Edição de Sábado: Em nome delas
Em 1993, recém-formada em Direito, filha do então secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo (e futuro presidente da República), Luciana Temer decidiu prestar concurso para delegada. Aprovada, tornou-se titular da delegacia de Defesa da Mulher de Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo. Embora já tivesse tido alguns momentos de brutal contato com a bestialidade do mundo, considerava-se fruto de uma bolha que flutua sem grandes percalços na elite econômica do país. Foi ali, nos cinco anos diante da “vida como ela é”, como define, que Luciana compreendeu a dimensão da violência contra mulheres, de todas as feições, classes e origens. Luciana passou anos na vida pública, sempre lidando com a extrema vulnerabilidade social. Foi secretária de Esporte, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin, no período em que a Febem se tornou Fundação Casa. Depois, foi secretária de Assistência Social de Fernando Haddad, na capital paulista, e ajudou a tocar o programa De Braços Abertos, na Cracolândia.
Edição de Sábado: Nova era dos extremos
O resultado das eleições para o Parlamento Europeu, realizadas em 27 países do bloco no último domingo, 9 de junho, mostram uma guinada do continente para a direita. Embora o centro democrático ainda domine a maioria da Casa, a votação histórica dos dois superpartidos que compõem a ultradireita, o Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), que conquistou 76 assentos, e o Identidade e Democracia (ID), com suas 58 cadeiras, muda o centro gravitacional da política do velho continente e impacta não apenas o jogo de poder regional como a política interna de cada um dos membros da União Europeia (UE).
Edição de Sábado: A realidade argentina nos 6 meses de Milei
“Não há dinheiro”, gritou Javier Milei em sua posse, em 10 de dezembro passado, numa quente manhã do verão portenho, diante do Congresso Nacional. Seus eleitores, sem se assustar com o anúncio de grandes ajustes, o aplaudiam e gritavam: “Milei, amigo, o povo está contigo”.
Edição de Sábado: Cálculo do futuro
Aos 16 anos, Gabriela Lewenfus sonhava ser bailarina. Pouco depois, pensou em Biologia. Na época do Enem, cogitou Engenharia Química, mas acabou optando por Biomedicina. Excelente aluna em matemática desde a escola, depois de dois anos de graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro, notou que ia muito bem nas aulas de cálculo. Sem paciência para horas de laboratório, decidiu mudar de curso. E escolheu o que até então jamais havia passado por sua cabeça: Matemática Aplicada. Apesar de o caminho até lá ter sido meio que por acaso, encontrou-se em uma área que oferece muito mais do que poderia imaginar. “Menina nunca pensa em matemática. E eu sempre fui muito boa nessa matéria, mas nunca pensei em fazer nada com isso. Se eu tivesse de escolher o curso agora, teria optado pela matemática desde o início.”
Edição de Sábado: Força bruta
Foi como se um tornado tivesse cruzado por Passo de Estrela. De repente, tudo se foi, como se nunca tivesse estado ali. Casas, ruas, prédios, bichos, gente, tudo desapareceu em poucas horas, deixando marcas de uma violência brutal. Do alto, era quase impossível acreditar que, até poucos dias atrás, milhares de pessoas viviam em mais de 500 casas desse bairro simples de Cruzeiro do Sul, uma cidade às margens do rio Taquari, a quase 150 quilômetros de Porto Alegre. Só de baixo, caminhando pelos destroços, era possível encontrar sinais do que fora uma comunidade bem estabelecida até poucas semanas.
Edição de Sábado: A primeira vítima
No Palácio do Planalto, o alerta vermelho de que era preciso uma operação robusta da comunicação para combater notícias falsas sobre as cheias no Rio Grande do Sul acendeu na segunda-feira, 6 de maio. Nas redes, as atenções dos usuários estavam divididas entre dois impactos: conservadores estavam indignados com as cenas sensuais do show da cantora Madonna na Praia de Copacabana, que havia ocorrido na noite de domingo. Também todos assistiam, com perplexidade, aos vídeos divulgados da cheia do Guaíba, inundando Porto Alegre e a região metropolitana da capital gaúcha com as águas que já haviam causado estragos na região serrana do Rio Grande do Sul.
Edição de Sábado: Depois da tempestade
Na noite de quarta para quinta-feira, no Brasil dos vira-latas caramelos, muitos concordavam em ceder o apelido mais clássico e carinhoso dos cachorros sem raça definida para outra espécie. Imóvel, a imagem de um cavalo em cima de um dos telhados ainda parcialmente visíveis de Canoas (RS) provocava uma enxurrada de perguntas em cada mente. Como ele chegou até ali? Há quanto tempo? Até quando resistirá? Como resgatá-lo? Com helicóptero? Como içar um bicho tão grande e pesado. Melhor levar uma balsa? Tem profundidade suficiente? Dá para tirar de barco? É melhor se concentrar em salvar gente? E mais: parecia sonho, parecia filme.
Edição de Sábado: Nossa Senhora de Copacabana
Hoje à noite Madonna sobe ao palco erguido nas areias de Copacabana, no Rio de Janeiro, para o encerramento da Celebration Tour. Esta é a única parada da turnê que comemora os 40 anos de carreira da rainha do pop na América do Sul. Mais do que o show em si e a excepcionalidade de ser um espetáculo gratuito — o que está fazendo com que um bando de forasteiros, eu incluído, invadam a orla carioca seduzidos pela promessa de que a praia vá virar uma gigantesca pista de dança para 1,5 milhão de pessoas —, o público vai ver se encontra ali a resposta para uma pergunta. Como uma estrela do pop, gênero efêmero por natureza, consegue galvanizar a atenção de tanta gente, de gerações tão diferentes, depois de quatro décadas de superexposição?
Edição de Sábado: O jogo duplo de Pacheco
Rodrigo Pacheco não colocou os pés no Congresso Nacional na última quarta-feira. Um fato atípico, considerando que a esse é, costumeiramente, o dia mais agitado da semana no plenário. O mineiro do PSD, presidente do Senado, preferiu ficar na residência oficial, onde as chances de vazamento de suas conversas eram bem mais remotas. O único compromisso no plenário seria a sessão conjunta do Congresso, que ele também preside, marcada para 19h, com o objetivo de apreciar vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo anterior a projetos aprovados pelos parlamentares. Para o governo, porém, aquele era um dia crucial para dar uma virada nos humores com o Legislativo, que andavam especialmente azedos nas últimas semanas.
Edição de Sábado: A política da vingança
Os versos de Chico Buarque vieram à mente do conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho na terça-feira de julgamento no Conselho Nacional de Justiça, o CNJ: “Roda mundo, roda-gigante. Rodamoinho, roda pião. O tempo rodou num instante”. A imagem de uma imensa roda empurrada ladeira acima, que muda de direção e passa por cima de quem a empurrava, dava ao conselheiro uma perspectiva menos comezinha e mais poética sobre o que ocorria no plenário. Na visão de muitos dos presentes, o relatório apresentado pelo corregedor Luís Felipe Salomão contra magistrados da Operação Lava Jato tinha ares de vingança. O texto destrinchava mandos e desmandos da força-tarefa. “Mais do que a imagem da vingança, eu prefiro ver esse processo político como uma roda-viva”, disse o conselheiro ao Meio, após o julgamento.