Prezadas leitoras, caros leitores —

Elon Musk e alguns de seus pares do Vale do Silício têm uma visão muito específica do que é liberdade, do sistema político que lhes permite atuar sem qualquer regulação, e de como a tecnologia pode ser a ferramenta para construir o mundo que vislumbram. Ah, eles têm também bilhões de dólares para financiar essa construção.

Isso quer dizer que estão a serviço de uma rede global de extrema direita? Bem, sim e não. As ideologias não são as mesmas. Mas definitivamente têm pontos de contato. A “internacional nacionalista”, como explica o cientista político Guilherme Casarões, está com um nível de organização mais avançado do que se imagina. Só não a ponto de controlar bilionários para empreender sua agenda. É uma aliança de conveniência.

Os editores Pedro Doria e Flávia Tavares se dedicam, na Edição de Sábado, a esmiuçar como pensam os libertários das big techs e os pontos de encaixe dessa ideologia com a extrema direita.

De Paris, o diretor de Marketing, Wagner Martins, relata como grandes instituições financeiras deram as caras na Blockchain Week e embarcaram na tokenização do mercado. E a editora Andrea Freitas trata de pais que não respeitam os limites de uso do celular e enviam mensagens para os filhos durante o horário escolar — e quais são os problemas disso.

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— Os editores.

Lira declara guerra a Padilha

Sem meias palavras, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou ontem que o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, é um “desafeto pessoal” e classificou de “incompetente” o responsável pela articulação política do governo. Em uma feira agroindustrial em Londrina (PR), Lira foi questionado sobre a votação que manteve a prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) e um suposto enfraquecimento de sua liderança. “Essa notícia foi vazada do governo e, basicamente, do ministro Padilha, que é um desafeto pessoal, além um incompetente. Não existe partidarização. Eu deixei bem claro que ontem (quarta-feira) a votação foi de cunho individual, cada deputado responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver”, afirmou. Lira também disse que considera “lamentável” que integrantes do governo “fiquem plantando mentiras”. “E, depois, quando o Parlamento reage, acham ruim.” Nos bastidores, deputados dizem que ele ficou contrariado com o que considerou ser uma interferência, sobretudo de Padilha, na análise da situação de Brazão, já que o ministro disse publicamente que o governo orientaria pela manutenção da prisão. (g1)

Após a fala de Lira, Padilha compartilhou um vídeo no Instagram de um discurso do presidente Lula, na quarta-feira, elogiando seu trabalho. “O Padilha vai bater recorde porque é um ministro que está durando muito tempo no seu cargo e vai continuar pela competência dele”, diz Lula. (Poder360)

Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reagiu afirmando que “ninguém é perfeito” e defendendo a “convergência”. “Temos que evitar esses problemas, né? O Brasil já tem muitos problemas. Precisamos buscar sempre as convergências. Ninguém é perfeito, mas ninguém é tão mau assim.” (CNN Brasil)

Lauro Jardim: “O ataque frontal de Lira sobre Padilha tem ao menos duas consequências no curto prazo: piora a relação de Lira com o Planalto e garante que Padilha não será demitido, uma vez que Lula não entregaria a cabeça de um ministro do seu governo por imposição de terceiros — e mais ainda nos termos em que foram postos”. (Globo)

Luciana Lima: “Lira anda irritado. Mais do que de costume. A artilharia voltada para Padilha não chega a ser uma surpresa. O tom é que denota exaustão. Um desespero que ressalta que o alagoano vê a ascendência que sempre teve sobre grande parte dos deputados escorrer pelos dedos. Lira sabe que a chance de fazer um sucessor na Presidência da Câmara fica cada vez mais ameaçada”. (Meio)

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O presidente Lula vetou parcialmente o projeto aprovado pelo Congresso acabando com a saída temporária de presos do regime semiaberto. Ele manteve a chamada “saidinha” para visita a parentes em datas comemorativas. O anúncio foi feito pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, ao lado do advogado-geral da União, Jorge Messias, no Palácio do Planalto. “Consideramos que isso é um direito, um benefício que permite, facilita universalmente nos países civilizados, a ressocialização daquele que está custodiado pelo Estado e que merece a proteção do Estado e merece ser tratado dignamente como todo ser humano”, disse Lewandowski. Parte da ala política do governo defendia a sanção integral por considerar que o veto poderia azedar o clima com os parlamentares. O Congresso pode derrubar o veto. (Folha)

