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Bolsonaro distorce posição da OMS mas recua no confronto

O presidente Jair Bolsonaro voltou ontem à cadeia nacional de rádio e TV para fazer seu quarto pronunciamento sobre a crise do coronavírus. O tom foi outro, recuou do confronto. “Minha preocupação sempre foi salvar vidas”, afirmou. “Tanto as que perderemos pela pandemia como aquelas que serão atingidas pelo desemprego, violência e fome.” Bolsonaro não fez defesa enfática da política de isolamento vertical, — em que apenas os mais vulneráveis à Covid-19 ficam em casa —, na qual vinha insistindo. Mas também não abraçou a horizontal, prática adotada em boa parte do mundo e defendida tanto pela Organização Mundial de Saúde quanto seu próprio Ministério da Saúde. Insistiu, porém, no apelo que, ele acredita, o permite alcançar as camadas mais pobres da população. “Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que, da mesma forma, precisamos pensar nos mais vulneráveis. Essa tem sido a minha preocupação desde o princípio. O que será do camelô, do ambulante, do vendedor de churrasquinho, da diarista, do ajudante de pedreiro, do caminhoneiro e dos outros autônomos, com quem venho mantendo contato durante toda minha vida pública?” (G1)

Planalto opera para tirar foco de Mandetta

A imprensa foi tomada de surpresa, ontem, com mudanças no rito da entrevista coletiva diária do Ministério da Saúde a respeito do curso da pandemia no país. No meio da tarde, foi transferida para o Palácio do Planalto, passou a ser dirigida pelo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, e a contar com o alto-escalão da Esplanada — Onyx Lorenzoni (Cidadania), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), André Luiz de Almeida Mendonça (Advogado-Geral da União), além de Luiz Henrique Mandetta, da Saúde. Oficialmente, a mudança se deu porque a crise é séria, multidisciplinar, e portanto envolve o trabalho de todos. Mas, nos bastidores, o argumento é outro. “Só tem um governo”, disse um ministro a Natuza Nery. “E, queiram ou não, é o governo Bolsonaro.” É uma tentativa de tirar os holofotes de Mandetta. “Não tem ‘governo do Ministério da Saúde’.” Mas a divisão permanece. “Mantenho as recomendações dos estados”, afirmou Mandetta. “A gente deve manter o máximo grau de distanciamento social.” (G1)

Sem Trump, Bolsonaro se isola no mundo

O presidente Jair Bolsonaro achou por bem deixar o Alvorada, cedo no domingo, para passear por um mercado aglomerado de Ceilândia, cidade satélite de Brasília. Depois, seguiu para Taguatinga, também nas proximidades do Plano Piloto, e depois Sobradinho. Em ambos os lugares, insistiu em duas mensagens. “A hidroxicloroquina está dando certo em tudo quanto é lugar”, afirmou. Ainda em testes, e não recomendado para uso generalizado sequer pelo Ministério da Saúde, é uma das drogas exploradas para tratamento do novo coronavírus. “Esse isolamento horizontal”, seguiu, “se continuar assim, com a brutal quantidade de desemprego que teremos pela frente, teremos um problema seríssimo que vai levar anos para recuperar.” O presidente tem em mãos pesquisas internas, de acordo com apuração do Poder 360, que sugerem apoio nas camadas mais humildes da população, que temem a falta de receita por conta da quarentena. (Poder 360)

Guedes fala em pacote de R$ 750 bi

O ministro Paulo Guedes está trabalhando em um pacote que somará R$ 750 bilhões para enfrentar o impacto econômico do novo coronavírus. Parte deste dinheiro já havia sido anunciado — são medidas como liberação de depósitos compulsórios do Banco Central, reforço no Bolsa Família e antecipação de 13º dos aposentados. Haverá ajuda do governo para que micro e pequenas empresas mantenham seus empregados — em alguns casos, o Estado poderá arcar com até 100% dos salários. Em grande parte, não é dinheiro novo, apenas adiantamentos. (G1)

Bolsonaro versus governadores

Foi duro, muito duro, o embate por teleconferência entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador paulista, João Doria Jr. A conversa, que envolvia de um lado o Planalto e, do outro, o comando dos quatro estados do sudeste já estava em curso quando Doria tomou a palavra. “Inicio na condição de cidadão, de brasileiro, lamentando seu pronunciamento de ontem à noite à nação”, afirmou o governador quando lhe foi passada a palavra. “O senhor, como presidente da República, tinha que dar o exemplo. Tem que ser um mandatário para liderar o país e não para dividir.” Bolsonaro se exaltou. “Subiu à sua cabeça a possibilidade de ser presidente da República”, afirmou com indignação. “Não tem responsabilidade. Não tem altura para criticar o governo federal, que fez completamente diferente o que outros fizeram no passado. Vossa excelência não é exemplo para ninguém.” Assista ou leia. (Poder 360)

