Edição de Sábado: Transinfância

Antes dos quatro anos de idade, Lucas (o nome foi alterado para preservar a intimidade da criança) já chegava à escola de olho em um cabideiro repleto de fantasias. Como o hábito diário de escovar os dentes, ele tirava sua bermuda e já se dirigia aos cabides enfileirados, onde sempre sacava a mesma saia, vestia e, só depois, partia para a aula e brincadeiras com os coleguinhas de turma. A vestimenta só voltava a ser pendurada no fim do turno, quando se despedia da professora. Saía da escola, de calção, meio desajeitado. Nessa época, Lucas ainda não havia expressado aos pais o que já compreendia sobre si mesmo. Mas sabia que era preciso lavar a saia, surrada pelas brincadeiras. “Está suja. Posso levar para minha mãe lavar?”, perguntou a criança, dirigindo-se à professora. Mas foi entre quatro e cinco anos que Lucas surpreendeu a mãe: “Eu sou uma menina, mamãe!”.

A mãe achou uma “coisa meio absurda”. “Como uma criança anoitece menino e amanhece menina?” perguntou a fotógrafa que, ao lado do marido, costuma registrar festas em sua cidade. “Fiquei com medo de ser uma coisa meio disfuncional em termos de saúde mental”. Mas a mãe acolheu: “Tudo bem, você pode experimentar ser uma menina”, disse, orientada por uma psicóloga. É claro que, naquele momento, todas as dúvidas pairavam na cabeça da mãe. “A gente nunca proibiu, mas a gente não aceitou de cara”, disse ao Meio.

O gênero masculino designado a Lucas ao nascer passou a ser, então, uma questão central na família. Era a segunda criança, quatro anos mais nova que o primogênito. A fotógrafa já sabia o que era ser mãe de menino. “Isso passou a ficar muito na nossa cabeça, começamos a revisitar o passado. Lucas sempre pedia para amarrar um lençol na cabeça e ficar brincando imitando uma trança. Virava a camisa para vestir por baixo, como se fosse uma saia. Lucas fazia esse tipo de coisa desde cedo”, contou ao Meio.

‘A Lucas’. Por que não?

A disforia de gênero virou um processo familiar. A mãe contou que demorou mais de seis meses para sair e comprar roupas de menina. Enquanto isso, Lucas se virava com a saia que ficava pendurada na escola. A decisão de continuar usando o nome de masculino de batismo saiu de uma brincadeira familiar, o tradicional jogo de “adedanha”, onde se escolhe uma letra e cada um lista palavras iniciadas por ela. “Quando saiu a letra P, meu filho mais velho citou Lucas como nome feminino”, contou a mãe. “Aí, o próprio Lucas disse que não era nome de menina”. Foi nessa hora que o pai veio em socorro, vendo a decepção no rosto da criança: “Quem foi que disse que Lucas só pode ser nome de menino? Quem sabe se em algum lugar do mundo, na Índia ou em qualquer outro país, esse nome serviria para uma menina?”. A decepção passou e, desde então, as referências na escola e em casa passaram a ser “a Lucas”.

A mãe percebeu ainda que a confusão com os pronomes não era um problema. Os coleguinhas da pré-escola e os avós usam o pronome masculino. Hoje, na escola nova, de ensino fundamental, é “a Lucas” que prevalece. Com seus cabelos longos, com penteado de Maria Chiquinha, a criança bochechuda, de olhos grandes e sorriso largo, usa o banheiro feminino, vai de vestido, de saia e de Princesa Elsa, da animação Frozen, da Disney. E a vida segue com todos os desafios que a transexualidade infantil coloca para a família.

A aceitação por parte dos parentes mais próximos veio em forma de alívio. Antes de assumir a identidade feminina, Lucas tinha as noites atormentadas. Os pesadelos a faziam acordar em prantos. De dia, a depressão da criança se manifestava em forma de agressividade. Os pais e os avós também não tinham respostas para o atraso na fala da criança. “Eram crises sem motivação, choro, raiva. Foi só ela começar a usar a vestimenta feminina, que tudo mudou. Ela se tornou outra criança”, contou a mãe. Quanto à questão da genitália masculina, os pais também tiveram que criar uma explicação. “Dissemos a ela que existem meninas com pênis”.

