Edição de Sábado: Afeganistão, cemitério de impérios

No ano de 1901, explodiu como best-seller nas livrarias londrinas Kim, um pequeno romance adolescente de Rudyard Kipling. A rainha Vitória havia morrido fazia meses, o Império Britânico estava próximo do fim, mas isso ainda não era óbvio. Como Mowgli, o menino lobo, seu personagem anterior de sucesso equivalente, Kipling fez de Kim um rapaz esperto e atento, capaz de livrar-se de toda sorte de desventuras, mas fundamentalmente preso entre dois mundos. Não era, porém, entre o mundo animal e o humano. Desta vez, era entre Oriente e Ocidente. Menino órfão e muito pobre zanzando pelas ruas de Lahore, no atual Paquistão, Kim era filho de pai irlandês e mãe inglesa, mas tão queimado de Sol e falava a língua local com tanta fluência que ninguém o percebia como branco. Parecia mais um dos patanes, uma das etnias comuns à região, e esta sua ambiguidade étnica logo se mostraria útil à espionagem do Império. Pois Kim, o romance, também popularizou entre os britânicos uma nova expressão para aquilo que o Império jogava naquele canto do mundo. O Great Game, o Grande Jogo. A disputa militar e diplomática entre os dois impérios, russo e britânico, por terras e espaço de atuação. Um choque que se dava numa terra tão pobre quanto Kim, tão ambígua quanto o personagem. A história se passa uns vinte anos antes da publicação, logo após o fim da Segunda Guerra Afegã — uma guerra vencida pelos ingleses, que puseram no Afeganistão um governo que lhe era fiel para criar um colchão entre o território russo e a Índia britânica. O Império onde o Sol nunca se põe, com domínios que iam do Canadá à China, ainda parecia que duraria para sempre. Mas o Grande Jogo não havia terminado — ninguém nunca conquista realmente o Afeganistão. Na Terceira Guerra Afegã, que começou em 1919, os ingleses terminariam humilhados. O Grande Jogo terminou com o Império derrotado não pela Rússia, que vivia uma revolução comunista, e sim pelos afegãos.

Sempre foi assim. Como aprenderam os americanos esses dias, em sua terra os patanes sempre vencem. Desde Alexandre, o Grande, incontáveis impérios aprenderam a mesma lição. É sempre fácil derrota-los em batalha aberta. E é sempre impossível derrota-los em definitivo. Nunca morrem, estão sempre lá, nunca desistem. E sempre voltam.

Dois mundos

O hábito de estudar história com a Europa no centro dos acontecimentos às vezes nos atrapalha a compreensão do mundo. Fica parecendo que o Ocidente tem início onde a Europa começa. Chamamos, assim, a terra ocupada por árabes, judeus e persas de Oriente Médio. Mas, culturalmente, a divisão não é esta. Há, sim, uma profunda divisão na maneira de compreender a existência entre Ocidente e Oriente ¬— mas a transição se dá na Índia.

Se fosse possível simplificar — e há exceções em ambos os lados —, a divisão cultural se dá assim. Em sua maioria, as religiões ocidentais são teístas. Têm um ou mais deuses que estão acima de nós humanos. A escrita das línguas ocidentais é fonética — representamos os sons das palavras quando as escrevemos. E, principalmente, compreendemos o tempo como linear, uma contínua e lenta evolução, um caminhar para a frente. A Índia, o Paquistão, o Afeganistão, estão no meio entre estes dois mundos. A humanidade naquele canto da Terra tem características de ambos. Mas, quando chegamos ao Oriente, as religiões em geral não têm deuses, se concentram na compreensão da existência em conjunto com o Universo. A escrita em geral representa as ideias por trás das palavras, e não os sons. E o tempo, como a história, são compreendidos como circulares. Ciclos que se abrem e se completam para novamente se abrir.