Temendo desgaste junto à opinião pública, a Câmara manteve a prisão de Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), suspeito de mandar matar Marielle Franco (PSOL). Mas, como conta Andréia Sadi, os deputados planejam reagir contra o STF, que mandou prendê-lo. Uma das medidas seria elevar a idade mínima para indicação à Corte de 35 para 60 ou mesmo 65 anos, mantendo a aposentadoria compulsória aos 75. Outro projeto é limitar o foro privilegiado. (g1)

Na contramão da Câmara, o Supremo formou maioria para ampliar o alcance do foro de políticos investigados na corte. O julgamento no plenário virtual, porém, foi interrompido por um pedido de vista do ministro André Mendonça. Pela proposta, crimes cometidos por autoridades no exercício ou relacionados ao cargo seguem no STF mesmo em caso de renúncia, cassação ou não reeleição. (Meio)

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, afirmou que considera o debate sobre os ataques de Elon Musk “assunto encerrado”. “Agora, qualquer coisa que tenha que ser feita tem que ser feita no processo, se houver o descumprimento. Às vezes as pessoas fazem bravatas, mas não implementam as suas declarações.” (CNN Brasil)

Mas Musk voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de ditador, após participar de live com políticos de extrema direita e com o blogueiro bolsonarista Allan do Santos, foragido da Justiça brasileira. (Poder360)

Meio em vídeo. Musk é um sujeito passivo-agressivo, narcisista, mas foi infinitamente mais inteligente ao jogar uma isca manjada nas redes sociais, a provocação, mordida em pleno domingo por Moraes. A regra não escrita na etiqueta do X para lidar com haters, biscoiteros e desocupados é simples: ignore. É o que afirma Mariliz Pereira Jorge no De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)

Com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível, quatro governadores despontam como potenciais candidatos da direita às eleições de 2026: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP); Romeu Zema (Novo-MG); Ratinho Júnior (PSD-PR); e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO). Pesquisa Genial/Quaest (íntegra) divulgada ontem mostra que todos contam com uma boa avaliação em suas bases. Tarcísio tem 62% de aprovação, contra 29% de reprovação; Zema, 62% e 31%; Ratinho, 79% a 17%; e Caiado 86% a 12%. (Meio)

A pesquisa mostrou ainda que o governo do presidente Lula (PT) é mal avaliado nos quatro estados. Em São Paulo, o governo tem avaliação negativa para 37%, positiva para 32% e regular para 29%. Em Minas, as avalições são, respectivamente, 35%, 34% e 30%; no Paraná, 41%, 30% e 27%; em Goiás, 40%, 32% e 27%. A aprovação de Lula tem performance um pouco melhor em São Paulo – aprovação de 50% e reprovação de 48% – e em Minas, 52% a 47%. Já no Paraná, 54% reprovam e 44% aprovam. Em Goiás, a reprovação está em 50% e a aprovação em 49%. (Meio)

Ultrapassagem pela direita

Tony de Marco

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Viver

O Supremo Tribunal Federal decidiu ontem que o Estado tem responsabilidade sobre mortes e ferimentos decorrentes de operações policiais, devendo provar que não houve culpa dos agentes de segurança. Os ministros entraram em consenso sobre tese que tem repercussão geral e deve guiar processos futuros sobre indenização de famílias das vítimas. A Corte analisou o pedido de indenização da família de Vanderlei Conceição de Albuquerque, morto por uma bala perdida em troca de tiros entre criminosos e o Exército no Complexo da Maré (RJ) em 2015. O laudo pericial foi inconclusivo sobre a origem do disparo, razão que levou o Tribunal Regional Federal da 2ª Região a desconsiderar a responsabilidade do Estado. Pela tese do STF, perícia inconclusiva não afasta a responsabilidade da administração pública. (Jota)

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Mesmo estampando um selo de produção sustentável, peças de algodão que chegam a grandes marcas europeias, como Zara e H&M, deixam um rastro de desmatamento, grilagem de terras e violação de direitos humanos no Brasil. Essa é a conclusão do relatório Fashion Crimes da ONG Earthsight, que analisou o trajeto de 816 mil toneladas de algodão com o auxílio de imagens de satélite, registro de envios de mercadoria, arquivos públicos e visitas às regiões produtoras durante um ano. Segundo o estudo, o algodão exportado sai principalmente do Oeste da Bahia, região do Cerrado, muitas vezes desmatada ilegalmente para ampliação do cultivo. Zara e H&M disseram que levam o assunto a sério e aguardam um retorno de sua certificadora. (Deutsche Welle)

