Edição de Sábado: ‘Democracia na Venezuela depende de Lula’

Um regime “muito desagradável”. Foi assim que o presidente Lula escolheu definir o que acontece hoje na Venezuela, em vez de usar o termo “ditadura”. “Não acho que seja uma ditadura. É um governo autoritário, mas é diferente de uma ditadura como as que a gente conhece.” Pressionado desde 28 de julho sobre como lidar com a eleição presidencial e o fato de que Nicolás Maduro foi proclamado vencedor sem apresentar as atas das urnas, e mesmo com as abundantes provas da oposição de que ele perdeu, o governo brasileiro vem agindo diplomaticamente antes de decretar apoio a algum dos lados. Enquanto exige de Maduro as tais atas, coisa que o próprio Lula voltou a fazer, busca respaldo de outros países para uma saída menos traumática diante da resistência do venezuelano de deixar o poder. Contava com México e Colômbia na empreitada, mas a nova presidente mexicana já sinalizou um recuo. A nova proposta brasileira é a de que a Venezuela realize novas eleições — o que Maduro refutou prontamente.

O cuidado de Lula com as palavras passa, em alguma medida, por sua simpatia por Hugo Chávez e mesmo por Maduro. Atravessa também as definições mais modernas dos estágios de uma democracia ou ditadura, que incluem a noção de autocracia eleitoral, por exemplo, em que há um regime autoritário onde acontecem eleições. Ocorre que esta caracterização não vale para países em que as eleições são impossíveis de verificar. Ainda assim, a cautela de Lula passa também pela responsabilidade que ele sabe ter na situação. E ela é confirmada por um dos maiores estudiosos de democracia do mundo. “Depende do presidente Lula liderar a negociação de um acordo que permita que a atual liderança deixe a Venezuela rumo ao exílio e receba a proposta de imunidade que foi oferecida, desde que deixe o poder. Ele tem um histórico de relacionamento com os líderes venezuelanos, e tem credibilidade como líder de esquerda na América Latina, no espaço democrático. A responsabilidade recai sobre ele.”

O veredito é de Larry Diamond, cientista político que primeiro identificou o fenômeno de recessão democrática global, em 2008. Professor de Stanford e cocriador do Journal of Democracy, Diamond é signatário, ao lado de alguns outros gigantes da ciência política, como seu colega Francis Fukuyama, Steven Levitsky e Maria Hermínia Tavares, de uma carta em que os pesquisadores clamam por democracia na Venezuela. Diamond tem em seu histórico a experiência de ter testemunhado, in loco, o fracasso da tentativa dos EUA de estabelecer uma democracia no Iraque depois da guerra — e foi contra a guerra, para começo de conversa. Escreveu um livro (Squandared Victory, ou algo como Vitória Desperdiçada) em que mostra “os erros de cálculo, as oportunidades perdidas e os atos de cegueira ideológica que ajudaram a garantir que a transição para a independência não seria nem pacífica nem inteiramente democrática”. Sua visão liberal da influência americana no mundo está mais centrada na missão do país de promover procedimentos democráticos em diversos países, independentemente da ideologia e sem cinismos comerciais. E a autodeterminação dessas nações? “Quando os EUA e outras partes no contexto interamericano apoiam a expressão da vontade democrática do povo, não estamos contradizendo a autodeterminação, mas, sim, tentando habilitá-la e defendê-la. A autodeterminação é o que ocorreu em 28 de julho, e o que Maduro não está disposto a reconhecer.” Confira os principais trechos da conversa com Diamond.

O senhor estudou os ciclos de expansão e decadência da democracia em diferentes nações e épocas. Estamos vivendo um período de decadência democrática?
Estamos em um período de decadência desde cerca de 2007. Essa decadência se manifesta no fato de que mais países perderam em liberdade — muitos mais — ou em igualdade na democracia do que os que ganharam. Um número de países entrou em um estado de ambiguidade quanto à sua real condição democrática. Basicamente, houve um movimento de retrocesso em todas as categorias. Algumas democracias liberais, como os EUA e o Brasil, enfrentam novos e mais difíceis desafios; a França está lidando com a ameaça de direita do partido Reunião Nacional; a Itália está sendo governada por um governo de direita iliberal. Há uma década, essas situações eram impensáveis. O autoritarismo está muito mais enraizado em membros da União Europeia, como a Hungria, por exemplo. Algumas democracias liberais estão enfrentando dificuldades, outras deixaram de ser democráticas ou se tornaram autoritárias, como é o caso da Índia. Regimes que talvez fossem autoritários, mas mais brandos, não são mais competitivos. E muitos regimes autoritários, como os da Rússia, China e Venezuela, tornaram-se muito mais repressivos e brutalmente autoritários. Assim, há uma tendência de queda.

