Prezadas leitoras, caros leitores —

A matéria principal desta newsletter foi uma das mais fáceis de decidir em nossa reunião de pauta semanal. Inteligência artificial vai mudar a maneira como vivemos, nos próximos poucos anos, como a internet mudou.

O propósito do Meio é difundir informação, de maneira ética e democrática. Por isso resolvemos dar nossa contribuição a esse debate, compartilhando o que sabemos sobre IA. Já utilizamos várias ferramentas em nossa produção de conteúdo, na elaboração de pautas, ilustrações e material de marketing, entre outros usos. Estamos lançando agora o curso IA: Modo de Usar. É um curso prático. Como usar, mesmo. Um curso rápido e desmistificante, ministrado por quem já testou dezenas de aplicativos de IA e vai mostrar como usamos.

Como sempre, assinantes premium do Meio terão entrada livre na aula introdutória do curso e um desconto de 20% na compra do curso. Vem com a gente descobrir como a Inteligência Artificial já mudou sua vida.

Os editores.

Edição de Sábado: A OpenAI ameaça a humanidade?

Nas últimas semanas de outubro, um dos laboratórios da OpenAI chegou a um algoritmo capaz de resolver problemas de matemática. Não era nada muito sofisticado, cálculos que crianças aprendem até os 11, mas o avanço é algo nunca visto. A produção de textos, como faz o ChatGPT, é em essência um cálculo probabilístico. Uma capacidade maciça de computação que, após ter deglutido o número de livros que uma pessoa sozinha levaria 20 mil anos lendo, consegue imaginar a alta probabilidade de a palavra “gato” ser seguida da palavra “mia”. Processamento computacional abissal aplicado a calcular qual a palavra mais provável de aparecer após a anterior quando se compara trilhões de textos. Mas com matemática é diferente. A partir de uma pergunta, muitos textos escritos diferentes são respostas corretas possíveis. Dado um problema matemático, não. Só há uma resposta. O computador portanto precisa compreender de alguma forma a pergunta feita, entender que conta leva à resposta e então fazê-la. Força bruta de processamento não resolve isso. É preciso compreensão. Matemática traz os modelos de inteligência artificial um pouco mais próximos da inteligência real. Foi provavelmente uma referência a esta conquista da OpenAI que o CEO Sam Altman se referiu quando falou em público durante a Cúpula de Cooperação com a Ásia, em San Francisco, na semana passada. “Por quatro vezes estive numa sala em que empurramos o véu da ignorância um pouco mais longe” ele contou. “A última vez em que isso aconteceu faz poucas semanas. Estar presente nessas horas tem sido o orgulho profissional de minha vida.” Naquela noite, não muito após seu discurso, Altman recebeu uma mensagem de texto de seu amigo, Ilya Sutskever, cientista-chefe da empresa. Perguntava se poderiam se ver numa reunião virtual, no dia seguinte. Altman respondeu que sim. Ele não sabia, mas seria demitido naquele encontro.

A guerra interna da OpenAI durou, contados, cinco dias. Altman foi demitido pelo conselho de administração no fim da tarde de sexta-feira, dia 17 de novembro, e recontratado para o mesmo cargo de CEO na manhã de quarta, dia 22. Com exceção de duas, todas as reuniões da crise foram remotas, via Google Meet — uma ironia, já que sua principal parceira é a Microsoft e, a principal adversária, Google. (Ninguém usa Microsoft Teams, no Vale.) Ao fim do processo, quatro dos seis membros do conselho haviam perdido suas cadeiras — dois já substituídos.

Altman foi à guerra e venceu — está no comando da empresa com capacidade de se tornar a mais valiosa do mundo em menos de dez anos. Para compreender o que foi esta guerra é preciso colher os fragmentos tornados públicos e tentar encaixá-los. Mas desta compreensão sai muito. Dela sai a noção exata do receio que a indústria da tecnologia tem de regulação. Sai a percepção de que a indústria também percebeu a crise social provocada pelas redes — e tenta descobrir como evitar que algo do tipo se repita. Dá mostras de uma megalomania mística que se tornou parte da cultura local. Mostra, também, que há uma briga de foice em curso sobre quem vai liderar a nova onda do negócio digital — e a Microsoft está de volta à dianteira. Mas no centro, no centro de tudo, permanece um mistério. É a busca pela construção de uma inteligência não biológica, uma procura que envolve ciência profunda mas também fé — ainda que não admitida. Alguns acreditam que estamos próximos desta inteligência artificial real. Mas, se estamos mesmo próximos, não está claro.

Ato 1. As personagens e suas crenças

No centro desta história estão duas personagens principais, a dupla no coração da OpenAI, sem a qual a empresa não seria o que é. Duplas são comuns, no Vale do Silício, tão arquetípicas das histórias de fundação de startups quanto o início numa garagem. Steve Jobs e Steve Wozniak na Apple, Larry Page e Sergey Brin no Google, mesmo Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg na Meta. No caso da OpenAI são dois dos cofundadores. Sam Altman e Iliya Sutskever. A história não viria completa, no entanto, sem dois outros sujeitos que, mesmo não sendo protagonistas, tomaram ações que a fizeram mover. Outros dois cofundadores. Elon Musk, da Tesla, SpaceX e X, que um dia foi Twitter. E Greg Brockman.