Há diferenças nítidas e, no entanto, tanto Oriente quanto Ocidente sempre buscaram comércio entre si. Para que este comércio se desse, foi sempre preciso passar pela terra dos patanes. É um canto do mundo onde jamais nasceu uma grande civilização — não no sentido que costumamos dar à palavra. Não há uma Mesopotâmia, uma Pérsia, uma China, uma Roma, uma Índia, uma Grécia, um Egito. Mesmo as duas maiores cidades afegãs, Kabul e Kandahar, só começaram a parecer mesmo cidades, da maneira como compreendemos o que uma cidade é, com prédios de vários andares e ruas que se cruzam, divididas em bairros, a partir do século 20. Antes, como a maioria das cidades afegãs, pareciam essencialmente grandes fortalezas perdidas num canto ermo e particularmente perigoso do mundo. Por isso mesmo, para garantir a segurança das caravanas de comércio que trafegavam com grandes valores, impérios cientes de seu grande poderio militar sempre acharam conveniente conquistar o que hoje chamamos Afeganistão. Se eram capazes de enfrentar outros impérios, não seria ali que perderiam algo. Sempre perderam. Os persas perderam. Os mongóis perderam. Os soviéticos perderam.

Ou, talvez seja melhor dizer: pareceram dominar por um tempo, mas nunca controlaram de fato as tribos da região e, num ambiente de exaustão pelo conflito que nunca acabava, terminaram deixando exauridos a terra dos patanes. Exatamente como, agora, fazem os EUA.

Há razões para isso — razões que começam pela inexistência de cidades. Na Ásia Central, ao invés de cidades existem estruturas que eles chamam de kuhandiz mas que o resto do mundo costuma se referir pelo nome árabe. Qal’ah, muitas vezes transcrito como qalat. São cidadelas, cidades muradas. Grandes paredões erguidos alto, não raro com torres espaçadas. As casas, também construídas de forma sólida, grandes paralepípedos, ficam tradicionalmente no interior dos muros. Há casas também no lado de fora, mas a organização de cada vila como fortaleza já mostra que se trata de uma cultura voltada para a guerra. A invasão de uma qalat é sempre muito difícil.

Uma das bases utilizadas pelos americanos no Afeganistão, nesses últimos vinte anos, foi Ball Haizer. Seu apelido é Castelo de Alexandre, por ter sido erguido quando o conquistador grego fazia seu caminho em direção à Índia. Dois mil anos atrás. Uma qalat que, não à toa, fica na cidade batizada há muito de Qalat. A preponderância da estrutura fez do termo genérico um nome próprio.

Mas não é apenas que as pessoas se distribuíram por fortalezas no Afeganistão. A geografia faz do lugar uma fortaleza natural, com imensas cordilheiras formadas por montanhas particularmente escarpadas. Dois terços é cortado pelo Hindu Kush. É um relevo difícil para qualquer estrangeiro, mesmo com toda tecnologia. Um relevo amplamente dominado por quem nasceu e sempre viveu ali, mas que também dificulta a formação de grandes aglomerações humanas. Este é um dos motivos de cidades terem demorado tanto a ganhar forma. A geografia incentivou a tribalização do país. E, até hoje, a principal fidelidade das pessoas é à sua tribo. Incontáveis afegãos, desde sempre, passam a vida inteira sem nunca deixar a aldeia em que nasceram. E, como qualquer terra cuja história é uma sequência milenar de invasões estrangeiras, todos por natureza desconfiam das intenções de quem vem de fora.

Mas uma lição a história deixou e o povo patane aprendeu. Eles vão continuar ali. O estrangeiro uma hora não aguenta os constantes ataques que vêm do nada, de pessoas protegidas e escondidas pelas escarpas do Hindu Kush. E vai embora. O budismo já foi proeminente, faz alguns séculos que sua religião é Ocidental. O Islã. Mas entendem o tempo à Oriental — como ciclos. As invasões vêm, e sempre vão. Basta esperar. E manter os ataques. Os americanos não demoraram dez anos para encontrar Osama bin-Laden à toa. É possível desaparecer por muito tempo nas montanhas afegãs. Bin-Laden foi encontrado ao se mudar para o Paquistão.

A tragédia afegã

A resiliência afegã representa força mas disfarça uma tragédia humana. A história de invasões deixou marcas e cicatrizes de toda sorte. Além dos patanes, que formam a maioria étnica, no país ainda convivem outras três etnias. Tadjiques, uzbeques e hazaras. Este último povo descende dos invasores mongóis, tem os olhos puxados e é uma constante lembrança de que o país faz fronteira tanto com o Irã, a Oeste, quanto com a China, ao Leste. Literalmente no meio do caminho entre dois mundos. Mesmo. Outra marca é a língua mais falada — pashto, próxima do persa e particularmente próxima do persa antigo, dos homens que escreveram os textos zoroastristas.

