2017 foi um ano de passagem. Durante pelo menos um mês, todos os analistas em Brasília jurariam que Michel Temer deixaria o Planalto. Mas ele sobreviveu e, ao que tudo indica, terminará seu mandato. 2018 começa como o ano que passou: com o tráfico agitado. Rebeliões em presídios e tiroteios nas favelas cariocas. Mas não será um ano igual, pois caminha para trazer definições. Estas que seguem são aquelas que nós, cá no Meio, esperamos ver surgirem.

Feliz Ano Novo!

— Os editores.

O que esperar no ano que chega

Lula será candidato? Se for, é contra ele que o segundo turno será disputado. A maneira como joga política é conhecida. Após radicalizar o discurso ao longo dos últimos meses, deve mover-se ao centro. Tem sólida base eleitoral no Nordeste. Mas é agora, em janeiro, seu julgamento em segunda instância. Se for condenado, após os recursos no próprio TRF da 4ª região, ao menos em teoria, estará fora do jogo. Talvez até preso. A Justiça brasileira surpreenderá e um novo caminho que o permita disputar será aberto? Caso seja preso, como se comportarão os militantes?

Joaquim Barbosa será candidato? O capa preta do Mensalão faz mistério. Tem conversa marcada com Luciano Huck, segundo Lauro Jardim. Promete resposta até fevereiro. E as pesquisas indicam que um nome novo com marca anti-corrupção pode ser atraente.

Bolsonaro é o Trump brasileiro? O ex-capitão tem-se mostrado sólido em segundo lugar. Representa a extrema-direita brasileira e é dado a falar sem pensar. Conforme a campanha se aproxima e o velho militar deixe o filtro das redes sociais, com mais e mais câmeras de TV o perseguindo, fatalmente dirá algo que causará impacto. Isso o fará derreter? Alguns analistas políticos começam a achar que não. Nos EUA, a fórmula funcionou com Donald Trump. A centro-direita pode se sentir atraída por alguém como ele?

Geraldo Alckmin e Marina Silva são os candidatos conhecidos. Ambos já tiveram chances sólidas de chegar ao Planalto. Alckmin tem contra si a falta de carisma e o PSDB. Seu partido teve a faca e o queijo na mão para se tornar uma voz contra a corrupção. Não teve coragem de expulsar Aécio Neves de imediato e, agora, a sombra das licitações manipuladas do metrô paulistano vem para assombrar. Para Marina seu problema também é o partido. A Rede não conseguiu se firmar, tem pouca estrutura. E, mesmo nas redes sociais, onde candidatos como Bolsonaro e João Doria conseguiram crescer, a equipe de Marina não parece empolgar.

E há, claro, o Congresso Nacional. Ele pode surpreender. Conforme chegam as eleições, uma boa centena e meia de deputados terá medo de perder o foro privilegiado. Tentarão fazer alguma mudança. A ver.

Por fim... Haverá um embate final entre Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes?

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Haverá uma nova terceira via? Nos anos 1990, após o radicalismo dos governos Thatcher e Reagan, Tony Blair e Bill Clinton apresentaram ao mundo uma nova centro-esquerda, mais preocupada com equilíbrio fiscal. Clinton forçou demais a desregulamentação do sistema financeiro, permitindo a crise de 2008. Blair se afundou ao apoiar sozinho George W. Bush na Guerra do Iraque. A terceira via terminou batizada por seus inimigos e será lembrada para sempre como neoliberalismo. Todos os olhos para o francês Emmanuel Macron. Seu ‘centrismo radical’, se der certo, se espalhará. Num mundo polarizado, gente demais procura o caminho do meio.

Mas... Nos EUA, Bernie Sanders motivou a base do Partido Democrata. Martin Schulz tentou na Alemanha. No Reino Unido, o trabalhista Jeremy Corbyn ainda pode se tornar premiê. Representam uma esquerda que não se via capaz de agitar EUA e Europa há muito. Falta um sucesso eleitoral.

Aliás... Trump chegará o fim do mandato?

O movimento chinês, por sua vez, será lento. Mas olho na América Latina e África. O país do centro está gastando dinheiro para fazer amigos e conquistar mercados.

A Arábia Saudita iniciou um movimento de modernização. Para isso, o príncipe-herdeiro Mohammad bin Salman está afastando o clero do núcleo de poder. É uma briga feia. Para distrair a população, MBS lança o dedo contra um inimigo externo: o Irã. Há uma guerra fria entre sauditas e iranianos no Oriente Médio. Pode incendiar a região. Mas, nos últimos dias, uma nova onda de protestos estourou em Teerã. Não é a primeira. O regime dos aiatolás é rejeitado pela imensa juventude da capital.

Cultura

O mercado de vídeo pela internet tornou-se um campo de batalha. Todos contra a Netflix. A Disney investiu pesado para atrair os migrantes da televisão para o mundo digital: pagou US$ 52 bilhões por parte da Fox. Tudo para se tornar a rainha do streaming. Adquiriu, além de canais como Fox, FX e NatGeo, uma fatia majoritária no Hulu, serviço rival da Netflix nos Estados Unidos. No Brasil, com conteúdo próprio, a Amazon reformou seu serviço de streaming Amazon Prime Video — o preço, agora em reais, é mais baixo que o da rival americana. O Grupo Globo criou uma joint venture entre a Rede Globo e a programadora Globosat, a maior do país. E a HBO também entrou na briga: lançou a plataforma HBO Go, primeiro para assinantes da emissora na TV, depois para todos os donos de smartphones e tablets. Parece concorrência suficiente? Calma lá, que o Facebook também está trabalhando em uma plataforma de própria. Para manter a liderança, a Netflix aposta nos títulos originais: quer lançar por volta de 80 filmes em 2018 e deve gastar US$ 8 bilhões. A produção no Brasil também vai aumentar: quer produzir 20 séries por ano aqui. A briga é de gigantes.