Sam Altman é Steve Jobs. Tanto o vendedor quanto o negociador. É a pessoa com noção de produto, de como seduzir o mundo para as ideias que a empresa propõe. Toda empresa de tecnologia de ponta está vendendo uma versão possível do futuro nos produtos que constrói. A sobrevivência depende de sua capacidade de convencer o mundo de aquele futuro é desejável. Aos 38 anos, nascido em Chicago, fundou jovem uma startup social chamada Loopt que não chegou a se tornar conhecida. Ainda assim, impressionou gente o bastante para o catapultar para o comando da Y-Combinator, uma aceleradora de empresas que ajudou no crescimento de Airbnb, Dropbox, Twitch, entre outras.

E Iliya Sutskever é Steve Wozniak. O gênio técnico. Foi aluno de doutorado de um dos três padrinhos da inteligência artificial, Geoffrey Hinton, na Universidade de Toronto. Dois dos três cientistas considerados padrinhos da IA lecionam no Canadá, o país que mais produz especialistas da área. Mas Sutskever não foi apenas um dos muitos doutorandos de Hinton. Com Hinton, ele é um dos três nomes que assinam o paper que propõe o método deep learning de IA, a base de tudo o que se produz desde 2012. É um dos inventores desta tecnologia. Também com 38, nascido na URSS que se desmontava mas criado em Jerusalém, educado no Canadá, é o cérebro por trás de todo o desenvolvimento da OpenAI.

A história do relacionamento dos dois não pode ser contada apenas pelas habilidades que os distinguem. É marcada também por ideologia. Altman é um prepper. Sutskever, um altruísta eficaz. No Vale do Silício, as duas expressões são imediatamente compreendidas.

Um prepper se prepara para uma catástrofe que possa levar à extinção da humanidade — ou pelas mudanças climáticas, ou uma pandemia, ou uma IA que saia do controle humano. Preppers muitas vezes milionários como Altman ou Musk têm bunkers construídos com armazenamento especial de comida, autossuficientes em energia, para que possam se esconder e sobreviver quando a tragédia vier. O que os motivou a criar a OpenAI foi esta crença básica. Era fundamental terem eles as rédeas de como IA será desenvolvida para que a humanidade não perca seu controle.

Altruístas eficazes propõem uma visão racional da caridade religiosa, sua meta é aplicar seus talentos de forma a melhor beneficiar o máximo de pessoas. O que mobilizou Sutskever a deixar o Google para erguer a OpenAI foi a convicção de que o desenvolvimento da inteligência artificial não poderia estar nas mãos de grandes corporações. O dinheiro, ele acreditava e tudo indica que ainda acredita, corrompe as intenções dos envolvidos.

Nos últimos anos, Sutskever assumiu, dentro da OpenAI, a responsabilidade pelo alinhamento. O termo é técnico — quer dizer alinhar IAs a um determinado conjunto de valores. Sua convicção pessoal é de que elas se tornarão brevemente superiores a nós. Alinhar desde já os algoritmos a uma linha ética e humanitária é fundamental para evitar o pior, no futuro. Mas é um adendo muito difícil para uma tecnologia ensinada a ser autônoma.

Para ele, a questão não é apenas obsessiva. Beira o misticismo. Em uma reunião de lideranças da empresa realizada fora da sede, em um local onde todos estavam isolados, incendiou num ritual um ídolo de madeira representando a IA não-alinhada. “Não penso em inteligência artificial no futuro como uma entidade inteligente como eu ou como você”, ele descreveu ao repórter Ross Andersen, da Atlantic. “Será mais como uma organização autônoma que produz ciência, engenharia, manufatura.” Sua visão é de que IA assumirá boa parte da produção do planeta. “Será o último chefe da humanidade.” É por isso, raciocina, que precisam ser treinadas desde cedo para se comportar bem. Este, ele considera, é seu principal trabalho.

Quando os dois se uniram a Greg Brockman, um engenheiro da computação amigo de ambos, e Elon Musk, em 2015, por razões distintas todos consideravam importante controlar o desenvolvimento da tecnologia desde cedo. Musk trazia o dinheiro. Altman, a capacidade de gestão do projeto. Os engenheiros, o conhecimento.

Ato 2. Governança

Em 1985, um Steve Jobs de 30 anos foi demitido da Apple, a empresa que fundou, pelo conselho de acionistas. A decisão é, hoje, considerada um erro. Apesar de temperamental, imaturo, arrogante, ele imprimia uma certa qualidade aos produtos da companhia que a faziam se destacar. Entre aquele ano e seu retorno, em 1997, a empresa andou de lado, decaiu e chegou perto de quebrar. Após Jobs reassumi-la, ela tomou o rumo que a tornaria a companhia de maior valor de mercado da história do capitalismo. O Vale do Silício tem inúmeras anedotas do tipo, história contadas, repetidas, descritas, que ao longo das décadas levaram a um modelo de governança. Quase toda startup nasce mais ou menos com a mesma estrutura jurídica cujo objetivo é maximizar seu crescimento.

