Prezadas leitoras, caros leitores —

De tempos em tempos, o que ocorre no país nos coloca perante a História. Nas eleições do próximo domingo viveremos um momento assim. O Brasil não decidirá apenas qual o presidente da República pelos próximos quatro anos. Decidirá também renovar ou não seu compromisso com o regime democrático fundado pela Constituição de 1988. É fundamental que Jair Bolsonaro saia derrotado em sua busca pela reeleição.

Se confiarmos nas pesquisas, e cá no Meio confiamos, tudo sugere que sim, ele perderá.

Fundamos o Meio a partir de uma visão a respeito do papel do jornalismo numa democracia. É preciso que exista uma estrutura independente do Estado capaz de apontar os problemas em qualquer governo e que possa trazer à tona os debates que nascem na sociedade. A transformação digital do mundo exige que uma nova forma de jornalismo nasça, um jornalismo capaz de se encaixar nos novos hábitos que as pessoas criam. Esta é nossa missão.

Num momento como este, essa missão exige de nós três posicionamentos.

O primeiro é a rejeição incondicional de qualquer candidato que mantenha sob ataque as instituições da democracia. Este é o atual presidente da República.

A segunda decisão é mais difícil: como nos posicionarmos a respeito do legítimo debate que consome o país sobre se o melhor, para a democracia, não seria uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) logo no primeiro turno.

O jornalismo pode ter muitos papeis. Alguns acreditam que ele deve ser engajado ideologicamente, que deve ter partido e tomar partido. Não é como nós entendemos. Temos um viés, sim, um prisma pelo qual enxergamos o mundo: o dos fundamentos mais radicais da liberal-democracia. Mas este mesmo prisma exige reconhecermos que mais de uma visão ideológica tem legitimidade para disputar seu espaço no debate público.

Não parece razoável acreditar que Ciro Gomes (PDT) ou Simone Tebet (MDB) tenham chances de chegar ao segundo turno. Mas ambos representam, no trabalhismo nacional-desenvolvimentista de Ciro e no social-liberalismo de Simone, tradições de pensamento com amplo lastro histórico em nossa Democracia. São vozes que devem estar presentes nas conversas que temos sobre o futuro.

Entre nós, na equipe, alguns consideram que um segundo turno reforça o debate de visão de país e pode ter influência sobre como Lula governará. Este debate não aconteceu durante a campanha. O candidato do PT, até pela necessidade de construir uma frente ampla de apoiadores dos mais diversos espectros ideológicos, escolheu não detalhar seu plano de governo.

Mas há também alguns entre nós que, como muitos brasileiros, querem ver logo o fim do pesadelo bolsonarista. Que consideram mais difícil questionar as eleições de primeiro turno, quando bem mais de mil candidatos para outros cargos sairão vencedores, do que o pleito na segunda volta.

Respeitamos o dilema internamente. No fim das contas, a conclusão nasce de uma avaliação pessoal que cada eleitor deve fazer sobre o tamanho do risco à democracia que um Bolsonaro derrotado possa representar. Não temos dúvida de que, no segundo turno, o voto em Lula é o voto certo a ser dado por qualquer democrata. No primeiro turno, o princípio da democracia exige considerarmos que cada pessoa deve fazer seu próprio julgamento.

O que nos leva à terceira decisão que nossa missão impõe. Fazemos, cá no Meio, jornalismo independente. Há uma democracia cambaleante para ser reconstruída a partir do ano que vem, com a posse do novo presidente. Estaremos do lado das forças desta reconstrução e, no caso do jornalismo, isto quer dizer que estaremos no papel de quem põe um olhar crítico. Críticos leais. Críticos a qualquer governo de qualquer partido.

A missão do jornalismo nunca é ser governista.

Mas certamente estaremos tranquilizados de que o combate à fome será priorizado, assim como a preservação do Meio Ambiente e o bom senso de usar o conhecimento científico como critério de decisão nas políticas públicas. Poderemos, enfim, voltar à racionalidade do debate.

Neste sábado, os assinantes premium receberão uma edição especial que traz um retrato do Brasil que vai às urnas. Que perfil eleitoral temos e que grupos, na sociedade, definirão este pleito? Já temos estas respostas.

