Prezadas leitoras, caros leitores —

As premissas da política externa brasileira estão corretas?

Há uma semana, em uma entrevista coletiva na África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou Israel aos nazistas. Na mesma sessão com jornalistas, se esforçou para driblar quaisquer críticas a Vladimir Putin. “Para que essa pressa de acusar alguém?” Putin é, efetivamente, o único líder mundial em cargo responsável diretamente pela morte de mais de cem mil pessoas.

Hipocrisias e eufemismos fazem parte do discurso diplomático. Mas, seguindo a premissa de que o mundo passará a ser multipolar em algum momento do futuro, o governo se impôs muitas obrigações no discurso que constrói. É excessivamente duro com uns, obriga-se a ignorar os pecados de outros, na esperança de construir um espaço maior para o Brasil no debate internacional. É uma opção ideológica que impõe riscos.

Na edição deste sábado do Meio, o editor-chefe Pedro Doria mostra que a premissa de um mundo multipolar pode não se concretizar. E isto faz com que uma política tão marcadamente antiamericana possa ter um custo alto para o país.

Vamos também contar como a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, está lidando com o clima de medo com a fuga dos detentos do presídio federal. E uma breve ode a Jon Stewart e seu retorno à comédia política americana.

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— Os editores

Bolsonaro e militares se calam na PF

Como parte das investigações sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve ontem na sede da Polícia Federal em Brasília, mas permaneceu calado e saiu do prédio em pouco menos de meia hora. A defesa afirmou que o ex-presidente “nunca foi simpático a qualquer tipo de movimento golpista”. “Esse silêncio é uma estratégia baseada no fato de que a defesa não teve acesso a todos os elementos pelos quais está sendo imputada ao presidente a prática de certos delitos”, afirmou o advogado Fabio Wajngarten, referindo-se à falta de acesso à delação do ex-ajudante de ordens e Mauro Cid e aos conteúdos obtidos em celulares apreendidos pela PF. A defesa de Bolsonaro disse que ele prestará depoimento assim que for “garantido o acesso”. (g1)

Outras 22 pessoas, incluindo ex-ministros e militares, foram intimadas a prestar depoimento ontem, de forma simultânea. Na contramão de outros aliados de Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres falaram à PF. A defesa de Valdemar disse que ele “respondeu a todas as perguntas que lhe foram feitas”, mas não deu detalhes. A defesa de Torres, cujo depoimento avançou até o início da noite, também confirmou que ele respondeu a todas as questões. (Folha)

Também foram à sede da PF os ex-ministros Braga Netto (Defesa) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). Quatorze depoimentos foram colhidos em Brasília, quatro no Rio de Janeiro, dois em São Paulo, um no Paraná, um em Minas Gerais, um no Mato Grosso do Sul e outro no Espírito Santo. Os militares mantiveram o pacto de silêncio. (Globo)

Enquanto isso... o Exército oficializou o afastamento de dois militares presos na operação Tempus Veritatis. São eles o coronel de cavalaria Bernardo Romão Corrêa Neto e o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira. (UOL)

Oliver Stuenkel: “Foi um ex-general de alto escalão – o vice-presidente de Bolsonaro, Hamilton Mourão – que ajudou a alertar os EUA para a perspectiva de um golpe. De acordo com uma investigação de 2023 do Financial Times, Mourão expressou preocupação com as correntes antidemocráticas dentro das Forças Armadas ao ex-embaixador dos EUA no Brasil, Tom Shannon, durante um almoço privado em Nova York em 2022. Independentemente de como os laços EUA-Brasil evoluíram desde 2022, a estratégia americana para o ano eleitoral em relação ao Brasil continua a ser um sucesso notável da política externa americana”. (Foreign Policy)

Meio em vídeo. No De Tédio a Gente Não Morre, Mariliz Pereira Jorge destaca que a manifestação convocada por Bolsonaro é uma queda de braço com o STF e ganha fôlego graças à esquerda. Ele pode ser preso? (YouTube)

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Em uma cerimônia para cerca de 800 convidados, incluindo os presidentes Lula (PT), da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Flávio Dino tomou posse ontem como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-senador e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública é o quarto indicado por Lula, assim como Cristiano Zanin, Dias Toffoli e Cármen Lúcia. Ele pode ficar no cargo até 2043. Integrantes do Supremo acreditam que o novato tende a se inclinar a votos mais conservadores em temas de costumes. Por outro lado, deve se alinhar ao governo no campo econômico. E deve manter boas relações com Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, de quem foi próximo quando estava à frente da Justiça. “Agora é sem volta”, disse o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, ao empossá-lo. Católico, Dino não quis festa e optou por uma missa na Catedral Metropolitana de Brasília. (UOL)

