inglesa Nubya Garcia, que vira de cabeça pra baixo Dentro Ali, cuja versão original está em Um Corpo no Mundo, seja com o trompetista japonês Takuya Kuroda, que explora um lado mais pop em Salty.

Boca do Tempo, Sergio Kracowski (Rocinante)

O percussionista carioca diz que esse é um disco que levou a vida toda para ser feito. Ou seja, é um disco de síntese. Pandeirista singular, sobretudo por que tem toda uma carreira aberta à improvisação e às experimentações, em Boca do Tempo ele explora as relações da voz, das palavras, com o ritmo. Esse falar rítmico, influenciado pela percussão brasileira, cria poemas-canções únicos e, às vezes, flutuam tanto no tempo, com tantas quebras inesperadas, que lembram as divisões da música percussiva indiana. Não é um disco fácil de ouvir, mas é um dos experimentos mais interessantes do ano.

VERAS I, Vera Fischer Era Clubber (Palatável Records)

Muita gente reclama que a música vem sendo reciclada ad nauseam. Pois um antídoto para a repetição vem dessa turma do Rio de Janeiro, mais precisamente de Niterói, que, convenhamos, tem o melhor nome de banda dos últimos tempos. Vera Fischer Era Clubber tem uma formação sucinta (baixo, bateria, synths), que produz um electro inventivo, que serve de cama para a vocalista Crystal destilar letras faladas com um humor fino e um olho agudo para a crítica social e pessoal, que evocam tanto as crônicas de um Fasto Fawcett como a intimidade aberta do No Porn.

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