Edição de Sábado: SXSW e os paradoxos da tecnologia

O super festival de cinema, música, tecnologia e inovação de Austin, o badalado South by Southwest, o SXSW, apresenta a cada ano caminhos que setores da economia devem percorrer diante de novas soluções criativas e inovadoras. Se há uma grande novidade tecnológica em estudo, sendo elaborada ou mesmo em fase inicial de execução, será aqui a sua apresentação. Em 2007, o Twitter foi lançado no SXSW. Em 2012, o Google exibiu em Austin o seu carro autônomo. Dois anos antes, Naveen Selvadurai divulgou aqui o Foursquare pela primeira vez. Este ano, embora muitos novos produtos tenham sido lançados na exposição “Indústrias Criativas” do festival, foi um modelo de visão de futuro apresentado pela futurista Amy Webb que mereceu mais atenção. Segundo ela, a internet como a conhecemos tem seus dias contados e as relações humanas vão mudar dramaticamente.

Webb fez a exposição mais concorrida do festival logo no segundo dia. O futuro que vê, de certa forma caótico e até mesmo catastrófico, é um cenário onde todas as inteligências artificiais vão interagir com dados de qualquer fonte em todo tipo de situação para criar novos conhecimentos. “Este é o fim da internet como a conhecemos.” Se o caminho para este futuro já está sendo percorrido há algum tempo, ele foi escancarado pelo ChatGPT, segundo Webb. O primeiro draft do GPT foi interrompido pelos seus criadores que o consideraram “muito perigoso para prosseguir”. Ainda assim, ele foi lançado pouco tempo depois. Para a futurista, neste novo mundo pós-internet, a vida pode até ser mais fácil para o indivíduo, mas vai criar dificuldades para empresas, sobretudo para as produtoras de conteúdo, encerrando a era da compra por meio de assinatura.

As pessoas serão muito mais guiadas pela inteligência artificial do que hoje. “Você nunca mais vai pensar sozinho”, disse Webb. Considerando que o centro do debate nesta edição do SXSW foi a interação do ser humano com a tecnologia, a frase da futurista é dramática, embora absolutamente razoável, já que basta um comando para se encontrar respostas — nem sempre as mais eficientes, é bom que se diga — para qualquer questão. O escritor e podcaster Tim Ferris resumiu ainda melhor o caos previsto por Webb na interação da inteligência artificial com a humana. “Não acredite em tudo o que você pensa”, disse no painel em que debateu com o economista Bill Gurley.

De fato, neste cenário provável, nem sempre o que você pensar será genuinamente uma ideia original sua. Portanto, desconfie. Pensar duas vezes, neste caso, significa entender melhor um problema, observá-lo de outros ângulos, procurar um ângulo seu. Mas pode também significar uma segunda resposta produzida por robôs. E esse é o caos que pode resultar em problemas graves no futuro, segundo Amy Webb. Pesquisa feita por ela mostra que 80% dos entrevistados temem por um futuro catastrófico se essas premissas de subserviência humana à inteligência artificial forem alcançadas.

Segundo a escritora Esther Perel, que também falou aqui, o que está em curso é a substituição das relações humanas pela interação entre inteligências artificiais e pessoas. O que a preocupa não são as conexões entre humanos e robôs, mas sim como a sua abundância diminui a expectativa de intimidade entre as pessoas. As relações entre pessoas, que estão cada vez mais efêmeras e tendem a se encolherem ainda mais num futuro bem próximo, causaram no SXSW mais debate do que soluções tecnológicas para determinados problemas.

Para a executiva Gianni Rometty, ex-CEO da IBM e autora do best-seller Good Power — Liderando mudanças positivas nas nossas vida, no trabalho e no mundo, o planeta será mais feliz quanto mais inclusivo for. Não há mais espaço para egoísmos, sobretudo nas relações de trabalho. Para ela, claro que a tecnologia e a inovação ajudam, mas é preciso rigor na hora de usar ferramentas como o GPT. “Se você jogar lixo para dentro, vai sair lixo”. É preciso se preparar, estudar, se dedicar para melhor aproveitar ferramentas como esta, até porque “crescimento e conforto jamais andam juntos”.