Uma startup ocorre quando os primeiros investidores põem dinheiro na ideia de um conjunto de pessoas — em geral, claro, uma dupla. Conforme a empresa cresce, é preciso identificar lá dentro quem são os talentos fundamentais. A estas pessoas são oferecidas ações. É um incentivo financeiro. Fazer a empresa crescer é colaborar para fazer uma fortuna pessoal. No Conselho de Administração estão, em geral, representantes dos interesses de fundadores e investidores. Eles acompanham a gestão da empresa, tomam a decisão de mudar seu comando quando se mostra necessário, mas a preferência no geral é manter os fundadores. Eles têm a intuição do negócio como ninguém.

Mas a OpenAI foi criada para que inteligência artificial fosse desenvolvida sob segurança. Uma estrutura de governança corporativa que maximizasse conquista de mercado e crescimento rápido não funcionaria. Preppers com medo do apocalipse e altruístas mobilizados para fazer o melhor pela humanidade decidiram montar outro desenho. Em 2015, a OpenAI nasceu como uma instituição sem fins lucrativos.

Seu desenho é consequência, também, de outra característica ideológica do principal financiador. Musk é um libertário. Acredita que entidades privadas sempre resolverão o problema do bem comum melhor do que governos.

Em 2018, Musk tentou assumir comando pleno da OpenAI. Quando se frustrou, abandonou a organização. Naquele momento, dinheiro se tornou um problema. Ele era o principal financiador — e o dinheiro que eles precisavam não era pouco. Inteligência artificial exige, claro, uma quantidade abissal de processamento para ser desenvolvida. Para um grupo cujo propósito é estar na frente de todos os outros, o problema só aumenta.

Sam Altman resolveu o dilema criando uma empresa com fins de lucro que responderia à fundação sem fins de lucro. Esta empresa, a OpenAI comercial, poderia receber investimentos, assim como poderia distribuir ações, atraindo os melhores engenheiros de IA que o Canadá consegue formar. É nesta empresa que a Microsoft investiu o primeiro US$ 1 bilhão e que, depois, entrou de sócia com a promessa de mais US$ 12 bilhões.

A entrada da Microsoft no jogo não foi bem digerida por muitos. Em 2021, um grupo de engenheiros importantes tentaram ir ao conselho para tirar Altman do comando e reverter a “comercialização” da OpenAI. Perderam a briga porque Brockman e Sutskever ficaram do lado do CEO. Este grupo deixou a empresa para formar a Anthropic, outra companhia voltada para criar IAs e que, segundo um email interno ao qual o New York Times teve acesso, é percebida como a principal rival em capacidade criativa.

A Anthropic é uma desaceleradora eficaz — outro termo do jogo ideológico que mobiliza o mundo da inteligência artificial. Há os aceleradores eficazes e os desaceleradores eficazes.

Um conjunto, que inclui nomes importantes do Vale como o megainvestidor Marc Andreessen e outro dos três padrinhos da IA, Yann LeCun, que dirige o departamento na Meta, acreditam que a tecnologia resolverá problemas demais no mundo para não ser desenvolvida o mais rápido possível. “Os modelos atuais são treinados com um volume de dados que um humano precisaria de 20 mil anos para ler”, escreveu recentemente LeCun, no X. “E ainda assim esses modelos não compreendem que, se A é igual a B, então B é igual a A. Humanos têm muito mais capacidade de inteligência precisando de muito menos dados. Até cachorros, papagaios e polvos se tornam muito mais inteligentes.” Para ele, o caminho ainda é longo.

Mas pessoas como Dario Amodei, que comanda a Anthropic, e o próprio Ilyia Sutskever, são desaceleradores. Defendem que é preciso tempo de reflexão para garantir que a tecnologia seja desenvolvida em segurança. De forma alinhada.

Os conflitos no conselho da OpenAI jamais diminuíram. Desde 2001, três pessoas deixaram seus assentos por motivos diversos. Nunca foram repostos porque, quem ficou, não chegava a um acordo. Brockman presidia o conselho até a sexta-feira passada. Eram membros também Altman, Sutskever, o CEO da plataforma Quora, Adam DiAngelo, uma professora da Universidade de Georgetown chamada Helen Toner e uma executiva do Vale que poucos conhecem chamada Tasha McCauley. Toner era ligada, como Sutskever, ao movimento de altruístas eficazes. DiAngelo, um dedicado desacelerador. Ao todo, seis. Os três cofundadores da OpenAI, amigos de longo tempo, se uniam. Sutskever, o místico cientificista, havia sido juiz de paz no casamento de Brockman, que por sua vez havia se tornado o braço direito de Altman. O placar de três votos a três se repetia.

