Prezadas leitoras, caros leitores —

O Brasil não consegue respirar. Cada um de nós está preso dentro daquela viatura com Genivaldo. Sufocados na cultura de morte que, de tão tradicional nesse país, nos faz inertes diante do inconcebível. O rapaz, remédios contra esquizofrenia no bolso, foi assassinado com gás numa viatura da Polícia Rodoviária Federal em Umbaúba, interior de Sergipe. Na véspera, uma operação da Polícia Militar e da mesma PRF na Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio, deixou 23 mortos, tornando-se a segunda mais letal da história do estado — atrás apenas daquela no Jacarezinho, de um ano atrás, com 28 vítimas. A Edição de Sábado entrevista Luiz Eduardo Soares, um dos maiores pensadores de segurança pública do Brasil, e tenta decifrar o torpor da nação diante da barbárie policial.

Vamos trazer também uma curadoria do que se leu no Fórum Econômico Mundial, em Davos: artigos sobre metaverso, semanas profissionais de quatro dias, inteligência artificial, inflação… Por fim, no ensejo do lançamento de um novo álbum de Alaíde Costa, produzido por Emicida, propomos uma lista de mulheres gigantes que fogem do óbvio e moldaram parte da MPB.

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— Os editores.

Datafolha projeta vitória de Lula no 1º turno

Se o primeiro turno das eleições presidenciais acontecesse hoje, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) seria eleito sem a necessidade de uma segunda votação, segundo pesquisa do Datafolha divulgada ontem. No levantamento, ele aparece com 48% das intenções de voto, oito pontos a mais que a soma dos adversários: o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 27%; o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 7%; o deputado André Janones (Avante-MG) e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), com 2% cada; e Pablo Marçal (PROS) e Vera Lúcia (PSTU), com 1% cada. Considerando somente os votos válidos, sem brancos e nulos, Lula teria hoje 54%. A pesquisa não pode ser comparada à anteriores por conta da saída de Sérgio Moro (UB) e João Doria (PSDB). Num eventual segundo turno, Lula iria a 58%, contra 33% de Bolsonaro. (Folha)

Assim como nas intenções de voto, a diferença da rejeição aos primeiros colocados é de 21 pontos, só que no sentido contrário. Enquanto 54% dizem não votar em Bolsonaro sob qualquer hipótese, 33% rejeitam completamente Lula. No Nordeste, a rejeição ao presidente salta para 65%. Por outro lado, ela cai para 40% entre os evangélicos, segmento no qual ele tem o maior apoio. (Folha)

Anunciada a pesquisa, políticos de todos os lados foram às redes sociais reagir. Petistas e aliados de Lula comemoravam os números, enfatizando a chance de vitória no primeiro turno. Já a deputada Joice Hasselmann (PSDB-SP) preferiu enfatizar a rejeição aos dois líderes. Entre os bolsonaristas, a ordem era deslegitimar a pesquisa. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) publicou um vídeo do pai sendo aplaudido em Minas Gerais com a legenda “Datapovo. Bolsonaro comprovando mais uma vez que a melhor pesquisa é feita nas ruas!”. Já o ministro das Comunicações, Fabio Faria, abriu uma enquete indagando em quem o eleitor acreditava mais: Papai Noel, duendes, Pinóquio ou Datafolha. Mas o tiro saiu pela culatra. Até a noite de ontem, 70% dos votantes apoiavam o instituto paulista. (UOL)

Vinícius Torres Freire: “É possível que o comportamento cruel, desumano e degradante de Bolsonaro, seu golpismo, seu elogio da morte e das matanças e a fieira de atrocidades tenham enojado de vez parte do eleitorado. A dúvida é saber a que tipo de barbaridade ou golpe econômico ele vai recorrer a fim de evitar o risco de eliminação ainda no primeiro turno.” (Folha)

Vera Magalhães: “A surra que o Datafolha detecta entre os mais pobres, no Nordeste, entre as mulheres e os jovens mostra que essa combinação de economia que derrete e ameaças a direitos e à democracia leva a que a rejeição torne Bolsonaro paulatinamente pouco viável eleitoralmente — ainda que o antipetismo ainda considerável faça dela, no que parece algo contraditório, mas não é, o depositário de uma parcela grande de votos. Raciocínio, portanto, de um eleitor que, de lado a lado, está antecipando o segundo turno para o primeiro.” (Globo)

