Edição de Sábado: Terra de gigantes

Foram 67.423 os pagantes no estádio Mané Garrincha, no dia 15 de junho de 2013. A capital do país do futebol tinha, ela mesma, um futebol raquítico e aquela construção colossal encerrava em si muitos contrassensos — típicos das nações que recebem copas e olimpíadas. Mas as arquibancadas estavam cheias. Do lado de fora, alguns protestos tímidos eram fortemente reprimidos pela Polícia Militar do Distrito Federal, sangue nos olhos, recém-treinada a lidar com atos terroristas em preparação para receber as copas das Confederações e do Mundo. Lá dentro, camisas verde-amarelas vaiavam com fôlego a presidente Dilma Rousseff. Com um misto de constrangimento e desdém, Dilma declarou o início da competição. Dois dias depois, um grupo de 5 mil manifestantes caminharia pela Esplanada dos Ministérios. Cerca de 300 deles, alguns descamisados, zero mantos da seleção à vista, subiriam a rampa do Congresso aos gritos de “O gigante acordou”. Eram muitos os gigantes que, despertos, tomavam as ruas do Brasil em junho daquele ano. E eles tinham feições, figurinos e demandas bem diferentes.

Passados dez anos daquela convulsão junina, estudos, análises e memórias buscam extrair sentido do que a provocou e do que ela acarretou. Duas pesquisas resultaram em livros e oferecem caminhos para essa compreensão: Treze, da socióloga Angela Alonso, professora da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap); e A Razão dos Centavos, do urbanista Roberto Andrés, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entremeadas com percepções de quem testemunhou os acontecimentos pelos vidros do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional, suas conclusões permitem um recorte desapaixonado e mais complexo do que as primeiras impressões da explosão causaram. A começar por desmontar a ideia de que as Jornadas de Junho foram estopim. Estavam mais para ápice. Antes de virar gigantes, os movimentos sociais já se articulavam e expressavam. Parte da classe política e da imprensa é que não soube identificar o tamanho que eles poderiam tomar.

As ruas

Logo que os protestos do Movimento Passe Livre (MPL) começaram em São Paulo, Angela calibrou os ouvidos de cientista social para escutar o que diziam seus alunos, muitos deles presentes nas manifestações. Uma frase recorrente acendeu nela o instinto de pesquisadora. “Tem uma gente esquisita lá”, diziam os universitários. “Uns bombadinhos, coxinhas.” Ora, quer dizer que não era só manifestante de esquerda, com a pauta por redução de tarifa nos transportes? Angela se pôs em “estado de modéstia”, como ela diz, e partiu para entrevistas exploratórias, a quente. “Estudo movimentos sociais há muito tempo e eu achei o que estava acontecendo diferente. Notei, primeiro, que aquilo não tinha cara de movimento social, mas de ciclo de protesto.” A diferença é que o segundo acontece quando muitos movimentos vão às ruas ao mesmo tempo, com agendas diferentes, e depois refluem. A socióloga mantém esse entendimento. Decidiu apurar de onde vinha essa “gente esquisita” e que muitos movimentos eram esses. Em vez de olhar para as consequências de 2013, foi esmiuçar as causas. E escolheu 2003 — as décadas são auspiciosas como pontos de partida e chegada — para começar.

Mas não foi a data redonda de anterioridade que motivou Angela. Foi a chegada do PT e de Lula, um dos maiores líderes de movimentos sociais do país, ao poder. Na rua como nos palácios, não existe vácuo. A professora estava interessada em mapear quem havia ocupado o espaço de reivindicações agora que muitos movimentos estavam aninhados no centro decisório. Nas universidades, por exemplo, foram os partidos bem mais à esquerda do PT, como PSTU, PCO e PSOL. E nas ruas? “A rua é reativa. A política institucional tem a sua rotina, a política de rua corre um pouco atrás. O que o governo pauta nas instituições acaba pautando a rua.” Ela diagnosticou três grandes zonas de conflito.

A primeira foi a das pautas redistributivas. Os governos petistas tiveram essa como sua marca fundamental. Não só pela via da renda, com o Bolsa Família, mas também do acesso à universidade e dos direitos das domésticas, para ficar em dois exemplos. À direita, achavam que se fazia muito nessa área. À esquerda, consideravam pouco. Para impor sua agenda social, Lula precisou fazer concessões que quem está mais a sua esquerda abomina. Uma foi a reforma da previdência, ainda em 2003 — que gestou para 2005 a cisão que culminaria na criação do PSOL. A tensão da redistribuição passava ainda por conflitos territoriais urbanos, rurais e florestais. O MST, embora desejoso de mais, foi contemplado na retórica e na prática, atiçando o agronegócio. Os ambientalistas foram prestigiados com Marina Silva e, no em 2012, sofreram o duro golpe da aprovação do Código Florestal no Congresso. Marina já havia sido rifada quando Lula precisou atender a sanha dos governadores da Amazônia e do Cerrado e conter políticas de desmatamento. Belo Monte era cenário do entrevero ambientalistas x desenvolvimentistas. E os povos indígenas, como de costume, lutavam bravamente para serem ao menos ouvidos. Por fim, no cenário urbano, o embate era profundo e palpável.