Ato 3. Golpe e contragolpe

Na tarde da sexta-feira, dia 17, seguindo o pedido de Sutskever, Sam Altman se logou na plataforma do Google Meet para uma reunião de conselho. Brockman, o presidente do conselho, não estava lá — apenas os outros quatro. Ele estranhou. Então, constrangido, Sutskever leu de um documento que já estava preparado. Altman, ele dizia, “não havia sido consistentemente honesto em suas comunicações com o conselho”, o que “diminuía a habilidade de exercer nossas responsabilidades.” Os conselheiros não confiavam mais em sua capacidade de liderar a OpenAI.

Quando um documento similar na forma de release foi distribuído à imprensa, algo como meia hora depois, o texto deixou inicialmente a percepção de que havia um escândalo para explodir. Desvio de recursos, talvez algo pessoal. Mas não era nada disso. Satya Nadella, CEO da Microsoft — a segunda companhia de maior valor de mercados dos EUA e principal investidora da OpenAI — foi informado quase que junto da imprensa da decisão.

À influente jornalista Kara Swisher, Nadella afirmou na terça-feira que ainda não havia recebido uma explicação formal sobre por que demitir. Ezra Klein, do New York Times, outro jornalista particularmente influente, ouviu uma história que explica muito. Quando alguém disse à professora Helen Toner, do conselho e de Georgetown, que a demissão de Altman poderia destruir a OpenAI, ela respondeu com franqueza. “Isto seria consistente com nossa missão.”

A OpenAI foi criada por Elon Musk com uma estrutura que tiraria do desenvolvimento da IA duas pressões. Uma, a da regulação governamental. Uma entidade privada sem fins lucrativos talvez inspirasse mais confiança. E, outra, a da obrigatoriedade de dar lucro ou crescer em base de usuários enquanto é desenvolvida. Quando Musk percebeu que não teria controle total de sua cria, abandonou-a. E a OpenAI ficou com a estrutura de governança torta. Um conselho de administração composto por gente do segundo time da tecnologia e uma mentalidade anticapitalista. E estes com poder sobre o comando da empresa de maior crescimento da história do capitalismo.

Altman não compartilhou com o conselho os anúncios públicos de novos produtos que fez em uma conferência no início de novembro. Dentre aquilo que anunciou, e já implementou, estão o que batizou de GPTs. Cada usuário pagante pode criar seus programas que automatizam certas funções usando o ChatGPT. Ainda são uma versão primitiva, mas são também a primeira versão do que chamamos agentes. Softwares providos de alguma inteligência que resolvem problemas práticos do dia a dia.

Bill Gates, o fundador da Microsoft, vem falando que a grande corrida da IA está na produção destes agentes. Estes assistentes executivos digitais capazes de resolver a parte chata do cotidiano. São justamente nestes agentes que Sutskever vê o início das organizações autônomas que comandarão a produção de tudo. E o problema do alinhamento ainda não está resolvido.

O cerne do debate entre aceleradores e desaceleradores está ali. Tendo oficiado o casamento de Brockman, amigo pessoal de ambos, naquele momento Ilyia Sutskever decidiu que suas crenças eram maiores do que os relacionamentos pessoais. Demitiu-os a ambos e ficaram só ele e os outros três no conselho.

Epílogo: O futuro

A estrutura jurídica de governança criada para conter a pressão por controle da aceleração do desenvolvimento tecnológico não funcionou.

Quando Sam Altman foi demitido, outro processo se deu. Os incontáveis engenheiros que ele havia atraído para a OpenAI com a promessa de participação em ações e projetos individuais de criação de fortuna pessoal se sentiram traídos. Já na segunda-feira, mais de 600 dos 700 funcionários avisavam que sairiam com ele. Ao mesmo passo, Nadella acenava que Altman ganharia um laboratório na Microsoft e que poderia trazer todo mundo.

A mudança de casa imporia um atraso de alguns meses, talvez um ano, no desenvolvimento da IA. Talvez o Google os ultrapassasse na liderança do modelo mais sofisticado. Mas, sem amarras, a aceleração tecnológica aconteceria de qualquer forma.

Além disto, a OpenAI atraiu centenas de engenheiros com a promessa de crescimento e a oferta de compartilhar com participação o que viesse. Isto está em cada contrato de trabalho. Ao decidir propositalmente bloquear este crescimento, o conselho abriu o caminho para ser processado por quebra de contrato. Em bilhões de dólares. A Microsoft provavelmente faria o mesmo. Uma entidade privada só terá recursos para liderar o desenvolvimento de IA se ou tiver um mecenas com bolsos muito fundos ou o fizer de forma acelerada, usando a estrutura jurídica tradicional do Vale. Aquela em que há incentivos para investidores, fundadores e engenheiros na forma de uma fortuna ali na frente.

Quando os advogados entraram, os conselheiros perceberam que não tinham escolha. Pediram o chapéu. Sam Altman e Gary Brockman estavam de volta.

Para quem considera importante controlar o desenvolvimento, sobrou apenas um caminho. A regulação. Na quarta-feira, conforme Altman retomava seu posto, ganhava assento no conselho da nova OpenAI o economista Larry Summers. Secretário do Tesouro no segundo governo Bill Clinton, diretor do Conselho Econômico Nacional sob Barack Obama. Não foi chamado à toa — conhece todo mundo em Washington.

