Edição de Sábado: Meninas usam rosa

“Nós estamos treinando o maior exército de mulheres conservadoras da América Latina.” Com esse brado, a senadora Damares Alves marcou o 1º Encontro Nacional de Mulheres Republicanas, ocorrido entre 11 e 13 de dezembro no Complexo Brasil 21, em Brasília. Na plateia, cerca de 450 mulheres — entre deputadas federais e estaduais, secretárias estaduais, prefeitas, vereadoras, coordenadoras, primeiras-damas e potenciais pré-candidatas às eleições municipais de 2024 pelo partido Republicanos — empunhavam bairristicamente as bandeiras de seus Estados. “Ó, Minas Gerais”, “Oh, meu Rio Grande”, “Salve, Salvador”.

Algumas chegaram uniformizadas, como as integrantes da caravana da Bahia, que compareceram de laranja. A cor oficial do evento, porém, era o roxo. Mas não o roxo de raiva. O tom geral nas palestras, painéis e oficinas era de aparente moderação: “Chega de briga e de confusão, é hora de unir a Nação”, entoava Damares ao microfone. Uma moderação à direita, visando ao engajamento de mulheres que valorizam a família e a tradição, temperada com uma boa dose de clamor bíblico, permeada por recortes de ciência. Tudo na medida para as redes sociais. Mix difuso para entender de imediato, mas que aos poucos foi se definindo nos três dias de imersão. “Mulher não é cota”, dizia Damares, levantando a bola. “Mulher é essencial”, rebatia o coro feminino, brancas e pretas, em sua maioria aparentando mais de 45 anos, de sandálias de strass e sapatilhas rasas, que espocavam “Améns” pelo auditório. A estratégia vem dando resultado: em janeiro, o Republicanos comemorou o crescimento de 77,4% nas filiações de mulheres em 2023, na comparação com 2022, e credita o sucesso ao “efeito Damares”.

Mulher virou cota essencial na política brasileira. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que, nas eleições proporcionais, partidos e coligações devem reservar ao menos 30% das vagas de candidaturas para mulheres, com a mesma porcentagem no acesso ao Fundo Eleitoral e ao tempo destinado à propaganda eleitoral gratuita. O TSE e o Supremo Tribunal Federal mandaram avisar que punirão partidos que pretendam burlar a lei de cotas por meio de candidaturas fictícias, com fraude no financiamento. “Isso aconteceu mais nas eleições para vereador do que para deputado estadual e federal”, lembra Pedro A. G. dos Santos, professor titular de Ciência Política na College of Saint Benedict and Saint Johns University, em Minnesota, no norte dos Estados Unidos. “Nas eleições municipais, há menos controle, inclusive dos diretórios nacionais e estaduais dos partidos.”

Santos vem trabalhando no tema das candidaturas fictícias com a pesquisadora do Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Luciana Ramos. Mas já publicou artigo com outros especialistas em que mostrava que, entre 1994 e 2014, analisando apenas as candidaturas laranjas de mulheres, 42,8% eram de partidos de esquerda ante 51,7% entre partidos de direita. “Na questão básica de representação feminina, é importante ter mulheres no poder”, destaca ele. Nas eleições de 2022, por exemplo, apesar de elas corresponderem a 52,65% das pessoas aptas a votar, sua sub-representação foi inequívoca. De acordo com o TSE, 9.794 mulheres se candidataram aos cargos disponíveis, incluindo posições de suplência, mas apenas 302 foram eleitas — quase 3,1%. Seguindo esse cenário pé-no-chão, Santos aponta que a tentativa de abarcar mais mulheres não significa que elas terão apoio efetivo dos partidos, sejam quais forem os partidos, nem que o aumento baterá na casa dos 30% de eleitas.

De imediato, ele aposta em mudanças de estratégia das legendas para atrair um número maior de candidatas. Algo como uma reembalagem de momento. “Partidos e políticos que queiram focar apenas nos cristãos conservadores, por exemplo, estarão se limitando no reduto eleitoral”, lembra Santos. A cooptação da ciência por siglas de direita como amparo para suas causas seria uma forma de ampliar esse público. “Falar de ciência passa a ideia de progresso, mas não de progressismo ideológico, e sim de inovação e desenvolvimento do país.”

Ciência também tem ligação estreita com a academia. O Republicanos, fundado em 2005 como Partido Municipalista Renovador por pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, gosta de destacar que é o único partido que possui uma faculdade. Trata-se da Faculdade Republicana, com sede em Brasília. Vinculada à Fundação Republicana Brasileira (FRB), oferece graduação presencial em Ciência Política, Direito e Gestão Pública e pós-graduação 100% EaD para 18 cursos. O de Lideranças Femininas é ministrado pela própria FRB. A proposta literal é de “um ensino de excelência como forma de fortalecer a autoridade democrática no país”.

A fundação conta ainda com um Núcleo de Estudos e Pesquisas (NEP), voltado a produzir materiais como enquetes, e-books e artigos acadêmicos, além de publicações para as redes sociais da instituição. Faz parte dessa produção a cartilha Reflexões sobre o aborto na América Latina, distribuída no formato de papel a todas as participantes do evento no Complexo Brasil 21, mas que também estaria disponível na versão e-book. Trata-se de um compêndio sobre a legislação que rege o aborto em 26 países da América do Sul e Central dividido nos seguintes tópicos: Como funciona?, Argumento a favor, Argumento contrário, Veto players e Legislação atual e/ou tramitação de matérias relacionadas. Invariavelmente, todos os “veto players” mencionados são grupos católicos e evangélicos ou médicos que alegam objeção de consciência ao procedimento, em geral por motivos religiosos, de acordo com o compêndio.