O fato é que todos os que olham para o futuro enxergam um antagonismo cada vez maior entre inteligência humana e artificial. O que se vê é um cenário de conflito permanente. Ou o aumento obsessivo da interação homem-máquina em detrimento das articulações interpessoais. Foi isso o que se debateu ao longo do festival em muitos painéis de diferentes abordagens para o mesmo tema. Ninguém apresentou alternativas, apenas o drama.

Talvez a solução para o conflito entre seres humanos e robôs se encontre numa recomendação feita pela atriz Tilda Swinton, que foi a keynote do quinto dia do festival. De acordo com ela, as pessoas perdem muito tempo e sofrem demais tentando identificar a si mesmas, buscando ferramentas externas, robôs, IA, que as ajudem na sua auto-identificação. “A vida é maior do que isso, seja delicado consigo mesmo.” Num painel de storytellers, a artista e conselheira pastoral Pamela Ayo Yetunde disse que o futuro da humanidade repousa na generosidade, na gentileza e na verdade. “Mesmo que você não consiga ser agradável com todos, todo o tempo, seja sempre verdadeiro”.

O choro do astronauta

Foi um homem de 91 anos que mostrou com mais clareza o caminho que os jovens devem tomar para melhorar as relações humanas e salvar o mundo. William Shatner, ator, diretor e produtor de cinema, escritor e músico, o capitão Kirk da série Jornada nas Estrelas, explicou ao público do South by Southwest porque chorou no voo que fez na espaçonave da Blue Origin, de Jeff Bezos. Ao olhar pela janela do foguete, de um lado ele viu a escuridão total, “como se fosse a morte”. Do outro lado, viu “aquela esfera tão frágil, tão azul, onde a vida é destruída sistematicamente a cada novo dia”.

O choro de Shatner na espaçonave foi televisionado e distribuído no mundo inteiro. Disseram que foi emoção em razão do primeiro voo orbital do capitão Kirk, o herói da série espacial dos anos 1970. Não era, explicou Shatner. Era tristeza, era o medo do fim, mas era também esperança. Ele disse que os jovens devem se inspirar em valores que preguem a natureza como solução, que preservem a biodiversidade, que reduzam o aquecimento global. Para isso, segundo ele, os meninos precisam estudar, porque não há excitação maior do que o da aprendizagem. “Jovens, inspirem-se. Estudem, sejam cientistas, salvem o mundo. Agora!”

Sua apresentação foi o maior espetáculo realizado no Ballroom D, o maior salão do centro de convenções de Austin. Por uma hora e meia ele eletrizou a audiência e deixou atônito o entrevistador Tim League. Foi charmoso, simpático, arrogante, inteligente e sobretudo engraçado. Além de intenso. Saiu aclamado do palco. Uma espectadora disse a uma amiga do seu lado: “Esse homem é incontrolável, você pode imaginar como seria estar casada com ele?”.

Não apenas pelos filmes que estão lançando, mas também para falar de vida e futuro, diversos atores andaram por aqui. Os melhores momentos de alguns deles:

- Robert Downey Jr: O Homem de Ferro moderou uma mesa sobre crimes online. E ouviu do ex-agente do FBI, especialista em crime cibernético, Eric O’Neill, que o mesmo temor que se tem diante da caminhada para a dominação da inteligência artificial deve-se ter pelo também provável colapso disso tudo através de ataques cibernéticos.

- Tilda Swinton: A atriz que disse não gostar de atuar, que preferia ser escritora, recomendou que as pessoas sonhem sonhos pequenos, sem grandezas inalcançáveis. “Sonhe o que você possa alcançar, em que você possa ir crescendo até chegar lá. E aproveite a viagem, divirta-se.”

- Eva Longoria: A atriz que veio apresentar sua primeira direção cinematográfica, Flamin’ Hot, disse que seu cinema não é branco, nem preto, fica no meio.

Salvando o mundo

Em diversos painéis do festival, a grande questão era entender de que forma indivíduos e comunidades devem enfrentar um futuro cada vez mais ameaçador, seja em razão de tecnologias que substituem até mesmo o pensamento livre, como antevê Webb, seja pela ação do próprio homem.

Dois painéis mostraram caminhos inovadores e criativos para ajudar a resolver os grandes problemas causados pelo homem.