Bolsonaro prega fim de isolamento — e se isola

O presidente Jair Bolsonaro tem marcada para hoje cedo uma teleconferência com os quatro governadores do sudeste. Ontem, sem citar qualquer um por nome, ele partiu para o ataque em pronunciamento por cadeia nacional. “Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento de comércios e o confinamento em massa”, ele pediu. O presidente quer diminuir a política de quarentena. “O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é o das pessoas acima dos 60 anos. Por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade.” Ele também se queixou da imprensa. “Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão. Espalharam exatamente a sensação de pavor, tendo como carro-chefe o anúncio do grande número de vítimas na Itália, um país com grande número de idosos e com o clima totalmente diferente do nosso. O cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma verdadeira histeria se espalhasse pelo nosso país.” Em seu discurso, o presidente ainda reafirmou que está bem. “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como disse aquele famoso médico daquela famosa televisão.” Assista ou leia. (G1)

Bolsonaro dá mostras de que sente pressão

A segunda-feira foi marcada por confusão no Planalto. Após publicar uma Medida Provisória com uma série de iniciativas voltadas para a economia, o presidente Jair Bolsonaro recuou. Em um dos pontos, a MP 927 autorizava que empregadores suspendessem contratos de trabalho e salários por até quatro meses no período em que dura a calamidade pública. Para evitar demissões em massa, propunha o governo, que ficasse autorizado o não pagamento de salários. A polêmica explodiu entre analista da imprensa e nas redes sociais. “Tira”, determinou ao ministro Paulo Guedes o presidente. “Estou apanhando muito.” Em entrevista a Adriana Fernandes, Guedes explicou onde o governo bateu cabeça. “Estamos tentando proteger todo mundo que a gente consegue. Soltamos centenas de medidas nas duas últimas semanas. A velocidade é muito grande.” Para o ministro, houve um erro na forma como o texto foi redigido. Saiu pela metade. “A ideia é suspender o contrato de trabalho e imediatamente negocia. Como a gente sabe que o trabalhador é mais frágil num momento como esse, o governo teria que entrar com uma suplementação salarial. Só que não botaram isso. Botaram livre negociação. E, aí, dá a impressão que o cara que vai ser demitido, não ganha nada e fica recebendo um curso.” O texto que substitui a iniciativa ainda não foi publicado. “Você pega um trabalhador que ganha R$ 2 mil e a empresa não aguenta pagar. Aí, reduz à metade (o salário), cai para R$ 1 mil. O governo paga 25% (do salário). Acaba o salário caindo para 75% (do que era originalmente). A empresa paga 50%, o governo 25% e todo mundo perde um pouquinho.” (Estadão)

Bolsonaro entra em conflito com governadores

O presidente Jair Bolsonaro passou o fim de semana em conflito aberto com os governadores. “É um lunático”, afirmou a respeito do paulista João Doria. No sábado, Doria havia criticado o presidente por relativizar a gravidade do novo coronavírus. “Ele está aproveitando desse momento para crescer politicamente”, retrucou Bolsonaro, em entrevista à CNN Brasil. No domingo, falando à Record, voltou ao tema. “Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão”, falou ao programa Domingo Espetacular. Bolsonaro demostrou irritação com o repórter Eduardo Ribeiro. Quando perguntado sobre os panelaços, ele levantou o tom. “Não estou preocupado com minha popularidade”, se queixou. “Ninguém acredita em pesquisa no Brasil. Este panelaço foi incentivado pela TV Globo, endossado pela revista Veja.” (Folha)

Brasil fecha suas fronteiras

O governo brasileiro fechou as fronteiras com Argentina, Bolívia, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Paraguai, Peru e Suriname. A entrada no Brasil por vias terrestres fica restrita por quinze dias, mas há exceções. Brasileiros, residentes e estrangeiros em missão de organismos internacionais podem vir. Outra portaria suspendeu por um mês a entrada de estrangeiros vindos de uma lista de países que incluem os membros da União Europeia, Islândia, Noruega, Suíça, Reino Unido, Austrália, Japão, Malásia e Coreia do Sul. E, apesar de já não ter mais casos de contaminação comunitária, também com a China foi cortado o fluxo. A decisão é interpretada por alguns como uma resposta do Planalto à queixa do embaixador chinês, Yang Wanming. (Estadão)

Câmara aprova Estado de Calamidade Pública

A Câmara dos Deputados aprovou ontem o projeto do governo que decreta estado de calamidade pública no Brasil. Vai, agora, ao Senado — que talvez faça uma votação remota online, segunda ou terça-feira, sem a presença dos senadores no plenário. O decreto tem vigência até dezembro e, em essência, abre espaço para que a União ultrapasse a meta fiscal prevista pelo orçamento do ano, gastando mais em medidas que visam lidar com a crise aberta pelo novo coronavírus. Na Câmara, o apoio foi de todos os partidos. “Vamos oferecer não um cheque em branco”, alertou o deputado comunista Orlando Silva, relator do decreto, “mas um cheque especial que o governo usará com responsabilidade.” (G1)