E já chegará com argumento pronto. Quem segurar o desenvolvimento de IA pelos EUA periga ver a China chegando na frente.

O tempo que eles não têm

Eram adultos com peso de criança e crianças em pele e osso. No ato realizado na frente da Casa de Apoio à Saúde Indígena, em Boa Vista (RO), a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, descreveu em síntese a situação que encontrara na Terra Indígena Ianomâmi. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava ao lado dela, inconformado. Ele também havia se assustado com o que testemunhou ao fazer uma de suas primeiras visitas após a posse, ainda no mês de janeiro.

Com a viagem, Lula lançou mais luz ao drama no território indígena. Seus habitantes haviam sido deixados à míngua, entregues à pandemia e à contaminação pelo mercúrio lançado pelos intrusos garimpos. Os olhos do Brasil e do mundo se voltaram para aqueles corpos que exibiam os tremores do acúmulo do metal, a pneumonia, a malária e a desnutrição.

Dez meses depois da revelação da crise ianomâmi, o Brasil se prepara para a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-28). O que o país que vai aos Emirados Árabes, na próxima semana, terá a apresentar? O ativo ambiental é o instrumento de diplomacia mais efetivo que Lula tem. O presidente pretende, por exemplo, expor em Dubai ações sustentáveis da agropecuária brasileira, como o programa de recuperação de pastagens degradadas, e uma outra medida de proteção da “floresta em pé”. Mas é inevitável a observação de que a população indígena, apesar dos esforços do governo federal no sentido de resgatar o mínimo de dignidade, continua enfrentando as ameaças do garimpo ilegal, o assassinato de lideranças e o assédio de setores econômicos com vasta representação no parlamento que têm votos para aprovar até mudança na Constituição.

Liderança dos ianomâmis, Dário Kopenawa disse que o trabalho de desintrusão começou. No entanto, o ritmo empregado pelo governo tem sido insuficiente para livrar o território do garimpo ilegal. “O presidente Lula foi lá, visitou, conheceu a realidade das crianças e fez o decreto de emergência, mobilizando as equipes. Hoje, a situação continua. Não acabou. São mais de quatro anos com uma situação de muita gravidade. E o garimpo continua lá. São mais de 20 mil garimpeiros trabalhando ainda. As operações do governo são pequenas, regionais. Nosso pensamento era de que o governo resolveria mais de emergência a desintrusão”, disse, em entrevista ao Meio, o líder indígena, que coordena a associação Hutukara. “Nós já avisamos às autoridades que fazer operações pequenas não vai adiantar. Isso não vai acabar. Vai demorar muitos anos. Além disso, não vai ter como melhorar a saúde. Quando o garimpo acabar é que a saúde vai melhorar”, disse Kopenawa.

Essa percepção não é só do líder indígena. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, determinou no dia 9 de novembro que o governo federal apresente, em 60 dias, um novo plano para expulsar invasores de terras indígenas. A decisão vem no contexto de uma ação movida em 2020 pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em que Barroso já havia designado, em agosto daquele ano, ações protetivas à população indígena durante a pandemia de Covid-19. Elas incluíam a “adoção de medidas para contenção e isolamento dos invasores de terras indígenas”. Em 2021, a Polícia Federal, ainda sob o governo Bolsonaro, apresentou um plano para a desintrusão dos territórios em situação mais crítica: Ianomâmi, Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau, Kayapó, Araribóia, Mundurucu e Trincheira Bacajá. Barroso acolheu o que ficou conhecido como Plano 7 Terras Indígenas.

Em janeiro deste ano, a Procuradoria-Geral da República atestou que o governo Bolsonaro não vinha cumprindo o plano. Barroso o reiterou para que o governo Lula o cumprisse. Agora, afirma que, dez meses depois, há “demora excessiva para avançar na efetivação do Plano das 7 TIs. Passados mais de dois anos desde a sua apresentação, o governo federal segue na tentativa de realizar a desintrusão de todas as terras indicadas, com pouca transparência sobre as medidas efetivamente adotadas, os critérios para avaliar o avanço da desintrusão, as metas específicas a serem atingidas e o cronograma para finalizar o processo”.

A decisão de Barroso menciona ainda um relatório de julho deste ano da Corte Interamericana de Direitos Humanos. “O que o nosso monitoramento indica, combinando relatos de área com interpretação de imagens de satélite, é que apesar de haver uma redução significativa da atividade garimpeira na TIY [Terra Indígena Ianomâmi] neste primeiro semestre, há ainda a persistência de alguns núcleos de exploração que resistem à ação das forças de segurança, além do retorno de alguns grupos de garimpeiros que lograram esconder os seus equipamentos durante as operações”, diz o texto.

Ficou decidido por Barroso que os ministério da Justiça e Segurança Pública, dos Povos Indígenas e da Defesa, sob a coordenação da Secretaria-Geral da Presidência da República, apresentem, até meados de janeiro, o novo plano para a desintrusão das 7 Terras Indígenas, e que ele deve ser executado no prazo máximo de 12 meses.