Mas nem tudo são flores na família de Lucas. Como em qualquer outra. Na escolinha de vôlei, no contraturno, a menina não teve tanta sorte. “As meninas olhavam para ela de forma diferente por causa do nome. Só que eu não me sinto à vontade de chegar para minha filha e dizer que ela também precisa mudar de nome”. Lucas, por sua vez, não quis ficar e abandonou o esporte.

A Lucas fará 9 anos em agosto e, mais uma vez, várias dúvidas se colocam na cabeça de seus pais. A principal delas é em relação à puberdade. Enquanto assiste à explosão hormonal do irmão de 13 anos, que passa pelo desafino vocal e penugens da adolescência, Lucas avisou que não quer ter barba. Mas o bloqueio puberal ainda não está decidido. A mãe diz que hoje sua vontade é que não seja necessário fazer. Ao mesmo tempo, ela espera sentir que é o melhor para Lucas. “Tudo vai depender do grau de sofrimento dela”. O trabalho agora é tentar mostrar a Lucas que há muitas possibilidades além de ser estritamente mulher ou homem.

Medo sempre presente

O medo de errar é uma constante entre todos os pais de crianças transgênero. Mas há também a ponderação de que dúvidas sobre a criação dos filhos não se colocam só na questão de gênero, mas em todos os campos da vida. Para a pedagoga Adriana Mota, mãe e coordenadora da ONG Mães da Resistência, no Rio de Janeiro, é necessário que uma decisão com tamanha envergadura seja tomada com o máximo de informação possível e longe dos dogmas da moral. “Nunca o pai ou a mãe vai ter certeza de que tomou a decisão melhor para o filho, mas em nenhum aspecto da vida. Ser pai e mãe é ser desafiado todo dia pelo cotidiano, pela realidade, pelos meios de comunicação, pela escola, pela igreja, pela família, por tudo”. 

“É importante que essa decisão seja tomada de forma orientada, informada e livre de preconceitos. Procure bons profissionais da saúde, da educação e do direito para que essa decisão seja tomada de forma qualificada”, disse.

No caso do bloqueio puberal, os pais precisam conhecer os riscos e os benefícios para a saúde daquele adolescente, e essa informação só tem como ser repassada por bons profissionais de saúde. “Não é qualquer profissional de saúde que vai saber orientar”, ressalta Adriana. Ela recomenda a busca dos ambulatórios especializados, alguns que já viraram referência no atendimento da transexualidade infantil, como o Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (Amtigos) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e o Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (NESA) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Existem já credenciadas pelo Ministério da Saúde 17 unidades habilitadas para oferecer esse serviço no país. Dessas, oito prestam os serviços de hormonização e de cirurgia de adequação de gênero

Hormônios só para maiores

Ao contrário do que muitos pensam, o bloqueio puberal, único procedimento permitido para crianças no Brasil, não é uma hormonização. As medicações agem na hipófise, impedindo a produção de hormônios sexuais: testosterona, nas meninas trans, e estrogênio, nos meninos trans e impedindo, assim, a diferenciação sexual. O uso de hormônios somente é permitido pelo SUS a partir de 18 anos, norma mais rígida inclusive que a ditada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que recomenda o uso de hormônios a partir dos 16 anos. No caso de cirurgia, o SUS também se mostra mais conservador que o CFM. Enquanto o conselho permite as intervenções a partir de 18 anos, o sistema público só as oferece a partir dos 21 anos.