Quais são as causas para essa deterioração?
Algumas delas são de natureza global. A globalização impôs novos desafios às democracias liberais. Pressões migratórias, crescimento da desigualdade, o boom tecnológico. A vida digital teve efeitos positivos no empoderamento dos cidadãos, mas também trouxe efeitos negativos, promovendo ceticismo e desinformação. A política está muito mais polarizada agora. E isso se aplica a democracias que antes eram bem estabelecidas. As redes sociais e a negatividade dos algoritmos, bem como sua vulnerabilidade à desinformação, desempenham um grande papel na desestabilização da democracia. A instabilidade na economia global, a recessão financeira de 2008, a guerra no Iraque — outros fatores também tiveram um impacto. Além disso, a ascensão de regimes autoritários e o aumento do poder de Rússia e China, com suas ofensivas ideológicas e informativas contra a democracia, bem como a falta de vigor e coordenação entre as democracias na luta contra esses desafios, para defender a qualidade da informação e promover valores democráticos, também são determinantes.

Em seu livro mais recente, Ill Winds, o senhor argumenta que cabe aos EUA recuperar seu papel como exemplo de democracia liberal no mundo e ajudar outras democracias a retomar seu caminho. O senhor se surpreendeu ao ver seu país enfrentando uma ameaça real à democracia, como ocorreu com Donald Trump?
Em 2016, tive uma grande surpresa. Foi um grande alerta. E depois veio um novo alerta em 2018. Esses acontecimentos se espalharam pelo mundo. Agora sabemos o que estamos enfrentando em termos de tentativas autoritárias e de estratégias de desinformação, de esforços para minar a integridade do voto. Trump utilizou essas estratégias, e Bolsonaro copiou ou tentou copiar isso. Hoje, conhecemos isso muito melhor. Precisamos estar preparados. Não podemos ser pegos de surpresa. E, como disse, precisamos agir de forma ofensiva na defesa dos valores liberais e democráticos e antecipar os métodos antidemocráticos, estando prontos para combatê-los. Nada realmente me surpreende mais, e precisamos aprender com a experiência e nos adaptar a ela. Em relação à liderança dos EUA, claro que sendo a democracia mais rica e poderosa do mundo, e a segunda maior democracia, logo após a Índia — embora nem sempre a considerem uma democracia —, o papel dos EUA é crítico. No entanto, não podemos liderar esse movimento sozinhos; precisamos agir em conjunto com nossos aliados democráticos. Há muitas lições a serem aprendidas. Uma delas, diante da crise atual na Venezuela, é que os EUA são fundamentais, mas assim são as outras grandes democracias das Américas.

Como o senhor entende o papel do Brasil nesse caso?
A defesa do veredito eleitoral democrático não pode depender apenas dos EUA. O que posso afirmar com segurança é que a clara e inequívoca aspiração do povo venezuelano por mudança democrática depende muito e mais pesadamente agora do presidente Lula, da sua determinação, habilidade e estratégia na mediação e negociação com o regime de Nicolás Maduro. Há um papel importante que os EUA podem desempenhar em termos de concordar em encerrar sanções, acusações, entre outras ações. Mas não temos um diálogo direto com Maduro. Ele não confia nos EUA — ele e seu regime autoritário e, em muitos aspectos, criminoso. Maduro precisa de pressão de países que ele entenda ser seus aliados, mais simpáticos e tolerantes a seu governo e que estejam dispostos a deixá-lo livres de pressão externa. Assim, a tríade de Colômbia, Brasil e México é crucial para resolver a crise venezuelana. E a única solução viável para a crise na Venezuela é que Maduro e outros líderes deixem o poder e vão para o exílio.

Única?
Sim, essa é a única solução. Todos sabemos que os democratas venceram a eleição. A evidência está lá; é matematicamente impossível que os 18% restantes das estações de votação possibilitem uma vitória para Maduro; a diferença nas atas verificadas é grande demais para o candidato da oposição. Lula sabe disso, seu assessor de segurança nacional sabe disso e todo mundo na OEA sabe disso. Mas o que vai ser feito a respeito? Realmente, depende do presidente Lula liderar a negociação de um acordo que permita que a atual liderança deixasse a Venezuela rumo ao exílio e receba a proposta de imunidade que foi oferecida, desde que deixe o poder.

Qualquer outro resultado dessa situação ou dessa mediação de Lula seria um fracasso? É possível chegar a esse acordo por meio da diplomacia?
Sim, a negociação com a pressão aumentada de sanções dos EUA, que acredito que se intensificariam sobre um segmento mais amplo da elite venezuelana, caso não respeitem o resultado da eleição, é uma possibilidade. Mas as negociações e a comunidade democrática na OEA estão divididas. As pessoas precisam estar unidas em torno do objetivo principal. E é por isso que a tríade de Brasil, Colômbia e México é tão importante. Dentro dessa tríade, o Brasil, o presidente Lula tem a liderança. Ele tem um histórico de relacionamento com os líderes venezuelanos, e tem credibilidade como líder de esquerda na América Latina, no espaço democrático. A responsabilidade recai sobre ele. O Brasil é realmente importante e nunca foi tão crítico quanto nesta crise atual.