O prefácio afirma que a cartilha fornece um “panorama completo e atualizado” e “uma visão geral das diferentes legislações sobre o aborto na América Latina, incluindo suas implicações jurídicas e sociais”, além de ser uma “exposição sem juízo de valores de cada uma das legislações”. No entanto, não explicita informações jurídicas e sociais relevantes, como a prisão perpétua em Belize e Jamaica para mulheres que fizerem o aborto sem a permissão de um médico registrado. Há ainda, no material, entrevistas pró-vida com Damares Alves, que assumiu o cargo de secretária nacional do Mulheres Republicanas em abril de 2023, e com Angela Vidal Gandra da Silva Martins (cujo nome foi escrito Angela Vidal de Silva Gandra na cartilha), que foi secretária nacional da Família no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos quando Damares era titular da pasta.

Fabio Vidal, coordenador do NEP e professor de Direito e Sociologia Política na Faculdade Republicana, reiterou, durante o evento, o “material rico” que as pré-candidatas tinham em mãos e insistiu que o aborto é um fato social sobre o qual as mulheres presentes não podem ter vergonha de dizer que são contra. “Vocês, candidatas que certamente estarão na rua em 2024, vocês serão pressionadas a ter um posicionamento político e vocês precisam saber qual é o seu lado”, afirmou.

O cientista político Sérgio Praça, professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais (CPDOC) da FGV, não acredita que pautas como o aborto apareçam durante as campanhas municipais. “Embora obviamente hiperimportantes, não dizem respeito à cidade, ao contrário do transporte, da habitação e da economia, que são temas mais do dia a dia do cidadão.” Contudo, assuntos como o aborto, tradicionalmente encabeçados pelas feministas, estão cada vez mais presentes no cardápio das candidatas conservadoras, na mão contrária. Direitos Humanos, aliás, também apareceram no menu do encontro nacional dos Republicanos como um dos painéis, mas dentro do espectro rosa. “Casamento é direito humano, família é direito humano”, afirmou Damares, para aparente alívio de boa parte da plateia, que não estava entendendo, até então, o que fazia aquela expressão ali.

Ao lado de Fábio Vidal, no palco, estava o ginecologista e obstetra Adriano de Oliveira Sousa, que atuou em Manaus. Ele entende que aborto é, sim, problema de vereador e de prefeito. Explica que o SUS tem três níveis básicos: primário, secundário e terciário. A prefeitura cuidaria da maternidade, que é atendimento primário. “E onde fazem os abortos, onde está o SAVS (Serviço de Atenção à Violência Sexual), que é o atendimento da vítima de estupro?”, perguntou. “Tá dentro da maternidade. Então, vocês vão ter maternidade e vão fiscalizar esse tipo de serviço”, completou, com veemência.

Damares tentou moderar. “Tem muitas mulheres aqui que, se fossem estupradas, não abortariam. Mas isso é uma questão de foro íntimo e a gente não vai discutir isso”. Em seguida, porém, retomou o valor caro ao partido de condenar o aborto em qualquer condição, incluindo aquelas em que o procedimento está legalizado no Brasil — em caso de estupro, risco de vida para a gestante e anencefalia do feto. “Mesmo para essa mulher que já passou por essa violência, eu preciso dizer: o estuprador vai ficar quatro anos na cadeia e o bebê vai receber pena de morte. A gente precisa falar essas verdades, que dói, incomoda a gente (sic). E a mulher vai levar, para o resto da vida, duas dores. A primeira dor, que ela foi estuprada. A segunda, que ela matou um bebê.”

Fazendo escola

O segundo dia de encontro trouxe estratégias pragmáticas de como as filiadas podem construir um mandato de impacto nos municípios, uma fala do tesoureiro nacional do partido, que foi recebido com “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí”, e oficinas de marketing político e captação de recursos para a campanha. Entre elogios à organização do encontro, Damares, que havia visitado outros sete estados nessa toada por mais participação feminina no seu partido, lembrou que outras legendas estariam copiando o modelo republicano na conquista de mais filiadas. “O Republicanos está fazendo escola”, disse, reforçando serem “o verdadeiro partido conservador do Brasil”. Depois, com um frisar de testa, alertou: “Nosso maior adversário é a direita. Na ponta, vamos enfrentar a direita”.

Sem nomear, Damares, que completará 60 anos em março, provavelmente falava do PL Mulher, braço do Partido Liberal voltado à filiação feminina e à articulação de candidaturas pilotado por Michelle Bolsonaro desde março de 2023. Com um salário inicial bastante divulgado de R$ 31 mil, que subiu para R$ 41 mil no abril seguinte, a ex-primeira-dama, de 41 anos, também tem feito um tour pelo Brasil arregimentando pré-candidatas, ao mesmo tempo em que nega pretensões de concorrer à presidência do país em 2026.