O espanhol José Andrés, criador da World Central Kitchen, serviu nos últimos dois anos mais de 200 milhões de refeições para refugiados e desabrigados de guerras ou catástrofes ao redor do planeta. Sua exposição no SXSW serviu para mostrar que iniciativas que melhoram ou salvam a vida das pessoas são tão importantes que merecem e precisam ser discutidas em ambientes como esse.

O holandês Boyan Slat, criador do Ocean Cleanup, colaborou para retirar dos mares centenas de milhões de toneladas de lixo plástico nos últimos dez anos. Somente numa operação, entre o Havaí e a costa oeste dos EUA, o grupo retirou 21 milhões de toneladas de lixo. Segundo ele, grandes problemas exigem grandes soluções. Hoje com 28 anos de idade, Slat começou a aventura ambientalista quando num mergulho encontrou mais lixo do que peixes no fundo do mar.

Música e emoção

Dentre todas as centenas de shows realizados aqui, o mais importante e de maior audiência foi da veterana banda New Order. Nem todo mundo conseguiu assistir ao espetáculo. Houve música de diversos países e de diversos pontos dos EUA, até mesmo Os Mutantes deveriam tocar aqui na noite de sexta-feira, depois do fechamento desta edição.

Três integrantes do New Order (Bernard Sumner, Gillian Gilbert e Stephen Morris) participaram de um painel no dia seguinte ao show. Sumner fez dois comentários tão importantes quanto polêmicos. Disse que ninguém precisa ser virtuoso para fazer música, “basta saber três acordes e ter imaginação”. Depois, instigado sobre o tema de IA, fez a seguinte consideração: “A Inteligência Artificial pode criar música, mas jamais vai criar emoção”.

Mudanças demográficas

Em tempos de discussões sobre etarismo, um painel bem interessante discutiu as mudanças demográficas que estão por vir, chegando à óbvia constatação de que o mundo vai envelhecendo, inexoravelmente, e assim mudando muito o mercado de trabalho. Hoje, cinco gerações formam a força de trabalho formal no planeta. Outros dois dados relevantes: 1) o grupo, por faixa etária, que mais compra produtos Apple tem mais de 60 anos; 2) a idade média de compradores de carros nos EUA é de 53 anos.

Não seja drag, seja rainha

O painel que reuniu três das mais importantes drag queens dos EUA revelou que o preconceito contra gays, trans, drags e queers aumentou depois do governo Trump. Mais ou menos o que vimos no Brasil de Bolsonaro. Aqui em muita medida o preconceito é quase oficial. Há um número de projetos de lei tramitando no Congresso e nos estados americanos impondo restrições diversas à manifestações LGBTQIA+. A mais importante delas é a que proíbe shows de drags queens no território americano.

Sex Tech

A tecnologia, uma das principais motivações do festival, serve para tudo, inclusive para o sexo. No painel “O futuro do sexo”, conhecemos alguns novos equipamentos que buscam atender demandas tão urgentes quanto úteis. Uma delas é uma esponjinha com cabo que permite à mulher higienizar a vagina logo depois de um sexo casual, quando não tem onde fazer a limpeza adequada.

A outra é uma argola de material flexível apelidada de donuts, em razão do seu formato, que se encaixa no pênis para impedir sua inteira penetração. Você pode não saber, mas Byrone Cole, especialista em sex-tech, disse que 75% das mulheres sentem ou já sentiram dor na hora da relação sexual. Algumas se dão em razão da profundidade da penetração, daí a utilidade dos donuts.

Nancy Pelosi

A ex-speaker Nancy Pelosi veio ao SXSW para falar de política no futuro. Era mesmo um tema difícil. Tanto que ela quase não consegui sair do presente americano, para lá de complicado. Falou da violência política da qual seu marido foi vítima, das mentiras em escala industrial, do uso de Deus nas campanhas e dos ataques anti-democráticos, como na invasão do Capitólio. Parecia estar se referindo ao Brasil. Sua visão de futuro aponta para o mesmo caminho que teremos de percorrer, e foi explicado assim: “Quem vai salvar os Estados Unidos é a opinião pública”.

