Prezadas leitoras, caros leitores —

Uma crise internacional com toda cara de século 20 começou a tomar corpo nas últimas semanas, quando a Rússia decidiu reunir tropas próximo à fronteira com a Ucrânia.

Moscou parece planejar uma invasão. No mínimo, quer convencer o país vizinho e o mundo de que pode invadir.

A Ucrânia não faz parte da União Europeia nem da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN. Então sua invasão não dispara nenhum mecanismo diplomático que obrigue países europeus ou os EUA a partir em sua defesa.

Uma guerra não é obrigatória.

Mas a Ucrânia é um país europeu e, se à Rússia é permitido simplesmente invadir e anexar um país europeu, qual o limite? Se não há consequências, que tipo de recado um autocrata como o presidente russo Vladimir Putin recebe? Foi por impasses assim que tiveram início a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.

Quase 40% do gás europeu vem da Rússia. Para alguns países, como Estônia, Polônia e Finlândia, vem da Rússia mais de metade da energia que consomem diariamente. E a Rússia nunca deixou de ser um país imperial, muito ciosa daqueles que não consegue deixar de ver como seus satélites — entre estes, a Ucrânia.

Dos anos 1990 para cá, mesmo que os tratados não tenham sido assinados, a OTAN armou pesadamente a Ucrânia, e a União Europeia estreitou os laços econômicos. Do ponto de vista de Moscou, o país vizinho parece estar sendo usado para ameaçar o poder russo. Seu receio é de que, se não tomar uma atitude agora, mais tarde será tarde demais.

O que podemos esperar desta crise? O que a história ensina sobre como a Rússia atua? O que há, e sempre houve, de chave na posição geopolítica da Ucrânia?

Este é o tema da edição de Sábado do Meio. Uma edição especial que sempre tenta ir fundo para ajudar a compreender um aspecto do mundo em que vivemos hoje. Uma leitura agradável para o fim de semana.

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— Os editores.

CoronaVac liberada para crianças a partir de 6 anos

A imunização das crianças brasileiras contra a covid-19 já não depende mais somente de uma vacina, a Pfizer. Ontem a Agência Nacional de Vigilância Sanitária liberou o uso da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, para pessoas com mais de seis anos de idade. Desenvolvida pelo laboratório chinês SinoVac, a vacina tem a mesma fórmula e dosagem para crianças e adultos, o que permite a utilização dos 15 milhões de doses em estoque. O Butantan queria a liberação para crianças a partir de três anos, mas técnicos da Anvisa disseram ainda haver lacunas nos estudos sobre a efetividade e segurança para menores de cinco anos e imunossuprimidos. Na avaliação do infectologista Marco Aurélio Sáfadi, essa liberação deve acontecer em breve. (CNN Brasil)

Como nas decisões anteriores da Anvisa, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), correu e fez uma cerimônia simbólica para iniciar a aplicação da CoronaVac. Caetano de Jesus Moreira Graça, de 9 anos, foi o primeiro a receber a vacina no estado. Amanhã a prefeitura paulistana começa a imunizar menores de 11 anos sem comorbidades. Crianças de cinco anos receberão a Pfizer, enquanto as mais velhas contarão com a vacina disponível no posto de saúde. (g1)

Embora tivesse sinalizado que compraria a CoronaVac tão logo ela fosse liberada, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, evitou ontem se comprometer com a inclusão dela no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19 (PNO). Em redes sociais ele disse que “todas as vacinas autorizadas pela Anvisa são consideradas”, mas que aguardaria a decisão ser publicada no Diário Oficial. (Metrópoles)

Enquanto isso... O governo de São Paulo descartou a relação entre a vacina da Pfizer e a parada cardíaca sofrida por um menino de 10 anos em Lençóis Paulistas. O caso fez a prefeitura interromper a imunização de crianças na cidade. Segundo as autoridades sanitárias estaduais, uma equipe de dez especialistas concluiu que o garoto tem uma doença congênita rara, até então desconhecida da família. (Poder360)

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Uma investigação concluída na Alemanha e divulgada ontem afirma que o Papa emérito Bento XVI, de 94 anos, teve conhecimento de casos de abuso sexual contra crianças quando era arcebispo de Munique, entre 1977 e 1982, e não tomou providências. “Acreditamos que ele pode ser acusado de má conduta em quatro casos”, disse o advogado Martin Pusch. “Em dois deles, os perpetradores permaneceram ativos na pastoral.” Uma peça-chave da investigação foi a ata de uma reunião da arquidiocese em que uma das acusações foi apresentada. A ata indica a presença do arcebispo, que ainda atendia pelo nome Josef Ratzinger. O ex-pontífice, que abdicou em fevereiro de 2013, nega as acusações. Em 2019, ele escreveu um artigo polêmico atribuindo os casos de pedofilia à revolução sexual dos anos 1960. (CNN Brasil)