Os números de desintrusão da terra Ianomâmi ainda não estão fechados pela secretaria, que deve preparar um balanço sobre todas as ações desenvolvidas no decreto de emergência e como resultado das ações determinadas pela Justiça. Mas o que se sabe é que o processo de retirada dos garimpeiros não é rápido e conta com obstáculos importantes nas áreas. Uma das barreiras principais é a completa destruição no governo anterior da estrutura que havia sido montada para esse combate. Há problemas com pessoal e com equipamento para os órgãos atuarem. Além disso, como as ações não são suficientes, muitos acabam voltando para o território, depois de serem expulsos, como apontou a Corte Interamericana. “Se a gente pegar o Ministério dos Povos Indígenas, por exemplo, não se tem nem pessoal concursado, porque não houve concurso após a criação. Então, ainda está tudo muito precário diante de um desastre,” diagnosticou Deborah Duprat, ex-vice-procuradora geral da República que hoje advoga para os indígenas. “É uma situação extremamente grave e não é em dez meses que ela será resolvida.”

Outra determinação inclui entre as ações do governo a desintrusão do território Apyterewa, no Pará, considerada a área mais devastada da Amazônia. Esta ação teve início em 2 de outubro e tem 90 dias para ser concluída, cumprindo uma decisão também de Barroso e da Justiça Federal de Redenção. “Um balanço desta fase mostra que, até o dia 18 deste mês, já foram revisitadas 437 estruturas construídas pelos invasores, sendo que dessas 290 estavam desocupadas e 42 já foram inutilizadas pelos agentes de segurança da operação”, informou a Secretaria-Geral da Presidência, que coordena também essa ação. Nessa região foram realizadas duas prisões de líderes do movimento de resistência dos invasores e a apreensão de dez litros de agrotóxicos, três armas de fogo, 1.050 gramas de maconha, cinco máquinas leves, 11 motocicletas, uma camionete e nove equipamentos variados, como motosserras.

Ataque múltiplo

Além dos intrusos, os povos indígenas ainda precisam continuar lidando com as também perenes ameaças legislativas. Direitos já consagrados na Constituição estão hoje no centro de uma briga forjada entre o Legislativo e o Judiciário, com a qual o governo de Lula tenta lidar sem causar melindre. A peleja gira em torno da tese do marco temporal para a demarcação das terras indígenas — já derrubada pelo Supremo Tribunal Federal e, depois, aprovada pelo Congresso, mas parcialmente vetada por Lula.

Nada de novo no front, de acordo com a jurista Deborah Duprat. “Nós não vivemos numa sociedade em que é fácil ser indígena”, disse ao Meio. A tese do marco temporal é apenas mais uma investida dos setores conservadores. “Elas (as investidas) surgiram no dia seguinte à promulgação da Constituição”, relembrou. “O que nós temos agora é uma situação nos territórios muito agravada pelos anos Bolsonaro. Nós estamos com os territórios muito fragilizados por conta de invasão e desmatamento, com tentativas de projetos ditos de desenvolvimento. Além disso, a cooptação de parte do grupo (indígena) foi uma estratégia muito usada também. Então, estamos em um cenário particularmente difícil.”

A sessão conjunta da Câmara e do Senado que apreciaria o veto parcial de Lula ao projeto de lei que estabelece o marco temporal estava marcada para a última quinta-feira, mas foi adiada. Nem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que atendeu os ruralistas levando rapidamente o projeto do marco temporal à pauta; nem o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que, anteriormente, também pautou e conseguiu aprovar a demanda na Casa, querem na bagagem a derrubada do veto do presidente nessa empreitada contra o STF. Ao contrário.

O esforço dos dois nessa antevéspera da COP-28 é mostrar serviço ambiental. Lira encomendou um relatório sobre a proposta que regula o mercado de carbono para ser votado no início da semana na Câmara. Esse é um dos projetos do pacote verde que ele quer colocar em votação. Pacheco deve pautar o projeto que concentra no Ministério da Agricultura o sistema de registro de agrotóxicos — uma demanda que agrada, em parte, os ruralistas, mas que sofreu modificações suficientes para atender também o Ministério do Meio Ambiente, entre elas a de chamar as substâncias de “agrotóxicos” e não de “pesticidas”, por exemplo, além de manter o poder da Anvisa de não aprovar um produto.

Essa pressa de Lira e Pacheco em pautar questões ambientais com viés positivo não guarda coerência com o que já foi aprovado pelas duas casas legislativas nos últimos anos. E nem com a comitiva parlamentar que viaja a Dubai. A maioria dos 25 deputados brasileiros que vão à COP-28 votou a favor ou não se opôs ao marco temporal e um a cada quatro integrantes da comitiva votou a favor do chamado “pacote do veneno”. Muitas vezes, as aparências não enganam tanto assim.