Ansiedade generalizada

Se você sofre de ansiedade, se não consegue ficar tranquilo enquanto não fizer tudo que precisa ser feito, recomendo que jamais venha ao super festival de música, cinema, tecnologia e inovação que ocorre uma vez por ano em Austin. Não há como não ficar ansioso e angustiado diante da avalanche de conteúdo disponível para quem participa do evento. A cada hora se realizam simultaneamente pelo menos 50 atividades nas muitas salas espalhadas pelo centro de convenções da cidade, pelos hotéis, cinemas e até em uma igreja presbiteriana, que abrigou shows musicais. O balanço deste ano vai ser apresentado domingo, mas o festival SXSW do ano passado, ainda impactado pela epidemia de Covid, teve 1.446 conferências, 583 exibições de cinema e 1504 shows musicais em oito dias.

Buscando o crachá

Num dos imensos salões do Centro de Convenções de Austin, uma fila de mais de 200 pessoas serpenteia o lugar. Embora seja gigante, maior do que a da Alfred Miami, a fila anda porque há 15 guichês para fazer o registro dos participantes do SXSW. Durante os dois primeiros dias, o salão foi um dos mais concorridos do festival.

Filas, aliás, são praticamente inevitáveis nos painéis mais importantes, nos shows e nos filmes. Algumas deram voltas nos corredores do centro de convenções. Outras desciam pelas escadas e voltavam a subir em caracol. A de Amy Webb foi do quarto andar até o térreo para depois subir outra vez. Ouvido de um participante: “se a fila for grande, entre que a coisa é boa”.

Fast track

Diante do volume de atividades e atrações do festival, alguém pode se sentir como se estivesse em um grande parque de diversões, como a Disney. Além das filas enormes, há um outro elemento que aproxima estes dois mundos, a fast track, ou a entrada rápida, que aqui foi batizada de SXXpress Pass. Consiste em se inscrever mais cedo para determinado painel e garantir entrada prioritária.

Presentes e jabás

Diversas empresas que se apresentaram aqui distribuíram presentes aos participantes dos eventos. Algumas exigiam trocas, como a Dolby, que só entregava seu jabá se a pessoa participasse de uma enquete sobre a empresa. Um dos presentes da Dolby era um vale refeição para um food truck estacionado do lado de fora. Incrível ver participantes com Platinum Badge de US$ 2 mil na fila da comida de graça. O Itaú, um dos patrocinadores master do evento, distribuiu alguns milhares de fones de ouvido sem fio.

Festas e happy hours

Havia festas e fins de tarde festivos para todos os gostos. Pelo menos duas por dia. Foram ponto de encontro e de continuação do debate para muitas pessoas. Hora de relaxar também.

Paulistanês

O número ainda não é conhecido, mas calcula-se em mais de dois mil os brasileiros presentes no SXSW. A nossa é a segunda maior população participante do festival. A maioria formada por paulistas da capital. Depois do inglês, o paulistanês foi a segunda língua mais ouvida aqui.

*Ascânio Seleme é repórter, correspondente, colunista e executivo de jornal. Ganhador de três prêmios Esso, foi diretor de Redação do 'Globo' e colunista de política no jornal. 

Do que se falou e o que se leu no SXSW

De Inteligência Artificial (IA) generativa e ChatGPT a criatividade, carros voadores, mudanças climáticas e inovação disruptiva com futuro do trabalho. Confira a nossa seleção com alguns dos principais tópicos discutidos no maior evento de inovação e tecnologia do mundo.

A Inteligência Artificial tem sido uma das grandes estrelas do South by Southwest (SXSW) nos últimos anos. Mas, em 2023, o tema ganhou atenção especial, principalmente com a popularização do ChatGPT. O robô gerador de textos virou uma obsessão global e tem pautado as conversas sobre tecnologia, economia, sociedade e o futuro da própria IA. Por isso, um dos painéis mais esperados da edição foi o do Greg Brockman, co-fundador e presidente da OpenAI, entrevistado pela jornalista Laurie Segall. Brockman falou sobre o potencial da IA de mudar o mundo para melhor, mas também admitiu que a tecnologia pode ser perigosa se não for desenvolvida com cuidado.