E aqui vale a avaliação mais detida que nos oferece Roberto Andrés, urbanista. Sua tese de doutorado é um esforço de trazer a crise da vida urbana de volta à conversa sobre 2013. Porque, embora parte do senso comum construído em torno de junho coloque as manifestações do MPL em São Paulo na origem dos protestos, essa visão tende a ser reducionista num primeiro momento e diluída no papo do “sequestro” da pauta pela direita num segundo. Mas Andrés insiste que a revolta por redução de tarifa no transporte público canaliza uma série de descontentamentos com as condições de vida nas cidades que costuma ser subestimada pelos políticos. “O Brasil tem uma das maiores taxas de urbanização do mundo na metade do século 20, precarizada para a maioria da população, formando territórios disfuncionais alastrados, em que as pessoas gastam horas por dia num transporte ruim, vindo de bairros sem as infraestruturas necessárias. Esse é um incômodo cotidiano, um impedimento para a ascensão social. Os mais pobres ascenderam à classe C, mas continuaram a viver sem boa infraestrutura de saúde, educação, transporte público, de lazer.” E ainda se deparando com condomínios e shoppings símbolo desse impedimento. Essa frustração diária vai curtindo, curando, no banco do busão ou do trem, até entornar. É o que acontece historicamente. A pesquisa de Andrés reconta revoltas em torno das condições de transporte público desde o Brasil Império. Ele acredita, assim como Angela, que aquela ebulição de junho de 2013 vem de anos antes — em seu caso, desde a redemocratização, ganhando força nos governos petistas.

Andrés aponta como, não raro, essas revoltas representam, muito além da luta por 20 centavos, “disputas entre formas de vida”. “Como o transporte é esse elemento de uso cotidiano, precarizado e com a sensação de que beneficia alguns poucos poderosos, ele gera esses acúmulos, que explodem de uma vez, de forma raivosa, mas bem compreensível para a maioria. Dois dias depois, a sociedade brasileira para de falar disso.” O urbanista lembra, então, como se ouvia, em 2013, que se tratava de um bando de “vagabundos nas ruas”, assim como acontecera no noticiário de 1880, 1909, 1930, 1946 e em todas as revoltas urbanas anteriores. “Sempre numa chave de 'esse povinho', com uma carga muito preconceituosa contra a população mais pobre.” O primeiro governo Lula parecia intencionado a dar um tratamento mais contemporâneo às demandas urbanas. Convidou Olívio Dutra para ser seu ministro das Cidades. Ele havia sido prefeito de Porto Alegre, berço do MPL, e tinha tido práticas inovadoras na gestão da cidade. Assim que estourou o mensalão, Lula entregou a pasta para acomodar alguém da base e diminuir a crise política. “São as cidades que estruturam nossas formas de vida, mas elas são também negócios para alguns poucos. Quando vem o Minha Casa, Minha Vida, jogando as pessoas para bairros periféricos, e políticas para encher as cidades de automóvel, ficou claro que a pauta de projeto de transporte público não era prioridade.” Nesse mesmo momento, diz Andrés, emerge no Brasil uma nova geração em que ideais de direitos distintos dos anteriores passam a ficar mais forte, com a difusão da internet. “Uma juventude passa a defender a cidade, esse tema esquecido.”

A Copa e os conflitos inerentes aos países-sede por encarar investimentos bilionários num evento desse porte acirraram isso. Além do deslocamento de populações para se erguer estádios, ia ficando evidente que muitas obras que deviam ser estruturais estavam sendo pensadas no curtíssimo prazo e, mais comumente do que não, com superfaturamentos visíveis. Andrés e Angela se desencontram, em parte, na constatação sobre quem estava nas ruas na origem dos protestos. Talvez pelo enfoque na questão urbana, Andrés identifica menos a direita e mais esses movimentos à esquerda; os chamados autonomistas, que beiram a anarquia na negação ao sistema e ao capitalismo e nos métodos de depredação e incluem os black blocs; e os manifestantes avulsos, que iam às ruas pela primeira vez com pautas confusas e difusas. “Catalogamos 6 mil cartazes, principalmente de Belo Horizonte, Rio e São Paulo. Com o tempo, a marca principal era a da despolitização, não a da orientação política.” E entre as citações explicitamente políticas, emergiu um ranking. Dos políticos nacionais mais mencionados nos cartazes, Dilma vinha em primeiro. Em seguida, o então presidente do Congresso, Renan Calheiros. Com o bronze, o deputado pastor Marco Feliciano, eleito presidente da Comissão dos Direitos Humanos em março.