Iggy Azalea, J. Balvin, Poo Bear e Alesso lá fora. Nego do Borel, Simone e Simaria e Pablo Vittar, no Brasil. Não foram os únicos, mas esses são alguns dos artistas que cantaram e tocaram com Anitta em 2017 e colaboraram para o sucesso estrondoso da cantora no ano passado, principalmente fora do país. Duetos e participações especiais não são novidade no mundo da música — já diriam Tom Jobim e Elis Regina ou Nando Reis e Cássia Eller. Mas as parcerias musicais têm se tornado, cada vez mais, estratégias de sucesso. Prova disso é Despacito, que recebeu quatro prêmios no Grammy Latino, um deles de melhor fusão por sua versão com Justin Bieber, que fez a música decolar. Acontece também no Brasil. O DJ Alok se tornou o primeiro daqui a entrar na lista dos 50 mais ouvidos do mundo do Spotify com a música Hear me now, uma parceria com Zeeba e Bruno Martini. E ele já anunciou para parcerias com Simone e Simaria, Seu Jorge e, é claro, Anitta. Para chegar ao mercado internacional, a receita faz sentido: Anitta estourou nas paradas da América Latina com a ajuda dos fãs de cantores como Maluma e J Balvin — com o último, já afirmou querer fazer turnê e tem outra música por lançar. Luis Fonsi viu Despacito tornar-se uma canção global com os beliebers. Nas redes sociais, as legiões de fãs dos ídolos — de um ou de outro, o que importa é o barulho — levam os lançamentos aos trending topics. Achado o caminho das pedras, podemos esperar mais misturas em 2018.

Talvez você já tenha ouvido falar em redes neurais. Nova queridinha dos programadores, elas conseguem analisar um montante gigantesco de dados e aprender com eles para criar produtos novos. Um engenheiro de softwares americano resolveu alimentar a ferramenta com livros de George R.R. Martin e pôs o algoritmo para escrever o próximo livro de Game of Thrones. Conclusão: a história produzida por ele confirma várias teorias dos fãs. Não é só isso que a inteligência artificial pode fazer pela indústria da cultura. Recentemente, pesquisadores do MIT tiveram sucesso em ensinar às redes neurais os segredos dos melhores roteiristas para levar os espectadores de filmes às lágrimas. Sim, a inteligência artifical sabe como te fazer chorar elencando os elementos como iluminação, enquadramentos e trilha sonora certos. Talvez ela também saiba classificar livros em gêneros literários usando sinais semânticos ou frequências verbais e até responder o que acontece em Hamlet se eliminarmos Horacio. É o que se estuda no Stanford Literary Lab. Há algumas semanas mostramos, aqui no Meio, que Frank Chen, um dos principais investidores do Vale, afirmou que a “inteligência artificial estará em todas as indústrias”. Não será diferente quando falamos de cultura e entretenimento.

Viver

Começou pela indústria do cinema. Passou pela moda. Não poupou o jornalismo e a tecnologia. Nos EUA, ninguém escapou. O levantar do véu do assédio sexual mexeu com as estruturas das indústrias onde a maioria é, politicamente, progressista. E está chegando também ao chão da fábrica, com as denúncias de funcionárias da Ford. Não à toa, cresceram no Google as buscas por ‘feminismo’, que também foi escolhida a palavra do ano pelo dicionário americano Merriam-Webster. Por muito tempo se perguntou por que as mulheres não denunciavam os casos de assédio. Mas é difícil dizer ao certo se o maior legado para 2018 é a coragem viral de movimentos como o #MeToo, ou sua repercussão e seus desdobramentos — afastamentos e demissões de assediadores e, com isso, a sensação de que a impunidade talvez possa deixar de ser regra. Hollywood se mexeu. Grandes empresas, como a Microsoft, também. Falta ainda jogar luz a denúncias de indústrias que há anos ocupam o topo do ranking de casos de assédio, como as de hotelaria e alimentação¡Adelante!

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Bill Gates vai investir US$ 80 milhões para construir uma cidade inteligente no estado de Arizona, nos EUA. A Arábia Saudita vai desembolsar R$ 500 bilhões para a construção de NEOM, sua cidade futurista. No mundo todo, pesquisadores, empresas, governos e cidadãos estão unindo forças para pensar em tecnologia e inovação para o desenvolvimento urbano. No Brasil, São Paulo lidera o ranking, mas Curitiba é que foi coroada capital latino-americana das smart cities e sediará este ano a primeira edição brasileira do maior evento do mundo sobre o tema. As iniciativas tem crescido no país: as empresas e start-ups avistaram o potencial de negócio, enquanto os governos precisam pensar em soluções inteligentes para eliminar gastos e os cidadãos buscam qualidade de vida e custos de vida menores. Este ano, no Rio, o Inmetro começa a testar e certificar, em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industria, inovações urbanas como iluminação pública inteligente, instalação de sensores e câmeras para controle de tráfego e segurança, e disponibilização de veículos urbanos, como bicicletas ou carros compartilhados. Parece que a capital paulista pode ter concorrência em 2018.

Cotidiano Digital

Quando 2017 começou, havia duas promessas tecnológicas. De um lado, o avanço da inteligência artificial. Do outro, realidades virtual e aumentada. Google e Amazon ampliaram sua família de assistentes digitais, a Apple está para lançar o seu. O avanço na área de inteligência é nítido. Realidade aumentada continua sendo Pokémon Go e disto não passou. Realidade virtual chegou tímida às lojas nos videogames e ninguém comprou. Bilhões de dólares foram gastos no desenvolvimento das tecnologias. Aparecerão, enfim, em 2018?

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