Edição de Sábado

Edição de Sábado: Rui Costa, o ministro que diz não

Ele não leva jeito e não gosta. Até já fez a articulação política para o governo de seu antecessor na Bahia, Jaques Wagner (PT-BA), mas nunca se acostumou com os infinitos jantares, com os almoços frequentes, e com as incontáveis xícaras de café servidas nas negociações. No dia em que Rui Costa foi chamado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser o chefe da Casa Civil, foi logo perguntando: “Eu vou ter que fazer articulação política?”. Lula, já sabendo da sua falta de traquejo e gosto pela função, o tranquilizou: “Não, isso é com o Padilha”, disse o presidente, apontando para o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP).

Edição de Sábado: Os poderes de Dino

Logo que chegou ao Salão Azul do Senado, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB-MA), correu para a sala do vice-presidente da Casa, senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). O presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), estava ausente — havia embarcado, dois das antes, na comitiva de Lula, para a Conferência do Clima (COP-28). Na saída, Dino preocupou-se em passar uma mensagem de pertencimento àqueles corredores. “Conheço bem o mundo político, até porque sou parte dele”, disse o indicado por Lula para ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Era o início de sua campanha em busca de votos para poder, brevemente, sair da política e voltar para outros domínios: o do Judiciário.

Edição de Sábado: A OpenAI ameaça a humanidade?

Nas últimas semanas de outubro, um dos laboratórios da OpenAI chegou a um algoritmo capaz de resolver problemas de matemática. Não era nada muito sofisticado, cálculos que crianças aprendem até os 11, mas o avanço é algo nunca visto. A produção de textos, como faz o ChatGPT, é em essência um cálculo probabilístico. Uma capacidade maciça de computação que, após ter deglutido o número de livros que uma pessoa sozinha levaria 20 mil anos lendo, consegue imaginar a alta probabilidade de a palavra “gato” ser seguida da palavra “mia”. Processamento computacional abissal aplicado a calcular qual a palavra mais provável de aparecer após a anterior quando se compara trilhões de textos. Mas com matemática é diferente. A partir de uma pergunta, muitos textos escritos diferentes são respostas corretas possíveis. Dado um problema matemático, não. Só há uma resposta. O computador portanto precisa compreender de alguma forma a pergunta feita, entender que conta leva à resposta e então fazê-la. Força bruta de processamento não resolve isso. É preciso compreensão. Matemática traz os modelos de inteligência artificial um pouco mais próximos da inteligência real. Foi provavelmente uma referência a esta conquista da OpenAI que o CEO Sam Altman se referiu quando falou em público durante a Cúpula de Cooperação com a Ásia, em San Francisco, na semana passada. “Por quatro vezes estive numa sala em que empurramos o véu da ignorância um pouco mais longe” ele contou. “A última vez em que isso aconteceu faz poucas semanas. Estar presente nessas horas tem sido o orgulho profissional de minha vida.” Naquela noite, não muito após seu discurso, Altman recebeu uma mensagem de texto de seu amigo, Ilya Sutskever, cientista-chefe da empresa. Perguntava se poderiam se ver numa reunião virtual, no dia seguinte. Altman respondeu que sim. Ele não sabia, mas seria demitido naquele encontro.

Edição de Sábado: ‘Viver é se desfazer no tempo’, diz Rosa Montero

Rosa Montero é uma investigadora. A espanhola de 72 anos já fez mais de 2 mil interrogatórios em busca de respostas sobre a vida, a morte e tudo que acontece no meio. Escritora e jornalista, a arte de entrevistar e ouvir orienta sua produção literária e sacia a inquietude acerca do que é de fato ser “normal” ou o que é ser considerado “louco”. Afinal, não é normal sermos um pouco raros?

Vamos dobrar a meta

Vamos dobrar a meta

O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Danilo Forte (UB-CE), desembarcou apressado do elevador que leva direto ao cafezinho do plenário da Câmara, no meio da tarde da última terça-feira. A correria era para marcar presença na sessão de votação. Não podia perder o ponto. Interceptado por uma leva de jornalistas, o cearense prometeu voltar para conversar um pouco sobre o orçamento e, principalmente, sobre a meta de déficit fiscal, tema que gerou barulho na discussão do arcabouço fiscal, aprovado no primeiro semestre, e vem dando o que falar, agora, na discussão do orçamento para 2024.

Edição de Sábado: Israel não tem como ganhar

Há algumas semanas um acontecimento vem se repetido incontáveis vezes no Rio ou em São Paulo, em Nova York, na Califórnia, em diversas cidades da Europa. É um desentendimento. Um desentendimento profundo, em alguns casos doloroso, conforme judeus progressistas e seus amigos gentios percebem-se separados por uma compreensão muito distinta a respeito do que acontece hoje em Israel e na Faixa de Gaza. O desentendimento às vezes é verbalizado, muitas vezes não. Ele se dá na leitura do comentário de um amigo querido nas redes sociais, um comentário que surpreende. Ou então numa altercação no ambiente de trabalho. Mas ele se dá, com cada vez mais frequência. Com cada vez mais virulência. Às vezes, ele fere. E um grupo não consegue sequer alcançar o outro.

Edição de Sábado: Dois presidentes contra um

O aniversário é nosso, mas quem ganha o presente é você. Não, não é uma promoção de lojas de departamento, supermercado ou coisa que o valha. Não se trata do velho golpe de marketing que indica que toda mercadoria estará pela metade do preço e o cliente desavisado vai se animar em gastar o dobro pela pechincha. A frase se aplica a um sentimento predominante em Brasília nesta semana.

Milei, a aposta arriscada da Argentina

Os argentinos costumam ser muito criativos quando inventam gritos de guerra e cânticos políticos ou futebolísticos, nos quais os dois temas quase sempre se misturam. Há quase um ano, na Copa do Mundo que a Argentina acabou vencendo, tivemos “Muchachos — Ahora Nos Volvimos a Ilusionar”, a música que soou incansavelmente por dias, semanas, meses. E ela mencionava já na primeira estrofe uma vingança pelos “garotos das Malvinas”, referindo-se aos soldados mortos no conflito em que a Argentina foi derrotada em 1982 pelos britânicos.

Edição de Sábado: De quem é Jerusalém?

Para mais de 4,3 bilhões de pessoas – a soma de cristãos, muçulmanos e judeus no mundo – Jerusalém é sagrada. O Muro das Lamentações, último vestígio do Templo de Herodes, a Igreja do Santo Sepulcro e a Esplanada das Mesquitas são retratos em pedra dessa importância. Em 125 km2 estão milhares de anos de uma história em que fé e sangue tantas vezes correram juntos e que está no coração do atual conflito no Oriente Médio. Mas o que é essa cidade? Qual seu passado e como ele se desdobra sobre o presente? Vamos descobrir.

Edição de Sábado: Garota cancelada

“Descobri quando Elza nasceu”, dizia o título do e-mail. O remetente, chamado J., era um desconhecido. Naquela manhã, eu planejava dar só uma olhada rápida no computador, o e-mail que acumulasse: era meu aniversário. Mas o que fazer diante de uma proclamação como aquela? “Descobri quando Elza nasceu.” Anexada, a cópia de uma certidão de nascimento muito antiga (os documentos citados nesta reportagem estão aqui). Uma certidão que trazia a data de 1º de outubro de 1921. Uma data que dava vertigem.