Recebida por faixas como “a nossa mita”, ela prega Deus, pátria, família e liberdade na esteira do marido e costuma povoar suas redes sociais com salmos e versículos para rebater acusações. Foi o que fez diante dos mandados de busca da Polícia Federal contra seu enteado, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), suspeito de integrar “núcleo político” instalado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar indevidamente inimigos políticos do governo Bolsonaro. “Nenhuma arma forjada contra você prevalecerá, e você refutará toda língua que a acusar”, extraiu ela do profeta Isaías.

Sua plataforma de lançamento, mais propriamente, é pastorear pela inclusão de deficientes e pessoas com doenças raras, assunto que Damares também faz crescer em suas apresentações durante os eventos. Se Michelle costuma dividir o palco com surdos, mães de crianças com paralisia cerebral, pessoas com visão monocular (em João Pessoa, pediu que a deputada federal e vice-presidente do PL Mulher, Amália Barros, retirasse sua prótese ocular e guardou o objeto no bolso), Damares e outros integrantes do Republicanos lembraram variadas vezes das crianças com nanismo e autismo que seu partido promete proteger por meio de projetos de lei e políticas públicas. Não foi usada a expressão Transtorno do Espectro Autista (TEA), como preferencialmente tem sido chamado o distúrbio.

“Temos essa preocupação com o índice que tem aumentado de autismo. A mãe, se tiver uma chance, vai querer abortar? Não. Nós queremos dizer para ela ‘Nós estamos aqui para te estender a mão e dizer ‘vamos te ajudar a cuidar dessa vida’”, afirmou no encontro nacional Cristiane Britto, ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro, fazendo o link entre o transtorno e o aborto. A ciência ainda não confirmou nem o aumento de casos de TEA (acredita-se que teria havido um maior volume de informações que levam ao diagnóstico) nem sua confirmação clara e definitiva durante a gestação. Pouco antes, Britto havia feito um pronunciamento em tom de desabafo: “Eu cansei de ser tachada ‘a cristã’, ‘a crente que defende a vida por causa da Bíblia’. Não. A gente tem conhecimento técnico, a gente tem conhecimento médico, a gente tem conhecimento jurídico, científico para fazer essa defesa”. Foi ovacionada pela plateia.

“A senadora mais bonita”

Em novembro, o Mulheres Republicanas organizou um encontro em Campinas. Foi uma investida no interior de São Paulo, conhecido reduto conservador. A região Sudeste, afirmou a deputada Maria Rosas, coordenadora do movimento na região, foi a que mais filiou novas lideranças republicanas. Compareceram, segundo a organização, 1,2 mil mulheres, em tietagem pura com Damares, “a senadora mais bonita”.

Em janeiro de 2020, Damares Alves não foi muito bem acolhida em São Carlos, também no interior paulista. Ao protocolar um projeto de decreto legislativo que previa conceder o título de cidadã honorária à então ministra, o vereador e também evangélico Moisés Lazarine (então DEM, hoje União Brasil) recebeu mensagens de desaprovação. Damares morou de 1989 e 1998 em São Carlos, onde fez faculdade de Direito na Faculdade Integrada de São Carlos (Fadisc) e foi secretária de Turismo da Prefeitura. Em 2011, a Fadisc foi descredenciada pelo MEC, por não atender aos prazos para demonstrar a viabilidade econômica e financeira. Ela teria cerca de R$ 3 milhões apenas em dívidas trabalhistas. Encerrou as atividades em dezembro de 2012. Do prédio restou um esqueleto deteriorado e coberto por matagal.

Em 2020, críticos ao projeto do vereador diziam que homenagear Damares seria “um culto à imbecilidade” e que “São Carlos não é a terra da goiaba”, aludindo a uma afirmação de Damares de que, por sofrer abuso sexual diversas vezes entre os 6 e 8 anos de idade, subiu em um pé de goiaba para pôr fim à própria vida com veneno de rato, mas ali viu Jesus Cristo, que a teria convencido a desistir do suicídio. A visita a São Carlos, porém, foi mantida. O motivo alegado seria a proposta da então ministra das Mulheres e dos Direitos Humanos de organizar um grupo que cobrasse agilidade na liberação de verbas federais para reparar danos causados por enchentes na cidade. No dia do encontro de Damares com o prefeito, manifestantes trajando roupas de Carnaval e peruca se posicionaram em frente do prédio da prefeitura em protesto contra a presença da ministra. Foram recebidos com ovos pelo então vereador Leandro Guerreiro (então PSB, atual Patriota), que os recolhia da embalagem de isopor e os atirava como petardos contra os manifestantes na calçada. Um dos que o acompanhavam desferiu um soco no nariz do turista holandês Benjamin Van Impelen. Quatro manifestantes registraram B.O. contra os agressores. “Damares Alves prometeu recursos pra São Carlos, os recursos nunca chegaram e ela não recebeu homenagem nenhuma”, afirma o vereador Djalma Nery, do PSOL.

Nem por isso pautas mais progressistas ganharam espaço tranquilo no plenário são-carlense. Em março de 2021, Nery propôs um projeto de lei de incentivo e acolhimento às práticas de comunicação dos direitos das mulheres no caso do aborto legal. “A gente sabe que, apesar das hipóteses previstas em lei de interrupção da gravidez, é difícil a mulher saber onde tem acesso ao procedimento e como conseguir esse acesso, por todo o constrangimento até o procedimento que os próprios médicos muitos vezes se negam a fazer por objeção de consciência”, diz Nery. “A nossa ideia era reforçar um direito previsto.”