Já as cicatrizes, principalmente as deixadas nos últimos 40 anos, são duras. Na década de 1970, Kabul era uma cidade popular para estudantes mochileiros europeus atraídos por um certo exotismo oriental. Tinha um bom haxixe, se dizia. A universidade da capital recebia tanto alunos homens quanto mulheres e minissaias não eram raras. Embora algumas escolhessem usar burqas, que eram mais comuns no interior, havia também mulheres que sequer usavam véus.

Isto mudou com a invasão soviética, em 1979. A URSS estava incomodada com a crescente influência americana no Paquistão e, como segue o ciclo histórico, achou por bem invadir a terra dos patanes. Como de hábito, a conquista se consolidou após alguns meses. Quando os russos deixaram o Afeganistão, dez anos depois, exasperados, não haviam conseguido consolidar o poder no país. Mas o deixaram destruído.

Durante aquela década de 1980, os Estados Unidos viam com preocupação dois avanços naquele canto do mundo. O do Irã após a Revolução Islâmica xiita do aiatolá Ruhollah Khomeini e o da URSS sobre o vizinho Afeganistão. Então recorreram a parceiros tradicionais — paquistaneses e árabes sauditas. No jogo da geopolítica, consideraram que era boa estratégia financiar e armar os mujahedins, guerrilheiros patanes, para que lutassem contra o adversário comunista. Foi o tempo em que chegaram as escolas religiosas wahabitas, a versão radicalizada do Islã sunita que a Arábia Saudita espalha pelo mundo muçulmano.

A palavra talib, em pashto, quer dizer estudante. Era a palavra usada para designar os guerrilheiros que estudavam nas escolas patrocinadas pelos sauditas. No plural, Taliban.

O país que passou o século 20 se sofisticando foi fisicamente destruído pelos soviéticos, mas ainda não havia sido condenado a uma religião única e opressora. A saída do último invasor deu espaço a uma guerra civil entre os diversos grupos étnicos só encerrada em 1996. Com a vitória do Talibã. Que acolheu o grupo saudita que já fazia mais de década o auxiliava — um grupo que atendia pelo nome al-Qaeda.

Tendo enfim erguido o primeiro país que considerava genuinamente muçulmano no planeta, que seguia a única forma realmente pura do Islã, seu líder, o saudita Osama bin-Laden, pôs os olhos no resto do mundo. Entendeu que para expandir a religião que dividia com o Talibã, precisava antes derrubar o governo que via como corrupto em seu próprio país. Um governo cuja corrupção, a seu modo de ver, tinha por origem as relações com os Estados Unidos da América.

Bin-Laden começou, então, a planejar.

Medo em primeira pessoa

“Vejo as fotos de minha filha e choro. Muitas e muitas vezes. Não se pode estudar sob o domínio do Talibã. De agora em diante, ela permanecerá longe das bênçãos da escola e da alfabetização. Muitas jovens estão sendo forçadas a casar com combatentes, mas seus corpos não têm estrutura para dar à luz aos 12 anos. Penso e me sinto sufocada, mas o meu medo é de que esse seja o destino da minha inocente menina”, diz Shadia*, mãe da pequena Mayssa, de 6 anos.

Nascida na província de Badghis, no Afeganistão, Shadia viu o controle de seu país ser tomado pelo Talibã em 1996, quando tinha 11 anos. Cresceu respeitando às restrições impostas pelo grupo, que adota uma interpretação radical da lei islâmica. Discordando da repressão exercida sobre as mulheres, a jornalista afegã escolheu dedicar sua vida à luta por direitos. No entanto, após 20 anos, tem voltado a se esconder devido ao retorno do Talibã ao poder. “É realmente assustador o que está acontecendo. Aqui, tudo cheira a sangue e terror”, conta.

“Eu era uma ativista dos direitos das mulheres. Tento continuar lutando, mas agora preciso ser discreta. Faço parte do Sindicato de Jornalistas Afegãos e, por dez anos, trabalhei para o Escritório das Nações Unidas capacitando crianças em situação de rua e mulheres. Para que atingissem independência, nesse serviço, consegui abrir um mercado voltado às mulheres -- ali podiam iniciar os próprios comércios em Badghis”, lembrou Shadia, que precisou deixar a província onde nasceu após se tornar alvo de ameaças. “Abri o mercado com a cooperação do governo e de outras mulheres intelectuais, mas tive que deixar Badghis sozinha. Os negócios provocaram uma forte reação de membros do Talibã que viviam na região. Repetiram dezenas de vezes que me matariam. Então, me mudei para Cabul, onde vivo hoje.”