Muitos países, incluindo a Venezuela, mas não apenas países com líderes autoritários, argumentam que os EUA apoiaram ditaduras e autocratas quando era conveniente política ou financeiramente. O senhor provavelmente ouviu algo semelhante ao acompanhar de perto o caso do Iraque. Não há alguma ambiguidade no papel e nos interesses dos EUA nesse tipo de intervenção?
Bem, nenhum país é perfeito. Todo país deve considerar suas necessidades de segurança nacional. Mas creio que essa crítica era mais válida antigamente do que para a atualidade. Aceitamos, respeitamos e mostramos uma disposição de aceitar e trabalhar com governos de esquerda democraticamente eleitos, que são bastante críticos dos EUA, como México, com López Obrador; Colômbia, com Petros. E o presidente Lula, eu diria, é mais independente. Talvez no início, quando ele venceu pela primeira vez, as pessoas nos EUA dissessem: “Oh, um socialista está chegando ao poder no Brasil”. Mas demonstramos uma disposição de trabalhar com ele. O presidente Obama teve um relacionamento muito positivo com Lula. Em outras partes do mundo, os EUA mostram uma disposição bastante boa — talvez não perfeita, mas considerável — de trabalhar com aqueles que aceitam os resultados de eleições democráticas. Não estamos contra Maduro por ele ser de esquerda ou socialista, como queiram chamar. Nos opomos a Maduro porque ele é um ditador que criou as circunstâncias de um Estado fracassado, destruiu seu país e levou um quarto de sua população ao exílio. Não é uma questão ideológica; é uma questão de autoritarismo e governos ruins.

Temos exemplos de ditaduras e autocratas de diferentes ideologias. Parece que assistimos a uma onda de líderes de extrema direita com essa tendência, mas não somente. Na sua perspectiva, isso acontece em ondas, como parece, ou essa é uma percepção equivocada?
Existe um elemento cíclico nisso, porque há efeitos de difusão e demonstração. Os efeitos de demonstração surgem quando as pessoas observam o que um país faz, o que um líder faz, seu estilo e estratégia, e tentam copiar isso. É óbvio que, por exemplo, Bolsonaro estava prestando muita atenção ao que Trump estava fazendo, ao que ele dizia e como conduzia as eleições. Alguns partidos e políticos de direita europeus, anti-imigração e populistas, também estão copiando Viktor Órban. Modi, na Índia, pode ter sua própria estratégia, seu estilo, mas ele provavelmente estava observando o que estava acontecendo no mundo e, talvez, como um líder como Erdogan, na Turquia, conseguiu agir. Além disso, há conexões, existem laços entre partidos e movimentos de direita de todo o mundo. Não é como uma Internacional Socialista, mas há laços informais: pessoas cruzando fronteiras, compartilhando ideias, modelos e recursos. Esses movimentos não são independentes uns dos outros. Existem recursos e inspirações autoritárias que estão se espalhando por fronteiras, tanto entre ditaduras de esquerda quanto entre o autoritarismo de direita.

O caminho para sair disso é uma tarefa global? É possível equilibrar essa coalizão global pela democracia com a autodeterminação de uma nação?
Claro. Respeitar a autodeterminação é crucial. O ponto é que, quando um país como a Venezuela é impedido de exercer sua autodeterminação democrática devido a um regime que se recusa a respeitar o resultado das eleições, é profundamente perverso afirmar que a autodeterminação dessa nação está sendo negada por conta da pressão internacional. Os verdadeiros poderosos ali não são os cidadãos, mas a liderança que sequestrou o governo do país, na Venezuela, na Nicarágua ou onde quer que se aponte um governo ditatorial. Não é a comunidade internacional obstruindo isso. A autodeterminação não deveria ser moralmente considerada como a capacidade de um autoritário autoproclamado determinar o futuro do país. A autodeterminação em nível nacional deve representar a capacidade de uma sociedade determinar coletivamente o futuro de seu país. Quando você tem um líder autoritário, seja Maduro ou Ortega, que claramente não têm o apoio de seu povo e não conseguem demonstrar isso em eleições livres e justas, e que se proclamam governo enquanto o povo resiste e defende que não o quer mais, a autodeterminação é a expressão da vontade popular. Quando os EUA e outras partes no contexto interamericano apoiam a expressão da vontade democrática do povo, não estamos contradizendo a autodeterminação, mas, sim, tentando habilitá-la e defendê-la. A autodeterminação é o que ocorreu em 28 de julho, e o que Maduro não está disposto a reconhecer.

O conceito de democracia e o que as pessoas demandam dela mudaram ao longo do tempo?
As aspirações por democracia certamente mudaram. As pessoas têm expectativas mais altas em termos de autodeterminação e participação do público por uma democracia mais profunda. Estamos buscando formas de multiplicar oportunidades para que as vozes e influências democráticas sejam ouvidas, para que haja responsabilização e transparência política. E essas são coisas positivas: queremos uma democracia mais profunda, rica, vibrante, inclusiva, participativa, mais honesta e transparente. Ter expectativas por uma democracia mais responsável é algo positivo. Não é uma definição diferente, pois ainda requeremos que a democracia seja um sistema em que as pessoas possam governar e isso seja expresso por meio de um voto democrático e transparente em intervalos periódicos, no qual as pessoas possam escolher e substituir seus líderes em eleições. Não há nada de novo ou diferente nisso. Mas as dimensões liberais da democracia e outros aspectos da qualidade democrática foram mais bem elaborados, e as expectativas foram aumentadas de maneira dando voz às aspirações populares por uma democracia mais profunda e responsável. À medida que as pessoas se tornam mais educadas e mobilizadas, esperamos que se engajem democraticamente. Esse, eu acho, é um desenvolvimento promissor. E o objetivo é ter instituições de responsabilidade robustas, uma sociedade civil sólida e uma polícia democrática responsiva que ajudem a atender aos desejos do povo.