Mas a Comissão de Legislação, Justiça e Redação e Legislação Participativa apresentou um parecer pela rejeição alegando que a lei fere a competência do Executivo, e o projeto nem chegou a ir a votação. Em paralelo, a instituição do Dia do Nascituro, da Vida e Contra o Aborto, aprovada em agosto de 2022 para ser celebrada todo 8 de outubro, passou sem grandes objeções pela Câmara de Vereadores, assim como a mudança da data da Semana do Evangelho do dia 18 de julho para a última semana de outubro. Lazarine, um dos autores dessa última proposta, alegou que o mês de outubro, por ser menos frio que julho, é mais agradável para a realização do evento em locais públicos.

Conhecida como a capital da tecnologia pelo alto nível das pesquisas desenvolvidas em seus campi da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade de São Paulo (USP), a cidade tem uma população de 17 mil universitários flutuando entre quase 255 mil habitantes fixos. Não é apenas o volume de jovens de terceiro grau que surpreende. São Carlos também ostenta a maior concentração per capita de profissionais com doutorado do país. O entrosamento entre essa comunidade e a nativa, contudo, carece de sustância. “Os universitários não participam da vida pública do município, então a representação institucional não está muito sintonizada com essa atmosfera em teoria mais progressista”, afirma o vereador.

Integrante do Coletivo Promotoras Legais Populares de São Carlos, a pedagoga e também vereadora Raquel Auxiliadora (PT) confirma o muro entre as universidades e a população local. Ela lembra de vários relatos de pessoas, em especial da periferia, perguntando se podem passar do portão de entrada da UFSCar, por exemplo. Maribia Oliveira, ex-aluna de graduação da UFSCar e também ativa no coletivo, atesta que essa delimitação territorial acontece e, ao mesmo tempo, lembra que os movimentos sociais voltaram a fazer o trabalho de base de que se distanciaram, que é dialogar com a sociedade. “Enquanto isso, o movimento conservador, evangélico, acabou cooptando essas pessoas porque conseguiram trazer para elas o palpável, o dia a dia, que interferia na vida delas”, diz. “A mesma polarização nacional vai acontecer nas eleições municipais”, diz Auxiliadora. Ao polarizar, reflete ela, ambos os lados crescem no engajamento.

Para finalizar, no terceiro dia da imersão, a senadora fugiu mais uma vez do protocolo e abordou o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira, com uma pergunta de chofre: “O Republicanos é partido de crente?” Ao que o bispo licenciado da Universal do Reino de Deus e primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados tergiversou. “O Republicanos é um partido de cristãos, independentemente de ser evangélico, mas também pode ser de espíritas, não tem problema, não. É um partido de centro-direita, com valores de família, de proteção da vida, de proteção das crianças, de liberalismo na economia. Eu diria que é um partido com esse perfil.”

Amém, replicou a plateia.


*Mônica Manir é jornalista e doutora em bioética. Foi editora das revistas 'Nova Escola', 'Crescer' e 'Claudia' e editora do caderno Aliás, do 'Estadão', onde também foi repórter especial. É autora de 'Por um ponto final', coletânea de reportagens que escreveu para o 'Estadão' e para a revista 'piauí', e de 'Diário de uma Fadiga', sobre sequelas da covid longa.

As big techs, o Capitólio e as crianças

Os senadores americanos provocaram um suadouro em cinco CEOs de grandes companhias de tecnologia nesta semana, fazendo com que os representantes de algumas das principais plataformas dessem explicações sobre o que estão fazendo para garantir a segurança de crianças e adolescentes no mundo virtual. Na quarta-feira, altos executivos de Meta, TikTok, X, Discord e Snap foram questionados em uma sessão com parlamentares e parentes de crianças mortas em decorrência de assédio, drogas ou abuso sexual provocados após interações desprotegidas nas redes sociais.

Essa foi a primeira participação de Linda Yaccarino do X; Jason Citron, do Discord; e Evan Spiegel, do Snap. Veterano em sessões como essa nos últimos anos, Mark Zuckerberg foi o mais atacado pelos parlamentares. A ausência do YouTube pôde ser sentida, mas não é a primeira vez que a companhia escapa do escrutínio dos senadores. Em 2021, quando Facebook e o então Twitter davam satisfações ao Parlamento, já era notável como a gigante de vídeos do Google era deixada de lado.

Não são poucas, nem amenas, as acusações contra essas big techs, quando o assunto é a segurança dos pequenos. Investigações do Wall Street Journal e pesquisadores da Universidade de Stanford e da Universidade de Massachusetts revelaram que o Instagram ajudou a conectar predadores sexuais a uma vasta rede de contas abertamente dedicadas à compra de conteúdo sexual para menores. A Anistia Internacional publicou dois relatórios mostrando que o sistema de recomendação do TikTok e as práticas de coleta de dados são um risco à saúde mental dos menores de idade, ao amplificar conteúdos que romantizam e incentivam o pensamento depressivo, a automutilação e o suicídio entre esse grupo. O Discord é uma plataforma de bate-papo muito popular entre os gamers mais jovens, se estendendo para outras comunidades, como negociadores de criptomoedas e fãs de K-pop, e pode ter sido incluído entre os depoentes depois que uma reportagem da NBC News no ano passado apontou que o chat tem sido usado para sequestrar, extorquir menores e comercializar material de exploração sexual infantil. O Snap enfrenta processos judiciais movidos por um grupo de famílias em 2023 que culpam o Snapchat por facilitar o comércio de fentanil, um opióide sintético muitas vezes mais mortal que a heroína, e causar uma série de overdoses que mataram ao menos 60 crianças e adolescentes.

