Edição de Sábado

Edição de Sábado: O ruído que Lula cria

Se um observador de todo isento, sem lado no debate ideológico brasileiro, desembarcasse no último domingo em Adis Adeba, na Etiópia, para ouvir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sairia espantado. Por um lado, Lula demonstrou extrema cautela em fazer qualquer especulação a respeito da morte de Alexei Navalny, o principal líder da oposição russa. Com 47 anos, em boa forma e saúde quando foi preso em 2021, Navalny morreu no sábado em sua cela. “Para que a pressa em acusar?”, disparou contra os jornalistas que lhe faziam perguntas. Não houve a mesma cautela para tratar de Israel. Pelo contrário — o presidente foi tão hiperbólico quanto é possível num debate político. Foi direto na ofensa máxima que pode se fazer contra um Estado nacional. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico”, afirmou. E aí completou. “Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus.” O problema das duas afirmações é que elas não guardam coerência entre si. Não demonstram um mesmo conjunto de critérios para observar o mundo. Não bastasse, geram ruído, insatisfação, desconforto.

Edição de Sábado: Primavera cripto?

Nesta semana o preço do Bitcoin voltou a ultrapassar o marco dos US$ 50 mil. Há um frenesi no ar, mas é fundamental conhecermos a origem de todos os hypes. A do Bitcoin foi em janeiro de 2009, quando um usuário anônimo divulgou um software para download em um fórum online. Satoshi Nakamoto propôs uma tecnologia disruptiva. Um algoritmo criptográfico que podia manter, de maneira descentralizada, o registro de todas as trocas de uma moeda digital, ou criptomoeda. A cada 10 minutos, um novo bloco com o registro de todas as transações feitas é processado. Algumas novas criptomoedas são criadas e distribuídas para aqueles que realizaram o trabalho de manter a rede ativa por mais um bloco. Uma sequência infindável de blocos, ou blockchain.

Edição de Sábado: O enredo do golpe

“As coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso, para mim, é muito claro."

Edição de Sábado: Meninas usam rosa

“Nós estamos treinando o maior exército de mulheres conservadoras da América Latina.” Com esse brado, a senadora Damares Alves marcou o 1º Encontro Nacional de Mulheres Republicanas, ocorrido entre 11 e 13 de dezembro no Complexo Brasil 21, em Brasília. Na plateia, cerca de 450 mulheres — entre deputadas federais e estaduais, secretárias estaduais, prefeitas, vereadoras, coordenadoras, primeiras-damas e potenciais pré-candidatas às eleições municipais de 2024 pelo partido Republicanos — empunhavam bairristicamente as bandeiras de seus Estados. “Ó, Minas Gerais”, “Oh, meu Rio Grande”, “Salve, Salvador”.

Edição de Sábado: Trump 2.0

No dia seguinte ao Natal, Donald J. Trump compartilhou em sua conta na rede Truth Social uma nuvem de palavras. Ela era fruto de uma pesquisa do Daily Mail, que havia perguntado a potenciais eleitores americanos o que os prováveis presidenciáveis, Trump e Joe Biden, querem de um eventual segundo mandato. (Tanta condicional é porque o voto é facultativo, indireto e ambos ainda precisam ganhar suas respectivas primárias no Partido Republicano e no Democrata.) Bem no centro, ampliada e em vermelho, estava a palavra “revenge”. “Power” aparece adjacente, quase do mesmo tamanho, em laranja-Trump. “Dictatorship” e “dictator” também estão por ali. O post não tem legenda, mas o ex-presidente não é de publicar nada de que não se orgulhe. Ele estava se gabando.

Edição de Sábado: A IA é o novo OS?

A essa altura do campeonato você já deve estar convencido de que a Inteligência Artificial, apesar do nome equivocado, é a nova revolução tecnológica capaz de provocar mudanças maiores que o advento da internet, do celular e até mesmo do computador pessoal. Acredite, IA não é uma moda passageira.

Edição de sábado: A medicina da obesidade

Houve um tempo em que gordura era vista como sinal de saúde, daí a eterna preocupação das avós com a magreza dos netos. Mas há décadas sabemos que isso não é verdade. O excesso de peso – especialmente a obesidade, quando o Índice de Massa Corporal (IMC) está acima de 30 kg/m2 – está associado a uma série de outras doenças, como diabetes, hipertensão, problemas vasculares etc. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), ela é uma doença em si e não para de se disseminar. Entre os brasileiros, 22,4% têm IMC maior que 30, segundo a pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde. Nos EUA, a situação é ainda pior: 41,9% dos americanos têm obesidade.

Edição de Sábado: ‘Um pai mais forte’

Aos 66 anos, a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz é autora, já, de muito mais livros do que é possível contar. Todos sobre o Brasil. Professora da USP e de Princeton, ela é também uma simpatia — alguém com quem é sempre um prazer conversar. Mesmo quando discorda, Lilia instiga, sorri, traz um argumento novo. “História procura refletir sobre o que muda e a antropologia discute sobre o que persiste”, ela observa. E o Brasil, que nesta semana que entra encara o primeiro aniversário do levante mais recente contra a democracia, precisa de ambos. Porque levantes contra a democracia, uns de sucesso, outros fracassados, são tão frequentes que somos obrigados a colocá-los na caixa daquilo que persiste. Que não muda — ou, ao menos, ainda não mudou.

Edição de Sábado: Conto de Natal

O problema da história do Zé, o detalhe que deixa ela difícil de contar, é que parecem pura mentira todas aquelas coincidências de nomes e data e tal, como se o contador da história estivesse forçando a barra para atualizar uma parábola surrada: o nascimento do menino, a promessa de redenção, o milagre do Natal. Só que a história do Zé aconteceu de verdade, e não dois milênios atrás mas outro dia mesmo, embora tivesse começado bem antes, quando ele mal principiava a bater bola com os outros meninos da rua e a sua prima Maryllyndsey nasceu.

Edição de Sábado: O futebol brasileiro é uma fênix depenada

Chega dezembro e nós, apreciadores do futebol brasileiro, nos encontramos num deserto em que, não fosse o Fluminense e sua desafiadora participação no Mundial de Clubes da Fifa, estaríamos largados tão somente às peladas de fim de ano entre jogadores e famosos – pragas que andam agravadas agora pela presença de influenciadores.