E, no domingo desta eleição, estaremos em live permanente até que o resultado saia, em nosso canal do YouTube. Estaremos no ar a partir das 17h. Os editores Pedro Doria e Flávia Tavares, acompanhados dos colunistas Mariliz Pereira Jorge e Christian Lynch, comandarão uma conversa permanente com entradas frequentes de nossos repórteres em Brasília, direto do TSE. Toda a equipe estará trabalhando.

Assine o Meio.

Nos ajude na missão de construir um novo jornalismo, inteligente e ao mesmo tempo conciso, bem-humorado e independente, para este novo tempo digital. Quando um veículo é financiado por seus leitores, ouvintes e espectadores, a independência é garantida.

— Os editores.

Após debate baixo, Brasil vai às urnas decidir se dá a Lula vitória no 1º turno

Considerado o último evento capaz de determinar se a eleição presidencial será decidida no primeiro turno, o debate (veja a íntegra) realizado na noite de ontem pela TV Globo foi marcado por troca de acusações, protagonismo de candidatos nanicos e um número incomum de direitos de resposta concedidos. Logo no início, respondendo a uma pergunta do Padre Kelmon (PTB), que mais uma vez atuou como sua linha auxiliar, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ataques pesados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem chamou de “chefe de uma grande quadrilha”. A ofensa deu início a uma sequência de direitos de resposta, na qual Lula prometeu revogar todos os decretos de Bolsonaro impondo sigilo de 100 anos a informações sobre seu governo. Lula também obteve direito de resposta quando Bolsonaro, em pergunta a Simone Tebet (MDB), o chamou de “mentor” da morte, em 2002, do prefeito petista de Santo André Celso Daniel. A senadora reclamou com o presidente: “Eu acho que falta ao senhor coragem de perguntar isso ao candidato do PT. E vamos tratar do Brasil. Vamos tratar dos reais problemas”, disse Tebet. A constante troca de direitos de resposta entre Lula e Bolsonaro também foi criticada pela senadora Soraya Thronicke (União Brasil). “Enquanto eles brigam, a boiada passa. Enquanto eles brigam, nos distraindo, o Brasil passa fome, o Brasil ainda encara escândalos de corrupção”, disse ela, que protagonizou um dos momentos cômicos da noite ao se confundir com o nome de Padre Kelmon e chamá-lo apenas de “candidato Padre”. A corrupção foi um tema recorrente, com Ciro Gomes (PDT) dizendo que deixou o ministério de Lula “por conta das contradições graves de economia [...] e, mais grave ainda, das contradições morais”. Ele também questionou Bolsonaro sobre o “Orçamento secreto” e outras denúncias contra seu governo. Felipe D’Ávila (Novo) e Lula discutiram as políticas de cotas, e o petista ainda se envolveu em um embate com Padre Kelmon, a quem chamou de “candidato-laranja”. (g1)

Destaque no debate, não necessariamente de forma positiva, o Padre Kelmon tem sua condição de sacerdote contestada pela Igreja Ortodoxa do Brasil, cuja indumentária ele usa em suas aparições. Em documento, a denominação diz que o candidato jamais foi seminarista ou obteve títulos em seu clero. Kelmon reage com uma declaração da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru de que ele é “pároco interino sediado no Vicariato Episcopal do Brasil”. (UOL)

O “candidato Padre” foi tema da maioria dos memes que tomaram a internet com o debate ainda em andamento. (Poder360)

O que foi verdade, o que foi mentira e o que estava no meio do caminho nas afirmações dos candidatos. (Aos Fatos)

Thomas Traumann: “Líder nas pesquisas na margem de erro para vencer as eleições no primeiro turno, o ex-presidente Lula desperdiçou a oportunidade de conquistar indecisos no debate da TV Globo. Alvo de quase todos os adversários, Lula bateu boca com Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e Felipe D’Avila e perdeu a compostura ao cair na provocação do candidato Kelmon (PTB), que se apresentou no evento com vestes de sacerdote.” (Globo)

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O presidente Jair Bolsonaro (PL) compartilhou em grupos de mensagens ontem o texto de um blog dizendo que uma ruptura institucional “está por um fio”. O blogueiro, identificado como Zé Aparecido, comenta uma entrevista do desembargador e ex-vice-presidente do TRE-DF Sebastião Coelho com críticas aos ministros do STF. O trecho destacado por Bolsonaro diz “Isto [a ruptura] está por um fio. Não importando a causa, quando o presidente não cumprir uma das ordens ilegais [do STF], aí as Forças Armadas terão que agir. E isso, ao que parece, não vai demorar”. (Poder360)