E, por outro lado, a forma como os autoritários chegam ao poder mudou? Tornou-se mais sofisticada?
Nas últimas décadas, o que percebo é que eles chegam ao poder com mais frequência e, de forma mais característica, utilizando os instrumentos da democracia por meio das urnas. Houve uma queda significativa em golpes militares. Vimos alguns no subcontinente africano, tivemos alguns na Ásia, como em Mianmar e na Tailândia, mas os golpes militares tornaram-se um mecanismo pouco frequente para a conquista do poder e um método muito menos comum de autoritarismo. Não creio que esses regimes militares consigam realmente se sustentar. Isto se prova na experiência egípcia. Existem algumas situações em que o militarismo é um ator político e econômico muito entranhado e relevante, como no Paquistão, no Egito e mesmo na Tailândia. No entanto, ao observar os regimes que se tornaram autoritários recentemente, notamos que foi como resultado do abuso incremental de poder a partir de uma eleição democrática. Então, você vê o regime gradualmente se tornar cada vez mais autoritárias, como na Turquia, ou de forma relativamente rápida, como em El Salvador.

Esse método é novo?
Essa não é uma novidade total, mas é algo perigoso, porque isso se disfarça de roupas democráticas. E busca a legitimidade ou finge ter a legitimidade da democracia, mas de fato não a tem. Por outro lado, isso nos dá, considerando que é um processo gradual, como foi com Bolsonaro no Brasil, um tempo para reconhecer o que está acontecendo e, assim, reunir as instituições democráticas, o Judiciário, a sociedade civil, para reagir e tentar restringir e, finalmente, derrotar essas tendências.

Como o senhor entende esse momento que os EUA estão vivenciando, em que um líder tentou subverter a democracia e ainda tem algum apoio popular? Isso reflete algum um mal-entendido por parte da população sobre o que é a democracia ou revela que alguns estão dispostos a subverter a democracia desde que seja em nome de seus valores morais?
Essa questão realmente me preocupa. Não existe uma única resposta. Alguns apoiadores de Trump realmente acreditam que a eleição de 2020 foi fraudada. Pesquisas de opinião pública apontam que dois terços ou mais dos republicanos que votaram em Trump acreditam nessa falsa narrativa e, portanto, provavelmente não veem a rebelião de 6 de janeiro como uma tentativa violenta de reverter a eleição em termos totalmente antidemocráticos, mesmo que não apoiem a violência e a coerção que estão por trás disso. Provavelmente acreditam, falsamente, que essa insurreição não seja algo pelo qual Trump devesse ser responsabilizado. Outras pessoas gostariam que Trump não fosse tão direto, e que não tivesse essas tendências autoritárias. Mas preferem suas políticas fiscais ou suas políticas para a indústria do petróleo. Eles desejam, como empresários, concessões financeiras que imaginam vir com sua vitória. Para um certo número de apoiadores, aliás, da indústria do petróleo, da indústria financeira, da tecnologia, isso se trata apenas de uma proposta de negócios, e as políticas de Trump serão favoráveis aos interesses empresariais. Por outro lado, como mencionei, estamos falando de uma comunidade cristã evangélica, muito conservadora socialmente, preocupada com o que vê como uma sociedade moralmente permissiva.

A ponto de sacrificar a maior democracia liberal do mundo?
Eles inserem na vida pública, por exemplo, coisas como a exibição dos Dez Mandamentos nas escolas da Louisiana, políticas anti-aborto muito rígidas, e um retorno aos papéis tradicionais de gênero, a identidade de gênero binária tradicional. Embora eles saibam que Trump tem manchas e contradições na sua vida pessoal, mesmo com essas características, apoiam-no porque acreditam que ele cumprirá suas promessas, como fez em relação ao aborto, por meio de suas nomeações judiciais e políticas conservadoras culturalmente. Existe uma complexidade de motivos para esse apoio e é necessário entender que, uma vez que Trump se torna o candidato republicano, um mínimo de 40% do país votará nos republicanos porque são inclinados a políticas sociais conservadoras ou têm preferências políticas de direita, ou têm outros interesses em jogo. Para alguns, Trump pode não ser sua primeira escolha, mas ele será o candidato republicano que eles apoiarão. Muitos acreditam que ele “fará a América grande novamente”, que é um retorno a um tempo em que homens eram homens, mulheres conheciam seu lugar e havia papéis de gênero tradicionais. Há essa noção de que, devido ao aumento da diversidade, as pessoas de cor desafiaram a ordem tradicional etc. Eles querem um retorno a essas tradições.

