Planalto vence no Senado e aperta Câmara

De um lado da internet, elas foram tratadas como heroínas. Do outro, autocratas com vocação ditatorial. Durante seis horas, as senadoras Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann, Lídice da Mata, Vanessa Grazziotin e Regina Sousa ocuparam as cadeiras da mesa diretora para impedir que o presidente do Senado, Eunício de Oliveira, desse início à sessão para votar a reforma trabalhista. Foram o tema do dia nas redes sociais. Eunício cortou o som e a luz do plenário para demovê-las. Elas almoçaram ali mesmo, sentadas à mesa. Ao fim do período, a sessão foi aberta, e a reforma, aprovada por 50 votos contra 26.

Num determinado momento, sugeriu-se a Eunício que desse início à votação no auditório do Senado. “Jamais faria isso. Abriria um precedente. Deixa elas lá comendo marmita. Nesses três dias, não é possível que não saiam de lá.” (Estadão)

Saiba como cada senador votou.

Parte do acordo do governo com os senadores para aprovar a reforma foi que mudaria o texto, por Medida Provisória, tirando seu rigor. Pois o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou que vai engavetar a MP. “Não participamos de nenhum acordo”, disse. “Queremos reformar o Brasil, chega de mentiras”, reafirmou. Em campanha para o mercado. (Folha)

José Pastore: “O que vemos é que os pobres constituem maioria dos desempregados e desprotegidos pela lei. O primeiro grupo tem a ganhar com a reforma, mas é disperso — constitui uma maioria silenciosa.” (Estadão)

José Dari Krein, Unicamp: “Nunca houve avanço tão grande sobre os direitos trabalhistas. Você tem às vezes medidas pontuais, mas essa reforma é uma desconstrução completa do nosso código de trabalho. Você vai fragilizar a regulação geral em nome da negociação particular por setores.” (Folha)

Em tempo: obstruir uma votação parlamentar quando se está em minoria não é necessariamente antidemocrático. Em março de 2016, parlamentares da oposição sul-coreana encadearam-se em discursos falando por 192 horas sem interrupção. Como em vários parlamentos não se pode votar antes que todos os membros se pronunciem, esta prática — fillibuster, em inglês — é adotada. Com frequência, adia-se por horas e até por dias um voto, mas não se vira o jogo. A prática é recorrente nos EUA e no Reino Unido. Quem está na maioria sempre reclama. Como há limites de tempo para discursos no parlamento brasileiro, fillibusters não são possíveis. Mas postergar à força o voto, por um tempo, é uma maneira de a oposição deixar clara sua repulsa ao resultado que está por vir. Bastião liberal britânico, The Economist conta a história da prática que vem de Roma.

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O Palácio do Planalto começou a agir com intensa agressividade na CCJ para reverter o quadro desfavorável ao governo. Já foram dez as trocas de parlamentares na comissão, mudando os juízes com o critério do voto que darão. A estratégia foi considerada legal pelo Supremo, mas é questionada pela oposição. Nas contas do governo, as trocas lhe garantem pelo menos 34 votos favoráveis — metade mais um do total de 66.

Mas... nas contas do Estadão, o jogo não está ganho ainda. 20 deputados se declararam pró-Temer, 20 contra e outros 26 votos estão no ar. Segundo O Globo, são 23 votos contra Temer e 22 a favor.

Em tempo: em 2003, Lula fez 21 trocas na CCJ para aprovar uma reforma da Previdência. (Estadão)

A pressão é também sobre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O deputado sentiu que se expôs demais nos últimos dias, principalmente quando vazou sua previsão de que se Temer não cair nesta denúncia, cairá na próxima. O governo cobra dele rapidez. (Folha)

O objetivo do governo, segundo Lydia Medeiros, é derrubar a denúncia no plenário ainda semana que vem, antes de o procurador-geral da Justiça, Rodrigo Janot, apresentar outra. A intenção de Temer não é apenas vencer. Quer vencer com folga para demonstrar força e garantir alguma gordura para as batalhas seguintes. (Globo)

E... Está para sair a segunda denúncia de Janot. A um grupo de deputados do PSOL, disse ter encontrado “forte materialidade” para argumentar que o presidente tentou obstruir a Justiça.

Saiu antes na coluna de Lauro Jardim, agora Josias de Souza detalha: DEM e PSB estão planejando se juntar. Da união entre o tradicional partido da esquerda e a sigla da direita, os articuladores esperam criar um ‘centro democrático’. Aos dois se juntaria o PSD de Gilberto Kassab. Uma legenda nova abriria espaço para muitos políticos insatisfeitos com seus partidos.

O ministro Helder Barbalho, da Integração Nacional, foi à Justiça para impedir que um jornalista do Pará entre em seu perfil no Facebook. Acusa-o de publicar ofensas contumazes.

Já nos EUA... usuários do Twitter processam @realDonaldTrump. Acusam-no de bloquear quem o critica argumentando que ao presidente da República não é facultado o direito de ignorar críticas. Por mais contundentes que sejam.

Cultura

Enquanto isso, nos cinemas… O filme sobre a Operação Lava Jato ganhou seu primeiro trailer. Polícia Federal — A Lei É para Todos, com estreia prevista para 7 de setembro, tem Antonio Calloni no papel do juiz que coordena a força-tarefa das investigações em parceria com o Ministério Público. As filmagens foram realizadas no Paraná — mas o juiz protagonista, segundo o Globo, não é Sérgio Moro.