A confusão entre bloqueio e hormonização tem servido a políticos conservadores para lançar mais nuvem sobre o atendimento dessas crianças e engrossar o discurso moralista de “defesa da família”. Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) eles conseguiram instalar uma CPI com a qual esperam mobilizar o eleitorado tradicionalista. O alvo é justamente o ambulatório da USP. A investigação foi proposta pelo deputado Gil Diniz (PL), que vai presidir os trabalhos, enquanto o igualmente conservador Tenente Coimbra será o relator. O contraponto virá da vice, Beth Sahão (PT). Neste mês, os conservadores conseguiram emplacar nas redes mais ataques aos direitos das crianças trans diante de um bloco na Parada LGBTQIA+ de São Paulo. “Crianças trans existem”, dizia o estandarte que se tornou alvo dos defensores da “família tradicional”.

Expulsão aos 13

A deputada Duda Salabert (PDT-MG) se indignou com a balbúrdia criada em torno do tema, lembrando um dado alarmante. Uma pesquisa realizada em 2015 pelo Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT (NUH) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que 6% dos transgêneros de Belo Horizonte contaram ter sido expulsos de casa antes dos 13 anos. “Quer maior prova de que crianças trans existem?”, questionou a parlamentar em conversa com o Meio. Os dados coletados na capital mineira são os mais recentes, mas é pouco provável ter havido mudança significativa nesse cenário.

Com o bloco na rua

Quando Thamirys Nunes, fundadora da Minha Criança Trans, levou o bloco de crianças e adolescentes trans para a Avenida Paulista, ela não imaginava tamanha reação. O bloco já havia desfilado no ano passado, e havia sido tranquilo. Ao contrário da mãe da Lucas, Thamirys vê com mais tranquilidade o bloqueio puberal para sua filha de oito anos, que, aos quatro, disse que “queria morrer para nascer menina”.

A frase soou como um alerta de que as constantes manifestações da criança em direção ao feminino não eram uma fase, uma coisa simples. “A gente entendeu que não ia passar”, disse Thamirys. “Levamos a uma psicóloga, e ela estava em uma tristeza profunda. Ela era uma criança que brincava, tinha seus amigos, mas tinha algo de triste, melancólico, naquela existência. Buscamos acompanhamentos e ela fez a transição social com quatro anos de idade. Ela veio para nossa família da forma como que ela se identifica, fomos nos adaptando conforme conseguimos”, relatou.

A filha de Thamirys já passou por quatro escolas. Hoje, os pais optaram por não declarar o gênero da criança no momento da matrícula. “A primeira vez que eu fui conversar com os profissionais da escola para falar o que estava acontecendo, a diretora me chamou de louca. Falaram que eu estava desocupada demais e que eu precisava arrumar outras coisas para fazer. E olha que era uma escola ‘alternativa’. A quarta escola não tem a informação de gênero da minha filha, eu preferi não informar. Não somos obrigados”, destacou.

Thamirys ressalta que o bloqueio puberal não é uma solução para todos. “É uma excelente oportunidade para prevenir sofrimento, mas a gente tem que analisar caso a caso”, argumenta.

Bloqueio puberal não é só para crianças trans

Outro fator importante é que há anos o bloqueio puberal é realizado em crianças no Brasil para tratamento de problemas de crescimento ou puberdade precoce. É nesse ponto que Thamirys ressalta a discriminação em relação às crianças trans. “O tratamento já se demonstrou confiável, seguro e 100% reversível. Portanto, se ele é utilizado dessa forma nas crianças cisgêneras, porque na criança trans é visto dessa forma?”, questionou. “É a mesma medicação, é o mesmo protocolo”, observou.

Quanto ao debate político, ela lamenta a falta de clareza. “Eu gostaria que essa politização fosse baseada na verdade, mas, infelizmente, ela está baseada em muita informação errônea, muita fake news, muito preconceito. Nós precisamos falar de políticas públicas para pessoas trans, nós precisamos pensar políticas públicas para pessoas trans”, argumenta. “Nós fizemos o bloco no ano passado e não tivemos nenhum tipo de problema. Não tivemos ataques tão violentos como tivemos neste ano. A gente lamenta muito que um bloco em que a gente reivindica direitos e proteção, em que a gente estava lá com as nossas famílias, com os nossos filhos, em segurança, brincando de bolha de sabão, com perna-de-pau, mostrando o quanto nossos filhos têm uma infância protegida foi deturpado por aqueles que não entendem sobre o assunto”.