As mentes

Lembra que a professora Angela diagnosticou três zonas de conflito efervescendo desde 2003? Até aqui, só tratamos da primeira e ela já seria suficiente para, em caso de explosão, estremecer muito status quo. Pois havia outras duas de imenso potencial desestabilizador. E esses dois nomes que se seguiam ao de Dilma nos cartazes representam uma delas: a zona de conflito das pautas morais. Renan, na frente da moral pública, da pauta da corrupção. Feliciano na da moral privada, condensando tudo em que progressistas e conservadores dissentiam.

Depois dos anos 1990 em que a bandeira da luta contra a corrupção esteve empunhada por mãos à esquerda contra neoliberais, desde 2005, com o mensalão, ela mudou de lado. Ainda naquele ano, num Sete de Setembro, Força Sindical, PSDB, PV, PPS e PDT convocaram protestos e uma frente nacional contra a corrupção. No ano seguinte, com a CPI dos Bingos, foi fundado o Movimento Endireita Brasil. Esses movimentos da elite não frearam a reeleição de Lula, turbinado pelas pautas redistributivas. Mas iniciaram a organização dos grupos pró-impeachment, que participariam lateralmente no início das jornadas de junho e com força real depois da eleição de 2014. De carona na pauta da moral pública, muitos deles resvalavam para a privada. O Revoltados Online se revoltava contra corrupção e pedofilia. Carla Zambelli, do Nas Ruas, por alguma mistura da mesma natureza. Alguns movimentos do Supremo Tribunal Federal, do governo federal e até do Congresso provocaram os conservadores e reacionários, como a Lei de Drogas de 2006 e a decisão do STF de ratificar o direito de aborto para gestantes de fetos anencefálicos, em 2008.

Os governos Lula tentaram vencer a resistência à pauta do aborto algumas vezes, perdendo sempre pela grita da outra ponta. Em 2009, incluiu o aborto legal no Programa Nacional de Direitos Humanos III. Propunha, no mesmo documento, como descreve Angela em seu livro, “união civil entre pessoas do mesmo sexo, adoção por casais homoafetivos, proteção a lgbt e profissionais do sexo, proibição de crucifixos em estabelecimentos públicos. Alterava mecanismos de resolução de conflitos fundiários, dando peso a negociações extrajudiciais, mexia na educação e com os militares, comprava briga com a mídia, regulando os meios de comunicação. Enfim, declarava guerra a todo mundo ao mesmo tempo: grupos religiosos, proprietários de terra, militares, imprensa.” E dava, assim, o tom do que seria um terceiro mandato petista.

Está desenhada aí a terceira grande zona de conflito: a da violência estatal legítima. Em miúdos, o vespeiro do direito a posse de armas e contra a Comissão Nacional da Verdade, ambas pautas de uma parte radicalizada das forças de segurança, perfeitamente encarnadas pela bancada da bala e, mais especificamente, por um deputado então folclórico de nome Jair Bolsonaro. E facilmente solúveis na pauta moral privada. Um exemplo: em abril de 2013, uma passeata por redução da maioridade penal esteve nas ruas de São Paulo. No mês seguinte, em pelo menos outras cinco cidades houve protestos por mais segurança, mais repressão. Do outro lado, movimentos de defesa da juventude negra se uniram ao MTST e ocuparam a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo contra a violência policial.

A cronologia montada pela professora Angela Alonso detalha como essas três zonas estavam conflagradas nos meses que antecederam junho de 2013. Ainda em maio, por exemplo, o MST se manifestou no Vale do Jequitinhonha, junto com Pastoral da Terra e Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho. Em abril de 2012, o MTST invadiu as obras do Itaquerão. Quatro meses depois, estudantes de escolas particulares de Goiânia e Brasília protestaram contra as cotas para negros em universidades. No mês seguinte, foi a vez de universitários da USP se manifestarem a favor das cotas. Ainda em abril de 2012, movimentos anticorrupção foram às ruas em onze capitais — em Brasília, foram 20 mil pessoas, misturando camisas verde-amarelas com máscaras do Anonymous. “A pauta combinava Ficha Limpa, fim do foro privilegiado e redução de salários de políticos”, conta Angela, em seu livro. Ainda assim, Dilma terminaria seu segundo ano de mandato com 78% de aprovação pessoal. Chegaria a março de 2013 com 79% — e seu governo, com 63% de avaliação positiva. Foi só depois de junho que sua avaliação caiu, mais de 20 pontos, para 43% em dezembro. Ainda assim, ela chegou a 2014 como favorita à reeleição, com mais do dobro de intenção de votos de Aécio Neves.