Em sua live de ontem, Bolsonaro subiu ainda mais o tom contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, a quem chamou de “moleque” e “patife” por conta da investigação sobre movimentações financeiras suspeitas de seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid. (Metrópoles)

Enquanto isso... Pela primeira vez, todos os sete ministros do TSE, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o presidente em exercício do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, vão acompanhar juntos a apuração na sede da Corte. O objetivo é mostrar unidade dos Poderes diante da possibilidade de contestação dos resultados pelo presidente Jair Bolsonaro e pelas Forças Armadas. (Estadão)

E o corregedor-geral eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, cobrou ontem do PL explicações sobre o uso de verba pública na elaboração de um relatório que, sem apresentar provas, questiona a segurança das urnas eletrônicas. (UOL)

Meio em vídeo. O tom dos ataques ao ministro Alexandre de Moraes e a postura durante suas lives mostram que Bolsonaro não consegue entender o que José Sarney chamou de “liturgia do cargo”, diz Cora Rónai em mais uma edição de Pedro+Cora. Confira. (YouTube)

A pesquisa Datafolha divulgada no fim da tarde de ontem trouxe uma amostragem diferente das anteriores. Em vez de incluir todas as respostas, o levantamento descartou votos brancos e nulos e eleitores indecisos, como faz o TSE ao apurar a eleição. O quadro revelado foi de estabilidade. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve os 50% dos votos válidos que tinha na semana anterior. Com a margem de erro de dois pontos, é impossível prever se a eleição será ou não decidida no primeiro turno. O presidente Jair Bolsonaro (PL) subiu de 35% para 36% dos votos válidos, Ciro Gomes (PDT) recuou de 7% para 6% e Simone Tebet (MDB) continuou com 5%. Com 85% dos entrevistados se declarando decididos quanto a seu candidato, o Datafolha não identifica um movimento significativo de voto útil. Na eventualidade de um segundo turno, aponta a pesquisa, Lula venceria Bolsonaro por 54% a 39%. (Folha)

Meio em vídeo. As pesquisas todas na reta final estão apontando um só movimento. Ciro Gomes está em queda e periga terminar atrás de Simone Tebet. Lula está em alta com chances de vencer no primeiro turno. Vai ser com emoção até o final. Confira a análise de Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)

Neymar divulgou ontem um vídeo para não deixar dúvidas sobre seu apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Na véspera, o jogador mandara uma outra gravação agradecendo a visita dele a seu projeto social em Santos, mas sem declarar voto. No segundo vídeo, ele aparece fazendo uma dancinha ao som de um jingle que pede votos para o presidente e faz 22, número de Bolsonaro, com as mãos. (g1)

No lado oposto, o ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto se tornou ontem o quinto ex-ministro da Corte a declarar apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em vídeo, ele declarou o voto dizendo que, diante do petista, “a democracia está certa de não sofrer o menor atentado”. Ayres Britto presidiu o Supremo durante parte do julgamento do mensalão e votou pela condenação de importantes nomes do PT, como o ex-ministro José Dirceu. (CNN Brasil)

O presidente russo Vladimir Putin assinou ontem dois decretos reconhecendo a independência das regiões ucranianas de Kherson e Zaporizhzhia, hoje em poder de suas tropas. Os documentos fazem parte de uma estratégia do Kremlin para a anunciar ainda nesta sexta-feira a anexação delas e das províncias separatistas de Donetsk e Luhansk, nas quais a Rússia patrocinou um referendo apontado como fraudulento para justificar a incorporação ao país. O governo da Ucrânia, claro, não reconhece as anexações e promete defender seus cidadãos nos territórios ocupados. (Guardian)

Pelo menos 17 pessoas já morreram em decorrência da passagem do furacão Ian pela Flórida. Os ventos e a chuva atingiram o estado na quarta-feira, com Ian rebaixado à categoria de tempestade tropical, mas ele ganhou força e voltou a ser um furacão. Segundo autoridades locais, áreas costeiras inteiras foram varridas do mapa, com prédios, embarcações e ancoradouros destruídos. O furacão voltou para o mar, onde está crescendo, e deve invadir a terra novamente, agora na Carolina do Norte. (CNN)