E aí?

Depois da denúncia, o Snap comunicou que estava reforçando as medidas para conter o tráfico de drogas no aplicativo, como tornar mais difícil encontrar contas de menores de 17 anos e melhorar os sistemas automatizados para detectar drogas ilegais. Também disse ter ampliado o número de funcionários para lidar com solicitações de aplicação da lei, além de criar um portal educativo para mostrar os perigos do fentanil e pílulas falsificadas. Para proteger jovens entre 13 e 17 anos, impediu que na lista de sugestão de novas conexões apareçam contas de menores, a menos que se tenha um certo número de amigos em comum com o menor. No Congresso, o CEO Evan Spiegel disse que 20 milhões de adolescentes usam o Snapchat nos Estados Unidos e que cerca de 200 mil pais usam os controles de supervisão do Family Center. Aproximadamente 400 mil contas de jovens foram vinculadas às contas dos pais por esse recurso.

Lucas Lago, tecnologista de interesse público no Instituto Aaron Swartz, considera válida a medida do Snapchat, de restringir sugestão de contas de menores. Para ele, esse tipo de ação é efetiva porque depende apenas de um ajuste na linha de código do algoritmo, não de inteligência artificial, e não carece de análise de contextos, o que facilita a automatização e dificulta a burlagem. Um exemplo no sentido contrário é o de filtragem de imagens. Medidas que busquem identificar nudez infantil podem esbarrar em fotos e vídeos de crianças com seus pais numa praia. Lago defende que a moderação de imagens seja feita por humanos justamente para evitar falhas provocadas pelo uso de inteligência artificial nessas identificações. Mas esse reconhecimento de conteúdo perigoso feito por pessoas é mais eficaz quando os moderadores são dos próprios países onde estão os usuários, para compreender a língua usada nos vídeos e por conhecer a cultura local, importantes para entender o contexto regional. E claro que a medida não seria muito popular entre as big techs, que não querem contratar mais colaboradores em suas equipes de segurança.

Antes da audiência de quarta-feira, o TikTok se comprometeu a gastar US$ 2 bilhões este ano na proteção de crianças e outros usuários americanos, que, segundo o CEO Shou Chew, vão ser administrados por uma equipe de tamanho quase inacreditável de mais de 40 mil pessoas. A rede social de vídeos curtos tem mais de 170 milhões de usuários ativos mensais apenas nos EUA e cerca de 1 bilhão em todo o mundo. Em seu discurso, Chew informou que a plataforma desativa o envio de mensagens diretas para menores de 16 anos, que têm contas definidas como privadas por padrão, assim como seu conteúdo, que não pode ser baixado ou recomendado para pessoas que eles não conhecem. Ele também enfatizou que o TikTok foi “uma das primeiras plataformas” a dar controles de supervisão aos pais e que as Diretrizes da Comunidade proíbem estritamente conteúdo ou comportamento que coloque os adolescentes em risco de exploração ou outros danos. “E nós as aplicamos vigorosamente.”

A CEO do X, Linda Yaccarino, disse aos senadores que menos de 1% dos 90 milhões de usuários do aplicativo nos Estados Unidos eram adolescentes de 13 a 17 anos. Ela também afirmou que a empresa suspendeu 12,4 milhões de contas por violarem suas políticas de exploração sexual infantil em 2023 e enviou 850 mil relatórios ao centro nacional para crianças desaparecidas e exploradas, oito vezes mais do que antes de Elon Musk efetivar a aquisição.

Na semana passada, o X anunciou a contratação de um novo centro de “Confiança e Segurança” com 100 moderadores de conteúdo em tempo integral. A medida ocorreu mais de um ano após os cortes massivos de colaboradores nas áreas de segurança e moderação, que deixaram a plataforma mais vulnerável a material de abuso sexual infantil. Lago considera insuficiente uma equipe de 100 pessoas, porque o tipo de conteúdo, que envolve imagens pesadas com todo o tipo de violência e abuso, faz com que os trabalhadores envolvidos tenham uma sobrecarga mental importante, implicando em uma maior rotatividade.

As metas da Meta

Alvo preferencial dos senadores, a Meta anunciou a restrição por padrão de mensagem no Facebook e no Instagram para pessoas maiores de 18 anos que tentem se comunicar com menores de 16 anos que não os seguem. Os controles parentais também serão reforçados, permitindo que os responsáveis permitam ou neguem as alterações feitas pelos adolescentes nas configurações de privacidade. A companhia também planeja lançar um recurso que impede os jovens de verem imagens indesejadas em mensagens pessoais enviadas por seus contatos. A ferramenta funcionará em bate-papos criptografados de ponta a ponta, além de desencorajá-los a enviar esse tipo de imagem. Não foi informado o que será feito para garantir a privacidade dos usuários durante a execução dessas funções, tampouco o que pode ser considerado inadequado.