A política

Junho começou com uma grande manifestação que nada teve a ver com MPL. Foi a Parada LGBT de São Paulo, no dia 2, que, na conta entusiasmada dos organizadores, arrastou 2 milhões de pessoas para debaixo das bandeiras de arco-íris. Na do Datafolha, 220 mil. No dia 14 de maio, o STF havia legitimado o direito de casais homoafetivos adotarem filhos. No dia 4 de junho, em Brasília, Feliciano levou 5 mil fiéis ao Eixo Monumental para ouvir a então secretária do movimento Brasil sem Aborto, Damares Alves, falar. No dia 5, a Marcha em Defesa da Família Tradicional foi pra frente do Congresso com 70 mil pessoas. Em São Paulo, no dia 8, a Marcha da Maconha concentrou 10 mil. Nesse mosaico, estava o MPL, estavam grevistas, estava o MST, os black blocs, os movimentos anticorrupção. Gigante para todo gosto.

Envolta na ilusão dos bons índices de aprovação, Dilma seguia alheia a tudo isso. Fernando Haddad, então prefeito de São Paulo e, junto com Eduardo Paes, do Rio, um dos titulares do aumento de 20 centavos, relatou em um artigo na piauí, em 2017, como a presidente enxergava no recuo de ambos no reajuste das tarifas a solução para os protestos. A vaia no Mané Garrincha, a subida na rampa do Congresso e a invasão do Itamaraty no dia 20 de junho mudaram sua perspectiva. “Há uma simbologia da Copa, aquela coisa do padrão Fifa. Isso pesou. Em qualquer país anfitrião desses eventos, há um investimento brutal para estádios e transporte nesse período e, de outro lado, uma situação de equipamentos públicos que não funcionam bem. Às vezes, são questões municipais, estaduais, mas na cabeça do povo desemboca tudo em Brasília, na figura do presidente”, diz Ricardo Berzoini, então deputado federal que presidira o PT até 2010 e, em 2014, entraria para o governo Dilma como ministro das Comunicações. No Congresso e no Planalto, a palavra corrente era "perplexidade". Dilma fez uma reunião com a bancada do PT. Embora ali alguns defendessem que o governo federal não chamasse para si o que consideravam questões locais, Berzoini poderou que era preciso apresentar respostas. “Propus que devíamos pautar a sociedade em temas com saúde, educação, cultura, transporte coletivo. Uma das questões colocadas foi a ideia de uma reforma política.”

Na noite do dia 21, Dilma fez um pronunciamento em rede nacional em que dizia ter ouvido a voz das ruas. No domingo, convocaria um jantar, com mais de 10 assessores diretos, entre eles o marqueteiro João Santana e o comunicólogo Franklin Martins. Na segunda, viriam os cinco pactos propostos pelo governo federal para tentar acalmar os gigantes. Entre eles, o de reforma política, sem combinar com seu vice, Michel Temer, seu principal articulador político à época. A reforma foi devidamente enterrada pelo Congresso. Os protestos refluíram. E o gigante que voltaria a despertar em 2014, depois da eleição, já tinha uma cara bem mais definida.

Apple Vision Pro: tá barato, me vê dois

O Apple Vision Pro é muito caro. É pesado e deixa você tonto depois de alguns minutos de uso. Não traz nada que outros aparelhos concorrentes já não tenham. Vai causar um surto de miopia e astigmatismo. É ridículo. Ninguém vai ter coragem de usar essa máscara de mergulho high-tech em público. Não substitui o celular nem o computador, ou seja, é um brinquedo de milionário que vai ficar jogado em um canto depois que a novidade acabar. Vai tornar as pessoas ainda mais solitárias e distantes da realidade.

Quem acompanha os lançamentos da Apple já conhece o padrão: um produto “revolucionário” é anunciado e imediatamente desabam as críticas. Meses depois, o aparelho chega ao mercado e filas quilométricas se formam na frente das lojas da maçãzona, que enche a burra de dinheiro e dita a nova tendência tecnológica para os próximos anos. Foi assim com o iPhone, o Apple Watch, o iPod. Até o Macintosh original foi chamado de computador de brinquedo em seu lançamento no longínquo ano de 1984. E a história deve se repetir com o Apple Vision Pro, anunciado esta semana.