Enquanto isso, nos cinemas americanos… O filme River of Fundament, sobre a desilusão com a América, exibirá nas telas “um rio de fezes transbordante”, relata o repórter Silas Martí, na Folha. O longa, para estômagos fortes, é obra de Matthew Barney, prestigiado artista contemporâneo. Aos interessados, um adendo importante: o filme tem duração de quase seis horas.    

A lendária Motown, que outrora lançou gigantes como Marvin Gaye, Stevie Wonder e Jackson 5, amargava décadas sem brilho (e com crise), desde os anos 1980. Agora, parece dar a volta por cima. Com três jovens artistas, a gravadora que um dia ostentou o título de “o som da jovem América” voltou a atrair a juventude. A revista Rolling Stone traça sua trajetória, do esplendor à crise — e, quem sabe, de volta ao esplendor. 

Para ouvir: no Spotify, os três jovens cantores da “retomada” da Motown — Kevin Ross, La'Porsha Renae e BJ the Chicago Kid

Eis mais uma lista da Billboard — desta vez, das cem melhores músicas dos chamados “girl groups” desde os anos 1950.  E o primeiro lugar foi para: Be My Baby, lançada em 1963 pelas garotas do The Ronettes. Entre os dez melhores colocados, claro, aparecem Spice Girls e Destiny's Child.

Ouça/veja, no YouTube, a primeira do ranking, Be my Baby.

Stranger Things, a série oitentista da Netflix, já tem data para voltar ao serviço de streaming — 27 de outubro. Os episódios da segunda temporada vão se passar em dias próximos ao Halloween do ano de 1984. 

Escritor e autor de brilhantes textos sobre fotografia no New York Times, Teju Cole parte das imagens que fez de sua avó para tratar do papel das fotos no luto: “Para permanecer perto de nossos mortos, guardamos imagens deles. Fazemos isso há milênios. (…) Mas na maioria dos lugares e na maioria das vezes, o retrato só estava disponível para as elites. A fotografia mudou isso. Quase todos são capturados em fotografias — e sobrevivem nelas. As fotografias estão lá quando as pessoas morrem. Servem como reservatórios de memória e como talismãs para o luto.”

Viver

Uma sexta extinção em massa está em curso, aponta estudo. Após analisar espécies por todo o mundo, cientistas constataram que bilhões de populações regionais de animais já desapareceram. A pesquisa tem tom alarmista - algo raro entre os sóbrios artigos científicos — e se refere à perda da vida selvagem como uma “aniquilação biológica”. De fato, revela dados chocantes. Exemplo: mais de 50% de todos os animais desapareceram em décadas recentes.

A propósito: a girafa entrou para a lista vermelha de animais em risco de extinção. A população do bicho mais alto do mundo caiu 38% desde 1985. Existiam, então, 157 mil. Hoje, são menos de 100 mil as longilíneas do mundo selvagem.

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Quais são os países mais ‘preguiçosos’ do mundo? Um estudo da Universidade de Stanford coletou dados de smartphones por todo o globo para saber o quanto caminham seus usuários. A média mundial é de 4.961 passos por dia. O brasileiro, diga-se, anda menos que isso.

Para os que (ainda) não entenderam palavras como ‘sororidade’ e ‘mansplaining’, ou expressões como ‘cultura do estupro’, o El País ensina. Trata-se de vocabulário obrigatório para compreender (e abraçar) o feminismo.

Em 93 de cem dias letivos deste ano ao menos uma escola municipal do Rio de Janeiro suspendeu as aulas devido à violência - em especial, os tiroteios frequentes nas redondezas das instituições. Segundo a Folha, 129 mil alunos foram prejudicados. Com o rombo nos cofres públicos do Rio, a cidade vive em estado de tensão — e sem política pública de segurança definida.

Cotidiano Digital

Para ler com calma: Joe Shaw (do Oxford Internet Institute) e Mark Graham (do Internet Archive) publicaram um livreto (PDF, Kindle ou outros formatos) com artigos a respeito da gig economy — economia dos ‘biscates’, apelido em inglês para o novo tipo de emprego baseado em apps como o Uber. Os artigos discutem sindicalização, como garantir uma renda mínima e impedir que uma boa ideia não represente o fim de direitos essenciais do trabalhador. Entre eles há a experiência de duas greves – uma de motoristas do Uber em Seattle, no início de 2015, e outra de entregadores do app britânico Deliveroo, em fevereiro deste ano. Outro debate é sobre os apps cooperativos: todos os que trabalham são também donos do negócio e, assim, em vez de taxas na casa dos 30%, pagam algo como 5% para manutenção da plataforma.

Hoje é dia de protesto na internet. Diversos sites estão planejando ações em defesa da neutralidade da rede, ameaçada pelo novo presidente da FCC (a Anatel americana). O governo Trump quer permitir que os provedores de banda larga possam aumentar ou diminuir a velocidade para sites e serviços da rede, de acordo com quem paga mais. O Vale do Silício é contra.

Ontem foi o Prime Day, dia em que a Amazon americana dá grandes descontos em sua loja. O campeão de vendas foi o Echo, assistente digital da empresa — que saiu por US$ 89,99, metade do valor típico.

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