Então, para essa parte da população importam mais o nacionalismo e valores cristãos do que a democracia?
Essa é uma maneira de dizer. Uma outra é a de que, para parte significativa do público americano, a defesa dos valores e procedimentos democráticos, a realização de eleições limpas e transparentes, o respeito pela ordem e procedimentos constitucionais, e o respeito pelo Estado de Direito, nada disso parece ser uma prioridade para eles. Suas preferências políticas prevalecem mais do que o respeito pelas normas e procedimentos democráticos. Ou eles se tornaram tão capturados pela desinformação e pela bolha de falsas informações que os absorvem nas redes sociais e em seus círculos sociais, que não conseguem, literalmente, imaginar que eles não sejam a maioria. Eles não conseguem aceitar que não pertençam à maioria. E, assim como Donald Trump, não conseguem aceitar a possibilidade de que ele, e eles, possam perder uma eleição.

Quais as consequências disso?
É muito difícil definir com precisão até que ponto isso é uma crença sincera, ainda que incorreta e distorcida, e até que ponto isso constitui um cálculo político e moral de que estão certos e não importam se não têm uma maioria democrática. Eles creem que sua posição é tão moralmente necessária que precisam vencer a qualquer custo, seja por meios democráticos ou antidemocráticos. De qualquer forma, você acaba com um profundo desafio à democracia, porque essas pessoas se tornam dispostas a minar as normas e os procedimentos democráticos, e até agir para invalidar ou desconsiderar as eleições em nível local e estadual caso percam.

O senhor vê uma solução para restaurar esses valores democráticos para esses grupos tão ligados a esses valores nacionalistas e cristãos?
O caminho envolve uma combinação de duas abordagens. Uma que é resoluta e intransigente e outra que é aberta e conciliadora. A abordagem resoluta e intransigente é o compromisso com as instituições democráticas, seus procedimentos e normas. Não podemos fazer concessões sobre o processo democrático. Não podemos permitir que atores que têm compromissos duvidosos ou oportunistas com a democracia sequestrem o processo ou questionem sua integridade, quando a integridade pode ser demonstrada de forma clara. Precisamos defender as normas e procedimentos eleitorais democráticos contra os ataques a eles antes das eleições, na intenção de desqualificar eleitores legítimos e excluí-los do registro de votação, ou tornando mais difícil para as comunidades minoritárias votarem ou distorcendo o processo eleitoral de outras maneiras que deem a seu partido e sua ideologia uma vantagem injusta e antidemocrática. Precisamos ser resolutos e sistemáticos, muito metódicos e comprometidos com o sentido das normas e procedimentos democráticos, facilitando a votação e o exercício do direito ao voto. Em termos de administrar a votação no dia das eleições, somar os votos, auditar os resultados, demonstrar a integridade da apuração. E em termos de certificar um resultado de votação verificável como legítimo e impedir que aqueles que perderam uma eleição tentem desqualificá-la ou invalidá-la simplesmente porque não gostam do resultado. Precisamos ser resolutos em tudo isso; devemos ser habilidosos, informados, metódicos, engenhosos e organizados, além de atravessar as linhas partidárias convencionais na afirmação e defesa das normas e procedimentos democráticos.

Qual é a abordagem conciliadora?
Precisamos estar conscientes do fato de que uma das razões pelas quais as pessoas estão vendo as eleições como existenciais é que elas acham que os resultados são tão substanciais que, se perderem, isso será catastrófico e elas perderão tudo. Essa percepção ocorre porque estamos absolutamente polarizados ideologicamente e culturalmente. Assim, precisamos retirar parte da toxicidade e dessa dimensão existencial de nosso diálogo político e encontrar formas de dialogar entre nós, buscar pontos em comum. Devemos tratar uns aos outros com algum nível de respeito mútuo e não nos ver como inimigos a serem destruídos. Isso é importante tanto em termos do processo político quanto culturalmente, no modo como nos referimos uns aos outros como adversários políticos. Precisamos evitar a polarização e buscar o diálogo e a interação sempre que possível. Esse é o caminho para minimizar esse abismo. É a firmeza de um lado e a busca por pontos em comum do outro.

Conteúdos que viralizam conseguem converter votos?

Há um grande abismo entre o que o Brasil dos partidos políticos, da mídia tradicional e dos intelectuais considera importante em uma eleição municipal e o que realmente chama a atenção do povo e viraliza em aplicativos de mensagens como o WhatsApp e o Telegram.

Nos últimos 15 dias da pré-campanha, enquanto meios de comunicação promoveram debates, sabatinas e entrevistas com diversos políticos que almejam as prefeituras das principais cidades do país, plataformas como Facebook, YouTube e Instagram foram inundadas por lives e vídeos curtos de outros políticos que, vindos de municípios menores ou com menos destaque nas pesquisas de intenção de voto, não conseguiram espaço na mídia tradicional. Tinham que buscar uma forma de aparecer.

Tanto nos eventos organizados pela imprensa como nos conteúdos divulgados pelos próprios candidatos em suas redes sociais, o eleitor brasileiro foi exposto a uma enxurrada de ataques pessoais. Em Teresina, por exemplo, um candidato a prefeito chegou a dar uma cabeçada em outro. Em São Paulo, houve acusações (sem prova) envolvendo o uso de cocaína. Denúncias policiais, processos judiciais, supostos casos de violência doméstica e até menções a envolvimento com a “máfia do transporte” também apareceram nas discussões.