O Vision Pro é um animal totalmente novo, que borra os conceitos de Realidade Virtual e Realidade Aumentada. Permite o entretenimento imersivo da RV, mas também traz a possibilidade de misturar objetos virtuais com a realidade, colocando um sistema operacional no meio da sua sala ou fazendo uma borboleta virtual pousar na sua mão.

Para a Apple, o Vision Pro é um Computador Espacial, uma nova categoria informática com gostinho retrofuturista que só ela poderia inventar. Afinal, foi a Apple que lançou o primeiro computador pessoal de sucesso e o primeiro smartphone digno desse nome. “Direito de se gabar” como dizem os gringos.

Na Computação Pessoal, você usava o mouse, na Computação Móvel, o dedo na tela. Na Computação Espacial, a ferramenta de controle do VisionOS são os olhos. Sensores, câmeras, neurociência e inteligência artificial são utilizados no Vision Pro para reconhecer o movimento dos olhos e a dilatação da pupila para prever o que você quer fazer e tornar a experiência de uso suave. Câmeras externas seguem suas mãos onde elas estiverem e reconhecem o gesto de juntar indicador e polegar como um clique. A Apple demorou quase dez anos para desenvolver esse sistema. É o que ela faz melhor, pegar tecnologia de ponta e transformar em usabilidade indistinguível da magia negra.

As poucas pessoas que testaram o Vision Pro em sua apresentação durante o evento para desenvolvedores WWDC ficaram de queixo caído. É caro? Vai custar US$ 3,5 mil nos EUA e chegar por aqui provavelmente por mais de R$ 30 mil. Caro, muito caro, mas comparado a que? Se você comprar a ideia que é o primeiro representante de uma nova era na computação, não está. O Macintosh original, a preços de hoje, custava mais de US$ 7 mil. O Vision Pro vem com o equivalente a um Macbook, duas telas 4K, uma dúzia de câmeras, sensores Lidar e, o mais caro de tudo, uma década de pesquisa e desenvolvimento. Tá barato, me vê dois, diria qualquer milionário.

Mas, afinal, é um protótipo ou um produto para as massas? Nenhum dos dois, fica ali no meio. O aposto “Pro” indica que é um produto para um nicho específico: os profissionais. Desenvolvedores de software, engenheiros, indústrias diversas e até militares vão ser os primeiros da fila quilométrica quando começarem as vendas. A data do lançamento, no início do próximo ano, também indica que quando chegarem as festas de 2024, se os deuses dos roadmaps permitirem, teremos um Apple Vision sem o Pro, pela bagatela de US$ 2.499. E no Natal de 2025, um Vision Air (pegou o trocadilho?), mais levinho e uma pechincha freguesa, só US$ 1.999! Sem contar as centenas de clones chineses à venda na galeria de eletrônicos mais próxima.

Mas, para essa profecia se autorrealizar, vai ser preciso a tal da “killerapp”, aquele aplicativo que faz você pensar em matar a sogra para poder comprar um aparelho eletrônico. Nisso, a apresentação do Vision Pro deixou totalmente a desejar. Ou não. O que não foi falado no evento diz muito. Não se falou em Metaverso e games imersivos foram citados de leve. O que pode parecer uma falha, pode ser lido como estratégia. A Apple quer distância dos óculos RV atuais, comprados apenas por gamers hardcore. No hardware ela conseguiu. O Vision Pro eliminou os principais problemas dos concorrentes: a baixa resolução das imagens que causa o “efeito porta de telinha” onde você vê os pixels da tela quebrando a impressão de realidade e o enjoo causado pela latência entre os movimentos da cabeça e a imagem que você vê.

No software, ela deixou um lindo campo vazio para outras empresas entrarem e brincarem. O demo do Vision Pro trazia basicamente velhos e conhecidos aplicativos 2D em telas gigantes. Navegar pela internet, conversar por mensagens e ver vídeos em telas imensas que, na verdade, estão a dois centímetros de distância dos seus olhos não são nem de longe aplicações matadoras. Mas poder assistir a jogos e shows como se estivesse na beira do palco, sim. Com o preço atual dos festivais de música, seu Vision Pro se pagaria em um semestre. Pode apostar que quando o aparelho estiver no mercado, a Apple ou uma parceira deve lançar imediatamente uma Vision Camera para gravar vídeos 3D com Áudio Espacial.