Black Friday à brasileira

Nos Estados Unidos, a Black Friday é o maior dia de compras do ano e ocorre logo após a quinta-feira de Ação de Graças. Em 2023, essa data foi ontem. Por aqui, a Black Friday chegou em 2010 e vem ganhando força anualmente. Mas nada de um dia só. As promoções – que incluem também diferentes tipos de serviços – duram novembro quase todo. Tem esquenta, semana, última chance, todo tipo de expressão e recurso se referindo à data que, em algumas categorias, já supera as vendas de Natal. O interesse do brasileiro por promoções ajuda a estender a black para bem além da friday.

Nossa super sexta-feira não surgiu com a mesma motivação dos EUA: limpar o estoque para o Natal. Aqui, é só mais uma data comercial. Com isso, aumenta a competição e o período promocional acaba sendo estendido, explica In Hsieh, sócio da Chinnovation, aceleradora de negócios e investimentos digitais em internet entre Brasil e China. “Não tem limite. Na China, o Single’s Day, o 11/11, que é uma data só comercial, também passou por isso, começando um pouco antes.”

Para este ano, a expectativa é bem positiva. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) projeta movimentação de R$ 4,64 bilhões ao longo de todo o mês de novembro, a maior desde a incorporação da Black Friday ao calendário do varejo no Brasil, com crescimento de 4,3% em relação ao ano passado, descontando a inflação. Os números finais só estarão disponíveis nos próximos dias, quando as vendas dessa temporada forem encerradas.

Mas quem atua no setor está preparado para ver, na prática, números menores, apesar de os juros já terem iniciado a trajetória de queda e a inflação ter recuado de forma significativa na comparação com 2022. A economia ainda não decolou de vez. E, em um ano particularmente difícil para o varejo, o ceticismo faz sentido. Janeiro já começou com a fraude da Americanas, seguida de várias outras manchetes sobre problemas em grandes redes como ToK&Stok e Magalu. No varejo físico, as dificuldades são grandes por conta da concorrência do on-line e da diminuição do fluxo de clientes nos pontos de venda — ambos reflexo de uma mudança de comportamento acentuada na pandemia e que não tem mais volta.

Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, diz que a expectativa de crescimento para Black Friday e Natal é de 5% a 6% em relação a 2022, com a contratação de 110 mil trabalhadores temporários. O dado é bom, mas está abaixo da previsão do início do ano, de 12%. “Revisamos todos os indicadores da economia. A expectativa era ser tudo maior.” O mercado começou o ano esperando PIB de 3,5% e agora já está perto de 3%.

As previsões de crescimento do varejo para este fim de ano não fazem distinção entre e-commerce e lojas físicas. Na prática, o cenário tende a ser diferente para as duas modalidades. “A expectativa é que on-line cresça mais. Hoje, já representa uns 12% do total do varejo. Antes da pandemia, era mais ou menos 5,5%, ou seja, mais que dobrou. Há categorias em que o e-commerce é muito mais intenso”, diz Tavares.

Tudo pelo celular

Não é à toa que gigantes do varejo on-line se animam tanto com os dois últimos meses do ano. A Amazon não abre números, mas espera um resultado superior ao do ano passado na Black Friday. Na filial brasileira da gigante de Jeff Bezos, com ofertas em 50 categorias de produtos e descontos de até 80%, a Black Friday começou no último dia 6 e vai até 27, na chamada Cyber Monday, focada nas vendas de internet. Para viabilizar a operação em um período de altíssima demanda, contratou 6 mil temporários. “O brasileiro quer sentir que está fazendo um bom negócio, encontrando o que quer a um bom preço e, no e-commerce, recebendo rápido”, diz Juliana Sztrajtman, diretora de varejo da Amazon Brasil. “Esse comportamento não é só no Brasil, mas esse esquenta é mais estendido aqui. Tem a ver com o que vem acontecendo com as compras on-line. Aumentaram as categorias, as pessoas aprenderam a comprar mais coisas. Isso permite espalhar as ofertas.”

O consumidor, que antes da pandemia limitava suas compras on-line a produtos como eletroeletrônicos, hoje, vai além. Juliana destaca três das principais mudanças no contexto da pandemia: houve uma expansão no número de categorias de produtos vendidos, o consumidor testou e aprendeu a confiar no e-commerce e, por fim, ficou mais exigente, elevando a expectativa em relação ao pós-venda e ao atendimento caso algo dê errado.

A pandemia acelerou a ida de uma verdadeira massa de consumidores para a internet. É difícil calcular o ritmo dessa aceleração. Mas o patamar em que estamos hoje talvez só fosse alcançado em dez anos. Roberto Kanter, professor da Fundação Getulio Vargas e especialista em marketing e gestão comercial, diz que mais de 22 milhões de pessoas que estavam fora do e-commerce no Brasil passaram a consumir pela internet desde 2020. “Houve uma transformação digital do consumo. Aquele ‘acabou o leite, vou descer para comprar’ não existe mais. Você pode pedir de casa com comodidade e conveniência, além de preço, já que as estratégias on-line são muito agressivas, o que gera um desequilíbrio no mercado.”