As figuras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos ex-presidentes Jair Bolsonaro e Dilma Rousseff, além do venezuelano Nicolás Maduro, também foram frequentemente mencionadas, tanto de forma positiva como negativa.

Com menos frequência, apareceram propostas de governo. Falou-se, por exemplo, sobre armar a guarda municipal, ampliar o número de vagas em creche e oferecer transporte gratuito nos fins de semana.

Nada disso, no entanto, conseguiu incendiar os aplicativos de mensagem do país.

Uma análise detalhada de mais de 80 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram, feita através da ferramenta de monitoramento social Palver, revela que o que realmente engaja nesses espaços criptografados é a criatividade, a ousadia, as mensagens de duplo sentido e a falta de timidez. Quem surpreende e emociona consegue engajamento. E isso é quase ouro em ano eleitoral.

Dados da Palver mostram que, nos últimos 15 dias, um dos maiores sucessos nos grupos públicos que ela acompanha (de forma totalmente anonimizada) foi um vídeo do prefeito e candidato à reeleição em Mirandópolis (SP), Ederson Pantaleão de Souza (União Brasil). Com menos de 30 segundos, o vídeo simula o atropelamento de Souza e serve como anúncio da chegada de novas ambulâncias em um bairro da cidade. Em duas semanas, a gravação foi vista em pelo menos 29 grupos públicos de WhatsApp, com mais de 25 mil membros no total, e em oito canais públicos de Telegram, que reúnem pelo menos 166 mil indivíduos.

Hoje, o até então pouco conhecido Souza pode afirmar que seu vídeo foi visto por brasileiros em pelo menos sete estados, além de São Paulo. Pessoas de Alagoas, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná e Tocantins também assistiram e interagiram com o conteúdo. E o sucesso dele é refletido no bom humor dos comentários que o acompanham. “Candidato à prefeitura de Mirandópolis exagerou kkkkk oh my god” e “Propaganda é a alma do negócio” são alguns exemplos de mensagens observadas na plataforma.

Outra produção que viralizou nos aplicativos recentemente foi um vídeo de um minuto e três segundos de duração feito pelos candidatos do PL a prefeito e vice-prefeito de Itajaí (SC), Robison Coelho e Rubens Angioletti. No vídeo, ambos aparecem sentados num banco de praça, inicialmente discutindo receitas de frutos do mar, típicas da região. Numa referência velada ao presidente da República, Coelho diz que “lula não tem caído muito bem”. Angioletti responde dizendo que ele é do tempo em que lula era mantida em cativeiro, numa referência ao tempo de prisão do hoje mandatário.

Divulgado na sexta-feira (9), dia em que o presidente Lula visitava Itajaí, o vídeo termina com Coelho perguntando se ele achava que havia alguma chance de Lula ser mal recebido na cidade. E, como resposta, ouve a frase: “Aqui em Itajaí? É mito”, termo que se popularizou na direita brasileira para fazer referência a Bolsonaro.

O sucesso da gravação não se restringiu a Santa Catarina. O vídeo também foi visto por usuários de WhatsApp com números de São Paulo e Maceió, conforme dados da Palver.

Se a distância entre o que viraliza nos apps e o que se vê em entrevistas, sabatinas e debates é tão grande, imagina o abismo que separa vídeos como os de Mirandópolis e Itajaí do que começará a ser exibido dia 30 nos primeiros horários eleitorais de rádio e televisão do ano.

Nesses espaços garantidos aos candidatos pela Justiça Eleitoral, costumam vir à tona vídeos biográficos, destacando as origens, a família, os estudos e os feitos públicos dos postulantes a cargos públicos. Ano após ano. É difícil imaginar que esses materiais — feitos à moda antiga — conseguirão viralizar nos aplicativos de mensagem tanto quanto os exemplos mencionados acima.

O que precisa ser estudado é qual dos modelos de comunicação efetivamente converte votos: o dos debates, sabatinas e entrevistas, o dos horários eleitorais ou o dos conteúdos que viralizam em grupos de WhatsApp e Telegram.

Nota: A Lupa usa a ferramenta de monitoramento da Palver desde as eleições de 2020. Integralmente desenvolvido no Brasil, o sistema agrupa grupos públicos que são criados no WhatsApp e Telegram sem coletar, armazenar ou exibir qualquer dado sobre os usuários. Por meio de um dashboard, a Lupa acompanha o que viraliza em mais de 80 mil grupos públicos, faz buscas nas mensagens e analisa sua distribuição. Com base neste sistema, produz as newsletters Ebulição Rio e Ebulição SP, sobre mensagens que tratam da disputa eleitoral nessas duas cidades. Nesta parceria com o Meio Premium, a Lupa oferece uma visão mais ampla e analítica do que encontra ao longo da semana, para além das análises diárias das duas principais cidades do país. Acompanhe-nos até o dia da eleição.

