PL Antifacção e a guerra política

O PL Antifacção nasceu como resposta do governo Lula ao avanço do crime organizado. Mas Hugo Motta, presidente da Câmara, decidiu dar a relatoria de presente para a oposição, e o deputado Guilherme Derrite, secretário de Tarcísio de Freitas, reacendeu a velha retórica da “guerra ao crime”. O Brasil vive uma crise de segurança, não uma guerra. E confundir as duas coisas pode ser o erro mais perigoso de todos.
Derrite altera relatório de PL Antifacção e volta atrás sobre atuação da PF

O relator do projeto de lei Antifacção na Câmara, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), incluiu no texto uma proposta que pode restringir a atuação da Polícia Federal no enfrentamento ao crime organizado. Depois da repercussão negativa, o trecho foi suavizado em uma nova versão apresentada ontem. Mesmo assim, a PF ainda avalia que o projeto reduz sua autonomia. O Central Meio desta terça, 11 de novembro de 2025, recebe o cientista político Paulo Henrique Cassimiro, professor de Ciência Política IESP e UERJ.
COP30 começa em tom político
No Pé do Ouvido de hoje, excepcionalmente com Luiza Silvestrini, você escuta as seguintes notícias: Lula faz crítica dura a potências que não enviaram autoridades expressivas à COP30. Relator do PL antifacção diz que vai retirar do texto exigência de pedido dos governadores para atuação da PF nos estados. O Agente Secreto lidera as bilheterias nacionais na semana de estreia. Governo federal vai impor diferentes limites de idade para uso de aplicativos online por menores.
COP30 começa em tom político com críticas a guerras

Sem citar diretamente China e EUA, Lula faz crítica dura a potências que não enviaram autoridades expressivas à conferência e diz que deveriam gastar mais em defesa do meio ambiente que em conflitos armados. Pressionado, relator do PL antifacção diz que vai retirar do texto exigência de pedido dos governadores para atuação da PF nos estados. O Agente Secreto lidera as bilheterias nacionais na semana de estreia. Governo federal vai impor diferentes limites de idade para uso de aplicativos online por menores.
O brasileiro entendeu tudo