Se, por um lado, a pandemia possibilitou a consolidação de um modelo de negócio que permite fazer as compras do mês de casa, por outro, teve impactos importantes no varejo como um todo. Em regra geral, a pandemia foi positiva para eletrônicos, móveis, materiais de construção, com desempenho extremamente bons. “Mas alguns grandes casos mostram como algumas empresas decolaram e outras deram voo de galinha e se enrolaram. A ToK&Stok, por exemplo, passada a pandemia, não teve o mesmo oxigênio”, diz Tavares.

Um conjunto de fatores explica isso. Para Kanter, empresas com predominância física sofreram bastante. Por mais que seus e-commerces crescessem, não conseguiriam igualar o faturamento. Muitas fecharam, negociaram aluguéis. E, desde 2022, essa negociação acabou. Locatários tiveram de voltar a pagar o valor normal. Junto a isso, veio a concorrência das chinesas Shein, Shopee, Alibaba, consumo que não cresce e economia que anda de lado. E ainda teve o aumento do custo do dinheiro devido à alta dos juros — e as varejistas têm uma demanda intensa de capital, sempre tendo de se financiar. “O varejo é a epiderme da economia, é o primeiro que esquenta e que esfria. Está morno ainda”, diz.

Regras do jogo

Além do avanço do digital, o varejo físico tem de enfrentar surpresas como a portaria do governo – agora já revogada – que estabeleceu que o funcionamento de uma série de setores do comércio e de serviços nos feriados só poderia ocorrer se houvesse acordo coletivo ou previsão em lei municipal. O Ministério do Trabalho vai rever o texto, adiando a implementação para março.

Outra ameaça que ronda o setor é a possível mudança na venda parcelada sem juros no cartão de crédito. O Banco Central vem discutindo a mudança com os bancos como parte da autorregulação do teto do rotativo do cartão, que precisa ser definida até 31 de dezembro. “Limitar o sem juros é excluir grande parte da população do consumo e pode ter um efeito muito grande no varejo. Dez por cento dos varejistas vendem 80% ou mais no parcelado sem juros. Essas empresas vão acabar. O efeito pode ser irreversível", diz Tavares. Seria, como ele define, um crime social.

A disputa com as varejistas on-line, principalmente chinesas, é outro desafio, que afeta o on-line e o varejo físico. A isenção do imposto de importação para compras on-line de até US$ 50 é duramente criticada. “É concorrência é desleal com o empresário que importa o produto de forma legal, com garantia”, diz o economista. Para compras nesse valor, o consumidor final paga 17% de ICMS ao fechar negócio com marketplaces associados ao programa Remessa Conforme da Receita Federal. “Nosso custo tributário de importação chega a 90% (IPI, ICMS, PIS/Cofins). Não tem como concorrer. Precisamos de um sistema mais coerente, sem garantir competitividade para o estrangeiro.”

Já In considera que ter regras é essencial. Se elas são boas ou não, é outra questão. “A indústria nacional não gosta e vai discutir sempre. Acho que o mercado se ajusta a isso. Produtos dentro do valor da isenção ganharão mais espaço, mas os outros talvez percam. A indústria brasileira de consumo é pouco eficiente, perdeu espaço porque já não era competitiva.”

Nesse cenário altamente desafiador, o consumidor está mais seletivo e faz as escolhas de maneira mais pensada, medindo quem entrega qualidade. Para Kanter, o caminho para o varejo físico é oferecer o máximo de experiência tecnológica sem perder a conexão humana. “Talvez o mundo tenha uma régua mais alta. Um ambiente sem cuidado com o atendimento e produto, sem integração online e off-line, em modo automático, está fadado a morrer.” Não há mais espaço para amadorismo.

Comida, drogas e rock’n’roll. E uma pitada de eleição argentina. Esses foram os links mais clicados da semana pelos leitores:

1. Panelinha: Strata, uma deliciosa torta de pão amanhecido.

2. Meio: Ponto de Partida — Milei é mesmo de extrema direita?

3. g1: Vem ver um canguru tocando “air guitar”.

4. Meio: Nosso curso de Inteligência Artificial na prática.

5. Meio: Fentanil, a droga que está matando milhares nos EUA.

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O liberalismo ausente

15/05/24 • 11:09

Nas primeiras semanas de 2009, o cientista político inglês Timothy Garton Ash publicou no New York Times um artigo sobre o discurso de posse de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos. “Faltava apenas”, ele escreveu, “o nome adequado para a filosofia política que ele descrevia: liberalismo.” A palavra liberalismo, sob pesado ataque do governo Ronald Reagan duas décadas antes, passou a representar para boa parte dos americanos uma ideia de governo inchado e incapaz de operar. Na Europa continental e América Latina, segue Ash, a palavra tomou o caminho contrário, representando a ideia de um mercado desregulado em que o poder do dinheiro se impõe a um Estado fraco. Não basta, sequer, chamar a coisa só de liberal. É preciso chamá-la neoliberal. Desde final dos anos 1970, já são quarenta anos de um trabalho de redefinição forçada do que é liberalismo, uma filosofia política de três séculos e meio pela qual transitaram algumas dezenas de filósofos e economistas de primeiro time. O sentido do termo se perdeu de tal forma no debate público, que mesmo muitos dos que se dizem liberais não parecem entender que conjunto de ideias representam.

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