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O PT anunciou ontem o deputado André Quintão como vice na chapa do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) ao governo de Minas, formalizando a aliança entre os partidos e dando a Lula um palanque sólido no estado. O acordo, fechado na presença de Lula e de Kalil, foi possível porque o deputado federal Reginaldo Lopes (PT) desistiu de concorrer ao Senado, e o estadual Agostinho Patrus (PSD) abriu mão de concorrer a vice. Os dois, aliás, vão coordenar a campanha conjunta de Lula e Kalil no estado, segundo maior colégio eleitoral do país. (UOL)

O procurador-geral da República, Augusto Aras, mandou arquivar ontem a notícia-crime apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o ministro do STF Alexandre de Moraes por abuso de poder. Na prática, ele indicou não ver elementos que sustentem a denúncia, que já havia sido rejeitada pelo ministro Dias Toffoli. (Metrópoles)

Mas isso não significa que Aras esteja rompido com o presidente. Lembram da quase pancadaria entre o PGR e o subprocurador-geral Nívio de Freitas na reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal? Então. O motivo da briga foi o controle sobre a 4ª Câmara de Coordenação e Revisão, que fiscaliza operações e orienta procuradores na área de meio ambiente. Ela tem o poder de barrar a “boiada”, apelido do conjunto de medidas pelas quais o governo procura desmontar os mecanismos de proteção ambiental. Aras quer uma composição mais simpática ao Planalto. (Estadão)

Meio em vídeo. Os militares, agora, têm um plano para o país: um documento chamado ‘Projeto de Nação’, panfleto de noventa e três páginas que os escreveram. Militares não têm projeto de país em democracia liberal nenhuma. Mesmo depois de Bolsonaro passar teremos uma bomba relógio nas mãos. Eles acham que têm de participar da política, e isso não vai embora. Mais de um século depois, é hora de trazer de volta a campanha civilista de Ruy Barbosa. Confira no Ponto de Partida. (YouTube)

Esvaziando a Petrobras

Tony de Marco

Petrobras

Viver

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afastou ontem os dois agentes que participaram de uma abordagem que terminou com a morte de Genivaldo de Jesus dos Santos, de 38 anos, em Umbaúba (SE). Genivaldo, que, segundo a família, tinha transtornos mentais, foi imobilizado e colocado na caçamba de uma viatura da PRF. Em seguida, como mostra vídeo feito por testemunhas, um dos policiais joga dentro do veículo uma bomba de gás lacrimogêneo. A autópsia confirmou que Genivaldo morreu por asfixia. Ontem, a corporação admitiu que os agentes usaram spray de pimenta e o gás, o que, segundo especialistas, viola a regulamentação de uso desse material. Maria Fabiana dos Santos, mulher da vítima, diz afirma que os policiais agiram com crueldade e intenção de matar. (g1)

O Ministério Público Federal de Sergipe e a Polícia Federal abriram investigações próprias, além da sindicância interna anunciada pela PRF. Os procuradores deram prazo de 48 para que a corporação repasse os dados sobre a abordagem. Horas depois da morte de Genivaldo, a PRF emitiu uma nota dizendo que seus agentes haviam “usado técnicas de menor agressividade” e que a vítima “passou mal”. (UOL)

Cobrado sobre a morte de Genivaldo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) se esquivou, dizendo que ainda precisava se “inteirar com a PRF”, mas afirmou que “execução ninguém admite”. Quem saiu imediatamente em defesa da corporação foi o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos), para quem a morte de Genivaldo foi “uma exceção”. (Poder360)

Então... Na terça-feira, a PRF havia participado com a PM fluminense de uma operação na Vila Cruzeiro, Zona Norte do Rio, que terminou, segundo dados oficiais, com 23 mortos. Ontem, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, cobrou satisfações da PM, que atribui a violência a uma decisão do Supremo impondo regras às operações em favelas. (Extra)

Meio em vídeo. Na coluna De Tédio a Gente Não Morre, Mariliz Pereira Jorge fala sobre dois casos que chocaram o Brasil nessa semana: a morte por asfixia de Genivaldo de Jesus Santos, no Sergipe, e a chacina da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. “Há algo de muito podre em uma sociedade que acha que bandido bom é bandido morto”, diz a jornalista. Segundo ela, episódios tão cruéis servem para que a população faça a escolha de estar ao lado da civilidade ou da barbárie. (YouTube)

A presença de restos de civilizações perdidas na região amazônica sempre atiçou a imaginação de escritores e mesmo exploradores. Mas a suspeita precisou de tecnologia para ser confirmada. Arqueólogos da Alemanha e da Inglaterra identificaram, usando lasers, pirâmides e cidades cobertas pela mata nas Planícies de Moxos, na Amazônia boliviana. As construções pertenceriam à civilização Casabre, que ocupou uma área de 16 mil km2 entre 500 e 1400 d.C., derrubando a tese de que região nunca foi densamente povoada antes da invasão europeia a partir do século 16. (Galileu)