Em meio às duras mensagens, Shadia envia uma série de fotos de Mayssa. À caneta, as fotos foram marcadas pela palavra “princesa”. “Fiz escolhas muito difíceis. Fui casada e me divorciei há três anos. Decidi me separar porque meu marido me torturava, era um tirano. Saí de casa. Em resposta, ele me tirou tudo, inclusive minha filha. Eu quero que minha menina sinta orgulho. Por isso sou forte, mas realmente estou com medo”, revela enquanto encaminha a imagem do “corpo de Jalalabad”, uma mulher baleada na última semana após se recusar a vestir a burca, numa das ruas mais movimentadas da segunda maior cidade do país. “Depois de atirarem, não permitiram que ninguém tirasse seu corpo da rua. Ela deveria ficar ali, estirada no chão, como recado às outras mulheres. Foi horrível, fiquei com muito medo.”

Questionada se haveria chances de o Talibã ser moderado em sua nova atuação, Shadia negou. “Os terrores continuarão como da primeira vez. Selvagens compõem o Talibã. Eles não mudam. Na mídia, dizem que serão neutros em relação às questões religiosas, mas estão batendo de porta em porta à procura de ativistas. Quando encontram, atiram. A minha vida e as de centenas de outras mulheres estão em perigo”.

Apesar da situação à qual classificou como “catástrofe humana”, Shadia não perde a fé. “O Talibã age contra a palavra do Islã. Eles aterrorizaram o Islã. Nosso Alcorão é puro, não nos ensina a atirar em seres humanos sem lógica alguma”. Mesmo sem passaporte e reserva de dinheiro, ela planeja deixar o Afeganistão. Enquanto não consegue, pede para fazer um apelo às mulheres que leem a entrevista. “Porfavor, se ouvirem nossas vozes, criem uma forte corrente de solidariedade para que nos escutem, para que a terrível voz do Talibã seja silenciada diante de nós.”

*Os nomes foram trocados para preservar a segurança da entrevistada e de sua filha.

De volta às paradas americanas 50 anos depois, o mítico "All Things Must Pass" consolida o legado de George Harrison mais uma vez

Era 27 de novembro de 1970, sete meses após a separação dos Beatles, quando o All Things Must Pass era finalmente lançado ao mundo. Um dos mais espetaculares álbuns da história do rock e obra-prima do músico britânico George Harrison, o disco marcava uma nova fase na vida e na música do artista, que agora estava longe do icônico Fab Four e da aliança criativa de Lennon-McCartney, dominante na maioria das composições durante toda a carreira da banda.

Com um remix totalmente novo, o ATMP ganhou uma luxuosa edição comemorativa de 50 anos neste mês, lançada em formatos que vão desde o vinil ou CD ao super deluxe e uber deluxe. Os preços custam de US$ 13 a US$ 25 na edição regular e até US$ 1 mil na edição uber deluxe. Esta última inclui 23 faixas originais, mais de 47 demos, outtakes e jams, em download digital, blu-ray, CD quíntuplo e vinil óctuplo, além de dois livros que documentam a criação do álbum - com todo este material em uma caixa de madeira colecionável com memorabilia. Definitivamente, uma edição de respeito para um álbum mítico que ultrapassa gerações e é visto como o melhor disco solo de um ex-Beatle.

Nesta semana, 50 anos depois, o All Things Must Pass também retornou ao Top 10 da Billboard 200 pela primeira vez desde 1971, alcançando a sétima posição e a marca de 32 mil unidades vendidas somente nos EUA, segundo a MCR Data. A edição comemorativa também marca a primeira vez que a música de Harrison aparece no Top 10 americano desde 1988, quando o disco “Cloud Nine” alcançou a 8ª posição. Também foi a posição mais alta nos charts desde que “Dark Horse” chegou à 4ª posição, em janeiro de 1975.

Fato é que esse não foi o primeiro disco de sua carreira, e sim o sucessor de outros dois álbuns: o Wonderwall Music (1968) e o Electronic Sound (1969). Mesmo assim, Harrison considerou o ATMP como a sua estreia solo. Uma estreia triunfal, diga-se de passagem: o disco é considerado o primeiro álbum triplo de estúdio da história. A versão original tem três LPs, numa caixa estampada por uma imagem de Harrison cercado por quatro gnomos de jardim em sua recém-comprada mansão Friar Park, uma construção vitoriana em Oxford, na Inglaterra.