O único problema que a Apple não conseguiu resolver é o Fator Nerdola, aquele que matou o Google Glass, óculos RA lançado em 2013 e muito mais ergonômico que o Vision Pro. Ninguém vai se sentir confortável em lugares públicos com uma máscara de mergulho amarrada na cara, isolado em seu próprio mundinho virtual, a não ser o povo que frequenta convenções de HQ ou lanchonetes temáticas de Star Trek. A solução da Apple para isso foi, no mínimo, bizarra. O Vision Pro tem uma tela OLED na frente que simula o movimento dos seus olhos captados pelos sensores, criando uma versão gamificada do seu rosto. Bizarro no último. Literalmente, um tapa buraco enquanto a tecnologia não permite um visor transparente.

O Vision Pro vai ser um fracasso? A ver. Se for, vai ser o primeiro da Apple em 24 anos. Desde o lançamento do Macintosh Cube, ainda na era Jobs, ela não bate uma bola para fora da quadra. Não tenho dúvida que os óculos serão os sucessores do celular (até fizemos uma série de desenho animado aqui no Meio a respeito. Assista!). Mas eu sou nerd e uso óculos desde os oito anos, então sou suspeito. Deve demorar ainda uns dez anos, mas chegaremos aos óculos inteligentes, leves e estilosos. O trambolho da Apple é só o primeiro passo. E uma década passa rapidinho.

‘Cleópatra’ continua encantando 60 anos depois

Uma obra prima, uma extravagância, um oportunismo, um erro de avaliação, um sucesso retumbante e um desastre financeiro. Todos esses adjetivos, mesmo os que parecem contraditórios, se aplicam a Cleópatra (trailer), longa estrelado por Elizabeth Taylor e cujo lançamento completa 60 anos na próxima segunda-feira, dia 12 de junho. Nove indicações ao Oscar com quatro vitórias — incluindo melhor ator para Rex Harrison como Júlio César — e o título de maior bilheteria de 1963 não refletem o caos da produção e a mudança de paradigma que o longa provocou, não só na indústria cinematográfica, mas na própria relação do público com seus ídolos.

Levar às telas a vida da última rainha do Egito era um sonho antigo do produtor Walter Wanger. A personagem era perfeita, uma monarca ambiciosa e brilhante, governante de um dos mais antigos reinos da Humanidade, ligada por amor e política a dois dos homens mais poderosos de Roma, Júlio César e Marco Antônio, e com um desfecho trágico. Além disso, Cleópatra tinha sua história contada por autores clássicos como Plutarco, Flávio Josefo e Plínio, o Velho, e era tema de peças extremamente populares de Shakespeare.

Wanger também sabia quem deveria viver a rainha: Elizabeth Taylor, já uma das mais glamurosas (e caras) atrizes de Hollywood. Faltava um estúdio. Foi quando a Fox se interessou pelo projeto. A empresa não vivia seu melhor momento, após uma sequência de fracassos em 1958, e seus executivos queriam apostar num “grande filme” para reerguer a marca. E, claro, épicos estavam em alta. Em 1959, Ben-Hur (trailer), estrelado por Charlton Heston, arrastou multidões aos cinema e salvou a Metro da ruína.

Mas o estúdio e o produtor não tinham a mesma visão do projeto. A Fox pensava num orçamento em torno de US$ 2 milhões estrelado por uma das atrizes com as quais já tinha contratos, em particular Joan Collins. Wagner não abriu mão da megaprodução nem de sua estrela, mesmo com Liz Taylor exigindo um cachê de US$ 1 milhão (equivalentes hoje a quase US$ 10 milhões) e mais 10% da bilheteria. Foi a primeira atriz a receber tal fortuna por um único filme.

O barato saiu caro

Fosse uma maldição de Seth, o deus do deserto, fosse apenas má visão, a produção começou a sair do controle já no início. Em vez de investir em roteiristas, a direção da Fox resolveu reciclar o script de uma outra biografia de Cleópatra, estrelada em 1917 por Theda Bara. Só que aquele era um filme mudo, e seu roteiro não tinha diálogos, apenas instruções de enquadramento e direção. Resultado? Entre dezembro de 1958 e maio de 1960, quatro autores diferentes foram contratados (e pagos) para fazer o roteiro, que não estava concluído quando as câmeras começaram a rodar, em setembro daquele ano.

Taylor também exigiu que as filmagens acontecessem na Europa. Para aproveitar os incentivos oferecidos pelo governo inglês, a Fox decidiu rodar o longa em Londres. Má ideia. A capital inglesa estava lotada e inflacionada devido aos Jogos Olímpicos de 1960, a mão de obra era escassa, e o célebre mau tempo britânico cobrou um preço alto: Liz adoeceu logo no início das filmagens. O que parecia uma gripe forte evoluiu para um meningite, e a produção foi interrompida até janeiro do ano seguinte — com mais dois roteiristas diferentes trabalhando no texto.