Fé Artificial

Por Wagner Martins, de Rotterdam

Em apenas quatro dias de existência, o perfil "Palabras de Jesus" ultrapassou a marca de 1 milhão de seguidores no TikTok. A força viral dos vídeos publicados já seria algo digno de nota, mas a grande novidade é que tudo foi criado utilizando ferramentas de inteligência artificial. Por ironia do destino, o pai deste avatar de Jesus, que profetiza mensagens de fé e esperança geradas no Chat GPT, também se chama José.

José Ferreira passa boa parte do seu tempo pescando no Castelo de Almourol, nas margens do Rio Tejo, em Portugal. O seu hobby preferido se reflete diretamente em sua atividade profissional. Há mais de 15 anos ele vive de fisgar a atenção de internautas para seus projetos de conteúdo. Começou com um blog sobre odontologia, sua formação acadêmica. Descobriu que era muito mais feliz postando do que obturando e, para desgosto da família, largou a vida de dentista e virou creator muito antes do termo entrar na moda.

Entre uma minhoca no anzol e uma pitada no cigarro, Zé acompanha nos seus três (ou quatro) celulares como estão performando centenas de posts nos mais diversos perfis espalhados pelas redes. Foi assim que testemunhou o milagre da multiplicação de seguidores em quatro dias. Marca excepcional, até mesmo para quem já tem uma longa caminhada pela internet.

Carpinteiro de IA

O mais recente experimento começou há pouco menos de um mês, quando ele mergulhou de cabeça no hype gerado pelas ferramentas de inteligência artificial. Perguntou ao Chat GPT como conseguiria criar um perfil no TikTok que chegasse rapidamente em 1 milhão de seguidores. O “Gepeto”, apelido que muitos usuários deram ao poderoso modelo de processamento de linguagem natural, foi pragmático em suas orientações: escolher um nicho de grande audiência e engajamento, como o religioso. Mais algumas mensagens trocadas, e o perfil já estava criado, com nome, descrição e tags elaborados pela IA. Partindo daí, era só iniciar a produção do conteúdo.

A fabricação dos vídeos para o novo perfil começa gerando imagens de Jesus no Midjourney, uma plataforma de IA voltada para criação visual. Em seguida, ele volta a recorrer ao GPT-4 para criar os textos narrativos. Para garantir a qualidade da locução, ele utiliza o Eleven Labs, onde misturou as vozes de Cid Moreira e de Willian Bonner para treinar o seu modelo.

Após concluir a parte de áudio e imagem, Zé vai no D-ID para criar animações de alta qualidade, que dão vida ao seu profeta. Em seguida, ele recorre ao Captions, onde adiciona legendas para complementar seus vídeos. Por fim, ele usa mais uma IA para criar trilhas sonoras originais, mais adequadas para aumentar a carga emocional das mensagens. Agora basta mandar tudo para o Whisper traduzir para inglês, espanhol e qualquer outro idioma que seja interessante testar. Foi assim que Zé chegou no seu filho que fala espanhol e viralizou mais rápido do que os perfis em inglês e português, criados um dia antes.

Rebanho Fiel

O TikTok, a popular ferramenta chinesa de vídeos curtos, está se revelando uma verdadeira mina de ouro para os criadores de conteúdo em busca de uma audiência massiva. Foi por conta dos incentivos dados por um programa de monetização, que remunera os perfis pela quantidade de views que os seus vídeos recebem, que José decidiu explorar a plataforma com estratégias mais ousadas. Os pagamentos variam na casa das dezenas de centavos de dólar por mil visualizações. Só vale a pena se os seus perfis girarem na casa de milhões de views por dia (e com um custo de produção baixíssimo).