A futurista Amy Webb, como visto ali em cima, não compartilha dessa visão “otimista e realista” do CEO da OpenAI. A presidente do instituto Future Today levantou uma lista de preocupações enquanto falava das principais tendências para o futuro e anunciava “o fim da internet” como conhecemos. Algumas delas são a concentração de poder das big techs, os vieses da IA generativa, técnica por trás de ferramentas como ChatGPT, e o dilema ético dessa tecnologia. Essas e outras questões também estão no relatório Tech Trends Report do Future Today, que traz as maiores tendências de tecnologia para 2023 e para o futuro. O estudo cita também a IA generativa como uma tecnologia que estará presente em um número ainda maior de aplicações em diversas áreas, como saúde, legislação e finanças. Vale também ficar de olho nas previsões sobre computação quântica e 6G, metaverso e Web3. E já que o assunto é IA, esse outro estudo foca nas tendências para 2023.

O futuro da mobilidade também continua relevante no SXSW, com empresas do setor trazendo novidades. Nesta edição, os participantes se depararam de cara com o modelo do que, em alguns anos, serão os carros voadores da Eve, subsidiária brasileira da Embraer que desenvolve eVTOLs (aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical). A empresa apresentou o interior da cabine para mostrar como as pessoas serão transportadas no futuro. A cabine com interior em azul tem capacidade para levar cinco pessoas, o piloto e mais quatro ocupantes. O visual e outros detalhes você pode conferir neste vídeo. Os primeiros eVTOLs da Eve estarão prontos para decolar em 2026. E também teve Kyle Vogt, CEO da Cruise, unidade autônoma da GM, anunciando o lançamento do robô-táxi Origin.

No SXSW também é possível ver como criatividade, tecnologia e entretenimento podem ser combinados como o objetivo de transformar os negócios e até a nossa visão de mundo. O chairman da divisão de parques da Disney, Josh D’Amaro, sabe bem disso. O executivo falou sobre o processo de unir hospitalidade, criatividade e imaginação para criar experiências memoráveis aos visitantes. Dos personagens autênticos, passando por música e efeitos visuais para criar uma experiência envolvente: isso é a ciência da felicidade. Teve também Brooke Hopper, Lead Designer na Adobe, com foco em IA e machine learning. Ele abordou o impacto da evolução tecnológica na criatividade ao explorar o uso da IA generativa e as possibilidades (e desafios) do uso de determinadas ferramentas no processo criativo.

Mudanças climáticas, consumo e sustentabilidade também foram destaque. Ryan Gellert, CEO da Patagonia, falou sobre responsabilidade social, ESG e o compromisso do fundador de doar a empresa para combater mudanças climáticas. Recentemente, a companhia anunciou que 100% do lucro da empresa seria gerenciado por uma fundação voltada para ações ambientais. No painel, Gellert disse que o principal acionista da companhia passou a ser o planeta. Já o painel Climate Crisis vs. Consumer Culture: How We Shift abordou temas como consumo e ESG e a chamada “climate anxiety” (ansiedade climática), mais presente ainda na Geração Z.

Entre o boom do metaverso e as derrapadas da Meta em colocar a tecnologia no ar, muitos têm se perguntado se os mundos virtuais realmente vão vingar. Philip Rosedale, criador do game virtual Second Life, considerado um predecessor do metaverso, falou sobre o futuro do metaverso. O que falta para que ele se torne realmente parte das nossas vidas? Segundo ele, tudo isso também passa pela ética e a regulação.

E quando falamos sobre o futuro do trabalho, pensamos em robôs e Realidade Virtual (RV). Mas ainda no presente podemos já sentir os impactos que inovações disruptivas como ChatGPT e veículos autônomos têm nos empregos e nas pessoas — sem falar em contextos socioeconômicos, como a pandemia, a inflação, a recessão. Em Austin, Chris Hyams, CEO do Indeed, disse que a “tecnologia, no longo prazo, cria mais empregos”. No entanto, não é possível ignorar os riscos. Hyams comparou a criação de IAs auxiliares e generativas a nada menos que a criação da bomba atômica.

O mar não vê idade

Fazer faculdade após os 40, pode? Pode. E surfar? Também pode. O etarismo esteve na pauta na última semana, mas a vida real mostra que idade não é um limitador da vontade. Não é à toa que a decisão de se aventurar no mar pela primeira vez nessa faixa etária é cada vez mais comum. A imagem do surfe sempre esteve ligada a jovens, corpos sarados, bronzeados. Mas a busca pelo lado de fora, em um contexto pós-pandemia e de crescimento desse esporte cheio de ídolos no Brasil, tem levado homens e mulheres mais velhos a iniciar o desafio de deslizar em uma prancha.