Até aquele momento, o diretor Rouben Mamoulian gastara US$ 7 milhões (quase quatro vezes o pretendido pela Fox) e entregara dez minutos de filme, considerados ruins. Ele foi substituído por Joseph L. Mankiewicz, que também assumiu o roteiro. Quando tudo parecia andar, Liz Taylor teve pneumonia, e ficou claro que não poderia mais filmar em Londres. Toda a produção foi transferida para a Itália, que não tinha infraestrutura para um filme daquelas proporções. Consta que o país enfrentou uma escassez de material de construção por conta das compras para criar os cenários.

Para completar o descontrole da produção, as filmagens tiveram de ser lineares, já que o roteiro ainda estava sendo escrito. Normalmente são rodadas de uma vez todas as cenas de um ator ou em um cenário, fora da ordem, o que barateia a produção. Em vez disso, atores passavam semanas esperando suas novas cenas.

A cama imita a arte

O atraso nas filmagens também implicou mudanças no elenco. Peter Finch (César) e Stephen Boyd (Marco Antônio), pularam fora e foram substituídos respectivamente por Harrison e Richard Burton, este uma indicação de Liz Taylor, que o vira na peça Camelot, na Broadway. Não demorou muito para a imprensa descobrir que ela e Burton levaram para a vida real o romance de seus personagens.

Foi um escândalo, já que os dois eram casados. E Liz era reincidente. O marido que ela estava traindo era o cantor e ator Eddie Fischer, que ela “roubara” em 1959 de sua melhor amiga, a atriz Debbie Reynolds, a “Namoradinha da América”. O público misturou reprovação e avidez por notícias envolvendo o casal, já chamado de “Liz e Dick”, o que chamou mais atenção para Cleópatra. Os dois se casariam em 1964, formariam uma dupla de sucesso nas telas e levariam uma vida glamurosa diante dos olhos do mundo por mais de dez anos.

Encrenca com o Egito ontem e hoje

As filmagens finalmente avançavam, quando surgiu um novo problema. Algumas cenas deveriam ser rodadas em locação no Egito, mas o governo local proibiu a entrada da atriz. Em 1959, Liz se convertera ao judaísmo e, desde então, era uma ativa militante sionista. Egito e Israel estavam em guerra desde 1948, situação que só chegaria ao fim em 1979. Com a estrela barrada, apenas cenas com o resto do elenco puderam ser filmadas no país.

Cabe aqui um parêntese. A caracterização de Cleópatra segue sendo tema de polêmica no Egito. Recentemente houve protestos contra uma série pseudodocumental da Netflix que retratou a rainha como negra, embora as moedas que ela própria fez cunhar e o mais famoso busto autêntico dela em vida deixem clara sua etnia grega, como dos demais faraós de sua dinastia.

Seriam dois, mas foi um

A pós-produção de Cleópatra foi outra novela. Mankiewicz escreveu seu roteiro final pensando em dois filmes: Cleópatra e Júlio César e Cleópatra e Marco Antônio. Tanto que a edição de apresentou à Fox tinha cinco horas e 20 minutos. A pedido do estúdio, fez uma cópia reduzida para quatro horas e meia, mas os executivos sentiram falta de algumas das cenas cortadas. Para revolta do diretor, decidiu-se por um único longa, e um editor foi contratado para encaixar tudo em três horas e 40 minutos. E ainda houve refilmagens de cenas, especialmente de Burton, já que os executivos achavam que seu personagem estava “emasculado” pela força de Cleópatra. Não que as soluções para ganhar tempo tivessem sido ruins. O assassinato de César vira um fantasmagórica visão de Cleópatra no fogo, enquanto o célebre discurso fúnebre feito por Marco Antônio é visto à distância em um curto trailer. Nos dois casos, o filme ganhou agilidade sem perder carga dramática.

Naquele momento, a decisão de lançar um único longa parecia lógica. A Fox queria fazer caixa logo e achava que um primeiro filme sem conclusão desestimularia o público. Além disso, o affair entre Taylor e Burton era um grande chamariz da produção, mas seus personagens só engrenavam um romance na segunda parte. O público queria “Liz e Dick”, não “Liz e Rex”.

No fim, porém, foi mais uma má ideia. Duas partes poderiam ter significado o dobro da bilheteria. Não que o filme tenha ido mal, pelo contrário. Foi o maior sucesso de 1963, arrecadando US$ 26 milhões de dólares nos EUA e no Canadá. O problema é que o custo final de produção e distribuição chegou a estratosféricos US$ 41 milhões de dólares, receita que só foi alcançada em 1973, graças a reexibições em todo o mundo. A Fox só não faliu por conta do estrondoso lucro, em 1965, de A Noviça Rebelde (trailer).