A magia por trás desse sucesso reside no algoritmo do TikTok, uma fórmula misteriosa que impulsiona a viralização de conteúdos. O ChatGPT, principal ferramenta utilizada pelo Zé, também desempenha um papel fundamental nesse processo. Com sua inteligência artificial, ele identifica as melhores tags (palavras-chave) relacionadas ao seu conteúdo, permitindo que seus vídeos sejam encontrados e recomendados para um público mais amplo.

A dinâmica do TikTok é fascinante. Os vídeos curtos, muitas vezes com apenas alguns segundos, são capazes de prender a atenção dos espectadores de forma viciante. O algoritmo inteligente da plataforma, baseado em aprendizado de máquina, analisa o comportamento e as preferências de cada usuário, oferecendo um feed personalizado com conteúdos que mais os interessam. Isso significa que até mesmo perfis recém-criados têm a chance de viralizar e alcançar uma audiência imensa, caso acertem a fórmula.

O “Gepeto” ainda teve a sofisticação de sugerir emojis para os títulos e descrição das postagens, tornando os vídeos mais atraentes. Os tradicionais pedidos de like e chamadas para escreverem “amém” nos comentários também estão no cardápio de sugestões para o roteiro. E os fiéis obedecem aos montes. Tudo pensado para otimizar o engajamento do público e potencializar a propagação das mensagens.

O Novo Evangelho do Criador

Com suas ousadas experimentações e o uso estratégico de múltiplas ferramentas de IA, Zé conquistou uma audiência massiva em um curto período de tempo, abrindo portas para novas possibilidades de sucesso no mundo virtual.

José percebeu que a inteligência artificial pode ser uma aliada poderosa na produção de conteúdo em larga escala. Com a ajuda de IA, ele pôde expandir a capacidade de sua equipe, aumentando significativamente a quantidade de vídeos produzidos diariamente na sua rede de perfis. Essa maior produção não apenas impulsionou seus negócios, como proporcionou oportunidades de emprego para outras pessoas.

A resistência inicial de alguns membros da equipe em adotar a IA foi superada quando viram os benefícios tangíveis que ela trazia, como a continuidade de seus empregos e a ampliação das possibilidades criativas. Isso evidencia que, longe de eliminar empregos, a inteligência artificial pode gerar novas oportunidades e impulsionar o crescimento de equipes e negócios.

À medida que a IA continua a evoluir e se integrar cada vez mais em nossas vidas, histórias como a de José se tornam exemplos inspiradores de como a combinação de criatividade humana e inteligência artificial pode gerar resultados surpreendentes. O futuro está repleto de possibilidades, e aqueles que souberem aproveitar o potencial da IA certamente estarão um passo à frente na conquista de audiências e no sucesso em suas empreitadas digitais.

No final das contas, a história do José, o pai do Jesus Artificial, nos mostra que o futuro é moldado pela inovação e pela coragem de experimentar. Seja você um criador de conteúdo, empresário ou simplesmente um espectador curioso, é importante abraçar as oportunidades que a inteligência artificial oferece e explorar os caminhos que ela nos apresenta. Afinal, em um mundo cada vez mais conectado e movido por tecnologia, as possibilidades são infinitas, e o próximo sucesso viral pode estar apenas a alguns cliques de distância.

A diferença entre o real e o virtual

Ao comparar o texto original com o texto final, podemos identificar as partes que foram acrescentadas ou modificadas pelo ChatGPT. Aqui está uma análise da distribuição do conteúdo:

- O texto original representa aproximadamente 68% do conteúdo final.

- O ChatGPT contribuiu com cerca de 32% do conteúdo final.

O ChatGPT desempenhou um papel significativo na expansão e desenvolvimento do texto. Ele adicionou informações sobre as ferramentas de inteligência artificial utilizadas por José, explicou o algoritmo do TikTok e destacou a capacidade da IA de impulsionar a viralização de conteúdo. Além disso, o ChatGPT ajudou a elaborar a conclusão, ressaltando a importância da inovação e da coragem de experimentar no contexto da inteligência artificial.

