Morre Henry Kissinger, o cérebro americano da Guerra Fria

Morreu aos 100 anos, na noite desta quarta-feira, Henry Kissinger, que, como um dos mais influentes secretários de Estado dos EUA, moldou — para bem e para mal — a política mundial da segunda metade do século 20. Ao mesmo tempo em que arquitetou a saída dos EUA do Vietnã – o que lhe valeu um controverso Nobel da Paz –, a aproximação com a China comunista e a distensão com a União Soviética, sustentou ditaduras em países da esfera de influência dos EUA, em particular o golpe sanguinário no Chile, em 1973. A causa da morte não foi divulgada. Heinz Alfred Kissinger nasceu na Alemanha em 1923 em uma família de judeus ortodoxos que conseguiu fugir para os EUA em 1938. Voltou à terra natal, já com o novo nome, como soldado aliado do setor de inteligência. No pós-guerra foi aluno e depois professor da Universidade de Harvard e consultor dos presidentes Eisenhower, Kennedy e Johnson, sob o qual começou discretas negociações para tirar os EUA do Vietnã. Não simpatizava com Richard Nixon, republicano anticomunista eleito presidente em 1968, mas logo se tornou seu assessor para assuntos internacionais, jogando para escanteio o secretário de Estado oficial, William Rogers, que finalmente substituiu em setembro de 1973. Com Nixon, sua política externa foi pragmática. A prioridade era sair do Vietnã, mas não antes de 1972, quando a “derrota” poderia custar a reeleição do presidente. A paz foi assinada em janeiro de 1973 — a guerra continuou sem os americanos, e o Vietnã se tornou todo comunista dois anos depois. Seu Nobel da Paz pelo acordo foi questionado principalmente por conta dos bombardeios indiscriminados sobre Hanoi, a capital norte-vietnamita. Um de seus grandes êxitos foi a reaproximação com a China, culminando com a visita de Nixon a Pequim em fevereiro de 1972. E ainda distendeu as relações com Moscou, levando a uma série de tratados de desarmamento nuclear. Mas a Guerra Fria ditava todos os seus passos. Em setembro de 1973 deu sustentação ao golpe militar que depôs e levou à morte o presidente chileno Salvador Allende. “Não vejo por que ficar parado vendo um país se tornar comunista devido à irresponsabilidade de seu povo”, disse na época. Kissinger foi um dos poucos auxiliares de Nixon a sobreviver ao escândalo de Watergate e à renúncia do presidente em 1974 e continuou no cargo no interregno de Gerald Ford. Com a derrota deste nas eleições de 1976, deixou o governo, mas permaneceu até a morte uma das vozes mais influentes sobre a política externa dos EUA. (Politico)

Ben Rhodes: “Henry Kissinger foi o grande exemplo da distância entre a história que os EUA contam sobre si e a maneira como atuam no mundo. Por vezes oportunista e reativa, sua política externa foi mostra de quando o exercício de poder é esvaziado de preocupação com os seres humanos que cruzam seu caminho. Justamente porque seus EUA não eram a cidade que brilha no alto da montanha, ele nunca se tornou irrelevante: slogans podem sair de moda, mas poder nunca sai. Para ele, a credibilidade vinha do que você faz, não das ideias que defende, mesmo quando ideais americanos como direitos humanos e lei internacional eram atropelados.” (New York Times)

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Israel e o Hamas estenderam por mais um dia a trégua na Faixa de Gaza para libertação dos reféns tomados pelo grupo terrorista nos atentados de 7 de outubro. Segundo Mark Regev, um dos principais conselheiros do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, a trégua será estendida enquanto o Hamas libertar diariamente pelo menos dez reféns. O governo israelense já recebeu a lista de cativos que devem ser soltos nesta quinta-feira em troca de prisioneiros palestinos. Ontem, 16 reféns foram libertados, incluindo duas mulheres com cidadania russa. (CNN)

O Exército de Israel informou à família de uma mãe e duas crianças sequestradas pelo Hamas que está investigando a declaração do grupo palestino de que os três estão mortos. Segundo o braço militar do Hamas, Shiri Bibas, de 32 anos, e seus filhos, Ariel, de 4 anos, e Kfir, de 10 meses, morreram em um ataque israelense à Faixa de Gaza. Israel investiga se a declaração é parte de uma campanha de guerra psicológica. (Times of Israel)