Com grande elenco de músicos de apoio que dispensa apresentações, como Eric Clapton, o ex-Beatle Ringo Starr, Billy Preston e Klaus Voormann, o álbum foi coproduzido pelo maior produtor musical da época, Phil Spector, e traz os singles “My Sweet Lord” e “What Is Life”, bem como canções como “Isn’t It a Pity” e a faixa-título que deixou de ser incluída em lançamentos dos Beatles.

A aproximação com o vaishnavismo, uma vertente de hinduísmo, e a amizade com os devotos da Sociedade Internacional Para Consciência de Krishna (Iskcon), popularmente conhecida como o Movimento Hare Krishna, renderam à George Harrison um grande sucesso que liderou as paradas de singles em todo o mundo durante os primeiros meses de 1971: “My Sweet Lord”. E os recordes foram vários: a música foi o primeiro single solo de um ex-Beatle a ser número um no Reino Unido ou nos Estados Unidos, tornando-se a música mais tocada daquele ano. Na Billboard 200, liderou por sete semanas consecutivas e permaneceu até o fim de março de 1971 no Top 10.

A icônica faixa, assim como “Hear Me Lord” e outras canções do álbum, marcaram o começo do auge da fase mais devocional de George, que começou em 1966 durante sua viagem para a Índia, e que se seguiu por álbuns posteriores, como o Living In The Material World, de 1973, e o Dark Horse. Harrison, inclusive, foi amigo próximo do músico indiano Ravi Shankar - que o ensinou a tocar Sitar -, e do mestre espiritual Srila Prabhupada, fundador da Iskcon. Além disso, gravou e produziu um álbum de estúdio com os devotos do Radha Krishna Temple, de Londres.

O mergulho na filosofia milenar, religião e cultura védicas ajudaram a dar o tom introspectivo, místico e autorreflexivo ao ATMP. Em “My Sweet Lord”, o Mahamantra Hare Krishna se mistura propositalmente à expressão “aleluia”, pois, segundo Harrison, a intenção era mostrar que os dois termos “significam exatamente a mesma coisa”. Mas, além de um álbum cheio de influências filosóficas e religiosas, o All Things Must Pass é também uma mistura de gêneros musicais que combinam em perfeita harmonia, abrangendo desde o rock ‘n’ roll, country, gospel, passando por blues, pop, música clássica indiana e o folk, presente em “If Not For You”, composta por Bob Dylan.

Previsto para ser lançado originalmente em 2020 e adiado por conta da pandemia de coronavírus, o álbum remasterizado contou com a produção executiva de Dhani Harrison, músico e filho do cantor, e inclui outras faixas que não apareceram na versão original de 1970, como “Cosmic Empire” e a versão demo “Om Hare Om (Gopala Krishna)”. Trazendo a voz de Harrison para o primeiro plano, a sensação de ouvir o novo remix é quase como rezar junto a ele em “Hear Me Lord”, por exemplo, numa sonoridade ainda mais intimista e emocional. A voz tranquila do “Quiet Beatle” pode, enfim, ser ouvida em toda a sua glória. E você também pode ouvi-la aqui. Hare Krishna!

Robôs, robôs e robôs...

Os robôs roubaram a cena no mundo da tecnologia essa semana. Começou na terça-feira quando a Boston Dynamics postou um novo vídeo de seu robô Atlas fazendo Parkour. A empresa já havia mostrado Atlas fazendo Parkour, mas um obstáculo de cada vez. Agora o robô completou um percurso completo, passando por diversos obstáculos diferentes.

Na quinta feira a CNN publicou um vídeo mostrando Grace, uma robô criada pela Hanson Robotics, empresa de Hong Kong que já tinha apresentado sua primeira robô humanoide, Sophia, em 2016. Sophia conseguia reproduzir expressões faciais humanas e foi treinada para praticar arte, especialmente pintura, tendo inclusive vendido recentemente um NFT de um autorretrato por quase US$ 700 mil. Já Grace foi feita para ser uma assistente para médicos. Perfeita para tempos de pandemia. Grace é equipada com sensores como uma câmera termal e consegue medir a temperatura e o pulso dos pacientes e com isso auxiliar médicos no diagnóstico. Grace também é preparada para servir como acompanhante de pacientes idosos. Fala três línguas - inglês, mandarim e cantonês - e consegue até guiar pacientes em exercícios terapêuticos. Conheça Grace.

