Prezadas leitoras, caros leitores —
Um dos maiores estudiosos de como o autoritarismo se transmutou em algo relativamente mais palatável para corroer as democracias por dentro é também um especialista em América Latina. Talvez não seja coincidência. Steve Levitsky, o cientista político que ficou mundialmente famoso por diagnosticar, com Daniel Ziblatt, Como as Democracias Morrem, acompanha desde muito antes a situação de Argentina, Peru e Nicarágua, em particular.
Foi com essa lupa que ele observou a eleição do último domingo, em que Javier Milei, um radical de direita que flerta sem constrangimento com a ruptura democrática, despontava como favorito. Levitsky deu uma entrevista ao Meio. E o papo com a jornalista Sylvia Colombo é tão momentoso que decidimos antecipar nosso Meio Político desta semana.
Assinante premium recebe essa edição especial do Meio Político hoje, a partir das 11h. Amanhã, no YouTube, como parte de nosso conteúdo aberto, o Conversas com o Meio é com o economista Samuel Pessôa, sobre o cenário econômico argentino que possibilita a ascensão de figuras como Milei.
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Os editores.
Milícia transforma o Rio em zona de guerra
Cidade sitiada, cenas de guerra. De terror. Esse foi o cenário que a milícia impôs ontem em ao menos sete bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro, que abrigam uma população de cerca de 1 milhão de pessoas. Os ataques a 35 ônibus e um trem foram em represália à morte de Matheus da Silva Rezende, conhecido como Teteu e Faustão, em uma operação policial em Santa Cruz. Ele era o número dois da milícia comandada por seu tio Zinho, na comunidade Três Pontes. As ações da milícia levaram ao maior número de coletivos incendiados na história da cidade, segundo a Rio Ônibus. Um vídeo mostra um homem ateando fogo em um ônibus ainda com passageiros dentro. Várias estações do BRT ao longo da Avenida das Américas, que começa na Barra da Tijuca, foram incendiadas. Veículos particulares e pneus também foram postos em chamas, fechando a entrada para diversos bairros e bloqueando a Avenida Brasil, uma das principais vias da capital. Com o caos no trânsito e a paralisação dos serviços, muitos trabalhadores voltaram para casa a pé. Além disso, as aulas foram suspensas para mais de 17 mil alunos dos bairros afetados. (g1 e Globo)
O governador Cláudio Castro (PL), que parabenizou a Polícia Civil pela morte do miliciano, classificou os ataques como “ações terroristas” e prometeu capturar três chefes do crime da região, conhecidos como Zinho, Tandera e Abelha, este último apontado como líder do Comando Vermelho. A Polícia Militar prendeu 12 suspeitos de envolvimento nos ataques e Castro afirmou que todos eles serão enviados a presídios federais. Já o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que o governo vai ampliar as forças federais no Rio. (g1 e Globo)
Bernardo Mello Franco: “Quem assistiu às cenas desta segunda-feira, filmadas por helicóptero e transmitidas ao vivo na TV, verificou com os próprios olhos a ausência do poder público. Enquanto os ônibus pegavam fogo, moradores se arriscavam a poucos metros das chamas para chegar em casa. Não apareciam policiais, bombeiros ou guardas de trânsito para proteger a população, apagar os incêndios e isolar as ruas afetadas.” (Globo)
A adolescente Giovanna Bezerra, de 17 anos, morreu e outras duas ficaram feridas em um ataque a tiros em uma escola em Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo. Aluno do 1° ano do Ensino Médio, o agressor tem 16 anos, está detido pela polícia e teve a arma apreendida. Giovanna foi atingida na cabeça. Uma adolescente foi baleada no tórax e a terceira, na clavícula. (UOL e Folha)
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que informações preliminares apontam que o ataque “pode ser decorrência de bullying e homofobia”. Segundo relatos de pais e alunos, o autor dos disparos era agredido com frequência por outros estudantes e costumava se envolver em brigas. Tarcísio afirmou que manterá o plano de contratar vigilância privada e mais psicólogos para atuar nas escolas. Já o ministro da Justiça e Segurança, Flávio Dino, acionou o Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab) para investigar se o jovem tem ligação com grupos extremistas na internet. (Metrópoles)
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Política