Em mais uma vitória para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que busca aumentar a arrecadação, o Senado aprovou ontem o projeto de lei de taxação de offshores (investimentos no exterior) e fundos exclusivos (para altíssima renda). Como já havia consenso, a votação foi simbólica e durou 18 minutos, com apenas oito votos contrários registrados. O texto segue agora para sanção presidencial. Apesar das alterações, a equipe econômica acredita que as duas medidas renderão R$ 3,5 bilhões em 2023, R$ 20 bilhões em 2024 e R$ 7 bilhões em 2025. (g1)

O Senado também aprovou ontem, com 61 votos a favor e nenhum contra, uma proposta que autoriza o governo federal a utilizar recursos do Fundo Social do pré-sal para financiar a criação de uma poupança bilionária para estudantes do Ensino Médio. As despesas não serão consideradas para o teto do Orçamento da União deste ano. (g1)

Adriana Fernandes: “É acordão que se chama a aprovação pelo Senado de projeto de lei complementar que altera artigo do arcabouço fiscal para tirar do teto de gastos deste ano as despesas que vão financiar a bolsa poupança de incentivo à permanência de estudantes de baixa renda no ensino médio. Com a aprovação do projeto, que precisa passar por mais uma votação na Câmara, acabou a aura em torno do arcabouço em apenas três meses”. (Estadão)

O Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou ontem tese sobre a possibilidade de responsabilização de empresas jornalísticas que publicarem entrevistas que imputem crime a terceiros de forma falsa, com indícios concretos de que as declarações são mentirosas. A tese foi elaborada pelo ministro Alexandre de Moraes, com mudanças de Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin. “A plena proteção constitucional à liberdade de imprensa é consagrada pelo binômio liberdade com responsabilidade, vedada qualquer espécie de censura prévia, porém admitindo a possibilidade posterior de análise e responsabilização”. (Folha)

O ministro aposentado do STF Marco Aurélio Mello criticou a tese. “Tempos estranhos. Verdadeiro embaraço à liberdade jornalística. Pode implicar intimidação”, afirmou Marco Aurélio, que relatou o processo e, antes de se aposentar, votou no sentido oposto da maioria. Já a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Samira de Castro, disse que “a tese traz um grau de responsabilização minimamente condizente com as nossas preocupações de resguardo da liberdade de imprensa e de expressão”. (UOL)

Indicado pelo presidente Lula ao STF, Flávio Dino não pretende se licenciar do Ministério da Justiça durante o processo de confirmação pelo Senado. Ele visitou ontem o vice-presidente da Casa, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) — o presidente Rodrigo Pacheco (PSD-MG) está na COP 28, em Dubai. O ministro evitou comentar temas que podem ser abordados e negou que vá levar seu estilo combativo para o Supremo. “O perfil combativo é próprio da política. Evidentemente quando você muda de função, você muda também o perfil da sua atuação.” (Globo)

Dois ex-assessores do deputado André Janones (Avante-MG) reforçaram a acusação de “rachadinha”, prática ilegal em que o parlamentar embolsa parte dos salários de sua equipe. Um deles, Cefas Luiz Paulino, gravou, em 2019, o deputado dizendo que precisava do dinheiro dos assessores para recompor seu patrimônio, revelou o Metrópoles. Já Fabrício Ferreira de Oliveira, que trabalhou com o deputado até 2022, diz que a “rachadinha” era entregue em dinheiro vivo em envelopes. Janones admite a gravação, mas diz que estava pedindo contribuição a amigos que viraram assessores e diz que Cefas tentou extorqui-lo. O PL formalizou um pedido de cassação do mandato de Janones. (Folha)

Meio em vídeo. Rachadinha é um dos tipos mais básicos de corrupção parlamentar. Se bobear não tem um único parlamento brasileiro onde alguém não pratique a rachadinha. Não é por isso que a gente tem de tolerar, argumenta Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)

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Viver

O Ministério da Saúde publicou uma portaria no Diário Oficial da União incluindo 165 novas doenças na lista de patologias relacionadas ao trabalho. Entre elas estão burnout e transtornos mentais, como uso de sedativos, canabinoides, cocaína e abuso de cafeína por causa de jornadas exaustivas ou assédio moral. Transtornos como ansiedade, depressão e tentativa de suicídio decorrentes do estresse psicológico vivido do trabalho também foram adicionados. (g1)