Porrada nas estrelas

Tony de Marco

TSE-e-o-cometa

Cultura

A atriz brasileira Letícia Colin foi indicada ao Emmy internacional – versão offshore do mais importante prêmio da TV americana – por seu papel na série Onde Está Meu Coração, da Globoplay. O Brasil também está representado na disputa por melhor novela com Nos Tempos do Imperador, da TV Globo, e melhor documentário com O Caso Evandro, também da Globoplay. Os vencedores do Emmy serão anunciados numa cerimônia em Nova York, no dia 21 de novembro. (g1)

Morreu na noite de quarta-feira o rapper americano Coolio, famoso internacionalmente pela canção Gangsta’s Paradise (Spotify), de 1995. Segundo o empresário do artista, Coolio estava na casa de um amigo em Los Angeles, foi ao banheiro, mas não voltou. Quando a porta foi arrombada, ele estava morto no chão. Artis Leon Ivey Jr., nome verdadeiro do artista, batalhava na cena rapper de LA desde os anos 1980, mas só estourou quando a citada Gangsta’s Paradise entrou na trilha sonora do filme Mentes Perigosas (trailer), estrelado por Michelle Pfiffer, que apareceu também no premiado clipe (YouTube). (UOL)

Na época, Coolio não gostou, mas seu hit rendeu uma das mais brilhantes paródias de “Weird Al” Yankovic, Amish Paradise. (YouTube)

Viver

Mesmo tendo sido prorrogado o prazo da Campanha Nacional de Vacinação, apenas 54% das crianças menores de cinco anos tinham sido imunizadas contra a poliomielite até esta quarta-feira, segundo informações do Ministério da Saúde. A meta era de 95% do público-alvo alcançado até esta sexta-feira, cerca de 15 milhões de crianças entre dois meses e cinco anos. Nenhum dos estados alcançou o objetivo, sendo a Paraíba com 86,82%, Amapá (82,85%) e Alagoas (74,65%) os que mais vacinaram. Roraima (23,17%), Acre (24,49%) e Rio de Janeiro (30,59%) foram os que menos imunizaram. Especialistas demonstram preocupação com uma possível volta da doença ao país, erradicada desde 1994. (Metrópoles)

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Dados da ONG Global Witness, divulgados nesta quinta-feira, mostram que o Brasil é o país que teve mais assassinatos de ambientalistas na última década. Foram 342 mortes de defensores do meio ambiente entre 2012 e 2021, quase 20% das 1.733 registradas em todo o mundo no mesmo período. Mais de 85% dos crimes foram na Amazônia, a maioria dos alvos eram indígenas e negros. Especialistas avaliam que o enfraquecimento dos órgãos de fiscalização ambiental e defesa dos direitos humanos durante o governo Bolsonaro tenha agravado esse cenário. (g1)

Pela primeira vez, os telescópios Hubble e James Webb voltaram suas lentes para registrar um mesmo objeto no espaço. Em imagens divulgadas nesta quinta-feira, é possível ver o brilho causado pelo impacto de uma sonda da agência espacial ao atingir propositalmente o asteroide Dimorphos, na missão DART, em um teste de defesa espacial realizado pela Nasa no começo desta semana. O objetivo da missão é alterar a trajetória do corpo celeste, que não corre risco de alcançar o planeta Terra. (g1)

Cotidiano Digital

Três anos após o lançamento, o Google anunciou nesta quinta-feira que vai encerrar o Stadia, plataforma de jogos em streaming da companhia. O serviço fica disponível para os usuários até 18 de janeiro de 2023. Segundo a companhia, o Stadia não teve o desempenho esperado: “O serviço não ganhou a tração que esperávamos, então tomamos a difícil decisão de começar a encerrar nosso serviço de streaming”, disse Phil Harrison, vice-presidente da plataforma. A empresa informou que irá realizar o reembolso de assinaturas e jogos adquiridos na loja Stadia, bem como hardwares que foram vendidos por meio da Google Store. (Estadão)

E a Meta, controladora do Facebook, vai congelar a contratação de funcionários em toda a empresa. O CEO da companhia, Mark Zuckerberg, disse em reunião com colaboradores nesta quinta que a Meta também vai reduzir o número de funcionários pela primeira vez, encerrando uma era de crescimento rápido na gigante de mídia social. Segundo o executivo, a empresa deve reestruturar algumas equipes para cortar despesas e realinhar prioridades. (Bloomberg)

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