Lucas Lago entende que a medida é problemática, porque a companhia estaria assumindo que tem acesso a mensagens enviadas por DM, que deveriam ser encriptadas de ponta a ponta. “A partir do momento que alguém está mandando uma mensagem particular, nenhuma empresa deveria ter acesso a esse conteúdo na transmissão, porque privacidade é uma coisa que, a partir do momento em que se é comprometida, desencadeia abusos muito mais sérios do que as pessoas normalmente pensam.”

O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, ainda tentou se esquivar da responsabilidade pelo sistema de gerenciamento de controle dos pais para uso de aplicativos por crianças. Segundo ele, esse deveria ser o papel de lojas de aplicativos, como a App Store, da Apple, e Play Store, do Google. Em novembro, sua companhia já havia apresentado uma proposta argumentando que ambas as empresas deveriam fazer mais pela segurança desse grupo, exigindo a aprovação de usuários entre 13 e 15 anos, quando baixassem certos aplicativos.

Talvez não seja esse o motivo para que a Meta não queira se comprometer com a segurança dos menores, até porque, essas lojas de apps já disponibilizam tal mecanismo de controle. Documentos abertos em uma ação judicial movida pelo Departamento de Justiça do Novo México contra a Meta e Zuckerberg revelam que vários funcionários da companhia demonstraram preocupação sobre exploração de crianças e adolescentes nas plataformas de mensagens privadas de Instagram e Messenger, mas a empresa não priorizou implementações de segurança infantil porque essas ferramentas não são lucrativas. O procurador-geral do Novo México, Raúl Torrez, chegou a dizer que Meta e Zuckerberg permitiram que predadores de crianças explorassem crianças sexualmente.

“Sinto muito por tudo que vocês passaram”, disse Zuckerberg, no Capitólio, aos pais e mães de crianças vitimadas pela falta de segurança em plataformas digitais. “Ninguém deveria passar pelas coisas que suas famílias sofreram e é por isso que investimos tanto e continuaremos a fazer esforços em toda a indústria para garantir que ninguém tenha que passar pelas coisas que suas famílias tiveram que sofrer.” Antes, a Meta informou que gastou US$ 5 bilhões em segurança e proteção em 2023. O senador republicano Lindsey Graham disse a Zuckerberg que ele tinha “sangue nas mãos” por um “produto que está matando pessoas”.

Truco no Congresso

Durante a audiência, muitos parlamentares lamentaram a dificuldade de se processar as plataformas com sucesso para responsabilizá-las pelos conteúdos nocivos aos usuários. O motivo disso é uma lei chamada Seção 230, que tira a responsabilidade das empresas de tecnologia sobre o material publicado pelos usuários nas redes sociais. A legislação tem sido criticada tanto por republicanos quanto pelos democratas, que se juntaram mais uma vez na sessão desta semana contra as big techs. Por outro lado, essas companhias e outros grupos de direitos digitais defendem a lei como fundamental para o funcionamento da internet.

Em compensação, parlamentares têm se articulado para fazer com que grandes companhias tecnológicas se responsabilizem pelos conteúdos que veiculam, produzindo legislações estaduais que visam proteger crianças e adolescentes dos riscos online. A mais importante e mais abrangente é a Lei de Segurança Online para Crianças (KOSA, em inglês) que prevê a obrigação de serviços virtuais, como redes sociais, sites de videogame e aplicativos de mensagens, estabelecerem “medidas razoáveis” para evitar abuso de menores, como assédio, exploração sexual e automutilação. Exige ainda que as empresas ativem as mais altas configurações de privacidade e segurança por padrão a menores de 18 anos. O projeto é encabeçado pelos senadores Marsha Blackburn, republicana do Tennessee, e Richard Blumenthal, democrata de Connecticut, além de ser apoiado por dezenas de outros políticos de ambos os partidos.

Mesmo depois de algumas revisões no projeto, o KOSA é criticado por mais de 100 grupos da sociedade civil, que alertam para o risco de a lei fortalecer a censura, ameaçar a liberdade e privacidade dos menores, além de isolar jovens LGBTQIA+.

O bipartidarismo, raro de se ver nos últimos anos, tem sido observado quando o assunto é criar mecanismos para proteger o público infantil nas plataformas, enquanto enquadra as big techs. Insatisfeito com os pedidos de desculpas dos CEOs durante a reunião no Capitólio, o republicano Lindsey Graham disse ao democrata Dick Durbin que “trabalhando com vocês, prometo meu total apoio para ir ao plenário do Senado dos Estados Unidos e pedir um acerto de contas.” Um pacote com cinco projetos de lei sobre segurança online para crianças já foi aprovado por unanimidade pela Comissão de Justiça do Senado, incluindo um texto que busca enfraquecer a Seção 230, enquanto o KOSA já tem apoio de quase metade da Casa.

Snap e Microsoft apoiaram o projeto antes da audiência, que foi endossado pela CEO do X, Linda Yaccarino, ao ser questionada por um dos parlamentares. Já o chefe do TikTok, Shou Chew, disse que “com algumas mudanças podemos apoiá-lo”, mas ressaltou a preocupação apontada por alguns grupos sociais. Zuckerberg concordou com o “espírito básico” do projeto de lei, mas se recusou a apoiá-lo.