Aventura quixotesca

Quando todas as pessoas não sabiam mais o que fazer com seus discos de vinil, na época em que o CD parecia ser o melhor formato para se ouvir música, eu oferecia a minha casa para abrigar as coleções rejeitadas. Desde que comprei meu primeiro disco nas Lojas Americanas em 1982, um compacto da Blitz com Você Não Soube Me Amar de um lado e um jocoso “Nada, nada, nada, nada…” repetido do outro, minha coleção de discos não parou de crescer. Volta e meia trocava uma versão em pior estado por uma melhor, dava repetidos para outros amigos colecionadores, mas nunca deixei de lado o hábito de ouvir LPs. Mesmo que intercale as audições especiais do vinil com as mais corriqueiras do Spotify, do Bandcamp, do SoundCloud e do Tidal.

O mercado digital é francamente dominante na escuta de música hoje, mesmo entre os audiófilos. Conheço alguns que têm aqueles equipamentos de som que custam o preço de um carro popular, que por muitos anos defendiam fervorosamente os Super Audio CDs e que hoje trocaram suas coleções por músicas em arquivos flac — com menos compressão que o MP3 — ou por serviços de streaming de alta qualidade como o Tidal.

Gostar de vinil, contudo, não é só sobre qualidade de áudio. E os vinis novos de 180 gramas têm uma qualidade incrível, ainda mais para quem os escuta em bons sistemas de som. A questão dos LPs é o fetiche do objeto mesmo. E também como eles influenciam a escuta. Não existe formato melhor para capturar a alma de um álbum. Como mudar de faixa exige um esforço físico, o vinil convida o ouvinte a entrar naquele mundo como ele foi concebido pelo artista, isso sem falar das capas, dos encartes. Coisas que praticamente inexistem hoje. Ok, é possível até ver vídeos que acompanham canções no Spotify. Mas quem ouve música olhando pro celular?

O mercado de música hoje é praticamente todo digital. Dados do ano passado da Pró-Musica, associação que reúne as maiores gravadoras do mercado brasileiro, apontam que o grosso da receita, crescente nos últimos sete anos, está no streaming. Plataformas como Spotify, Deezer e Apple são responsáveis por 87,1% do faturamento total do setor, em um mercado de R$ 2,9 bilhões em 2023.

Para quem pensa que as mídias físicas não fazem mais parte do hábito de ouvir um som, o relatório traz uma surpresa. Ainda que elas representem apenas 0,6% do total no Brasil, os números mostram claramente uma nova tendência. Essa é a maior cifra registrada desde 2018 e também representa um crescimento de 35,2% em relação a 2022. Quem puxou as vendas para cima são os bons e agora não tão velhos discos de vinil, que pela primeira vez ultrapassaram os CDs e os DVDs de shows e cresceram 136,2% no ano. De um total de R$ 16 milhões de vendas de mídias físicas, a venda de LPs foi responsável por R$ 11 milhões.

Subindo a serra

Não eram esses números que estavam na minha cabeça quando subi a serra saindo do Rio para Petrópolis para conhecer a mais nova fábrica de vinil do Brasil, montada pela gravadora Rocinante. O que queria entender tinha mais a ver com a qualidade dos discos. Quem é colecionador sabe que mesmo em reimpressões a qualidade pode oscilar muito. Fabricar vinis é um processo bastante artesanal, se comparado ao de outras indústrias. E a tecnologia praticamente ficou extinta por anos. Por estas praias, até que a Polysom abrisse suas portas no Rio em 1999, retomando a aventura brasileira do vinil. A fábrica carioca só passou a ter concorrência nacional em 2017, quando a Vinil Brasil foi aberta em São Paulo.

A fábrica da Rocinante é a mais nova, a empresa foi fundada em 2018, e a unidade de Petrópolis começou a operar em 2020, já com as duas prensas alemãs Newbilt. Hoje a fábrica está instalada em um novo endereço, numa área plana, já preparada para a sua expansão, que deve acontecer ainda neste ano com a chegada de mais duas prensas Newbilt, e a incorporação de dois processos que hoje são feitos no exterior: a galvanoplastia e o corte.

Os experts dizem que não há máquina melhor do que as Neumann, fabricadas nos anos 1970, para fazer o processo de corte. “Ficamos muito tempo tentando comprar uma dessas máquinas, com olheiros na Europa, quase conseguimos uma, mas quando entramos em contato, ela havia sido vendida dois dias antes. Agora conseguimos encontrar outra. Fechamos negócio sem regatear o preço e ela está a caminho do Brasil”, conta Wladymir Jasinski, administrador da fábrica de LPs.

Aqui vale explicar um pouco como é feito um disco de vinil. O primeiro passo, claro, é a gravação e a masterização, que confere qualidade final ao áudio. Se for uma gravação antiga, ela estará muito provavelmente numa fita de rolo. As novas, em arquivos digitais. Com base nessas matrizes, acontece o corte, onde os dois lados do disco são transferidos para um acetato. Esse acetato, então, passa pela galvanoplastia, um processo químico que dá um banho de prata e níquel ao acetato e gera as matrizes dos dois lados do disco que será levado às prensas. Cada matriz é colocada de um lado da prensa. No meio, vai o chamado cake, a mistura de plásticos que vai se transformar no disco, e o rótulo. Essa prensa usa vapor para derreter o cake e formar o disco e, depois, recebe água fria para resfriá-lo. Saindo da prensa, ele passa por mais uma máquina onde é cortada a borda.

