Prezadas leitoras, caros leitores —
No início do mês, o Google afastou de suas funções o engenheiro Blake Lemoine. A razão? Lemoine se convenceu de que LaMDA, um algoritmo de inteligência artificial que ele estava testando, havia adquirido consciência.
Há razoável consenso de que nada do tipo ocorreu. Mas estes sistemas capazes de diálogo estão se tornando mais e mais sofisticados e criam ilusões poderosas. “É certo que uma inteligência artificial se tornará senciente um dia”, sugere Regina Rini, professora de filosofia na universidade de York. “Sabemos disso porque senciência nasce de matéria eletrificada. Já aconteceu antes, em nosso passado evolutivo.”
Se não aconteceu, mas acontecerá, então precisamos compreender o que é consciência, o que é inteligência artificial, e o que falta para que ambas se encontrem. De quebra, não custa antecipar as consequências disto.
Este é o tema principal do Meio neste sábado — uma pergunta ao mesmo tempo filosófica, científica e tecnológica.
A Edição de Sábado traz também uma reportagem sobre os novos modelos de trabalho nesse pós-pandemia nem tão pós assim. Como empresas e funcionários estão lidando com uma volta parcial ao presencial em meio a novos surtos de casos? Quais soluções para eventuais desconfortos podem ser criadas?
E trataremos de fome. Guiados pelas palavras de Carolina Maria de Jesus e seu registro biográfico do que é dormir e acordar sem comer no livro “Quarto de Despejo”, de 1960, vamos olhar para essa tragédia que o Brasil insiste em reencenar.
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— Os editores
Delegado denuncia interferência no caso de Ribeiro
Responsável pelo inquérito que levou à prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, o delegado da Polícia Federal Bruno Callandrini denunciou ontem, em mensagem a colegas, “interferência na condução das investigações”. Segundo ele, Ribeiro, preso em Santos (SP), deveria ter sido transferido para a sede da PF em Brasília. A defesa tentou mantê-lo em São Paulo e teve o pedido negado. Mesmo assim, sob alegação de questões financeiras, a corporação não fez a transferência, e ontem ele foi solto por ordem do desembargador federal Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). O magistrado argumentou que Ribeiro não integra mais o governo e que os fatos denunciados são antigos. (Folha)
Ligado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, Bello é, como conta Carolina Brígido, candidato a uma das duas vagas ora abertas no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Seu nome consta da lista quádrupla da qual o presidente Jair Bolsonaro escolherá os futuros ministros. Fontes ligadas ao Planalto avaliam que as chances dele melhoraram muito com a decisão de ontem. (CNN Brasil)
Já o juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal de Brasília, responsável pela ordem de prisão contra o ministro e outros envolvidos em suspeitas de corrupção no MEC, está sofrendo centenas de ameaças. (g1)
Em Brasília, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse ter conseguido as 27 assinaturas necessárias para a instalação de uma CPI para investigar o MEC. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é contra, mas não tem o poder de barrar um pedido que cumpra as exigências da lei e do Regimento Interno. (Poder360)
Meio em vídeo. O que é corrupção para você? A pergunta não é retórica. Esta semana o governo Bolsonaro viveu seu dia de Lava-Jato, com polícia prendendo de manhã ex-ministro. Este é um governo corrupto, um governo do Centrão. Mas essa corrupção, a do desvio de dinheiro, não é a maior corrupção do bolsonarismo. Confira a análise de Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)
Protagonistas das mais recentes crises entre o Executivo e o Judiciário, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes conversaram a portas fechadas por 15 minutos na noite de quarta-feira, na residência oficial do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como conta Mônica Bergamo. Os dois participaram de um jantar em homenagem aos 20 anos da nomeação do ministro Gilmar Mendes ao Supremo. Durante o evento, que teve até uma oração puxada pelo também ministro André Mendonça, Gilmar defendeu a necessidade de diálogo entre os Poderes. (Folha)