Como nossos pais

“Vai ter show do Ney Matogrosso. Vamos?” Receber um convite para assistir a um artista consagrado não espanta. Mas, quando essa pergunta parte de adolescentes de 15 anos, vale parar e pensar. Aos 82 anos, com mais de 50 de carreira, Ney não é o cantor mais próximo desse público. Será? Os shows da sua turnê Bloco na Rua, realizados entre 2 de dezembro e 7 de janeiro, contaram com mais jovens entre 18 e 24 anos (15%) do que com pessoas na faixa etária entre 55 e 64 anos (13%) ou acima dos 65 (10%), segundo a plataforma de vendas de ingressos Sympla, que não tem dados referentes a menores de 18 anos. A faixa etária mais representada, respondendo por 25% do público, tinha entre 25 e 34 anos. Essa mesma participação por idade foi registrada em shows de Caetano Veloso, Djavan e Alceu Valença comercializados pela Sympla.

Não é à toa que sir Paul McCartney, ao agradecer aos brasileiros pela presença na turnê GotBack, que no fim de 2023 passou por cinco cidades do país, destacou a presença de jovens na plateia. “O público era tão jovem. Eu esperava que as pessoas tivessem mais ou menos a minha idade. E foi brilhante vê-las cantando, ver crianças cantando e sabendo as letras melhor do que eu”, publicou o ex-Beatle no Instagram no início de janeiro. Sim, a molecada canta, sabe as letras, pula, participa. E se encanta com o vigor, a potência, a magia de ver nomes consagrados no palco.

Gosto musical passar de pai para filho é algo que sempre aconteceu. Faz parte daquela memória afetiva que a maioria de nós constrói ao longo da vida. Esse repertório hereditário faz rememorar uma série de sentimentos. Mas para uma geração que vive em tempos de fone no ouvido, salas sem aparelhos de som, praticamente nada de vinil ou CD na maioria das casas, outros recursos levam à descoberta da música de sessentões a oitentões por adolescentes e jovens.

Mirela Perez tem 15 anos. E cresceu ouvindo muito rock e MPB em casa. Em vez de canções de ninar, seus pais cantavam o que gostavam para a bebê. Com isso, ela acabou curtindo também. Acompanhou o primeiro show ao vivo aos 6 ou 7 anos. A banda? Evanescence. Depois disso, não parou. Paul McCartney, Roger Waters, Iron Maiden, The Cure estão na lista de apresentações ao vivo que já acompanhou. No início de janeiro, foi uma das adolescentes na plateia de Ney Matogrosso no Rio, a convite de um amigo. Ela não sabe bem de onde surgiu o interesse pelo cantor.

“Gosto muito de ir a shows, vou desde pequena. É muito divertido ouvir ao vivo o que você escuta desde criança. No caso do Ney, acho que meus pais ouviam, mas pouco. Um amigo me chamou, topei e passei o show pulando e cantando”, conta Mirela, que estava acompanhada de outros dois adolescentes.

Em tempos de plataformas digitais de streaming de música, qualquer convite pode ser seguido de uma busca para conhecer e decidir se quer ir ou não, lembrar se conhece o artista, suas canções, se agradam. E também é um caminho para descobrir outros nomes. Jorge Benjor, por exemplo, surgiu para a estudante do Ensino Médio em uma playlist do Spotify.

“Comecei a ouvir pelo Spotify, em uma playlist de música brasileira. Acabo encontrando coisas de que gosto e coisas que meus pais ouvem e não sabiam que eu ia gostar ou que já tinham me apresentado e esqueci”, explica a adolescente, que também assistiu a Coldplay e Taylor Swift ao vivo.

Assim como Mirela descobriu Jorge Benjor pelo algoritmo, essas sugestões acabam levando jovens ouvintes a músicas de outros artistas com décadas de carreira. Na estrada desde 1980, o Roupa Nova estourou com dezenas de temas de novela. Em tempos de Netflix e outros streamings, as novelas perderam força, já se foi o tempo dos LPs da trilha sonora com o protagonista da trama na capa. Mas YouTube, Spotify e Deezer acabam assumindo esse papel que antes era da TV. O Roupa Nova faz nada menos do que 120 shows por ano. Na plateia, três gerações: avós, pais e netos. Mas o que surpreende é a quantidade de jovens e novos fãs.

“Nos nossos shows, sempre perguntamos à plateia quem tem menos de 30 anos. E mais de 80% levantam a mão. Além disso, diria que uns 70% também respondem que estão assistindo ao primeiro show do Roupa Nova. Sempre tem gente chegando e até crianças indo aos nossos shows. Há muita renovação de público”, conta Ricardo Feghali, um dos integrantes da banda, que tem sucessos como Dona e Whisky a Go Go. “Fazemos uma música que não tem idade. É à moda e não da moda.”

Para manter esse vigor, estar atento às redes sociais é essencial. O Roupa Nova tem 5,1 milhões de seguidores no Facebook, 1,7 milhão no Instagram e 1,9 milhão de inscritos no YouTube. No Spotify, contabiliza 1,8 milhão de ouvintes mensais. E conta com uma grande equipe de marketing, sempre atenta.

“Novela foi muito importante, emplacamos temas importantíssimos, até dois em uma só novela, Felicidade. Hoje, a música se espalha de maneira diferente. Spotify, YouTube e Deezer permitem ouvir como na novela. As sugestões do algoritmo, as playlists ajudam. É uma soma bacana”, afirma Feghali.

