Edição de Sábado

Edição de Sábado: SXSW e os paradoxos da tecnologia

O super festival de cinema, música, tecnologia e inovação de Austin, o badalado South by Southwest, o SXSW, apresenta a cada ano caminhos que setores da economia devem percorrer diante de novas soluções criativas e inovadoras. Se há uma grande novidade tecnológica em estudo, sendo elaborada ou mesmo em fase inicial de execução, será aqui a sua apresentação. Em 2007, o Twitter foi lançado no SXSW. Em 2012, o Google exibiu em Austin o seu carro autônomo. Dois anos antes, Naveen Selvadurai divulgou aqui o Foursquare pela primeira vez. Este ano, embora muitos novos produtos tenham sido lançados na exposição “Indústrias Criativas” do festival, foi um modelo de visão de futuro apresentado pela futurista Amy Webb que mereceu mais atenção. Segundo ela, a internet como a conhecemos tem seus dias contados e as relações humanas vão mudar dramaticamente.

Edição de Sábado: O pêndulo chileno

Na posse do presidente Lula, em janeiro, produziu-se uma sequência de fotos em Brasília com os chefes de Estado que vieram prestigiar o novo ciclo do país. Nelas, alguns líderes políticos da América Latina exibem sorrisos que não são estranhos ao olhar brasileiro — à exceção de um, mais arejado e luminoso. Esse dispensa gravata, dobra as mangas da camisa, exibe tatuagens e tem menos de 40 anos de idade. E há exatamente um ano chegou à presidência do Chile. Gabriel Boric Font, o presidente chileno, pisava oficialmente pela primeira vez no Brasil.

Edição de Sábado: Gleisi, o braço esquerdo de Lula

O PT estava reunido a portas fechadas. Do lado de fora, o sol do início de dezembro castigava jornalistas que cobriam a transição de governo e acampavam na portaria do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, à espera do primeiro que saísse. Do lado de dentro, petistas se apinhavam para o primeiro encontro oficial do partido com seu líder máximo e então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. A dúvida era qual seria o quinhão do PT no novo governo. Quem seriam os escolhidos para a “cozinha” do Planalto? Quem cuidaria do Bolsa Família? Da economia? Diante de olhos curiosos, Lula lançou mão do tom paternal de criador da legenda. Como quem ao mesmo tempo dá uma bênção e uma incumbência, Lula pousou a mão sobre a cabeça da presidente do partido e avisou: “Gleisi não será ministra. Eu penso que ela tem que ficar na presidência do PT”.

Edição de Sábado: Uma guerra sem espólios

Entre a cama e o banheiro daquele quarto de hotel, na região central de Kiev, havia uma parede de gesso, que formava um vão. Foi ali que Gabriel escolheu dormir, no chão mesmo. A suíte era envidraçada do chão ao teto, tinha vista panorâmica — baita ativo para turistas, péssimo para repórteres de guerra. O premiado fotógrafo e documentarista Gabriel Chaim cobre zonas de conflito desde 2013. Reconhece os perigos que os olhos de rotina são incapazes de notar. Aqueles vidros, ao eventualmente se tornarem estilhaços, podiam cortar-lhe o pescoço. Isso o irritava e lhe tirava o sono. Se sua memória não o trai, ele chegara à Ucrânia três dias antes, vindo da Síria, onde acompanhou uma rebelião de presos do Estado Islâmico. Kiev parecia indiferente a qualquer ameaça. Não havia confirmação alguma de que uma invasão da Rússia realmente aconteceria ou quando. A intenção inicial de Gabriel era passar alguns dias ali e seguir para Moscou, tinha contato com jornalistas russos. Mas uma bomba às quatro da madrugada do dia 24 de fevereiro de 2022 alterou, num instante, seus planos, as vidas dos ucranianos e o contorno da geopolítica atual.

Edição de Sábado: O Brasil em forma de passarela

Daqui a uma semana, o Carnaval começa de maneira oficial. As escolas de samba que ensaiaram, os blocos que já saíram, as festas que já ocorreram: o que se passou nas últimas semanas tende a ser uma sombra do que vai ser deslanchado nas ruas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife e Olinda a partir do sábado, dia 18 de fevereiro.