A tese da esquerda, para a eleição de 2026, é simples. Defesa da soberania nacional e discurso contra as elites. É isso. Ou seja, a direita quer atacar o Brasil e os ricos têm de contribuir mais. A aposta da direita também é simples. Esta será uma eleição sobre segurança pública. O brasileiro não está em paz, tem medo de ser assaltado, e a esquerda está mais preocupada com o bandido do que com o cidadão de bem. É claro que um está fazendo uma caricatura do outro, mas eleição é assim. Faz duas semanas que aconteceu a operação no Morro do Alemão e a esquerda segue sem uma resposta clara para dar. Mas e a direita? Em grande parte, os políticos de direita estão tentando entender para onde ir. O que já é claro para todos? Lula perdeu uns pontinhos de popularidade, então na direita já se sabe que foi uma vitória. A primeira vitória, da direita, em vários meses. Mas sabe quem perdeu mais do que Lula no Alemão? Jair Bolsonaro. Porque, veja, há décadas que Bolsonaro é o político dono da frase “bandido bom é bandido morto” no Congresso Nacional. Era o primeiro deputado que apareceria na cabeça de qualquer um quando alguém justificava violência policial. E, no entanto, ninguém da família Bolsonaro viabilizou, chamou atenção, puxou decisões para si. Nada. Isso é importante, tá? Porque é uma mudança. Na opinião popular, foi uma derrota pequena do governo federal e uma derrota gigante da família Bolsonaro. Naquele episódio, o resto da direita ganhou independência e espaço para agir. A cada momento assim, a relação de poder interna da direita muda. Os partidos de direita vão precisando menos da popularidade de Bolsonaro e a família Bolsonaro vai dependendo mais dos favores de políticos de direita com poder. Guilherme Derrite, o secretário de Segurança do estado de São Paulo, deixou o cargo para voltar à Câmara dos Deputados e relatar o projeto da Lei Antifacção, enviado pelo Palácio do Planalto. O texto vai ser muito mexido. Os governadores começaram a chamar esses grupos criminosos como o Comando Vermelho de terroristas. Derrite foi para a Câmara fazer isso, trazer a palavra terrorismo para o centro do palco. Só que ele tem um problema que não é pequeno nessa operação. Terrorismo é um crime tão grave que quem cuida dele é a União. É o governo federal. É um crime contra o Estado nacional. Isso quer dizer que uma lei que classifique como terroritas os traficantes tira poder dos governadores e o entrega para o presidente Lula. Isso, ora, a direita não quer. Tem outros problemas, também. Se o Brasil começa a dizer para o mundo que tem grupos terroristas agindo em seu interior, o país abre espaço para sanções econômicas, empresas brasileiras podem ter investimentos cortados nelas se houver suspeita de envolvimento com o crime. Investimento cai. Ações militares contra o Brasil entram no radar. Classificar legalmente como terrorista é uma dor de cabeça que os governadores de direita não querem. Mas ao mesmo tempo, eles querem o peso da palavra para fazer campanha eleitoral. A saída de Derrite é montar um Frankenstein. Trata todas as penas como se fosse terrorismo sem chamar de terrorismo. Mas tem um problema aí, tá? Porque estão pensando errado sobre esse crime. Terrorismo é essa palavra que enche a boca, impõe gravidade, mas é pensar errado sobre o problema que o Brasil tem. Grupos terroristas atuam politicamente. Seu objetivo é ter ganhos políticos. A base pode ser ideológica, para grupos paramilitares fascistas ou comunistas. A base pode ser nacionalista, como foram IRA e ETA, na Europa, o a OLP, da Palestina. Pode ser religiosa, como é o caso do Hamas o da al-Qaeda. Mas, fundamentalmente, o objetivo é ter um ganho político. O Comando Vermelho, o PCC ou as milícias cariocas não estão nem aí pra isso. Seu objetivo é econômico. Querem ganhar dinheiro com o crime. Então como é que chamamos grupos que corrompem a polícia e o Estado, tomam o controle de certos territórios? Que cobram uma tributação própria. Vão lá e achacam o dono da birosca, o sujeito que dirige a van. Se quer trabalhar nessa área, tem de me pagar um arrego? Como é que chamamos um crime que impõe certos serviços. Luz, compra de mim. TV a cabo? Compra de mim. Gás? Segurança? Se estes grupos começam a ficar tão poderosos que, além de entrar na Polícia e no Estado, também começam a se impor em grandes negócios, e forçar sociedade em empresas de capital aberto, e encontram outros caminhos de lavagem de dinheiro, qual é o nome que damos para esse tipo de crime? A gente pode dar um passo além. O que acontece se estes criminosos começam a ter seus próprios deputados, seus próprios políticos? Isso tem nome, gente. Tem série de TV, tem filme, aliás tem grandes séries de TV e grandes filmes sobre exatamente este tipo de crime, brutal, que depende de substituir o Estado em sua atuação. O nome é máfia. E sabe de uma coisa? Tem uma nova pesquisa, do Instituto Ideia, que mostra com clareza que a população está entendendo tudo do que está acontecendo. Vem comigo. O Ideia fez essa pesquisa em 6 de novembro e nos dá muito mais sutileza sobre o que o brasileiro pensa sobre o problema do crime que ocupa territórios de cidades, como acontece aqui no Rio mas não só. Quando a polícia é aplaudida por matar, a sociedade presta menos atenção na corrupção dentro dela. 48% concorda. 