A máquina de corte vai ser instalada no estúdio da Rocinante, hoje em Araras, também na serra fluminense, e o processo de galvanoplastia será feito na fábrica. Isso permitirá não só ter mais controle sobre o processo todo de gravação, como uma redução de custos de produção. “E uma coisa importante é a visão dos sócios de que toda a redução de custos não deve aumentar a margem de lucro, mas ser repassada ao consumidor”, diz o administrador.

Hoje, para se ter uma ideia, se houver algum problema com o corte, ele tem de ser refeito na Europa, demora cerca de 40 dias para chegar ao Brasil e ainda é sujeito às tributações de importação. Com o corte em Araras, cidade próxima a Petrópolis, há não só um ganho de custo, como de tempo, o que amplia a capacidade da fábrica para atender mais clientes. A mesmo agilidade vai se manter quando a Rocinante transferir o estúdio de Araras para o Rio, como conta um dos sócios da gravadora, Sylvio Fraga, que justifica a mudança pelo custo de subir e descer a serra durante as gravações.

Com a expansão da fábrica, uma nova linha de produção será inaugurada, a de compactos de sete polegadas. Com isso, a fábrica vai atender a quatro mercados. O primeiro, que deu origem à parceria entre Fraga e o engenheiro de som Pepê Monnerat e à criação da gravadora, é dar vazão às produções da Rocinante, gravações super bem cuidadas de artistas como Hermeto Pascoal, Orkestra Rumpilezz, Jards Macalé. O segundo é atender a demanda das majors — as grandes gravadoras internacionais —, um terceiro é o clube do disco e por fim os licenciamentos de discos clássicos, ambos em parceira com a Três Selos.

“A Rocinante é uma gravadora independente, está na nossa origem cuidar dos independentes”, conta Sylvio Fraga, dizendo que agora, com as novas prensas, eles vão oferecer dois novos produtos, mais baratos: discos com tiragens de 100 exemplares e discos com capa branca, sem arte gráfica, o que reduz o custo. Na Europa e nos Estados Unidos esse tipo de disco é comum. Boa parte das bolachas de 12” de música eletrônica, por exemplo, é vendida só com a capa branca.

Choque de qualidade

Visitando a fábrica, o que mais chama a atenção é o cuidado com a qualidade. Tudo na fabricação de vinil depende de uma série de fatores. Um é a água e a escolha de Petrópolis se dá justamente pelo acesso abundante à agua em uma temperatura ideal. Outro é o material, e a Rocinante chegou a um tipo de polímero ideal para fazer discos, desenvolvido em conjunto com um fornecedor externo e aprimorado após uma série de análises químicas; o terceiro, e mais fundamental, é o controle de qualidade humano. Não existe mais no mercado quem tenha experiência em fabricar vinil, e os funcionários foram aprendendo seu ofício enquanto faziam os discos. Uma troca importante para desenvolver essa habilidade foi com a Thrid Man Records, gravadora de Jack White sediada em Nashville, nos Estados Unidos. “Não só mandamos o gerente da fábrica para lá, como recebemos funcionários da Third Man aqui. E eles disseram que nossos padrões de qualidade são ainda mais rígidos do que os deles”, conta Jasinski.

Cada disco que sai da prensa passa por uma vistoria visual e depois por uma escuta atenta, assistida por softwares. Se houver qualquer problema como riscos, plocs, sujeira, a produção é interrompida até que se analise a origem do problema. “Isso faz com que o nosso índice de devolução dos clientes seja baixíssimo: 0,8%”, diz o administrador.

Além da fábrica e do estúdio, a Rocinante também fez uma parceria com a tradicional loja de discos carioca Tropicália, em Botafogo, e levou parte dos escritórios para o segundo andar do prédio da loja. Visitando, descobri ainda um segundo produto curioso que sai da fábrica, um belo dichavador da Rocinante, feito com as aparas dos discos de vinil.

Pensando no crescimento do mercado de vinil, o próximo passo da Rocinante é uma parceria com a Polyvox, para oferecer toca-discos no clube do vinil, conta Sylvio Fraga. Um passo grande para uma gravadora que nasceu da visão de um produtor musical e de um engenheiro de som preocupados em encontrar um modelo de negócios que sustentasse a feitura de discos de excelência dentro do universo da música brasileira. “Discos feitos para atravessar o tempo”, como disse Pepê Monnerat. Pelo visto, nessa aventura quixotesca da Rocinante, os moinhos de vento vão sair perdendo.

As imagens dominaram os cliques da semana, principalmente as dos Jogos Olímpicos e as dos fotógrafos de oceanos.

1.  BBC News Brasil: As fotos que revelaram os gestos de espírito olímpico em Paris.

2. CNN: As imagens dos finalistas da competição de fotógrafo de oceanos do ano.

3. Guardian: Banksy assume a autoria de piranhas, sétimo animal grafitado por ele em Londres.

4. CNN: As melhores fotos das Olimpíadas de Paris.

5. Panelinha: Receita de bolo cremoso de chocolate.

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