Jack Ma e o futuro das empresas chinesas

Onde está Jack Ma? As especulações pelo paradeiro do fundador do Alibaba se espalharam pelo mundo. Além da preocupação com sua segurança, para muitos o seu “desaparecimento” sinaliza um novo momento para as empresas privadas na China de Xi Jinping.

Em sua última aparição em outubro, Ma descreveu os bancos estatais chineses como operando com uma mentalidade de “casa de penhores” e reclamou que as autoridades estavam sufocando a inovação. Dias depois, os reguladores do país suspenderam, no último minuto, o IPO do Ant Group, braço financeiro do Alibaba, e que prometia ser o maior do mundo ao levantar US$ 37 bilhões. E não parou por aí: em 24 de dezembro, o governo chinês abriu uma investigação antitruste contra o Alibaba.

Desaparecer do público é algo incomum para Ma, considerado quase um embaixador não oficial da tecnologia chinesa. Foi o primeiro empresário chinês a desfrutar de reconhecimento internacional. E ele gosta da atenção: costuma fazer apresentações musicais (YouTube) em eventos do Alibaba. Assim, quando não apareceu, em novembro, na final do reality show do qual participa como jurado, Africa’s Business Leaders, acendeu um sinal amarelo pelo mundo.

O Alibaba, fundado em 1999, começou como ponto de encontro para fornecedores chineses e empresários estrangeiros interessados em fazerem negócio com a China — que até então era um mercado fechado e desconhecido. Sob a política de Jiang Zemin, o líder do país de 1989 a 2002, o governo estimulou empresas chinesas a se abrirem para o mundo. Outras, como Tencent e Baidu, também desfrutaram do apoio das autoridades, ao mesmo tempo em que os rivais americanos foram excluídos do território chinês. Nesse clima relativamente tranquilo, Ma fundou, em 2004, o Alipay dentro do Alibaba. Quando se transformou em um gigante de pagamento móvel — hoje atende a mais de 1,3 bilhão de usuários globais — foi separado em uma nova empresa, o Ant Group, que também vende tecnologia de bancos e seguros para instituições financeiras.

O cenário começou a mudar em 2012, quando Xi Jinping assumiu o poder e instalou uma política de fortalecimento do Estado. Para as autoridades, a enorme influência das big techs viraram um risco para a estabilidade política e econômica do país. O próprio Xi se envolveu na decisão de suspender o IPO do Ant. Caso o negócio fosse concretizado, a empresa superaria os maiores bancos estatais e ganharia controle de uma percentagem significativa do crédito nacional.

O cerco não está apertando apenas para o Alibaba. No mês passado em uma conferência, o presidente sinalizou uma repressão tecnológica e pediu ao país que fortalecesse as ações antitruste contra as plataformas online. E as autoridades já alertaram outros representantes de tecnologia contra a criação de monopólios e o abuso de dados do consumidor. A China, inclusive, já propôs uma série de novas regras antitruste para proibir, por exemplo, práticas como exigir que os fornecedores negociem apenas em uma plataforma exclusiva.

Mas não é só a China. O ambiente internacional também se tornou menos complacente com as big techs. Só nos últimos meses de 2020, as autoridades americanas apresentaram investigações antitruste contra o Google e Facebook. E na UE, os reguladores também se preparam.

Só que a China tem ido além. Xi lançou uma campanha anticorrupção implacável que derrubou líderes. Em setembro, o rei do mercado imobiliário Ren Zhiqiang foi condenado a 18 anos de prisão por corrupção. Seis meses antes, ele havia criticado Xi pela disseminação da pandemia no país. O governo também mandou censurar na mídia local qualquer informação contrária à investigação antitruste contra o Alibaba.

Mesmo assim, pessoas próximas de Ma dizem que ele não está em perigo. Só está quieto enquanto negocia com as autoridades. Segundo o Wall Street Journal, os reguladores chineses estão pressionando o Ant para compartilhar dados de consumo com o governo. A ideia é que esses dados alimentem um sistema nacional de crédito administrado pelo Banco Popular da China. Também querem regulamentar o negócio de empréstimos da empresa como se fosse um banco, o que significa que o Ant teria que usar mais seus próprios fundos ao fazer empréstimos.

Para os mais otimistas, essa pressão das autoridades é mais uma mensagem política e vai acabar em um acordo semelhante ao que acontece nos EUA e UE. As empresas de Ma vão sair um pouco enfraquecidas, mas ainda lucrativas. Já outros avaliam que é possível que os negócios sejam separados ou até que o Ant abra mão da gestão de dinheiro, crédito e seguros, interrompendo operações que atendem a mais de meio bilhão de pessoas. No entanto, é quase consenso que qualquer mudança vai tornar difícil que um “novo Jack Ma” surja nesse novo cenário. A pressão contra líderes dentro de sua própria casa ajuda a narrativa já comum fora, liderada pelos EUA — onde empresas chinesas têm sofrido sanções por terem negócios suspeitos, segundo o governo americano. Isso tornaria difícil outra empresa ou líder chinês ganhar influência global como o Alibaba e Jack Ma.

Por Érica Carnevalli

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