A pesquisa de intenção de votos divulgada ontem pelo Datafolha mostra estabilidade em relação ao levantamento anterior, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recuando um ponto e o presidente Jair Bolsonaro (PL) avançando um ponto, dentro da margem de erro. Ainda assim, com 47% da preferência, Lula venceria no primeiro turno, pois têm mais que a soma dos adversários: Bolsonaro, com 28%; Ciro Gomes (PDT), com 8%; André Janones (Avante), com 2%; e Simone Tebet (MDB), Pablo Marçal (PROS) e Vera Lúcia (PSTU), com 1% cada. O resultado é particularmente ruim para Tebet, que não conseguiu avançar, a despeito da exposição com o lançamento de sua pré-candidatura por MDB, PSDB e Cidadania. (Folha)
O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e os comandantes das três Armas entraram ontem na Procuradoria-Geral da República (PGR) com uma notícia-crime contra o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT ao Planalto. Em entrevista, ele disse que o governo federal “destruiu a capacidade operacional das Forças Armadas” e transformou a Amazônia numa “holding do crime”. (Poder360)
A Polícia Civil de São Paulo informou ontem que Gabriel Pereira Dantas, que diz ser de Manaus, se apresentou a uma delegacia afirmando ter participado das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, no último dia 5, no Vale do Javari (AM). Dantas disse que pilotava o barco de Amarildo Oliveira, o Pelado, e que este atirou primeiro em Phillips e depois em Pereira. Outros dois homens teriam ajudado a esconder os corpos. Ele foi preso e deve ser transferido para o Amazonas. (Exame)
Os líderes da União Europeia concederam ontem à Ucrânia e à Moldávia, outra antiga república soviética, o status de “candidatas”, primeiro passo formal para adesão ao bloco político. A presidente da UE, Ursula von der Leyen, afirmou que a medida fortalece os dois países, mais a Geórgia, que deve se tornar candidata em breve, “frente à agressão da Rússia” e mostra que a Europa está “unida e forte diante de ameaças externas”. (CNN)
Viver
O Ministério Público Federal (MPF) de Santa Catarina informou ontem que a menina de 11 anos confinada em um abrigo para que não fizesse um aborto legal foi submetida ao procedimento para interromper a gravidez. Ela buscou o procedimento em maio, com 22 semanas de gestação, motivo alegado pelo hospital, que agora realizou o aborto, para negá-lo. Não há previsão de limite de idade gestacional nos casos de aborto reconhecidos por lei: estupro, risco à vida da mãe e, por decisão do STF, anencefalia do feto. A criança foi internada no abrigo por ordem da juíza Joana Ribeiro Zimmer, que tentou convencê-la a manter a gravidez, e devolvida à família por habeas corpus. (g1)
A polícia de Santa Catarina concluiu a investigação sobre o caso, mas não indiciou ninguém. Segundo os agentes, a gravidez foi fruto de relação sexual com outra criança, um menino de 13 próximo da garota. O que não afeta, segundo especialistas, o direito da menina ao aborto. “A rigor os dois são autores em relação ao outro e também vítimas pela conduta do outro”, diz o advogado e professor de Direito Penal da UFF, Daniel Raizman. “Sobre o aborto, ela pode fazer porque foi vítima do estupro”, acrescenta. (Globo)
Pela lei, o estupro de vulnerável é caracterizado por “conjunção carnal ou ato libidinoso” com menor de 14 anos ou pessoa incapaz, mesmo que sem emprego de violência.
Meio em vídeo. Não vamos perder o foco principal de toda essa história: uma menina de 10 anos chegou grávida ao hospital e teve negado o direito garantido por lei de interromper a gravidez. Independentemente das circunstâncias, a relação sexual de uma criança nessa idade é estupro de vulnerável, e estupro é uma das situações em que a lei permite o aborto. Esse é o principal tema esta semana de Mariliz Pereira Jorge na coluna De Tédio a Gente Não Morre, disponível no YouTube a partir das 11h15.