No entanto, é importante observar que o ChatGPT não apenas acrescentou informações, mas também adaptou a linguagem e o estilo do texto para torná-lo mais coeso e coerente. Ele manteve a estrutura geral e o tom humorístico do texto original, mas contribuiu com o aprimoramento da redação e a inserção de detalhes específicos.

Em resumo, o ChatGPT desempenhou um papel complementar importante na criação do texto final, adicionando informações e aprimorando a redação original. A colaboração entre o autor humano e o ChatGPT resultou em um texto coeso e envolvente sobre as perspectivas da inteligência artificial e seu impacto nas decisões de contratação de profissionais como José Ferreira.

‘Na minha mão é mais caro (e ilegal)’

“Quando chegou a minha vez, os seguranças disseram: ‘quero que você fale uma música da Taylor Swift’. Respondi: ‘tá, de qual álbum especificamente?’. Daí me deixaram passar. Pouco antes tinha um cambista que virou, afinou a voz e cantou: ‘I stay out too late’, o comecinho de Shake It Off”, conta Luan Henrique Neri. O cambista passou ileso, relata o fã. Há dez dias, o jovem acampa nos arredores e na fila da bilheteria do Allianz Parque, em São Paulo, para conseguir comprar um ingresso da The Eras Tour, a primeira turnê da cantora americana em cinco anos. Pouco antes de sacudir a capital paulista em 24, 25 e 26 de novembro, as apresentações lotam o Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro, nos dias 17, 18 e 19. Para prestigiar a queridinha do pop, no entanto, os swifties precisam driblar um problema antiquíssimo: o cambismo. 

“Na sexta retrasada aconteceu o show do Titãs. Os funcionários não deixaram a gente ficar aqui no Allianz. Fomos para debaixo do viaduto, acampamos lá, e os cambistas organizaram tudo. Contrataram segurança, fizeram churrasco e até nos ofereceram. Mas no dia seguinte, quando voltamos para a fila, foi um verdadeiro cabaré. Eles até saíram no soco para passar na frente”, lembra o jovem. Após uma série de denúncias, o Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), da Polícia Civil, em conjunto com o Procon-SP, deflagrou a Operação Ingresso Limpo para coibir a atuação dos cambistas. Dos dias 19 a 22, foram detidos 34 suspeitos. Também houve a apreensão de 22 cartões e R$ 9 mil em espécie. Embora eficaz como medida de urgência, a mobilização das autoridades passa longe de resolver a questão.

“Começa em nossa lei. Nela, não há uma definição para cambistas. Na prática, sabemos que eles adquirem ingressos e revendem a preços muito maiores. São, literalmente, oportunistas. Vivem desse tipo de negócio esperando grandes eventos como shows e jogos”, explica a advogada especializada em direito do consumidor Maria Inês Dolci. Na legislação brasileira não consta um crime tipificado como cambismo. Mesmo assim, a conduta é ilegal porque se enquadra na Lei nº 1.521 de 1951, que fixa os crimes contra a economia popular. Em seu 2º artigo, a norma prevê multa e detenção, de 6 meses a 2 anos, para quem “obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos”. Ainda, particularmente nos casos de eventos esportivos, o Estatuto de Defesa do Torcedor trata como crime “fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete”. 

Diante do tumulto nas vendas, deputados federais têm se mobilizado visando preencher a lacuna legislativa. Na última semana, a vice-coordenadora da bancada paulista na Câmara, Simone Marquetto (MDB-SP) protocolou o projeto para criar a Lei Taylor Swift, que criminaliza a venda de ingressos por cambistas. O texto sugere ainda a pena de um a quatro anos de reclusão, com multas cem vezes maiores que o valor dos ingressos apreendidos. O parlamentar Pedro Aihara (Patriota-MG) apresentou outra proposta neste mesmo sentido, tipificando também o “cambismo digital”. 