Após despencar durante a pandemia de covid-19, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer voltou a subir. Em 2022, chegou a 75,5 anos, segundo o IBGE. Antes da crise sanitária, no entanto, era de 76,2 anos. Em 2020, caiu para 74,8 anos e, no ano seguinte, ficou em 72,8 anos. (g1)

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Dados do Sistema de Alertas de Desmatamento mostram que o desflorestamento na Mata Atlântica caiu 59% nos oito primeiros meses deste ano. A área derrubada foi de 9.216 hectares ante 22.240 hectares no mesmo período de 2022. A queda é referente ao limite geográfico definido pelo IBGE, sem contar o encrave — parte do bioma isolado e rodeado por vegetação de outras características. Nesses encraves protegidos por lei, o desmatamento subiu 13% em regiões do Cerrado e 123% da Caatinga. (g1)

Meio em vídeo. Relator do projeto de lei que regula o mercado de carbono, o deputado Aliel Machado (PV-PR) explica, no Conversas Com o Meio, que a proposta tem apoio do Ministério do Meio Ambiente, mas enfrenta resistência da bancada ruralista e de setores conservadores. “A transição energética não é mais uma matéria acadêmica. É urgente.” (YouTube)

Panelinha no Meio. Risoto e pressa não costumam combinar. Mas toda regra tem exceção. Com o auxílio de uma panela de pressão, este risoto de queijo gorgonzola e pera fica pronto em apenas três minutos.

Cultura

Mulheres brasileiras estão em alta nas telas. Escolhido melhor filme no Festival de Roma deste ano, Pedágio (trailer), de Carolina Markowicz, chega hoje aos cinemas. O longa conta a história de Suellen (Maeve Jinkings), que rouba dinheiro do trabalho para pagar a um pastor a “cura gay” para seu filho. Também brasileiro e lidando com questões sociais espinhosas, Eu Sou Maria (trailer), de Clara Linhart, mostra uma jovem pobre, vivida por Núbia Maurício, que, após se destacar numa prova, recebe uma bolsa para um colégio de elite, precisando enfrentar preconceitos. Paolla Oliveira estrela Bala Sem Nome (trailer), de Felipe Cagno, sobre uma mulher sequestrada após bandidos acharem que ela roubou e escondeu uma fortuna. Para quem quer algo, digamos, menos denso, As Aventuras de Poliana (trailer) mostra uma jovem trabalhando num resort para mostrar ao pai que já pode assumir responsabilidades.

Confira a programação completa nos cinemas da sua cidade. (AdoroCinema)

Um dos mais importantes gênios da nossa arte dramática, Grande Otelo (1915-1993) dá nome agora ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, concedido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Visuais. Também foram criadas as categorias de melhor ator e melhor atriz de série de ficção e alterado o período de elegibilidade dos concorrentes. As inscrições para a premiação de 2024 já estão abertas e vão até 28 de fevereiro.

E a 56ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro anunciou os filmes escolhidos para disputar o Troféu Candango, que terá Antônio Pitanga como homenageado pelo conjunto de sua obra. O festival acontece entre 9 e 16 de dezembro. (Globo)

Cotidiano Digital

A Câmara de Porto Alegre aprovou uma lei redigida pelo ChatGPT. A medida, que isenta a população de pagar por um novo medidor de consumo de água se o objeto for furtado, tramitou sem dificuldades pelo Legislativo e foi aprovada por unanimidade. Após a sanção pelo prefeito, na semana passada, o vereador Ramiro Rosário (PSDB) revelou que o projeto foi feito a partir de um comando ao ChatGPT, com 289 caracteres. O pedido resultou em um projeto de lei com oito artigos e justificativa, incluído sem alterações no sistema eletrônico da Câmara Municipal. Para o vereador, a difusão da ferramenta pode auxiliar municípios menores a elaborarem projetos melhores, economizando recursos. (Folha)

A Netflix anunciou ontem que as versões remasterizadas de GTA III, Vice City e San Andreas estarão disponíveis em sua plataforma de jogos a partir de 14 de dezembro. Os assinantes poderão baixar cada um dos três títulos em celulares com sistema Android e iOS. Os assinantes interessados podem fazer o pré-registro para garantir o acesso no dia do lançamento. A Rockstar Games realizou correções e aprimoramentos nos títulos da série, após críticas dos fãs, que relataram vários bugs e falhas. (Tecmundo)

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