Dino assume a relatoria de 340 processos de Rosa Weber, que se aposentou em setembro de 2023, e parte das ações de Barroso. A lista inclui a descriminalização do aborto e a ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por seu comportamento no combate à covid-19. (Poder360)

Buscando aliviar as tensões com o Congresso, o presidente Lula comandou um coquetel na noite de ontem com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), líderes da base aliada e ministros. Ele agradeceu os parlamentares a aprovação de projetos de interesse do governo e prometeu repetir esses encontros. Lira, por sua vez, garantiu que jamais pretende “surpreender” o Executivo. Convidados, PSDB e Cidadania não mandaram representantes. (g1)

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), desembargador Sigurd Roberto Bengtsson, marcou para 1º de abril o início do julgamento de duas ações que podem levar à cassação do senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Os juízes analisarão duas ações, do PT e do PL, sobre abuso de poder econômico, caixa 2 e uso indevido dos meios de comunicação durante as eleições de 2022. (Globo)

Apesar das profundas discordâncias com o presidente Lula sobre a atuação de Israel na guerra contra o Hamas, os Estados Unidos contam com o apoio do Brasil para encontrar uma foram de encerrar o conflito, afirmou ontem o secretário americano de Estado, Antony Blinken. Ele disse que a reunião de chanceleres do G20 serviu para discutir uma solução de paz duradoura no Oriente Médio. E citou a necessidade de libertação imediata dos reféns. Blinken indicou que a Casa Branca pretende acelerar a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Ao encerrar o encontro no Rio, o chanceler Mauro Vieira disse que o Brasil pretende “impulsionar” a expansão do conselho, durante a presidência do grupo. (Estadão)

Um dia depois de se reunir com Blinken, o presidente Lula recebeu ontem no Palácio da Alvorada o chanceler russo, Sergei Lavrov. No encontro de cerca de uma hora, Lavrov reforçou a posição russa em relação ao conflito na Ucrânia e Lula se colocou à disposição para colaborar com esforços pela paz. Os dois também trataram de temas bilaterais. (Metrópoles)

Nicholas Vinocur: “Pode ser muito cedo para dizer que o Ocidente perderá a guerra na Ucrânia — mas está cada vez mais claro que isso pode acontecer. Enquanto Kiev e seus aliados contemplam um menu macabro de possibilidades para o ano — incluindo uma pressão em todas as frentes dos aliados da Rússia, o Irã e a China, para desencadear uma Terceira Guerra Mundial — vale a pena fazer uma pausa por um momento e perguntar: como chegamos aqui? Se repelir a invasão da Ucrânia por Putin não é o verdadeiro objetivo do Ocidente, qual é?”. (Politico)

Presídio 4 estrelas

Tony de Marco

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Viver

O jogador Daniel Alves foi condenado pela Justiça espanhola a quatro anos e seis meses de prisão pelo estupro de uma mulher numa boate em Barcelona no fim de 2022. A sentença prevê ainda cinco anos de liberdade vigiada e pagamento à vítima de uma indenização de 150 mil euros (R$ 804 mil). A defesa do brasileiro já avisou que vai recorrer, mas ele permanecerá preso durante o processo. De acordo com sentença da juíza Isabel Delgado, ficou comprovado que não houve consentimento na relação sexual, ressaltando que jogador derrubou a denunciante no chão e a impediu de se mover enquanto a penetrava. (g1)

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O número de matrículas no ensino técnico profissionalizante aumentou 12% em 2023 frente ao ano anterior, segundo o Censo Escolar. Houve 2.413.825 inscrições no ano passado contra 2.152.506 em 2022. O ministro da Educação, Camilo Santana, disse que o governo planeja apresentar uma proposta para aumentar a oferta de ensino técnico incorporado ao médio. Já as matrículas em creches subiram de 36% para 41%, mas ainda não alcançaram a meta de 50%, estipulada há dez anos pelo Plano Nacional de Educação. Também não foi atingido o objetivo de 25% em vagas de tempo integral, que chegaram a 21% em 2023. Ao todo, o país registrou 47,3 milhões de jovens na educação básica. (UOL)