Cultura

Hoje é o dia de todos geeks ficarem (ficarmos) pendurados no streaming. Estreia no Disney+ Obi-Wan Kenobi (trailer), nova série do universo de Star Wars. Após 17 anos, Ewan McGregor reassume o sabre de luz do agora foragido metre Jedi, que se divide entre escapar do Império e observar à distância a infância de Luke Skywalker. E, para garantir a maratona de sexta-feira, chegam à Netflix sete dos nove episódios da quarta temporada de Stranger Things (trailer), atrasada por conta da pandemia de covid-19. Com os atores principais agora entre 18 e 20 anos, a série se tornou mais madura e ainda mais sombria. (Folha)

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O cinema perdeu ontem o ator americano Ray Liotta, de 67 anos. Embora atuasse profissionalmente desde 1980, ele atingiu o estrelato dez anos depois com Os Bons Companheiros (trailer), epopeia gangster de Martin Scorcese. E desde então nunca parou. Liotta morreu dormindo na República Dominicana, onde filmava Dangerous Waters (Águas Perigosas), um de seus muitos projetos atuais. (g1)

Luto em dose dupla na música. Morreram o tecladista Andy Fletcher, de 60 anos, e o baterista Alan White, de 72, ambos ingleses. Fletcher foi um dos fundadores do Depeche Mode (Spotify), uma das mais importantes bandas de música eletrônica do mundo. Já White gravou discos antológicos como Imagine (Spotify), de John Lennon, e All Things Must Pass (Spotify), de George Harrison, e integrou por quase cinco décadas o lendário grupo progressivo Yes (Spotify). (Classic Rock Magazine)

Antes um dos atores mais respeitados de Hollywood, Kevin Spacey, de 62 anos, agora é caso de polícia. Ele vai responder na Inglaterra a cinco processos movidos por três homens, quatro por agressão sexual e um, mais específico, por “provocar atividade sexual não consentida com penetração”. Estima-se que os crimes tenham acontecido entre 2004 e 2015, quando Spacey foi diretor artístico do Teatro Old Vic, em Londres. A carreira dele virtualmente acabou em 2017 quando o também ator Anthony Rapp disse ter sido abusado sexualmente por Spacey numa festa quando tinha apenas 14 anos. (Variety)

Como hoje é sexta, confira os destaques da agenda cultural.

A cantora Fabiana Cozza apresenta hoje o show do disco Dos Santos, que celebra a ancestralidade negra e as religiões de matriz africana, em live promovida pelo Itaú Cultural.

A Osesp recebe hoje o regente francês Ludovic Morlot e o violinista sueco Daniel Lozakovich para interpretarConcerto para Violino nº 2 de Prokofiev. Uma estreia do compositor português Luís Tinoco e peças francesas – de Ravel e Debussy – completam o programa.

Para ver a agenda completa, clique aqui, e, para outras dicas de cultura, assine a newsletter da Bravo!.

Cotidiano Digital

O Twitter vai pagar multa de US$ 150 milhões ao governo dos Estados Unidos por uso não consentido dos dados de usuários da plataforma. O montante faz parte de um acordo para encerrar um processo contra a rede social. No caso, a violação de privacidade envolveu o compartilhamento do número de telefone de usuários com anunciantes entre maio de 2013 e setembro de 2019. Além de desembolsar o valor da multa, a plataforma concordou em melhorar suas práticas de compliance. (Estadão)

Enquanto isso, acionistas do Twitter processaram Elon Musk por manipulação de mercado e influência na oscilação de preços das ações da rede social. (The Verge)

E uma startup quer instalar datacenters na Lua para armazenar dados importantes em um lugar “mais seguro” que a própria Terra. O objetivo do projeto, desenvolvido pela Lonestar Holdings, é que as informações também ajudem futuras missões lunares, além de “salvar o conhecimento humano” após um possível desaparecimento do nosso planeta. De acordo com a empresa, a startup já está “executando o primeiro servidor web do mundo na Estação Espacial Internacional”. (Época Negócios)

Meio em vídeo. A Apple liberou recentemente a possibilidade dos usuários de iPhones 12 e 13 poderem fazer manutenção de algumas peças em casa, podendo comprar diretamente com a empresa as peças. Mas você já viu o kit para fazer isso? Pedro Doria e Cora Rónai perguntam: O que a Apple tem na cabeça? (YouTube)

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