As praias brasileiras estão repletas de escolinhas de surfe e bodyboard. Basta uma rápida caminhada na areia em uma manhã qualquer para ver dezenas de alunos dando os primeiros passos no surfe. O boom do esporte no país, que já abocanhou seis títulos mundiais da World Surf League e o primeiro ouro olímpico da história, ajuda a popularizar o surfe. Mas não é só isso: a vontade de se conectar com a natureza, de adotar um estilo de vida mais saudável, de superar desafios e de se aproximar da família também leva pessoas que nunca haviam tido contato com uma prancha a encarar as ondas.

Uma das pioneiras do bodyboard feminino no Brasil, Isabela Nogueira tem uma escolinha destinada a mulheres na Praia do Recreio, no Rio. A Belas do Bodyboard abriu sua primeira turma em outubro de 2021. Hoje, conta com 23 alunas, a maioria entre 40 e 60 anos. Uma delas, de 57 anos, levou a filha de 30 para o bodyboard. Outra, adolescente, levou a mãe, acima dos 40, para começar a surfar.

“Sem dúvida, a maioria é iniciante, está estreando. Algumas surfaram na adolescência, mas pararam há muitos anos e decidiram voltar agora, com mais tempo para si. Temos alunas aposentadas, mas a maior parte trabalha: vêm bem cedinho para a aula, depois correm para o escritório ou home office. Outras deixam os filhos na escola e depois vêm surfar”, conta a bodyboarder que já viajou o mundo surfando e segue competindo na categoria master. “Elas querem cuidar do corpo, mas sem ficar dentro de uma academia. É uma malhação divertida, com muita batida de perna e remada. Querem também enfrentar um desafio, ter um tempo para elas mesmas e trocar experiências com outras mulheres.”

O desejo de se aproximar da natureza, de se exercitar do lado de fora, de superar medos e de se divertir em família é o que move muitas desses iniciantes, segundo a ex-surfista profissional Andrea Lopes. Há dez anos, ela tem uma escola que leva seu nome na Barra da Tijuca. De seus quase 300 alunos, pelo menos 10% têm mais de 40 anos. A maioria chega ao esporte por meio dos filhos.

“O surfe é uma experiência adequada a todas as idades e tipos físicos. O que vemos, especialmente após a pandemia, é o aumento da vontade de fazer atividades do lado de fora. Muitos trazem os filhos e, ao ver a alegria deles, acabam se contagiando. Experimentam e não param mais. Nos EUA, o surfe sempre foi uma atividade de família”, explica a multicampeã, que hoje também treina a seleção brasileira feminina de surfe. “Além disso, com a pandemia, homens e mulheres buscam não só mais tempo ao ar livre, mas emoções bacanas e a superação de medos.”

A modelo e apresentadora Isabella Fiorentino descobriu o surfe aos 43 anos, em janeiro de 2021, quando a Covid ainda mantinha muita gente dentro de casa. A ideia inicial era tirar seus trigêmeos dos eletrônicos e conectá-los a um esporte ao ar livre. Ao assistir à primeira aula, decidiu tentar também. E não parou mais. Hoje, ela tem um perfil no Instagram dedicado apenas a sua paixão pelo surfe.

“O surfe não tem barreiras, idade, sexo, se você tem uma deficiência ou não, se você é gordo, se você é magro, se você é velho ou não. O surfe está aí para todo mundo”, afirma em um relato em vídeo. “O surfe tem um poder curativo. Quando você está na água, você esquece de tudo, você esquece de todos os problemas.”

Quem surfa quer as melhores ondas. Na busca pela perfeita, o público iniciante acima de 40 anos ajuda a movimentar o turismo para destinos como Bali, América Central, México e Califórnia. E aqueles que já estão no nível intermediário sonham com ondas perfeitas nas Maldivas e topam desembolsar cerca de R$ 25 mil por 11 dias em um barco só surfando.

A Travel S/A é uma agência de viagens especializada em experiências em grupo. Nos últimos cinco anos, registrou um crescimento de 50% no número de surfistas iniciantes que procuram os pacotes da agência, que conta com surfistas profissionais como Claudinha Gonçalves, Gabriel Pastori e Marcelo Trekinho como coaches.