Após 52 anos desde as missões Apollo, os Estados Unidos voltaram à Lua na noite de ontem, com o pouso do módulo Odysseus, da companhia privada Intuitive Machines. A missão IM-1 chegou ao solo lunar às 20h24 (hora de Brasília), mas apresentou problemas de comunicação com a Terra. A Nasa pagou US$ 118 milhões (R$ 586 milhões) à Intuitive Machines para transportar equipamentos científicos que ajudarão a entender e mitigar os riscos ambientais aos astronautas, que devem ser enviados ao satélite natural em 2026. (Globo)

Cultura

Gabriel Costa, filho da cantora Gal Costa, entrou na Justiça para anular um documento assinado por ele dizendo que a mãe vivia em relação conjugal com Wilma Petrillo, a quem acusa de coação. O documento foi a base para que ela fosse reconhecida como viúva e também herdeira da cantora, morta em novembro de 2022, quando ele tinha 17 anos. Na ação, Gabriel diz que temia pela própria segurança por viver na mesma casa que Wilma e afirma que ela o obrigava a tomar remédios controlados. Procurada pelo g1, Wilma não se manifestou. (g1)

O Ballet Paraisópolis vai profissionalizar seus bailarinos com a criação da Cia Ballet Paraisópolis, que será lançada oficialmente em 10 de março no Teatro Ítalo Brasileiro. Com direção executiva de Monica Tarragó, a companhia vai começar com 16 dançarinos no elenco, a maioria vinda do próprio projeto sociocultural, que há 12 anos oferece aulas gratuitas a jovens na Zona Sul da capital paulista. A meta é chegar ao fim do ano com 22 bailarinos vindos de diferentes locais de São Paulo e novas criações de coreógrafos renomados com apresentações em teatros e centros culturais do estado. (Estadão)

O julgamento da armeira Hannah Gutierrez Reed começou ontem com a promotoria criticando sua conduta durante as gravações do filme Rust que levou à morte da diretora de fotografia, Halyna Hutchins, após um tiro acidental disparado pelo ator Alec Baldwin. De acordo com o promotor Jason Lewis, “a ré tratou os protocolos de segurança como se fossem opcionais”, agindo “com negligência e sem a devida cautela”. A defesa afirmou que Reed foi transformada em bode expiatório pelos erros da produção e de Baldwin, que não deveria ter apontado a arma para Hutchins. Reed é julgada por homicídio culposo e adulteração de provas, podendo ser condenada a até três anos de prisão. (Variety)

Cotidiano Digital

Na tentativa de ser politicamente correto, o Google errou a mão e está tendo de corrigir parâmetros do Gemini, sua ferramenta que cria imagens usando inteligência artificial. O algoritmo foi programado para representar a maior diversidade étnica e de gênero possível, mas sem atenção à precisão histórica ou social. Um pedido para gerar imagens de soldados nazistas de 1943, por exemplo, produziu “alemães” negros e orientais. Em outra situação, a ordem para gerar imagens de senadores diversos dos EUA no século 19 trouxe uma mulher negra, quando a primeira senadora do país, uma branca, só foi eleita em 1922. “Estamos trabalhando para melhorar a geração de imagens”, disse o Google em nota. “A diversidade em geral é boa porque pessoas de todos o mundo usam [o Gemini]. Mas ele errou o alvo aqui.” (The Verge)

Em meio à proibição dos EUA de exportar processadores avançados para a China, a Huawei viu sua demanda por chips de IA explodir, fazendo com que a companhia limitasse a produção de GPUs utilizados no Mate 60, um de seus smartphones mais populares, para atender à demanda do mercado. O Huawei Ascend 910B é considerado o melhor chip de IA disponível na China, comparado ao A100 da Nvidia, processador mais próximo do H100, que é três vezes mais rápido, mas se tornou escasso com a restrição americana à venda do produto. (DeepLearning.AI)

Para ler com calma. Fotos de comida e biquinhos de selfie ainda dominam o Instagram, mas a plataforma vem se convertendo cada vez mais numa fonte de notícias. Millennials e integrantes da Geração X parecem se sentir mais à vontade para consumir notícias no formato curto do Instagram e a compartilhá-las em stories, mesmo que os perfis que as geram usem como fonte a mídia tradicional, alvo de desconfiança de uma parcela dos usuários. (New York Times)

Meio em vídeo. Nova York está processando várias redes sociais, alegando que o design de suas plataformas influencia a saúde mental de jovens usuários. Pedro e Cora abordam como a internet afeta o bem-estar dos adolescentes. Confira! (YouTube)

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