Cleópatra marcou o fim de uma era. Seu prejuízo – e o fracasso no ano seguinte de A Queda do Império Romano (trailer) – mostrou que a fórmula dos épicos faraônicos (perdão) se tornara inviável. Seu impacto cultural foi enorme, com a maquiagem e alguns adereços da protagonista virando moda. Liz Taylor foi ao mesmo tempo a última estrela da Era de Ouro de Hollywood e uma pioneira da “cultura de celebridades”, onde a fama deriva tanto ou mais da vida pessoal.

Mas as seis décadas não pesaram sobre o filme. Ele ainda impressiona pela opulência, pelo cuidado na reconstituição histórica e pela performance de seu elenco. Cleópatra segue obrigatório para qualquer um que pretenda gostar de cinema.

Um tiquinho de história

Cleópatra VII Téa Filopátor foi uma mulher notável sob todos os aspectos. Filha do faraó Ptolomeu XII Auleta e, possivelmente, de sua irmã e esposa Cleópatra VI Trifena, nasceu em 69 A.E.A. em Alexandria, então principal centro cultural do mundo ocidental. Com os recursos da Grande Biblioteca e sob os cuidados de seus tutor, o filósofo ateniense Filóstrato, aprendeu filosofia, retórica e astronomia. Segundo Plutarco, dominava com fluência sete idiomas, além do grego falado na corte, do latim e da língua comum dos egípcios – foi, aliás, a primeira de sua dinastia, de origem macedônia, a aprender a linguagem dos súditos.

Com a morte do pai, tornou-se cogovernante com o irmão Ptolomeu XIII, com quem possivelmente se casou e entrou em guerra. Iniciou um romance com o ditador romano Júlio César, que deveria mediar o conflito e, com a ajuda dele, tornou-se única regente. Atribuía ao romano a paternidade de seu primogênito, Cesário, e viajou com o filho para Roma buscando fazê-lo herdeiro e sucessor de César. Frustrou-se quando este adotou o sobrinho-neto Otaviano, futuro imperador Augusto, e foi em seguida assassinado por rivais no Senado.

De volta ao Egito, manteve boas relações com o triunvirato romano formado por Otaviano, Lépido e Marco Antônio, até que iniciou um relacionamento amoroso com este, gerando três filhos. A concessão por Antônio de territórios romanos no oriente a seus filhos e a Cesário foi o estopim do conflito com Otaviano. Após uma esmagadora vitória na batalha naval de Áccio e o suicídio de Antônio, Otaviano tomou Alexandria. Para não ser levada prisioneira para Roma, Cleópatra se matou com veneno em agosto de 30 A.E.A. A célebre picada de cobra foi só uma das muitas lendas associadas à última rainha do Egito.

Os mais clicados pelos leitores essa semana foram tão variados quanto a miríade de assuntos que o Meio oferece. Olha só:

1. BBC Brasil: Brasil vive Lava Jato às avessas?

2. BBC Brasil: Inteligência artificial e a extinção da humanidade.

3. Folha: As dez músicas mais célebres da cantora Astrud Gilberto.

4. Panelinha: Peixe com batata e espinafre.

5. YouTube: Ponto de Partida — Guerra nuclear em Brasília.

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O liberalismo ausente

15/05/24 • 11:09

Nas primeiras semanas de 2009, o cientista político inglês Timothy Garton Ash publicou no New York Times um artigo sobre o discurso de posse de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. “Faltava apenas”, ele escreveu, “o nome adequado para a filosofia política que ele descrevia: liberalismo.” A palavra liberalismo, sob pesado ataque do governo Ronald Reagan duas décadas antes, passou a representar para boa parte dos americanos uma ideia de governo inchado e incapaz de operar. Na Europa continental e América Latina, segue Ash, a palavra tomou o caminho contrário, representando a ideia de um mercado desregulado em que o poder do dinheiro se impõe a um Estado fraco. Não basta, sequer, chamar a coisa só de liberal. É preciso chamá-la neoliberal. Desde final dos anos 1970, já são quarenta anos de um trabalho de redefinição forçada do que é liberalismo, uma filosofia política de três séculos e meio pela qual transitaram algumas dezenas de filósofos e economistas de primeiro time. O sentido do termo se perdeu de tal forma no debate público, que mesmo muitos dos que se dizem liberais não parecem entender que conjunto de ideias representam.

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