Nem as esculturas estão a salvo do assédio sexual. Na Alemanha, uma campanha do grupo Terre des Femmes expõe em três cidades estátuas de bronze de mulheres cujos seios estão mais claros por terem sido tocados frequentemente ao longo dos anos. O objetivo é conscientizar a população sobre as situações de importunação sexual no país, onde duas em cada três mulheres foram assediadas em algum momento da vida. (g1)

Cultura

Morreu nos EUA, aos 76 anos, de câncer, o ex-atleta e ex-ator O.J. Simpson, que viu sua carreira desmoronar ao ser acusado de assassinar Nicole Brown, sua ex-mulher, e o namorado dela, Ronald Goldman, em 1994. Simpson foi inocentado no julgamento criminal, mas um processo cível reconheceu sua responsabilidade, e ele teve de pagar uma indenização de US$ 33,5 milhões à família de Goldman. Simpson ainda era um ídolo no futebol americano quando começou a participar de séries para a TV e filmes. Após se aposentar da NFL, atuou na franquia Corra Que a Polícia Vem Aí e foi cotado para estrelar O Exterminador do Futuro. Em 1994, gravava o piloto de uma série quando foi acusado pela morte da ex, com a qual tinha um histórico de violência. Tentou fugir da polícia de carro, e a perseguição, filmada de helicópteros, foi assistida ao vivo por 95 milhões de espectadores. Seus problemas com a lei continuaram. Passou nove anos preso por crimes envolvendo um esquema fraudulento em Las Vegas. (Variety)

Também morreu nos EUA a escritora, editora e pioneira dos quadrinhos Trina Robbins, aos 85 anos, em um hospital de São Francisco, após um AVC. Em um ambiente dominado por homens, criou em 1970 a It Ain’t Me Babe Comix, primeira HQ feita só por mulheres. Em 1985, tornou-se a primeira mulher a desenhar uma história da Mulher-Maravilha, após quatro décadas de hegemonia masculina. (Estadão)

O novo filme de Karim Aïnouz, Motel Destino, será o representante brasileiro na busca pela Palma de Ouro no Festival de Cannes, entre 14 e 25 de maio. A primeira vez que o cineasta concorreu ao prêmio foi no ano passado, com Firebrand. Ele vai disputar com produções como Megalopolis, de Francis Ford Coppola, e Kinds of Kindness, de Yorgos Lanthimos. (Rolling Stone)

Vão até o próximo dia 10 as inscrições para o Prêmio Cláudio Willer de Poesia, organizado pela União Brasileira dos Escritores. O concurso é aberto a poetas de todo o país com mais de 18 anos e dois livros de poesia inéditos e temática livre. Os originais, em PDF de 60 a 120 páginas, devem ser assinados com pseudônimo para garantir uma avaliação isenta pela banca. O vencedor, que terá seu livro publicado pela UBE, será anunciado em 16 de junho. (Meio)

Cotidiano Digital

A Apple enviou notificações a seus usuários de iPhone em mais de 92 países que podem ter sido alvo de ameaças de spyware mercenário na quarta-feira. “Este ataque provavelmente tem como alvo você especificamente por causa de quem você é ou do que faz”, diz o alerta. A empresa já enviou avisos do tipo outras vezes, como a jornalistas e políticos na Índia em outubro de 2023. A Anistia Internacional afirmou depois ter encontrado o spyware invasivo Pegasus em iPhones de jornalistas indianos. A notificação chega no momento em que vários países se preparam para o período eleitoral e muitas empresas de tecnologia alertam sobre o aumento dos esforços para influenciar resultados. (TechCrunch)

O Instagram vai lançar um novo recurso de segurança para desfocar imagens de nudez para menores de idade. A função detectará automaticamente as imagens recebidas e vai desfocá-las. A rede social também enviará mensagens ao remetente e ao destinatário para conscientizar sobre chantagens com fotos íntimas. A novidade será habilitada por padrão para menores de idade e deve aparecer como opção para adultos. A Meta, dona do Instagram, também avisará os jovens caso entrem em contato com um possível chantagista. As novas medidas serão testadas a partir de maio em países da América Latina e Central e lançadas em todo o mundo em seguida. (The Verge)

Durante o terceiro dia da Paris Blockchain Week, Aydin Kilic, da Hive Digital Technologies, revelou que as GPUs estão rendendo 20 vezes mais quando alocadas para “mineração” de inteligência artificial – onde processadores são “alugados” em um serviço de cloud computing para rodar processamentos de IA, como treinamento de modelos de machine learning e análise de grandes conjuntos de dados – do que para a mineração de Bitcoin. A Hive é uma empresa líder em mineração de criptomoedas, com parques de mineração distribuídos em locais estratégicos, incluindo Suíça, Islândia e Canadá. (Meio)

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