Meio em vídeo. O Brasil é um país profundamente racista. A política toda, não só o movimento negro, se tribalizou, se tornou identitária da esquerda à direita. Os dois são debates importantes demais para termos. Mas misturar os dois, fazer parecer que o problema do tribalismo é apenas do movimento negro e não de toda a política, faz o serviço de quem quer impedir os avanços de direitos civis no país. Confira no Ponto de Partida. (YouTube)

Retórica reversa

Orlando Pedroso

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Política

Morreu na madrugada de hoje, aos 94 anos, Olinda Bonturi Bolsonaro, mãe do presidente Jair Bolsonaro. Ele próprio, que está em viagem ao Suriname, fez o anúncio em redes sociais e comunicou que está voltando ao Brasil. Ela estava internada desde segunda-feira no Hospital São João, em Registro (SP). A família não informou a causa da morte. (g1)

As intenções de voto no ex-presidente Lula (PT) estão tecnicamente empatadas com a soma de todos os adversários, o que indicaria a possibilidade de ele vencer no primeiro turno, segundo pesquisa divulgada ontem pelo PoderData. Presente em levantamentos de outros institutos, é a primeira vez que esse cenário aparece nessa pesquisa. Na simulação de primeiro turno, Lula tem 42%, seguido do presidente Jair Bolsonaro (PL) com 28%, Sérgio Moro (Podemos) com 8%, Ciro Gomes (PDT) com 3%, João Doria (PSDB) e André Janones (Avante) com 2% e Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB) com 1%. Somados, os adversários de Lula têm 45%, mas a diferença de três pontos está dentro da margem de erro. Nas simulações de segundo turno, Lula vence todos os adversários, com a menor diferença, 22 pontos, no confronto com Bolsonaro, 54% a 32%. Sem o petista no segundo turno, Bolsonaro aparece em empate técnico com Ciro e Moro. (Poder360)

O ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) voltou as baterias contra o ministro Gilmar Mendes, que se converteu de entusiasta a crítico da Lava-Jato. Em entrevista no YouTube a Felipe Moura Brasil, Moro disse que Gilmar “erra muito ao se despir do papel de magistrado” e proferir “essas decisões que afetam o combate a corrupção”. O ministro foi o relator do processo que culminou com Moro sendo declarado suspeito e suas decisões em relação ao ex-presidente Lula anuladas. Sobre o petista, aliás, o ex-juiz foi taxativo: “Ele foi lá cumprir a pena, onde ele deveria estar até hoje: cumprindo essa pena”. (UOL)

Então... Moro tem conversado avidamente com Luciano Bivar, presidente do União Brasil, partido que juntou PSL e DEM. Ele pode, informa Lauro Jardim, deixar o Podemos em breve na busca de uma legenda com maior densidade para disputar a presidência. (Globo)

Não encontrará resistência de Álvaro Dias, cacique do Podemos. Dias vinha resistindo a ideia, mudou. “Cabe ao Moro responder, sem se preocupar conosco”, comentou com Guilherme Amado. Sua sigla indicaria a vice da chapa. (Metrópoles)

Havia rachadinha nos gabinetes de Jair Bolsonaro e seus filhos, mas eles não sabiam de nada. Essa é a versão relatada à repórter Laryssa Borges por Waldir Ferraz, o Jacaré, ex-assessor e um dos amigos mais antigos e próximos do presidente. Segundo ele, o esquema de desvio de salários de funcionários dos gabinetes de Bolsonaro na Câmara e de seus filhos Flávio, na Alerj, e Carlos, no Legislativo carioca, era obra de Ana Cristina Valle, segunda mulher do presidente. “O Bolsonaro deixou tudo na mão dela para ela resolver. Ela fez a festa”, disse, afirmando ainda que ela chantageia o presidente até hoje. Ana Cristina nega. “Não sou mentora da rachadinha. Quem assina as nomeações e exonerações é o parlamentar. Não faz sentido assinar sem ler”, diz. (Veja)

Cultura

“De que planeta você veio”, indagou Ary Barroso em 1953, ironizando a aparência de uma cantora negra e pobre em seu programa Calouros em Desfile. “Do Planeta Fome”, respondeu Elza Soares (Spotify), então com 23 anos. Essa irreverência, somada ao talento incomum, marcou uma longa carreira que se encerrou ontem, com a morte da cantora, aos 91 anos. Elza não estava brincando na resposta a Ary. Àquela altura já era viúva, perdera para a desnutrição dois filhos recém-nascidos e tivera outra sequestrada — só a reencontraria 30 anos depois. Mas o sonho de cantar era maior. O sucesso viria em 1959, com o samba Se Acaso Você Chegasse (Spotify). Graças à experiência como crooner nos anos 1950, Elza também dominava o jazz e a Bossa Nova, e logo era uma artista reconhecida internacionalmente. Ao longo dos anos 1970, emplacou sambas tradicionais de sucesso, como Salve a Mocidade (Spotify), mas entrou na década seguinte no ostracismo. Voltou aos holofotes graças a Caetano Veloso, com quem cantou Língua (Spotify), do álbum Velô, de 1984. Em 1999, a BBC inglesa a escolheu A Voz Brasileira do Milênio. Era suficiente? Não, Elza manteve intensa produção, interagindo com artistas de todos os estilos e gerações. “Eu sempre quis fazer coisa diferente, não suporto rótulo, não sou refrigerante”, brincava. Lançou seu último trabalho em 2019, chamado exatamente Planeta Fome (Spotify). “O negócio é caminhar. Eu caminho sempre junto com o tempo”, dizia. Segundo a família, ela morreu em casa, de causas naturais. (g1)