Na mesma quinta-feira, Brook Barnes, repórter especializado na cobertura de Hollywood do NY Times, publicou uma longa matéria contando sobre sua visita a um misterioso armazém em um subúrbio de Los Angeles onde a divisão de Imagineering da Disney desenvolve e testa suas novas criações. Barnes foi conhecer Groot. Um robô do personagem da Marvel que anda, interage e conversa com as pessoas.

Brook Barnes: “Ele tinha pouco menos de um metro de altura e veio andando calmamente em minha direção com os olhos arregalados como se tivesse acabado de descobrir em mim uma nova forma de vida. Me olhou de cima a baixo e se apresentou. Como fiquei em silêncio, seu temperamento mudou. Baixou os ombros e parecia me olhar como um decepcionado filhote de cachorro. 'Não fique triste,' eu lhe disse. Ele sorriu e rodopiou em uma dancinha terminando com apenas um pé no chão e os braços abertos. Tudo que eu queria era lhe dar um abraço e levá-lo para minha casa. – ‘A nova tendência que está vindo para a área de animatronics é este nível de inteligência,’ me disse Jon Snoddy, um dos executivos da Imagineering. ‘Mais plausível. Mais radical.’ Olhou de forma adoradora para Groot e completou: ‘Esse carinha representa o nosso futuro, é parte de como no mantemos relevantes.’”

E ainda na quinta-feira Elon Musk subiu ao palco do auditório do quartel general da Tesla para fechar o AI Day, evento focado em demonstrar suas novidades na área de Inteligência Artificial. Musk apresentou o Tesla Bot, primeiro robô da empresa. O robô usa as mesmas tecnologias de Inteligência Artificial usada em seus carros. O objetivo é que o robô possa realizar tarefas chatas e repetitivas em nosso lugar. Na visão de Musk o trabalho braçal se tornará uma coisa opcional no futuro, só faremos o que quisermos. O resto robôs farão por nós. Mas o Tesla Bot por enquanto é apenas vaporware, não existe ainda. O primeiro protótipo só deve estar pronto no ano que vem. Enquanto Musk apresentava o robô em slides de Powerpoint, um ator fantasiado fingia ser o robô ao seu lado.

Enquanto robôs humanoides ainda são pouco mais do que estratégia de marketing, em certas indústrias robôs estão promovendo mudanças radicais. É o caso da Ocado, rede britânica de supermercados online, que construiu na cidade de Andover, no sudoeste de Londres, um armazém altamente automatizado. Chamado de colmeia, o armazém é organizado como um grande grid de trilhos onde mais de dois mil robôs, que parecem caixas, andam em três dimensões, carregando e organizando itens em engradados que serão entregues na casa de cada cliente. Acompanhar o vai e vem dos robôs pela colmeia é uma experiência um tanto quanto hipnotizante.

Preocupado com nosso futuro no mercado de trabalho? O designer e inovador americano Marty Neumeier, autor do livro Metaskills: Five Talents for the Future of Work (Amazon), resume em palestra os cinco talentos essenciais para continuarmos trabalhando na era dos robôs.

E os mais clicados de uma semana mais do que estressante.

1. Folha: Imagens mostram a liberdade das mulheres afegãs na década de 60.

2. O Globo: E fotos mostram como era a vida delas durante o domínio Talibã entre 1996 e 2001.

3. Youtube: Ponto de Partida – Como resistir à um golpe de estado.

4. UOL: FGTS decide distribuir lucro de R$ 8,13 bilhões aos trabalhadores.

5. Poder 360: Pessoa cai de trem de pouso de avião em tentativa desesperada de fugir de Cabul.

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24/04/24 • 11:00

Em seu café da manhã com jornalistas, na terça-feira desta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu que a extrema direita nasceu, no Brasil, em 2013. Ele vê nas Jornadas de Junho daquele ano a explosão do caos em que o país foi mergulhado a partir dali. Mais de dez anos passados, Lula ainda não compreendeu que não era o bolsonarismo que estava nas ruas brasileiras naquele momento. E, no entanto, seu diagnóstico não está de todo errado. Porque algo aconteceu, sim, em 2013. O que aconteceu está diretamente ligado ao caos em que o Brasil mergulhou e explica muito do desacerto político que vivemos não só em Brasília mas em toda a sociedade. Em 2013, Twitter e Facebook instalaram algoritmos para determinar o que vemos ao entrar nas duas redes sociais.

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