O TikTok também está na lista de redes que disseminam antigos sucessos entre os mais jovens. E isso se dá principalmente devido ao cruzamento da música com outros universos, como filmes e séries. Especialista em marketing artístico, Diego Garcia, que integra a equipe de Duda Beat e outros artistas, assessorias e gravadoras, destaca a retomada de Runing Up that Hill. O hit de 1985 da cantora inglesa Kate Bush foi reproduzido mais de 1,14 bilhão de vezes no Spotify depois de tocar na quarta temporada de Stranger Things.

“Essa música também teve mais de 2 milhões de criações no TikTok, foi um grande estouro. E isso não é um fato isolado. Aconteceu o mesmo com a britânica Sophie Ellis-Bextor, que explodiu nesse universo do TikTok e das redes sociais graças à participação no filme Saltburn. O mercado está muito acelerado, lidando com vários fenômenos, como TikTok que cruza diversos universos. E, na música, o conceito de tempo é completamente diferente”, explica, mencionando o single Murder on the Dancefloor, de 2001, que alcançou sua posição original mais alta nas paradas, o segundo lugar, graças à inclusão na trilha do filme de Emerald Fennell, ampliando o alcance e fazendo com que novos públicos chegassem à canção.

Pelas redes sociais, a audiência acaba explorando e se divertindo com velhos sucessos brasileiros também. Em julho do ano passado, Poema, a mais tocada de Ney Matogrosso, somava mais de mais de 38 milhões de plays no Spotify. Em 26 daquele mês, o Dia dos Avós impulsionou seu uso em plataformas digitais. No TikTok, houve cerca de 1,7 mil postagens diárias, enquanto no Spotify, foram registradas 27 mil reproduções por dia naquele momento. Hoje, a canção já acumula mais de 43 milhões de reproduções no Spotify, onde o artista tem 997 mil ouvintes mensais. No Instagram, são 1,2 milhão de seguidores e quase 400 mil inscritos no YouTube.

Poema impacta um público mais jovem, atento a esse universo cross, de filmes, séries, novelas, intensificando muito mais, impactando essa geração mais jovem de forma muito grandiosa”, afirma Diego.

Como prova da atemporalidade de nomes como Ney, ele abriu o festival The Town no ano passado. E apenas um pequeno corte dessa apresentação soma 3,9 milhões no YouTube. Diego destaca que os festivais são essenciais para apresentar velhos sucessos e grandes artistas ao público mais jovem. Além disso, artistas da nova geração, como Jão e Marina Senna, que reverenciam grandes nomes, como Cazuza e Gal Costa, ajudam a levar seus sucessos aos mais novos. “E essa experiência vale para quem está no show e quem também não está, já que os cortes desses tributos acabam viralizando nas redes”, diz.

E é nessa toada, da perenidade de muitas das canções desses grandes nomes, que novos artistas optam por releituras de sucessos. Por Que Não Eu, de Leoni em parceria com Herbert Vianna e Paula Toller, fala de algo que todos já passamos. A canção já tem mais de 40 anos. João André e João Vitor, que formam o duo Tritom, não quarentaram ainda, mas escolheram a canção como uma das faixas do disco Tons.

“Será que vou ser correspondido? É uma pergunta que todos já fizemos. Apesar de ter 40 anos, é um tema moderno e que tem linguagem atemporal. O músico pensa no que a letra está dizendo. É moderno o suficiente para tocar o público de hoje em dia? É, pelo tema. Pode ser uma música da época da ditadura, se for pertinente, algo que esteja passando, vale”, explica Filipe Soares, produtor musical da Sonora Entretenimento.

Além dessa atemporalidade da música e do poder do algoritmo, o que também ajuda a rejuvenescer os artistas 60 mais é o chamado feat, as parcerias. “Muitos cantores fazem feat com artistas mais novos. Seja uma releitura ou algo inédito. Isso também ajuda bastante a fazer com que os adolescentes e o público mais jovem em geral conheça o artista mais velho. O Melim, por exemplo, fez uma releitura de Djavan, que tem quase 80 anos. Com isso, as músicas dele e a banda acabam chegando a mais pessoas”, destaca Filipe.

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O liberalismo ausente

15/05/24 • 11:09

Nas primeiras semanas de 2009, o cientista político inglês Timothy Garton Ash publicou no New York Times um artigo sobre o discurso de posse de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. “Faltava apenas”, ele escreveu, “o nome adequado para a filosofia política que ele descrevia: liberalismo.” A palavra liberalismo, sob pesado ataque do governo Ronald Reagan duas décadas antes, passou a representar para boa parte dos americanos uma ideia de governo inchado e incapaz de operar. Na Europa continental e América Latina, segue Ash, a palavra tomou o caminho contrário, representando a ideia de um mercado desregulado em que o poder do dinheiro se impõe a um Estado fraco. Não basta, sequer, chamar a coisa só de liberal. É preciso chamá-la neoliberal. Desde final dos anos 1970, já são quarenta anos de um trabalho de redefinição forçada do que é liberalismo, uma filosofia política de três séculos e meio pela qual transitaram algumas dezenas de filósofos e economistas de primeiro time. O sentido do termo se perdeu de tal forma no debate público, que mesmo muitos dos que se dizem liberais não parecem entender que conjunto de ideias representam.

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