“Após a pandemia, o público acima de 40 anos percebeu que nunca é tarde para iniciar um esporte que possa mudar o rumo de sua vida. Esse público é muito importante para nós e temos consultores de viagens específicos dessa mesma faixa de idade para falar a mesma língua e atender a todas as demandas necessárias”, diz Felipe Mastrocinque, CEO da agência, cujos clientes são principalmente de classe média alta, sendo 64% homens e 36% mulheres, entre 30 e 50 anos. “Esse perfil acima de 40 anos é muito comum aqui. O surfista iniciante 40+ quer evoluir, curtir sem dor de cabeça. Em todas as nossas surf trips em grupo, contamos com surfista profissional como coach, um filmaker/fotógrafo profissional e um staff que cuida de toda a parte operacional.”

O resgate do surfe por quem praticava lá no passado ou o início da relação com uma prancha na água ajuda a turbinar também grandes negócios no setor imobiliário, especialmente longe do litoral. Segundo Kevin Smith, cofundador da The Peak Development, que desenvolve projetos de surfe artificial no Brasil e na América Latina, o país tem cerca de 4 milhões de surfistas, mas um público interessado muito maior e que nunca subiu em uma prancha.

“O desejo está aí. E as piscinas de ondas oferecem um acesso garantido perto de casa. Ainda é algo muito exclusivo, mas espero que isso mude”, conta o executivo, que participou da criação da piscina do condomínio de altíssimo padrão Praia da Grama, em Itupeva (SP), que é única onda artificial em atividade no Brasil. Smith já trabalha no projeto Surf City, para oferecer em condomínios, clubes e hotéis a experiência do surfe artificial — com ondas perfeitas e totalmente controláveis — e de todo o lifestyle que acompanha o esporte.

Surfar longe do mar ainda custa muito caro. Até 2025, São Paulo vai ganhar dois clubes de alto padrão com piscinas para surfistas e título de ao menos R$ 600 mil. Outros dois empreendimentos similares estão em desenvolvimento no interior. Além disso, há um em andamento em Santa Catarina e outro no Rio Grande do Sul. Recentemente, o tricampeão mundial Gabriel Medina também anunciou sua entrada nesse negócio em franca expansão.

Num país com mais de 7 mil quilômetros de litoral, quem vive no interior não precisa esperar uma piscina e gastar milhares de reais para surfar. Passando uns dias na praia já dá para testar a experiência sobre as ondas. Entre no carro, no ônibus ou no avião e experimente. Sempre com orientação, é claro.

Meu amor, o nosso amor estava escrito nas estrelas — no fundo do mar e no Vale do Silício. Aqui estão os mais clicados pelos leitores na semana que passou:

1. g1: James Webb captura imagem de estrela 30 vezes maior que o Sol prestes a explodir.

2. YouTube: Ponto de Partida — O Banco do Vale do Silício pode resolver os juros do Brasil?

3. Symbolics: O primeiro nome de domínio “.com” registrado na história da internet completou 38 anos.

4. YouTube: O segundo trailer do live action de A Pequena Sereia.

5. g1: Nasa revela traje espacial de astronautas para viagem de volta à Lua.

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O liberalismo ausente

15/05/24 • 11:09

Nas primeiras semanas de 2009, o cientista político inglês Timothy Garton Ash publicou no New York Times um artigo sobre o discurso de posse de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. “Faltava apenas”, ele escreveu, “o nome adequado para a filosofia política que ele descrevia: liberalismo.” A palavra liberalismo, sob pesado ataque do governo Ronald Reagan duas décadas antes, passou a representar para boa parte dos americanos uma ideia de governo inchado e incapaz de operar. Na Europa continental e América Latina, segue Ash, a palavra tomou o caminho contrário, representando a ideia de um mercado desregulado em que o poder do dinheiro se impõe a um Estado fraco. Não basta, sequer, chamar a coisa só de liberal. É preciso chamá-la neoliberal. Desde final dos anos 1970, já são quarenta anos de um trabalho de redefinição forçada do que é liberalismo, uma filosofia política de três séculos e meio pela qual transitaram algumas dezenas de filósofos e economistas de primeiro time. O sentido do termo se perdeu de tal forma no debate público, que mesmo muitos dos que se dizem liberais não parecem entender que conjunto de ideias representam.

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