Elza produziu até o fim. Literalmente. Dois dias antes de morrer gravou um DVD de memórias e ainda deixou prontos dois documentários e um álbum de canções inéditas falando da crise política brasileira, previsto para agosto. “Elza queria lançar este álbum antes da eleição presidencial, e a vontade dela será cumprida”, diz Pedro Loureiro, empresário da cantora. (Folha)

“Deusa”, “guerreira, “gigantesca”. Com palavras assim, todas justas, fãs e colegas usaram as redes sociais para lamentar a morte da estrela. (UOL)

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, decretou luto oficial de três dias pela morte da cantora, e o governador Cláudio Castro ofereceu o Theatro Municipal - que, apesar do nome, é do estado - para o velório. (Metrópoles)

Ponto final. Elza morreu no mesmo dia, exatos 39 anos depois, de Mané Garrincha, craque das copas de 1958 e 1962, com quem foi casada entre 1966 e 1982 e que sempre considerou seu grande amor. (g1)

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Outra perda foi a morte na noite de ontem do cantor e ator americano Meat Loaf (Spotify), aos 74 anos. Em seis décadas de carreira, o artista, que nasceu Marvin Lee Aday, vendeu mais de cem milhões de discos, a maioria de sua opus magna Bat Out Of Hell (Spotify), de 1977 – até hoje são vendidas 200 mil cópias do álbum por ano. Foi um sucesso improvável, um disco cuja faixa título tinha quase dez minutos (Spotify e YouTube ao vivo) e foi tocada em todas as rádios. Mas ele era um rock star improvável, obeso a ponto de adotar como nome artístico o cruel apelido “Bolo de Carne”. Começou como ator de teatro, fazendo The Rocky Horror Picture Show tanto nos palcos quanto na versão cinematográfica de 1975, e atuou também em Clube da Luta, de 1999. Foram 12 álbuns e mais de 50 participações em filmes e programas de TV, além da inspiração para todos os meninos gordinhos que algum dia sonharam com o estrelato. (New York Times)

Para viver a protagonista de seu curta Uma Paciência Selvagem Me Trouxe Até Aqui (trailer), a cineasta e militante LGBTQIA+ Érica Sarmet queria uma atriz lésbica ou bissexual assumida na faixa dos 50 anos. “A gente tinha até feito piada. Estava superdifícil encontrar atriz assim, mas cantora tinha um monte, né?”, conta Sarmet. E foi a solução. Zélia Duncan ficou com o papel e contracena com Bruna Linzmeyer no filme, selecionado para o Festival Sundance, que começou ontem. Um dos desafios da diretora foi filmar uma cena de sexo entre (várias) mulheres que fosse excitante, “mas sem recorrer a esses enquadramentos machistas e a certos códigos da pornografia”. (Folha)

Além de apelido de um personagem de Aldir Blanc e (por isso) nome de um bloco carioca, “simpatia é quase amor” foi o passaporte dos Beatles (Spotify) para o sucesso. Viralizou no Twitter um vídeo no qual George Martin (1926-2016), produtor dos Fab Four, conta para a netinha seu primeiro encontro com a banda. “Quando ouvi o que eles estavam fazendo, me parecia bom, mas não brilhante”, diz ele. “Mas a magia veio quando eu comecei a conhecê-los, porque eles eram pessoas extraordinariamente boas. Se eu sentia isso, os outros também sentiriam, e isso os tornaria bastante populares”. Encantado com os rapazes, Martin produziu o single Love Me Do (Spotify), e, bem, o resto é História. O vídeo foi publicado pelo também produtor Giles Martin, filho do “quinto Beatle”. (Estadão)

Cotidiano Digital

A tecnologia 5G já está aí para revolucionar a forma como a internet se integra a nossas vidas. Mas não para todos. No Brasil, somente 1% dos municípios já têm leis que viabilizem a implementação da tecnologia. Um dos principais problemas é a legislação de instalação de antenas. “Como a nova tecnologia precisa de cinco vezes mais antenas que o 4G, a infraestrutura existente pode não ser suficiente para todas as fases futuras”, explica Luciano Stutz, presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura para Telecomunicações (Abrintel). Entre as capitais, somente Rio, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Palmas e Porto Alegre já adequaram a legislação. (CNN Brasil)

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