Lei já existe

“A iniciativa é muito boa, porém o processo de lei é demorado. E realmente a atividade do cambista já pode ser punida como crime contra a economia popular exatamente porque busca obter ganhos ilícitos em detrimento do consumidor. Sim, estamos falando de uma lei antiga, de 1951. Mas está em vigor, precisa ser aplicada”, analisa a jurista. Segundo ela, o combate à prática precisa unir várias pontas, do consumidor ao vendedor — passando pelas diretrizes impostas pelo Estado.

Do lado de dentro do balcão, Luciano Nogueira Neto conseguiu acabar com a ação dos cambistas em 1989, quando era sócio e diretor do Palace em São Paulo. “Foi possível com a criação do ingresso nominativo. Todos os ingressos, já à época impressos por computador em formulário contínuo, recebiam o nome do comprador que necessariamente tinha que estar presente e se identificar. Caso contrário, as entradas eram reembolsadas na bilheteria e nós as vendíamos, novamente, para uma fila que se formava. Os cambistas não pararam antes de fazer todas as espécies de ameaças, mas o sistema funcionou perfeitamente durante anos”, diz. Se os ingressos nominais apresentam uma saída simples, os meios virtuais clamam por soluções mais específicas e avançadas.

“Um ponto muito importante: as promotoras de eventos devem controlar seus portais de venda online, tentando identificar fluxos anormais de compras, indicativos de ações coordenadas. Precisam, inclusive, aprimorar as medidas para ataques de robôs cambistas, com testes como os de captcha”, reforça Dolci. Os bots explicam, em boa parte, porque esgotam em minutos quantidades gigantescas de ingressos para grandes eventos. No meio virtual, saem de cena os cambistas que permanecem horas debaixo do sol para adquirir entradas e revendê-las nas portas dos estádios. No lugar deles, robôs são programados para atuarem como clientes, preenchendo login, senha e comprando os ingressos várias vezes seguidas. “O crime se adequa às novas tecnologias, por isso o combate a ele também passa por essa via. Mas não só. O consumidor precisa ter consciência para não corroborar com a ilegalidade, esse é o principal. Cabe às autoridades e empresas monitorar previamente as ações dos criminosos para desmontar a rede de oportunistas, fiscalizar o ato da compra e, só então, entram as leis para punir aqueles que conseguirem driblar todo um sistema já pré-colocado de defesa”, conclui a advogada.

Os leitores do Meio gostam de se informar bem e de comer bem. Pelo menos é o que mostram os links mais clicados da semana:

1. Panelinha: Tomate grelhado.

2. Estadão: Apple processa loja de frutas centenária.

3. Panelinha: Sopa de milho com páprica e cebolinha.

4. YouTube: Ponto de Partida – Um Exército sempre golpista.

5. Além da Superfície: Eólica offshore – A força do vento

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O liberalismo ausente

15/05/24 • 11:09

Nas primeiras semanas de 2009, o cientista político inglês Timothy Garton Ash publicou no New York Times um artigo sobre o discurso de posse de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. “Faltava apenas”, ele escreveu, “o nome adequado para a filosofia política que ele descrevia: liberalismo.” A palavra liberalismo, sob pesado ataque do governo Ronald Reagan duas décadas antes, passou a representar para boa parte dos americanos uma ideia de governo inchado e incapaz de operar. Na Europa continental e América Latina, segue Ash, a palavra tomou o caminho contrário, representando a ideia de um mercado desregulado em que o poder do dinheiro se impõe a um Estado fraco. Não basta, sequer, chamar a coisa só de liberal. É preciso chamá-la neoliberal. Desde final dos anos 1970, já são quarenta anos de um trabalho de redefinição forçada do que é liberalismo, uma filosofia política de três séculos e meio pela qual transitaram algumas dezenas de filósofos e economistas de primeiro time. O sentido do termo se perdeu de tal forma no debate público, que mesmo muitos dos que se dizem liberais não parecem entender que conjunto de ideias representam.

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