Edição de Sábado: Guerra e paz

Perto das 19h de quarta-feira, dia em que 2023 começava oficialmente para os poderes Judiciário e Legislativo, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, entrava plácido no plenário da Corte. Sorridente até. A calva que é ato contínuo de sua testa dava muito mais protuberância às poucas franzidas que o ministro esboçaria durante seu discurso de Ts e Ds límpidos, típicos dos paulistanos mais convictos. As contrações coincidiam com as vezes em que Moraes mencionava, como que em grifo, sua certeza de participação de autoridades públicas nos atos golpistas prévios e culminantes no dia 8 de janeiro. O magistrado tomou o cuidado de defender a política “sem ódio, discriminação ou violência”. Para isso, citou o ensinamento de Martin Luther King de que “a consequência da não-violência é a reconciliação”. Mas Moraes não estava ali para falar de paz. Ao contrário. Mais adiante, defendeu que “a democracia brasileira não suportará mais a ignóbil política de apaziguamento”. Explicou que a escolha por esse caminho já se mostrara amplamente fracassada na tentativa do ministro inglês Neville Chamberlain de se concertar com Adolf Hitler. Recorreu, então, a Winston Churchill: “Os financiadores, incentivadores e agentes públicos que se portaram dolosamente, pactuando covardemente com a quebra da democracia e a instalação de um estado de exceção, serão responsabilizados, pois como ensinava Churchill 'um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado'”.

Edição de Sábado: Yamaki siomou maprario

A entrevista estava marcada para a manhã de quarta-feira. Foi atravessada por uma reunião com a Defensoria Pública da União (DPU). Em meio a uma das piores crises humanitárias da história do Brasil, Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e da Urihi Associação Yanomami, está sob forte demanda. E tem muito a dizer. A conversa foi reagendada para o fim da tarde, mas também não aconteceu. Sua voz começou a falhar aos cinco minutos de ligação. O sinal caiu quando Hekurari estava a caminho do novo hospital de campanha instalado na comunidade de Surucucu, em Roraima, no centro da área indígena. Já tarde da noite, esgotado e entre silêncios angustiantes, Hekurari desabou ao contar como seu povo tem vivido e sucumbido aos últimos tempos.

Edição de Sábado: Estilhaços da intentona

Quando assumiu seu primeiro mandato como presidente, em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva expressou aos seus auxiliares incômodo com os militares que lhe acompanhariam como ajudantes de ordens. Achava que poderiam ser espiões. Solicitou ao chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, que fossem substituídos por civis. Carvalho explicou ao chefe que a atividade estava amparada na legislação e o convenceu de que a suspeição era exagerada. Lula logo ficou chapa dos ajudantes de ordens, num dos muitos sinais da relação amistosa que sobreviria com os representantes das Forças Armadas.

Edição de Sábado: O equilíbrio diante do precipício

A chuva havia dado uma trégua em Araraquara, interior paulista. Dez dias antes, as águas tinham levado parte da Avenida 36, importante via da cidade. Choveu, em seis horas, o que era previsto para três dias. O imenso buraco que se formou com a força do Ribeirão das Cruzes engoliu carros e vidas. Das 16 vítimas, seis pessoas da mesma família morreram após caírem na gigantesca fenda. A tragédia motivava a primeira viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após a posse, em Brasília, no dia 1º de janeiro. Eram quase 15 horas de domingo, 8 de janeiro, quando Lula e o prefeito da cidade, Edinho Silva (PT), chegavam à beira do precipício.

Edição de Sábado: Tempo de inovação

Quando se fala de inovação, pode-se fantasiar sobre criações tecnológicas futuristas e intangíveis. Mas inovação é, antes de tudo, uma ideia. Uma estratégia de solução de problemas. E se há algo de que o Brasil precisa nesse novo ciclo, depois de quatro anos de, mais que paralisia, retrocesso, é inovação. Para reaprender a dialogar. Para buscar e encontrar pontos em comum entre pessoas aparentemente cindidas irremediavelmente. E para voltar a produzir e distribuir riqueza.