Candidato mais votado no primeiro turno das eleições presidenciais argentinas, o peronista Sergio Massa, que também é ministro da Economia, disse ontem que não quer envolver o presidente Lula e sua equipe nas eleições e que um eventual apoio será uma decisão do brasileiro. Massa disputará o segundo turno, em 19 de novembro, com o ultraliberal Javier Milei. “Tenho uma relação de muito afeto com o presidente Lula, um enorme respeito por Fernando Haddad, por Gabriel Galípolo [do Banco Central], pelo vice-presidente Alckmin, muitos dirigentes do Brasil. Não quero envolvê-los na eleição argentina, apesar de claramente haver uma simpatia mútua”, disse à Folha. “Em todo caso, será decisão deles envolver-se ou não do ponto de vista eleitoral.” (Folha)
Já o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro a Milei tirou votos do argentino. A avaliação é de Andrei Roman diretor-executivo da Atlas Intel, único instituto de pesquisa que previu a vitória de Massa no primeiro turno. “O apoio de Bolsonaro tira votos. Vamos adicionar essa pergunta na próxima pesquisa para testar a imagem do ex-presidente na Argentina. Não há apoio majoritário para o Bolsonaro naquele país, como não há para o presidente Lula. No caso do Lula, o motivo é a associação com a corrupção do passado. No caso do Bolsonaro, a rejeição se dá por conta de um governo considerado caótico, principalmente no contexto da Covid-19”, disse à coluna de Bela Megale. (Globo)
A legenda A Liberdade Avança, de Milei, elegeu 35 deputados e oito senadores nas eleições do último domingo. Fundada em 2021, a legenda foi a que mais cresceu no Legislativo – hoje tem apenas três deputados, incluindo Milei, e nenhum senador. A coligação de partidos peronistas União pela Pátria, de Massa, perdeu 10 assentos, mas segue sendo a maior bancada da Câmara, com 108 das 257 cadeiras. A segunda força na Casa continua sendo a coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, com 93 deputados. (g1)
Meio em vídeo. Tem coisas que só acontecem na Argentina. Quem poderia imaginar que o ministro da Fazenda que gerencia uma inflação anualizada de 138% em setembro chegaria em primeiro na briga do segundo turno? Como foi que Massa chegou em primeiro? E quão parecido com Bolsonaro é Javier Milei? Confira o que pensa Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)
As israelenses Nurit Cooper, de 79 anos, e Yocheved Lifshitz, de 85, que foram sequestradas pelo Hamas, no último dia 7, no kibutz Nir Oz, foram soltas ontem pelo grupo terrorista, após mediação do Catar e do Egito. Segundo a mídia egípcia, as duas chegaram ao país em condição de saúde estável. De lá, de acordo com o gabinete do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, foram levadas a um hospital. Amiram, de 85 anos, marido de Nurit, e Oded, de 83 anos, casado com Yocheved, continuam em poder do Hamas. Na sexta-feira, o Hamas já havia libertado duas reféns americanas, Judith Tai Raanan e Natalie Raanan. (CNN)
Horas antes, o governo americano recomendou a Israel que retardasse o início de sua ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, permitindo a negociação para libertar mais reféns, disseram fontes ligadas ao governo Biden. Washington teme que a invasão da Faixa de Gaza interrompa esse processo. (AP)
Michel Nisembaum, nascido em Niterói e radicado em Israel há 35 anos, está desaparecido desde o dia 7. Ele estava ao telefone com um parente, quando a ligação foi interrompida. A filha dele tentou restabelecer o contato, mas a chamada foi atendida por uma voz masculina, que, segundo o depoimento, falou Hamas em árabe. (g1)
As forças armadas israelenses disseram ter atingido ontem 320 “alvos militares” e feito incursões breves por terra no enclave palestino para matar atiradores e procurar os 222 reféns. Já o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, afirma que pelo menos 400 palestinos morreram nas últimas 24 horas, 70 deles em um bombardeio ao campo de refugiados de Jabalia. (Guardian)
Para ler com calma. O New York Times publicou ontem uma nota dos editores sobre sua manchete da explosão no hospital Al-Ahli, na Faixa de Gaza. O jornal reconheceu que sua cobertura inicial se baseou demais na versão do Hamas de que o prédio fora bombardeado por Israel, sem deixar claro que a informação não havia sido confirmada de forma independente. (New York Times)