A Polícia Rodoviária Federal impôs sigilo de cem anos sobre a investigação interna da morte de Genivaldo de Jesus dos Santos, em Sergipe. Portador de problemas psiquiátricos, ele foi parado por estar de moto sem capacete. Alegando que ele reagiu à abordagem, os policiais o prenderam na caçamba de uma viatura e jogaram dentro uma bomba de gás. Genivaldo morreu asfixiado. Para negar o acesso da imprensa ao processo contra os agentes, a PRF alegou tratar-se de “informação pessoal de servidores” da instituição. A Lei de Acesso à Informação, porém, não protege dados relativos à conduta profissional. (Metrópoles)
O Ministério da Saúde confirmou ontem os três primeiros casos de varíola de macaco contraídos no Brasil. Os pacientes, três homens no estado de São Paulo, não viajaram ao exterior, ao contrário das outras 11 pessoas com a doença no país. Eles estão isolados e têm um quadro estável, diz a pasta. Endêmica na África, a varíola do macaco se alastrou por diversos países, em especial na Europa. Ela é contraída pelo contato próximo com um portador ou com o líquido que sai das feridas. (UOL)
A Anvisa determinou ontem o recolhimento das farmácias de diversos lotes de vários fabricantes do medicamento genérico losartana, indicado para o tratamento de hipertensão. Lista completa está aqui. A agência, porém, recomendou que os paciente que têm unidades desses lotes não interrompam o tratamento. (g1)
Cultura
Quando, após a segunda temporada de Umbrella Academy, da Netflix, o ator Elliot Page declarou-se um homem transgênero, alguns fãs ficaram preocupados. Como ficaria Vanya, personagem feminina que ele interpretou até então – e uma das mais importantes da trama? O mistério acabou esta semana, com a estreia da terceira temporada, e a produção da série mostrou muita sensibilidade. No segundo episódio, Vanya diz que não pode “continuar numa caixa”, faz uma mudança de visual e se apresenta aos irmãos como Viktor. “Nah, tudo bem por mim”, diz Diego. “Fico feliz por você”, completa Cinco, e a história segue. Page revelou que os roteiristas contaram com a ajuda do escritor e jornalista Thomas Page McBee, também um homem trans, para desenvolver a mudança no personagem. “O resultado é algo do qual eu me orgulho, e que eu estou animado para que as pessoas vejam”, disse o ator. (Omelete)
A produção do festival Eurovision reiterou ontem que a Ucrânia não tem condições de segurança para sediar a edição de 2023 do evento, que deve ser transferido para o Reino Unido. A iniciativa havia sido anunciada na semana passada e provou um protesto do ministro ucraniano da Cultura, Oleksandr Tkachenko, para quem a mudança prejudicaria o país. A Ucrânia venceu a edição deste ano com a canção Stefania (YouTube), da Kalush Orchestra, e, pela tradição, sediaria a edição seguinte. Em nota, a produção disse “compreender o desapontamento” do ministro, mas ressaltou que o planejamento da próxima edição já deveria estar em andamento e que a guerra na Ucrânia impede esse trabalho. (Guardian)
Diagnosticado com covid-19, Roberto Carlos adiou o show que faria no dia 29, no Rio, remarcando-o para 20 de julho. Ele já havia transferido uma apresentação prevista para a última quarta. O cantor, de 81 anos, começou a apresentar sintomas durante uma temporada de shows na Bahia, encerrada no dia 12. Mas também há boas notícias. Roberto tem três músicas inéditas prontas para lançamento, compostas durante a quarentena e gravadas em seu estúdio. (Globo)
E os Rolling Stones voltaram à estrada após Mick Jagger se livrar da covid-19 – corre o boato de que o vírus teve medo de se aproximar de Keith Richards. Esta semana, os veteraníssimos ingleses enlouqueceram 57 mil pessoas em Milão, num show em homenagem ao baterista Charlie Watts, que morreu em agosto do ano passado, aos 80 anos. (Estadão)
Cotidiano Digital
A Netflix anunciou ontem que demitiu cerca de 300 funcionários. É o segundo corte este ano – em maio, a empresa demitiu em torno de 150 empregados no mundo. Com isso, o total chega a 450 pessoas. A decisão ocorre após a plataforma ter registrado a primeira queda de assinantes em mais de uma década. Segundo um porta-voz, as demissões afetam “muitas equipes diferentes” e principalmente pessoas dos Estados Unidos, mas também abrangem cargos de outros países. “Enquanto continuamos a investir significativamente no negócio, fizemos esses ajustes para que nossos custos estejam crescendo em linha com o crescimento mais lento de receita". (The Verge)
A Amazon revelou ontem um recurso experimental que permite à sua assistente de voz Alexa replicar uma voz humana específica, inclusive de parentes falecidos de usuários. O sistema, que usa inteligência artificial, é capaz de imitar qualquer voz depois de ouvir menos de um minuto de áudio. Segundo a empresa, o objetivo é “fazer as memórias durarem” depois que “muitos de nós perdemos alguém que amamos”. A nova ferramenta está atualmente em desenvolvimento, mas ainda não há previsão de quando será lançada para o público. (Estadão)
Meio em vídeo. Hoje o Pedro+Cora é sobre o futuro da tecnologia. Cora Rónai está em Chicago, tem muita novidade por lá que ainda não pode ser contada, mas ela fala o que está sendo assunto constante na lá fora: a realidade aumentada! E ela está mais perto do que imaginamos! (YouTube)