19% discorda. Quando as pessoas se sentem inseguras, aceitam que a polícia aja sem prestar contas por seus atos. 50% concordam, 21% discordam. Quando a polícia tem liberdade para agir sem prestar contas, a corrupção dentro dela aumenta. 61% concorda, 15 discorda. A violência da polícia leva o crime a se armar mais e isso faz a polícia agir com mais violência. 50% concordam, 25% discordam. Ver mortes em operações dá a sensação de que a polícia está agindo, mesmo sem resolver o problema. 51% concordam, 21% discordam. Segura essas, vamos para outro pacote de perguntas. O envolvimento de policiais, empresários e políticos corruptos dificulta o combate ao crime organizado. 81% concordam, 5,4% discordam. O combate ao crime deve priorizar a investigação e punição dos chefes, empresários, políticos e policiais corruptos. 80% concordam, 5% discordam. Facções e milícias crescem porque conseguem circular dinheiro e armas com ajuda de gente influente. 84% concordam, 4% discordam. O acesso de criminosos presos a celulares mostra que parte da polícia e do Estado participam do crime. 74% concordam, 7% discordam. A sociedade percebe que uma polícia mais violenta não resolve nada. E a sociedade tem toda a convicção de que o problema está dentro das polícias, dentro das assembleias legislativas, até em alguns palácios de governos. Com a Cosa Nostra, foi assim. Com a máfia de Al Capone, na Chicago dos anos 1930, igual. Estes sistemas criminosos se tornam intermediários entre mercados ilegais e o poder público. Fazem isso corrompendo. Ambos criam toda uma rede de economia paralela, com negócios que incluem drogas, contrabando, jogo, prostituição, venda de gás, transporte, TV a cabo. A partir daí, porque tem muito dinheiro sujo acumulado, começam a penetrar em negócios legítimos para fazer a lavagem da grana. O ponto aqui é o seguinte. Existem soluções conhecidas. Para lidar com máfias, é preciso seguir simultaneamente dois caminhos. O primeiro é ir atrás do dinheiro. Esses grupos criminosos geram muito dinheiro e precisam lavá-lo. A gente precisa entender como estão lavando suas fortunas e cair dentro dos mecanismos e das empresas que resolvem este problema deles. O segundo caminho é o de reocupação de territórios. Se tem um bairro de uma cidade em que o bandido pode chegar prum pequeno empresário e dizer metade do seu lucro, paga pra mim, a polícia tem de agir. Inclusive com força. Para impedir. Mas, para que a ação da polícia tenha sucesso, a gente não foge de fazer uma limpa dentro da polícia e dentro da política. Porque, vejam, existe uma razão para o problema não ter sido resolvido. A polícia trabalha mais para o crime do que para a sociedade. Em muitos estados, os políticos locais trabalham mais para o crime do que para a sociedade. Olha a pesquisa do Ideia. Os brasileiros já sabem disso.
Ainda em candidato definido para 2026, direita cresce com discurso pró-segurança

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Lula critica uso de força militar na América Latina

Em crítica indireta aos Estados Unidos, presidente brasileiro diz que “democracias não combatem o crime violando direitos constitucionais”. COP30 começa hoje em Belém discutindo os desafios para enfrentar as mudanças climáticas. Tornado deixa rastro de morte e destruição no Paraná. Ana Maria Gonçalves, autora de Um Defeito de Cor, se torna a primeira mulher negra a tomar posse na ABL. CEO da OpenAI afirma que o Brasil é um mercado prioritário para a empresa.
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Como a inteligência artificial questiona o trabalho humano, por Jorge Ávila

Ao longo dos séculos, a humanidade se estruturou em torno de um princípio fundamental: a escassez - sempre em busca do que falta, seja tempo, recursos ou oportunidades. O avanço acelerado da tecnologia, especialmente da inteligência artificial questiona a própria lógica e o papel do trabalho humano. No Diálogos desta semana, Christian Lynch recebe o engenheiro Jorge Ávila, colaborador da Revista Insight Inteligência, para uma conversa sobre o impacto das IAs no futuro , até que ponto as máquinas podem substituir o ser humano e quais os ricos e oportunidades dessa nova era digital.2