A ordem para falsificar certificados de vacina contra a Covid-19 partiu do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Essa afirmação foi feita pelo tenente-coronel Mauro Cid em seu acordo de delação premiada, conta Aguirre Talento. Em um de seus depoimentos à Polícia Federal, Cid admitiu sua participação na fraude dos certificados de vacina inseridos no sistema do Ministério de Saúde e vinculou Bolsonaro ao esquema de forma direta. O relato, confirmado por três fontes, contraria a versão apresentada pelo ex-presidente à PF. Em maio, ele afirmou que não sabia nem orientou qualquer fraude em cartão de vacinação para seu uso ou de seus parentes. (UOL)
Para ler com calma. À espera de nomeações de indicados do Centrão para a cúpula da Caixa, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), indicou ao Planalto que pretende destravar a taxação de offshores e fundos dos super ricos. Depois, porém, para tudo até conseguir os cargos. Ontem, um mês depois de se submeter a cirurgias no quadril e nas pálpebras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a trabalhar no Palácio do Planalto. (Globo)
Cultura
O Prêmio São Paulo de Literatura 2023 revelou ontem seus finalistas nas categorias de melhor romance e melhor romance de autor estreante. Sem a Companhia das Letras, que perdeu o prazo de inscrição, houve uma maior diversidade de editoras na disputa. Com cinco romances, a Todavia lidera o número de indicações, seguida por Autêntica Contemporânea, com três, Record e Quelônio empatadas com duas. Títulos publicados pelas independentes Patuá, Nós, Macondo, Reformatório e Incompleta, além de Rocco e Planeta também estão concorrendo. (Estadão)
“O que é MPB? Um partido político? Eu tenho horror a esses termos.” A indagação vem de um dos maiores criadores do gênero, o cantor e compositor Edu Lobo (Spotify), que comemora seus 80 anos com um álbum duplo. Mas não espere novas canções. Oitenta traz 12 faixas já conhecidas, com novos arranjos e interpretadas por convidados. É o caso de duas parcerias de Edu com Chico Buarque: Salmo, que tem a natureza etérea reforçada pela voz de Zé Renato, e Beatriz, em que Mônica Salmaso tem a tarefa de fazer frente à interpretação antológica de Milton Nascimento no Grande Circo Místico (Spotify). (Folha)
Taylor Swift segue na liderança das bilheterias nos Estados Unidos, mesmo com o lançamento de Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese. Taylor Swift: The Eras Tour Concert Film, um registro de sua recente turnê, que chega ao Brasil em novembro, arrecadou US$ 31 milhões na segunda semana em cartaz. A obra de Scorsese foi a segunda mais vista, com US$ 23 milhões. O Exorcista: O Devoto registrou bilheteria bem menor, de US$ 5,6 milhões, mas o suficiente para ser o terceiro mais visto da semana. (Rolling Stone)
Cotidiano Digital
No último dia de votação no plenário virtual do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Dias Toffoli pediu destaque no caso em que Apple e Gradiente disputam a propriedade da marca iPhone no Brasil. Com isso, o julgamento será reiniciado no plenário físico. Antes do destaque do relator, o placar estava em 5 a 3 a favor da big tech americana. Dias Toffoli, votou a favor da Gradiente e foi acompanhado por Gilmar Mendes e André Mendonça. Já os ministros Luiz Fux e Luís Roberto Barroso abriram divergência, sendo seguidos por Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia. O ministro Edson Fachin havia se declarado suspeito. A Gradiente defende que a marca pertence a ela no país, já que a depositou no INPI em 2000, recebendo o registro apenas em janeiro de 2008, um ano após o lançamento do telefone da Apple nos Estados Unidos. (Jota)
O governo instituiu ontem o ConectaBR, programa nacional de melhoria da cobertura e da qualidade da banda larga móvel. O objetivo é ampliar a área em que o acesso à internet é possível no país, reduzir desigualdades regionais e estimular o desenvolvimento social e econômico. O projeto será desenvolvido e implementado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que também vai monitorar e avaliar a prestação de serviços de comunicações móveis. (CNN Brasil)
O Tinder vai permitir que amigos e parentes acessem o aplicativo de relacionamentos para indicar possíveis matches ao usuário. Com a novidade, chamada de matchmaker, o solteiro pode convidar pessoas não registradas no Tinder, mas ainda terá que curtir o perfil indicado e escolher se inicia uma conversa. Usuários do app podem compartilhar um convite com até 15 amigos em um período de 24 horas. O novo recurso do aplicativo já está disponível no Brasil e em outros países, como Estados Unidos, Japão e México. Segundo a empresa, o matchmaker deve ser lançado no restante do mundo nos próximos meses. (Folha)
